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    Quando Fernando, Kelly e os demais desceram das muralhas, o jovem pálido observou que muitos Soldados já estavam reunidos nos portões e nos entornos. Ao avistar suas tropas posicionadas não muito distante, caminhou em direção a elas com urgência.

    “Tenente!” Nesse momento uma voz familiar soou, era Thom, que havia chegado com o restante do Primeiro e Segundo Pelotões, além da Unidade de Logística.

    Ao observar cuidadosamente, Fernando notou que, com exceção daqueles que haviam partido em missões externas, todo o Batalhão Zero já estava reunido ali, o que era ótimo, devido à situação. De repente, uma mensagem chegou em seu Cubo Comunicador.

    “Os portões serão abertos em quatro minutos, esteja pronto! É melhor não tentar alguma gracinha, ou então…”

    Era uma mensagem de Herin. Ao lê-la, o jovem Tenente franziu a testa, com uma expressão cheia de desprezo, perguntando-se por que a maioria das pessoas em altas patentes eram tão arrogantes e idiotas. Ele próprio havia se disposto a isso. Por que o sujeito ainda estava o ameaçando?

    A verdade é que o próprio Fernando sabia da indisposição do homem em relação a ele devido às desavenças que haviam tido, então estava confiante que seria fácil convencê-lo da missão de resgate, já que, em tese, isso poderia matá-lo, o que provavelmente era o desejo do sujeito.

    “Reúnam todos, tenho algo a dizer.” Fernando falou, em direção a Thom, Emily, Gabriel e os demais.

    Em pouco tempo, todo o Batalhão foi reunido em uma praça próxima, relativamente afastada dos demais.

    “Todos estão aqui.” Theodora informou, ao terminar de organizar as fileiras. Ouvindo isso, Fernando assentiu, então o rapaz se dirigiu ao centro do local.

    Nesse momento, Karol aproximou-se com seu Lobo Prateado. Ela não sabia o que ele queria dizer, mas por seu rosto e modo de agir, tinha certeza de que algo grave havia acontecido.

    Com um olhar calmo, o jovem Tenente concentrou-se e então seus pés lentamente deixaram o chão, levitando vagarosamente, subindo a cerca de três metros de altura, alto o bastante para que todos pudessem vê-lo e ouvi-lo com clareza.

    “Ele está voando! O Tenente finalmente aprendeu Magia de Levitação!”

    “Incrível, mesmo sendo tão novo… Nosso Tenente é um gênio!”

    Todos os membros do Batalhão Zero ficaram encantados ao vê-lo controlando com tanta facilidade a Magia de Levitação. Ainda que fosse algo que a maioria das pessoas talentosas conseguiria com o tempo, o fato de tê-lo feito tão cedo, mostrava o quão talentoso ele era.

    Indiferente aos elogios e comentários, Fernando varreu seu olhar sobre suas tropas

    “Me escutem todos vocês.” gritou, chamando a atenção e fazendo as pessoas pararem de falar e ouvirem o que ele tinha a dizer. “Nesse ponto vocês já devem saber sobre o que está acontecendo. Atualmente a cidade está sendo atacada por Criaturas das Trevas, sendo um Rei Carniçal e um número enorme de Carniçais. Há um risco real de que a Matriz de Defesa caia.”

    Quando o jovem Tenente disse isso, a expressão de todos ficou tensa. Mesmo que tivessem ouvido falar a respeito pelas outras tropas e tivessem visto os sinais, como o apagão em toda cidade, ouvir da boca do próprio Tenente confirmava que não era apenas um rumor falso.

    “Atualmente o General Herin, que está comandando as muralhas, montou um grupo de defesa, para lançar um ataque aos Carniçais e diminuir seus números, para garantir que nossas defesas não caiam. Eu serei franco e direto com todos, eu voluntariei o Batalhão Zero como parte dessa missão.” prosseguiu, sem esconder nada.

    O semblante de todos mudou ao ouvir aquilo. Muitos deles sem entender o que seu Tenente queria dizer com aquilo.

    Nós vamos ter que sair da cidade? Onde está aquela monstruosidade?! Muitos pensaram, cheios de pavor. Anteriormente, eles apenas vislumbraram a criatura de relance, acima das muralhas e seus corações já se encheram de medo. Agora teriam que enfrentá-lo do lado de fora, cara a cara, no campo aberto? Além disso, havia muitas outras Criaturas das Trevas!

    Apesar de todos ali confiarem em Fernando, naquele instante sentiram que ele havia tomado uma decisão extremamente irracional!

    Até seus Oficiais e Cabos, como Gabriel, Kelly e mesmo sua própria esposa, Karol, não conseguia entender o que havia feito o rapaz fazer isso.

    “Teremos que sair da cidade com tantas Criaturas das Trevas lá fora?” Alguém comentou.

    “Isso… Vamos acabar mortos desse jeito!” Outro cochichou.

    Vendo o burburinho abaixo, Fernando não ficou surpreso, já esperando por isso.

    “Além dessa missão, há mais uma. Na verdade, mesmo que defender a cidade seja extremamente importante, esse é o motivo pelo qual voluntariei nosso Batalhão para isso. Alguns dos nossos foram pegos do lado de fora e estão cercados, iremos enviar um pequeno grupo após a abertura que irá até eles. O objetivo é trazê-los de volta.” anunciou, com uma expressão séria.

    Quando os Soldados ouviram isso, ficaram ainda mais tensos e pálidos. Apenas defender os portões já era quase uma insanidade, mas alguns deles ainda precisariam enfrentar um exército de Criaturas das Trevas até o Sul? Isso não era mais uma questão de loucura, mas puro suicídio!

    O que o Tenente está pensando ao aceitar missões como essa? Ele não valoriza nossas vidas? Alguns Soldados perguntaram-se, cheios de medo.

    O burburinho, que antes era baixo e discreto, tornou-se intenso com as últimas palavras do rapaz.

    Vendo a reação de todos, a expressão do Tenente permaneceu inalterada. De repente, o jovem pálido reuniu ar em seus pulmões.

    “Todos aqui acham que minhas palavras são uma piada?!” esbravejou, sua voz se espalhando por todo o local, mesmo tropas próximas ao local puderam ouvi-lo. 

    Cada um dos membros do Batalhão Zero, de forma súbita, ficaram em silêncio. Mesmo que a voz do Tenente parecesse calma e seu rosto não demonstrasse mudanças, ele estava claramente furioso.

    Vendo que todos se calaram, o rapaz continuou.

    “Vocês se lembram do que eu disse quando o Batalhão Zero havia sido recém formado? ‘todo e qualquer membro do meu Batalhão é importante para mim e jamais irei permitir que sejamos atacados, feridos ou oprimidos sem dar uma resposta à altura’.” declarou, de forma alta e clara, enquanto olhava para todos abaixo. “Foi isso que eu disse, foi esse juramento que dei a todos aqui e que todos se comprometeram a cumprir, e nesse exato momento nossos companheiros estão do lado de fora, morrendo, sozinhos e cercados de inimigos!”

    Quando o Tenente disse isso, a expressão de muitos deles mudaram, principalmente dos membros do Primeiro e Segundo Pelotões, já que seus Oficiais também estavam em missões externas, assim como parte de seus companheiros. No caso do Segundo, composto pela antiga Guilda Valorosos, os Soldados pareciam ainda mais afetados, já que sua ligação com Trayan era muito alta.

    Neste momento muitos se recordaram do dia em que um Tenente novato, que mal havia assumido sua posição, ousou desafiar uma famosa Guilda, conhecida por sua violência e crimes. Uma Guilda que havia sequestrado um membro do Batalhão Zero à luz do dia, tendo certeza de sua impunidade. Mesmo parecendo loucura, ele havia garantido que aquelas pessoas pagariam.

    Para muitos isso pareceria apenas uma bravata sem sentido, que estava apenas sendo dita da boca para fora. Entretanto, no final daquele dia, o poderoso líder da Guilda Fúria pereceu sob sua espada e sua Guilda foi destruída por completo. Tudo isso porque eles haviam tocado em um único membro do Batalhão Zero!

    “Então, o que vocês acham que devemos fazer? Se esconder atrás das muralhas e apenas recolher seus corpos sem vida ao amanhecer?” O rapaz pálido questionou, exalando sua voz, enquanto varria seu olhar sobre cada Soldado ao redor. Muitos engoliram em seco ao ouvirem isso, enquanto outros abaixaram suas cabeças. “Ou… Devemos mostrar a essas malditas coisas o que acontece com quem mexe com nosso Batalhão Zero?!”

    Os Soldados ergueram suas cabeças com expressões sérias. Embora soubessem que tudo aquilo era uma maluquice, ainda assim, sentiram seu sangue ferver. Muitos apertaram o punho de suas armas com força.

    “Aqueles que não quiserem participar dessa operação, tem a minha autorização para se retirar. Eu assumirei as consequências.” Fernando declarou, com um rosto firme.

    Mesmo sabendo que muito provavelmente seria penalizado por essa decisão, o rapaz não estava disposto a levar pessoas que não estavam prontas para uma missão com alta taxa de mortalidade como essa.

    Bam! Bam!

    De repente, enquanto aguardava a decisão de seus homens, alguns poucos começaram a bater com suas espadas em seus escudos. Essas pessoas tinham rostos fixos em Fernando e um olhar decidido. Entre eles havia membros dos vários Pelotões e Esquadrões e principalmente da Unidade de Logística, que havia declarado sua total lealdade ao jovem Tenente.

    “E se fosse eu lá fora… Ah! Quer saber, que se foda!” Um Soldado murmurou consigo mesmo.

    Muitos dos indecisos, que estavam pensando se deveriam se retirar, olharam para isso e sentiram um misto de emoções. Então, ergueram seus próprios escudos, batendo com suas espadas em sintonia com os demais.

    Bam! Bam! Bam!

    Uh-Uh-Unidade!

    As tropas começaram um tênue canto rítmico.

    Muitos dos Cabos e Oficiais, como Kelly, Lance, Ugo, Emily, Gabriel e muitos outros tinham expressões determinadas em seus rostos. Eles haviam seguido Fernando até ali e só estavam vivos até agora por sua causa, sendo assim confiariam mais uma vez em seu líder.

    Lerona, que ainda estava descendo a muralha, pensativa, ficou impressionada ao ver a comoção à sua frente. A maioria ficaria assustada e temerosa ao assumir uma missão tão arriscada como essa, mas as tropas de Fernando haviam tido uma reação completamente diferente.

    Quem é esse garoto, afinal? perguntou-se, olhando para o que ele havia conseguido com algumas poucas palavras.

    Vendo a reação dos membros do Batalhão Zero, onde nenhum único Soldado havia saído, até o próprio Fernando ficou impressionado. Todo seu corpo arrepiou-se ao ver isso, sentindo uma onda de adrenalina percorrer todo seu ser. 

    Ele havia imaginado que, se ao menos um terço deles o acompanhassem nessa empreitada maluca, ele estaria mais que satisfeito, mas todos haviam ficado.

    Naquele ponto, o jovem Tenente sabia que havia tido sua resposta.

    “Batalhão Zero, formação!” gritou. 

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