Índice de Capítulo

    Sendo segurado de forma brusca por esse gigante, mesmo Fernando sentiu-se intimidado. Em termos de tamanho, o homem deveria ter facilmente mais de dois metros de altura.

    Dimitri, que estava não muito longe, franziu a testa ao ouvir as palavras de Oliver.

    “Nem pense nisso, o Tenente Fernando já está sob meu comando!” interviu, irritado com a falta de vergonha do homem em tentar recrutar um dos seus talentos bem embaixo de seu nariz.

    “Hahaha!” Ouvindo isso, o sujeito tirou as mãos dos ombros do rapaz, recolhendo-se. “Foi só uma piada, General Dimitri, uma piada.”

    Apesar de dizer isso, o sujeito ainda observava o jovem Tenente com algum desejo em seus olhos.

    A verdade é que ele havia recuado apenas por respeito ao velho homem, que acabou conquistando sua admiração devido a suas ações na última batalha. Porém, se fosse qualquer outro General, não iria poupar esforços em obtê-lo, já que assim como Dimitri, ele agora necessitava compôr suas tropas pessoais.

    “Mas é claro, se o Tenente Fernando tiver interesse, eu com certeza o aceitaria.” disse, transmitindo algumas intenções em suas palavras.

    “Você…” Dimitri resmungou, irritado.

    “Hahahah! Não há mal em perguntar, certo?”

    Fernando, que estava em silêncio, finalmente falou.

    “Peço desculpas senhor, mas estou bastante confortável sob o comando do General Dimitri e não pretendo me juntar a qualquer outra tropa.”

    Suas palavras firmes de recusa, surpreenderam não só Oliver, como muitos dos Majores Comandantes ao redor que tinham planos de fazer propostas veladas a ele. Mesmo o próprio Dimitri ficou impressionado e até comovido pela forma de falar do rapaz.

    “Entendo, se é assim, tudo bem.” O sujeito respondeu, com algum louvor em sua voz.

    No fim, Oliver, bem como vários Majores, trocaram contatos com Fernando e seu subordinado, garantindo que tivessem uma forma fácil de se comunicar.

    Isso, obviamente, não agradou Dimitri, mas não era como se ele pudesse impedi-los de socializarem com as outras autoridades da Legião.

    Após algum tempo, Pagliuca aproximou-se de Fernando e Alfie, o que chamou a atenção de todos no local.

    “Tenente Fernando e Especialista em Runas Alfie Caiman, este é o pagamento prometido. Em nome dos Leões Dourados, agradeço por seus serviços.” disse, fazendo um sinal, indicando para que o Mago que estava ao seu lado entregasse algo.

    Logo o homem magro e com olheiras profundas, que havia tentado obter informações de ambos anteriormente, entregou uma caixa para cada um deles.

    Recebendo-a em mãos, Fernando imediatamente moveu o pulso, guardando-a em sua Pulseira de Armazenamento.

    Vendo isso, Pagliuca ficou surpreso.

    “Não pretende conferir os valores?”

    Com um rosto inexpressivo, Fernando negou com a cabeça.

    “Não é necessário. Um General como o senhor não tem motivos para enganar um mero Tenente como eu.” respondeu, de forma calma.

    Ouvindo isso, Alfie, que estava ao lado, seguiu as ações do rapaz, também guardando seu pagamento sem cerimônias ou conferência.

    “Haha, eu agradeço a confiança.” Pagliuca respondeu, com um sorriso de interesse. “Bem, estarei me retirando agora, acredito que nos veremos novamente na próxima cerimônia, Tenente.” Após dizer isso, o homem negro virou-se, levantando voo, seguido pelo Mago de Controle.

    Todos os Majores no local abriram caminho para o homem, mesmo Ramon, Oliver e outros Generais fizeram o mesmo.

    “Senhor, não vai tentar sondá-lo? Achei que estivesse interessado naquele homem.” O Mago com olheiras comentou, ao lado.

    O sujeito negro tinha uma expressão calma e um sorriso confiante.

    “Não é necessário, já vi o suficiente.” falou, de forma misteriosa.

    No fim, a reunião do teste das Balistas encerrou-se, com Oliver, Ramon, e outros partindo. Wayne em particular, não havia interagido com Fernando ou Alfie, apenas checando as Balistas e conversando com os outros Generais, mas manteve um olhar atento sob ambos, o que chamou a atenção do jovem Tenente, deixando-o levemente nervoso, temendo que ele tivesse algum ressentimento sobre as palavras que havia dito quando assumiu o Comando Provisório da Quinta Divisão, quando ameaçou dar uma ordem de retirada e abandonar a posição em que estavam.

    Após algum tempo, todos partiram, restando apenas Fernando, Lerona, Alfie, Dimitri e alguns Soldados e Operadores nas muralhas, assim como o Major Jack, que parecia ocupado já que teria que reposicionar as armas de guerra ao entorno da cidade. 

    Como sua patente era uma das mais baixas no local, o jovem Tenente se manteve ali até que todos os outros tivessem ido embora, como uma forma de respeito.

    Enquanto observava os Operadores movendo as Balistas, Fernando notou um homem o observando sorrateiramente, esse era Rafael Rodrigues, o Assistente de Balistas que encontrou na Quinta Divisão. 

    Ao percebê-lo, o rapaz sorriu em sua direção, o que fez o homem ficar pálido como uma folha de papel, rapidamente se escondendo atrás de uma das armas de guerra, tamanho era o trauma que havia recebido.

    Vendo isso, o jovem Tenente apenas o ignorou, achando engraçado. Mesmo que o sujeito tivesse lhe causado problemas antes, ele não era do tipo vingativo, contanto que a pessoa não entrasse em seu caminho, não teria interesse em fazer algo contra o mesmo.

    Ao lado, o velho General de cabelos espetados tinha uma expressão solene ao observar Fernando. Apesar de não demonstrar abertamente, estava seriamente preocupado com o rapaz recebendo mais propostas, principalmente por parte de outros Generais além de Oliver, então também havia esperado ali.

    “Tudo está resolvido, então vocês estão liberados, pode voltar ao seu treinamento rapaz. Recomendo que pratique mais sua Magia de Levitação, vai perceber que ela é muito importante no futuro.” aconselhou. 

    “Entendido.” Fernando respondeu, aceitando as palavras de bom grado.

    Quando estava prestes a decolar e ir embora, o velho homem lembrou-se de algo. “Antes que eu me esqueça, sobre aquela sua solicitação por mais tropas para reformar o Batalhão Zero, tenho alguns candidatos em mente. Ainda tem interesse?” perguntou.

    O jovem Tenente ficou surpreso ao ouvir isso, esse era um assunto que estava ansioso em resolver, já que se não pudesse obter mais tropas para repor as perdas, precisaria desmantelar um dos Pelotões, o que seria uma grande dor de cabeça. 

    Mas apesar de ter um grande interesse em lidar com essa questão, evitou tocar no assunto, por achar que seria uma falta de educação de sua parte. Afinal, ele já havia enviado uma solicitação a Dimitri, pressioná-lo a respeito de seu ponto de vista não era algo adequado.

    “Sim, senhor, isso seria de grande ajuda.” falou, de forma respeitosa.

    Como não havia população em Garância para recrutar Soldados, ele só poderia depender ou de transferências, ou se arriscar a tentar atrair alguns dos mercenários que haviam chegado a cidade recentemente. No entanto, a maioria dessas pessoas vinham de Guildas ou grupos solitários, que não tinham interesse em se prender a Legiões, então seria difícil atraí-los.

    Outra questão, é que como ele havia sido atacado recentemente pela Guilda das Trevas, Família Lopes, significava que poderia ter mais do pessoal deles misturados dentre aqueles que haviam chegado recentemente. Então fazer um recrutamento aberto era extremamente arriscado, podendo trazer espiões para suas fileiras.

    “Muito bem. Conversarei com algumas pessoas e depois entro em contato. Lerona, não deixe nada acontecer ao Tenente.”

    “Sim senhor.” A Capitã assentiu, com confiança. A menos que fossem emboscados por alguém com a força de um Major, ela estava confiante em sua missão.

    Vendo o sujeito partir, Fernando voltou seu olhar para a mulher de armadura ao seu lado, sentindo sua cabeça doer ao lembrar que ela estaria o acompanhando a partir daquele dia.

    Sentindo o olhar em sua direção, Lerona o encarou.

    “Antes de começarmos, vou estabelecer algumas coisas, Tenente Fernando.” A Capitã disse, com uma voz firme. “Apesar de estar fazendo sua segurança, peço que não confunda as coisas. Não sou sua subordinada e não tenho a obrigação de ouvir qualquer pedido seu. Meu dever é unicamente garantir que você não seja morto, não me envolverei em qualquer outro problema que tenha. Espero que mantenha isso em mente.”

    O jovem Tenente sentiu-se estranho ao ouvir o aviso, era como se ela estivesse o advertindo para não causar problemas.

    Por que ela está falando algo assim? Sou a pessoa mais pacifista que conheço. pensou, com alguma indignação.

    Alfie, que estava ao lado, apenas sorriu, observando tudo em silêncio.

    “Entendido, Capitã Lerona. Contanto que não se envolva nos meus assuntos, acredito que não teremos qualquer problema.” respondeu, após algum tempo.

    Tendo obtido a concordância do rapaz, a mulher assentiu, satisfeita. Após ver um pequeno Tenente como ele enfrentando e até insultando um General, ela havia ficado seriamente preocupada em como lidaria com alguém problemático assim. Mas felizmente ele não havia demonstrado aquela ‘loucura’ de antes novamente.

    Tzim!

    Enquanto o jovem pálido pensava sobre como lidar com a mulher, algumas mensagens chegaram em seu Cubo Comunicador, fazendo sua expressão mudar.

    “Senhor Alfie, tenho algumas coisas urgentes a resolver, você pode retornar agora. Novamente, obrigado por concordar com meu pedido.”

    “Tudo bem, não é um problema.” O sujeito respondeu.

    Após isso, Fernando concentrou-se, focando sua mente para levitar. Diferente dos Generais e Majores, ele não tinha autorização para voar pela cidade, então apenas usou a levitação para descer das muralhas.

    Lerona o seguiu de perto, com alguma dúvida em seu rosto.

    “Ele não é seu guarda-costas, por que está o dispensando?”

    Ouvindo o questionamento, o jovem pálido franziu a testa levemente. Era com isso que ele estava preocupado, alguém que não era seu subordinado o seguindo por aí e fazendo perguntas desnecessárias.

    “Com uma Capitã como você ao meu lado, porque eu precisaria de mais alguém?” perguntou, de forma retórica.

    Apesar de não gostar muito da resposta do Tenente, Lerona não pôde deixar de concordar. Mesmo que o Especialista Intermediário parecesse ser alguém capaz, sua profissão não era a mais adequada para o combate, então ela seria mais do que suficiente.

    Enquanto a dupla caminhava pelas ruas da cidade, muitos olhares voltaram-se em direção de ambos, afinal, eles estavam trajando suas armaduras, com Lerona usando sua insígnia de Capitã no peito.

    “Por aqui.” disse, caminhando até um dos becos próximos, chegando a um local sem saída, entre dois comércios que ainda estavam desocupados, era um beco estreito, que mal cabia duas pessoas lado a lado e não havia qualquer indício de transeuntes por ali.

    Vendo-se num local remoto, apertado e sujo como aquele, Lerona franziu a testa, perguntando-se porque estavam ali.

    De repente, Fernando moveu seu pulso, guardando sua armadura inteira. Era algo que ele havia aprendido a fazer há algum tempo, mostrando-se muito útil e prático, ficando apenas com suas roupas comuns. Então, sem hesitar, tirou sua camisa.

    Vendo o rapaz se despir na sua frente, ficando sem camisa, Lerona ficou surpresa.

    “O que você está fazendo?”

    Fernando não a respondeu diretamente, apenas a olhou pelo canto dos olhos.

    “Tire sua armadura.”

    Ouvindo o pedido, a mulher ruiva franziu sua testa.

    “Escute bem, é melhor não ter ideias erradas, ou…”

    Antes que ela pudesse continuar, Fernando colocou outra camisa, mais larga e simples, que não se destacava.

    “Ainda não terminou?” perguntou, ao ver que ela ainda estava parada ali, o olhando. “Eu pedi para tirar sua armadura para não chamar muito a atenção. Você não é obrigada a ouvir meus pedidos, mas se vai me acompanhar por aí, peço que não me atrapalhe.”

    Lerona ficou surpresa com essas palavras, sentindo-se levemente constrangida por entender errado. Como uma mulher que estava no meio militar há muitos anos, ela era costumeiramente incomodada por homens luxuriosos, então achou que era mais um caso dessa vez.

    Tendo compreendido o mal-entendido, a mulher retirou sua armadura, ficando apenas com suas roupas comuns, que eram uma camisa amarelo-escura justa, que destacava seus enormes seios firmes e uma calça preta.

    Ao ver seu decote exagerado, que outrora foi escondido pela armadura, Fernando ficou impressionado. Em termos de tamanho, eram ainda maiores que os de Karol!

    “O que está olhando?” Uma voz feminina fria soou, quando o jovem Tenente levantou seu olhar fixo para a altura de seus olhos.

    “Nada, vamos indo.” respondeu apressadamente, desviando do assunto e tentando ignorar o deslize que cometeu.

    Após removerem suas armaduras, a dupla retornou as ruas, passando a chamar muito menos atenção. Apesar disso, alguns olhares atentos ainda se voltaram para a voluptuosa ruiva ao lado do rapaz pálido.

    Lerona, como alguém acostumada a andar entre muitos homens e até os comandar, não parecia se importar com isso, já tendo recebido muitos olhares ao longo da sua vida.

    De repente Fernando viu um restaurante simplório, mas não muito chamativo em uma das ruas, o nome era Pedra Oca. Parecia ser um local recém-aberto por novos compradores, que haviam se aventurado nos domínios da Zona Divergente. Simplesmente existiam vários estabelecimentos como esse abrindo todos os dias nos últimos tempos.

    Mesmo com o alto risco, muitas pessoas ainda se arriscavam a vir para fora do Domínio Humano, já que tinham a chance de abrir um comércio potencialmente lucrativo investindo pouco dinheiro, devido à desvalorização e ao ambiente hostil e perigoso. Era uma oportunidade que pessoas com pouco dinheiro dificilmente teriam na região central, mesmo em cidades menores.

    Sem hesitar, o jovem Tenente entrou no local, seguida por Lerona. Mesmo sendo um lugar pouco usual e modesto, estava relativamente cheio, com pessoas conversando, bebendo e comendo. Assim que adentrou no restaurante, avistou três pessoas em uma das mesas no canto do estabelecimento, as figuras enigmáticas estavam cobertas por capuzes.

    “Capitã Lerona, tenho alguns assuntos a resolver. Você pode se acomodar e pedir o que quiser, eu irei pagar.” disse, educadamente pedindo que a mulher se afastasse.

    A Capitã não se importou muito, sentando-se em uma das mesas próximas à saída, afinal seu dever era apenas manter sua segurança e não saber sobre seus negócios pessoais.

    Quando Fernando aproximou-se da mesa, o trio já estava o observando, tendo o notado desde o momento em que entrou no local. Uma das figuras logo levantou-se.

    “É bom finalmente poder revê-lo, meu senhor.” disse, com uma voz sucinta e respeitosa.

    A expressão do jovem Tenente se manteve inalterada, mas seus olhos focaram-se na pessoa a sua frente. Não fazia tanto tempo que ele tinha a visto, mas parecia que havia sido há anos atrás.

    “É bom revê-lo… Sargento.”

    Quando Fernando disse isso, a pessoa sorriu, removendo seu capuz e revelando seus longos cabelos negros, esse era Argos Kouris.

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