Capítulo 277 - Depende de você

Ouvindo as palavras de Argos, a expressão de Fernando mudou.

“Você me vendeu… Entendo.”

Observando a reação calma do jovem, Argos franziu a testa. Isso era algo que o irritava profundamente nesse jovem. Suas reações sempre eram assim.

“Veja bem, eu não estava mentindo completamente. Este é Temóris, um comerciante. Entretanto, o que ele compra não são mercadorias, mas pessoas.”

O sujeito chamado Temóris tinha uma expressão de desagrado.

“Você fala demais.”

Argos riu com o comentário.

Ambos os homens atrás moveram-se lentamente. Notando isso, Fernando sacou suas duas espadas, Lumeris e Formek. Virando-se diagonalmente, mantendo tanto Temóris e Argos, quanto os dois sujeitos em sua linha de visão.

“Fernando, você é mais inteligente que isso, resistir é tolice. Baixe as armas, sua vida não está em risco aqui, pelo contrário, estou te ajudando.”

“Me ajudando… Me atraindo para uma emboscada, engraçado.” respondeu, com um tom de escárnio.

Apesar das palavras duras do jovem, Argos não se importou.

“Temóris é um ‘comerciante’ da Legião dos Lobos de Batalha. Seu trabalho é levar jovens promissores de outras legiões. Seu trabalho está mais para um recrutador do que para um comerciante. Se você o seguir em paz, terá grandes oportunidades.”

“Lobos de Batalha?” A expressão de Fernando mudou muito ao ouvir isso.

Vendo a primeira reação exagerada do jovem, Argos sorriu.

“Isso mesmo, uma das maiores legiões desse mundo de merda.”

Ouvindo isso, Fernando ficou em silêncio, mas não baixou suas armas.

Suspira.

“Você não entende? Não tem sentido continuar nos Leões Dourados, essa legião está falida. Não percebeu? A cerimônia de hoje não foi um evento simples, foi um levante, quase uma revolta. O General Wayne está demonstrando seu descontentamento em direção ao General Supremo Dimas, para isso ele reuniu o apoio de Dimitri e Telles, assim como outros generais. Se ambos os lados não chegarem a um acordo, provavelmente terá uma guerra civil na legião.”

Quando Fernando ouviu as palavras de Argos, foi como se um estalo atingisse sua mente.

“Isso…” Finalmente entendeu porque o evento parecia tão estranho e anormal.

Apesar da surpresa, logo acalmou-se.

“Desde quando você é um traidor?” perguntou.

Ouvindo isso, Argos franziu a testa.

“Eu nunca fui um traidor, sempre fiz parte dos Lobos de Batalha, minha missão era me infiltrar em Vento Amarelo e vigiar Kalfas de perto.”

Ouvindo isso, Fernando ficou irritado.

“Minha professora confiou em você e retribui dessa forma.” Fernando disse, ele não estava interessado em qualquer traição da legião, mas Gallia era diferente.

“Chega dessa merda.” Temóris moveu o pulso e um par de luvas de metal apareceu em seus punhos. “Você vem por bem, ou por mal. Mesmo que eu tenha que te quebrar todo.”

“Fernando, não resista. Ele é um Tenente aposentado dos Lobos de Batalha e os dois homens atrás de você eram seus Subtenentes. Mesmo que você tenha recebido a posição de Tenente, nós dois sabemos que você não tem força correspondente a sua atual patente.”

Apesar de seu aviso, Argos viu que o jovem Tenente não só não baixou suas armas, como tinha uma expressão fria em seu rosto.

“Apenas me diga, além de você, havia mais traidores?” Fernando perguntou, com uma voz um pouco rouca.

Argos ficou surpreso com a pergunta repentina, mas sorriu.

“Mesmo agora está tentando arrancar informações de mim? Eu sempre te considerei alguém inteligente e perspicaz, mas acho que não era pra tanto, afinal. Além de mim, apenas meus Cabos foram recrutados, o restante do Pelotão Lazuli são só um bando de soldados comuns. Se está preocupado com a Bruxa Gélida, nunca tive interesse nela.”

Ouvindo até ai, a expressão fria de Fernando amenizou-se.

“Entendo.” disse, abaixando as duas espadas.

“Parece que o garoto perdeu a vontade de lutar.” O homem chamado Temóris disse, num tom de ridículo.

“Nunca tive a intenção de lutar. Pelo menos não com você, alguém mais adequado vai enfrentá-lo.” Fernando respondeu, então levantou a mão, usando seu dedo indicador para apontar para cima.

Os quatro homens na sala congelaram por um instante, então olharam para o teto, mas nada aconteceu.

“Esse garoto é piadista hahahaha. Tentou mandar comunicações para fora daqui? Que pena, desde que entrou no beco acima, entrou no raio de bloqueio de mana, nenhuma comunicação sai desse lugar.”

Fernando manteve-se apontando para cima, mas agora uma expressão irritada preenchia seu rosto.

Bang!

De repente uma explosão soou, o teto desabou e todos rolaram para o lado ou correram.

Poeira e terra voaram por todo o lugar, mas logo uma figura surgiu no centro da sala, levantando-se do chão. Acima, um grande buraco de três metros de largura.

Cof! Cof!

“Puta merda, que lugar mofado que você se meteu garoto. Além disso, se enfurnando numa sala secreta com um monte de caras suados… Seus gostos são no mínimo, duvidosos.”

Uma voz familiar soou, era Raul.

Ao vê-lo, Fernando não parecia contente, mas irritado.

“Você não tem sincronia nenhuma.” disse, olhando para a mão que usou para ficar apontando para cima por vários segundos.

Ao ver isso, Raul ficou confuso, mas deixou a conversa de lado, olhando para todos ao redor.

Argos estava completamente sem palavras. Como um membro da Décima Terceira, ele mais do que ninguém, conhecia Raul, o Urso Tirânico. Se fosse no passado, mesmo que o próprio Urso tivesse vindo, ele não se importaria já que havia um Tenente ao seu lado, mas agora era diferente, Raul havia atingido a força de um Capitão!

“Como… Como você se comunicou com o exterior?” Argos exclamou, incrédulo.

Fernando tinha um rosto calmo, como se não fosse com ele, mas logo respondeu.

“É simples, eu usei meu Cubo Comunicador bem antes de entrar aqui, afinal… Eu nunca confiei em você.” respondeu, com um rosto frio.

Temóris estava com um rosto cheio de pânico, ele já havia sido um Tenente, mas devido ao seu Talento limitado, nunca conseguiu avançar além disso, por isso havia se tornado um recrutador. Por muitas vezes raptou jovens oficiais talentosos, mas essa foi a primeira vez que algo saiu de seu controle.

Ting! Ting!

Apesar do medo da situação irregular, o homem acalmou-se, batendo uma luva contra a outra, avançou.

Swish! Boom!!

Temóris sumiu do lugar que estava, aparecendo ao lado de Raul.

Ting!

Um dos seus socos atingiu a espada de Raul em cheio, mas para sua surpresa o mesmo não se moveu no mínimo.

Fernando que viu isso, ficou surpreso.

Um usuário de Habilidade!

“Heh, até que você é fortinho, se tivessemos lutado uma semana atrás, teria sido uma batalha satisfatória, mas agora…” Raul falou, com um largo sorriso no rosto.

Bang! Crack!

“AHHHHH!”

Com um chute, quebrou a perna do homem.

“Que escandaloso.” Com uma expressão de desagrado, Raul moveu o punho da espada.

Perfura!

O fio da lâmina atravessou a garganta do homem, de um lado ao outro. O sujeito se debateu, tentando retirar o fio da lâmina, mas Raul não moveu-se no mínimo. Apenas ficou ali, olhando-o, como se fosse um brinquedo divertido.

Depois de engasgar-se no próprio sangue, o homem morreu sufocado, ambas as mãos cheias de cortes de tentar livrar-se do fio da lâmina de sua garganta.

“Senhor!!” Os dois homens, que estavam sem reação, ficaram enfurecidos, correndo em direção a Fernando e Raul respectivamente.

Levantando sua arma, Fernando preparou-se para receber o ataque, entretanto, algo aconteceu.

Swish! Ploft!

O homem que vinha correndo em sua direção, de repente desmoronou no chão, sua cabeça rolando até seus pés.

“Isso…” Nesse momento, Fernando vislumbrou uma figura em roupas negras, surgindo não muito longe de onde o corpo do sujeito caiu, era Theodora. “Quando você chegou?”

Theodora riu quando viu a expressão de surpresa de seu líder.

“Eu entrei junto do Capitão Raul.”

Ouvindo isso, Fernando ficou surpreso, ele simplesmente não havia notado-a!

Crack!

Ao longe ambos viram Raul, segurando o último homem pela gola, ou melhor, seu corpo. Sua cabeça estava virada num ângulo estranho. 

No fim, dentre todas as sete pessoas anteriormente na sala, apenas Fernando, Theodora, Raul e Argos permaneciam vivos.

Vendo que o povo dos Lobos de Batalha foram mortos tão facilmente, Argos caiu de joelhos, sabendo que seu destino já havia sido cravado em pedra, não viu sentido em lutar.

Tac! Tac! Tac!

Com passos lentos, mas firmes, Fernando aproximou-se do sujeito, parando bem a sua frente.

“Apenas faça de forma indolor, em nome da batalha que lutamos lado a lado.”

Em silêncio, Fernando não confirmou e nem negou nada.

Com a cabeça baixa, sentiu que o silêncio do jovem era aterrador, como um ceifador da morte, olhando-o do escuro.

Então depois de alguns segundos, ouviu sua voz.

“Vai depender de você.”

Argos imediatamente entendeu o que ele quis dizer.