Notas de Aviso

    Anteriormente em MNVJ: Victor e Aki fazem o caminho para a saída do parque a pé, enquanto conversam sobre lembranças de Aki.

    07 de outubro de 2023, sábado.

    Victor relutou, mas acabou segurando as coisas dela, enquanto ela se preparava. Aki segurou o galho com força, pulando para se impulsionar, mas não conseguiu alcançar a altura necessária. Victor riu, achando graça da cena. 

    — Se você me ajudasse, eu conseguiria! — Disse ela, ofegante. 

    — Acho melhor não. E se você cair? — Ele respondeu, aproximando-se dela. 

    — Não seja tão pessimista! — Retrucou Aki, teimosa. 

    Antes que Victor pudesse impedi-la novamente, ela pulou mais uma vez, agarrando-se ao galho. Dessa vez, conseguiu se pendurar, mas sentiu suas mãos começarem a escorregar. 

    — Aki, cuidado! — Victor tentou segurá-la, mas não foi rápido o suficiente. Ela perdeu o equilíbrio e caiu para trás. 

    Por instinto, ele a amparou parcialmente, amortecendo sua queda. Ambos acabaram no chão, Victor sentado e Aki deitada parcialmente sobre ele. 

    — Você está bem? — Sua preocupação evidente em sua voz. Ele tentou manter a calma, mas sua expressão o denunciava. Nem reparou a distância em que estavam, com seus rostos separados por centímetros. Ao perceber a posição que se encontravam, logo ele ajeita o corpo, colocando-se ao lado dela, agachado. 

    Aki tentava disfarçar o incômodo, mas seu rosto mostrou uma careta de dor, além de sentir-se com muita vergonha. A forma que tudo aconteceu… “Isso é uma brincadeira do destino, não é?!”, ela exclamou, mentalmente. 

    Mas essa timidez foi sendo esquecida, conforme uma dor crescia na parte inferior da sua perna.

    — Acho que torci o pé… Está doendo. — Ela apontou para o tornozelo, que começava a inchar. 

    Victor franziu a sobrancelha. Pedindo licença, ele abaixou o olhar para o tornozelo dela, analisando. 

    — Está inchando. — Ele ergueu os olhos para ela, preocupado. — Eu avisei que era perigoso tentar subir nessa árvore. 

    — Não precisa exagerar. — Aki tentou dar um sorriso para amenizar a tensão, mas o esforço só tornou sua dor mais evidente. — Foi só uma torção. 

    Victor balançou a cabeça, firme. 

    — Vamos, eu vou te carregar até a saída e vamos direto para um hospital. 

    — Me carregar?! — Aki expressou, surpresa. Sua expressão de constrangimento era evidente. Seu rosto ficou corado, e ela desviou o olhar. Apesar disso, no fundo, a ideia não parecia tão ruim. 

    — Claro. Você acha que vou deixar você pular por todo esse caminho com o pé assim? — Ele apontou para o trajeto irregular cheio de pedras e folhas caídas. — É perigoso, ainda mais com esse vento. Você quer que eu te carregue no colo ou de cavalinho? 

    Ela hesitou, pensando no quanto isso parecia constrangedor. Ela mordeu o lábio, e então murmurou: 

    — Acho que… preferia ir de cavalinho. — Sua voz saiu tão baixa que quase se perdeu no som das folhas balançando. 

    Victor deu um sorriso de canto. 

    — Cavalinho, então. Só segure firme, está bem? 

    Enquanto ele se preparava para carregá-la, ela ajeitou as coisas que segurava e, com uma ajudinha, subiu nas costas dele. O contato próximo fez o coração de Aki bater mais rápido, e ela tentou se concentrar em qualquer outra coisa além da proximidade entre eles. 

    Pela primeira vez, Aki percebeu o perfume de Victor tão claramente. Uma fragrância amadeirada, marcante. “O mesmo cheiro que fiquei naquele dia que usei a sua blusa.”, pensou. Um sentimento inquietante lhe tomou, mas ela se forçou a se manter. 

    Victor, por sua vez, ajustou o peso dela de forma natural. O vento frio soprava, mas ele parecia indiferente, focado em levá-la com segurança até a saída. 

    — Você está confortável? — perguntou, sem olhar para trás. 

    — Estou… obrigada. — A voz dela saiu suave, quase tímida. 

    O caminho foi percorrido em silêncio por alguns momentos, mas Aki finalmente falou, quase num sussurro: 

    — Não precisa me levar ao hospital. Acho que não é tão grave assim. 

    — É claro que vou te levar. — Victor respondeu. — Não quero arriscar. Precisamos saber se está tudo bem. 

    Ela suspirou, resignada, enquanto sentia a brisa fria bagunçar seus cabelos. Apesar do desconforto físico, ela não podia negar que estava gostando de estar tão perto dele. Embora o toque em sua perna fosse apenas para carregá-la, para a sua própria segurança, não pôde deixar de sentir uma vergonha tomando conta dela. 

    Além disso, o perfume que ela sentia dele, e a sensação do toque de seus corpos, era algo que a fazia sentir um arrepio percorrer todo seu corpo. Nunca havia ficado tão próximo de alguém fisicamente, além dos abraços de família. Seu rosto corado, queimava ligeiramente. 

    Ela chegou a pensar que nem sentia mais tanto frio quanto antes. Aki não sabia se era somente pelo contato dos corpos, ou se havia algum outro motivo. “O que é essa sensação?”, ponderava. 

    Assim que chegaram à entrada do parque, Victor chamou um táxi. Durante o curto trajeto até o hospital, ele segurava a mochila dela e olhava pela janela, enquanto Aki observava de canto o semblante preocupado dele. 

    No hospital, Aki foi rapidamente atendida. Felizmente, era apenas uma torção leve, e o médico prescreveu um analgésico e recomendou compressas de gelo. Quando saíram, Victor parecia aliviado. 

    — Obrigada por cuidar de mim. — Aki disse, sincera, enquanto caminhavam em direção ao táxi que os levaria para casa. 

    — Não tem o que agradecer. Eu faria tudo de novo sem hesitar. — A resposta de Victor foi direta, mas havia um calor em suas palavras que a deixou surpresa. 

    Ao chegarem na casa da família de Aki, foram recebidos com uma onda de preocupação. Hana foi a primeira a repreendê-la: 

    — O que você estava pensando, tentando subir em uma árvore? 

    Aki tentou se justificar, mas acabou pedindo desculpas. Enquanto isso, Victor explicava o ocorrido, com uma calma que contrastava com a efusividade de Hana. 

    — Nós temos um compromisso agora — disse o pai de Aki, olhando para o relógio. — Mas, Aki, infelizmente você não vai poder ir por causa do ocorrido.

    — O quê?! Eu queria muito ir com vocês! — Aki protestou, com uma voz, dramaticamente, chorosa.

    — A culpa é sua por ser irresponsável. — Natsu caçoou.

    — O seu irmão tem razão. — Hana respondeu. — Por isso, Natsu, fique com ela aqui.

    — É o quê?! — Natsu respondeu, exageradamente indignado.

    — Você é o irmão mais velho, afinal. — Comentou Fuyu. — Ser o irmão mais velho dá muito trabalho…— Fuyu ria da careta do irmão.

    — Acho que não precisa de eu ficar aqui! — Todos olharam para ele, esperando uma sugestão. — O Victor pode ficar com ela aqui.

    Sem que ninguém percebesse, Natsu pisca para a irmã, que desvia o olhar, tímida.

    — Eu acho que está tudo bem. — Shouto comenta, finalmente. — O Victor é uma boa pessoa.

    Victor sentiu o peso das palavras, e respondeu.

    — Eu fico com ela. — Victor falou antes mesmo que Aki pudesse protestar. Ele deu um sorriso tranquilo. — Não se preocupem, eu cuido dela. Afinal, foi um pouco de culpa minha ela ter se machucado.

    Embora parecesse suspeito para algumas pessoas, a família havia pegado uma certa confiança em Victor, além deles já serem adultos e Aki ter concordado. Eles sabiam o que estavam fazendo.

    A família não cria objeções, e eles dispensam, pegando suas coisas para saírem. Natsu se aproxima de Aki e faz uma brincadeira: 

    — Aproveite a noite, maninha! — Ele dá uma gargalhada sarcástica e Aki o chama de idiota, tapando o rosto com a almofada do sofá. 

    Após um tempo, todos vão para o compromisso, deixando os dois sozinhos na casa. 

    O silêncio inicial era estranho, mas logo Aki tentou quebrá-lo, mesmo envergonhada. 

    — Você não precisava ficar. 

    Victor deu de ombros enquanto buscava algo para colocar debaixo do tornozelo dela. 

    — Claro que precisava. Não vou te deixar sozinha assim.  

    Aki sorriu, agradecida pela amizade de Victor. 

    Aki sentiu a compressa de gelo, deixando seu tornozelo quase dormente. A sensação era desconfortável, mas necessária. Ao remover o pano que envolvia o gelo, reparou que a pele ao redor estava avermelhada, um sinal de que o procedimento estava funcionando. Victor havia insistido para que ela permanecesse no sofá, com a perna cuidadosamente apoiada em um puff. 

    Ela até tentou argumentar, mas ele foi irredutível. 

    — O médico deixou claro: repouso é essencial. Não adianta reclamar. 

    Victor não só preparara a compressa, como também garantiu que ela tomasse o analgésico prescrito. A determinação dele era quase cômica, e Aki teve que se segurar para não rir abertamente enquanto observava sua expressão séria e focada. 

    “Eu já sabia que Victor podia ser cuidadoso, mas vê-lo nesse modo médico é algo novo.” 

    — O que vamos fazer hoje? — perguntou ela, tentando disfarçar a timidez que sentia por estarem sozinhos. 

    Apesar da leve descontração, sentia um misto de nervosismo e expectativa. A situação era incomum, mas o clima entre eles era tão agradável que Aki quase desejava que aquele momento durasse mais. 

    Victor guardou o celular no bolso e se levantou. 

    — Eu estava pensando em cozinhar algo para nós. — Ele lançou um olhar casual, como se fosse a coisa mais simples do mundo. — Tem algum pedido especial? 

    — Hm… Na verdade, não. Nem sei o que temos na dispensa. — A resposta dela foi quase um suspiro, com um toque de preocupação. 

    “E se não tiver nada interessante para ele cozinhar?” 

    Aki quase rezou para terem ingredientes o suficiente para ele poder preparar um jantar.

    Victor sorriu de leve, percebendo a ansiedade dela. 

    — Vamos descobrir. —  Ele aponta para a cozinha. —  Consegue me acompanhar até lá? 

    Aki hesitou antes de se levantar, apoiando o peso no pé saudável e testando cuidadosamente o machucado. Para sua surpresa, não sentiu dor, apenas uma leve rigidez. 

    — Acho que consigo, sim. 

    Eles caminharam até a cozinha, onde Victor começou a inspecionar os ingredientes disponíveis. Enquanto analisava as opções na geladeira e nas prateleiras, sua expressão estava quase transparecendo uma alegria. Ele já sabia exatamente o que faria e confirmou tudo que precisava.

    — Parece que temos tudo o que preciso. — Ele começou a separar vegetais, temperos e algumas embalagens. Depois de um momento, olhou para Aki. — Pensei em preparar algo especial como um pedido de desculpas. 

    — Pedido de desculpas? — Aki questionou, confusa. 

    — Por você ter se machucado. — Ele sorriu de lado, casual, surpreendendo Aki.  

    Ela, rapidamente, balançou a cabeça. 

    — Não foi culpa sua. — Sua voz saiu quase em um sussurro, e ela desviou o olhar. — Mas… eu ficaria feliz se você fizesse algo especial para mim. 

    — Entendido. Prometo que você vai gostar. 

    Com a decisão tomada, ele pediu que Aki voltasse ao sofá para descansar enquanto ele cuidava de tudo. Apesar de relutar, ela acabou cedendo. 

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