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    A tensão pairava no ar da Guilda, como uma sombra densa e sufocante. Aura, com os olhos atentos e frios, observava a figura diante delas. Era impossível ignorar a silhueta de Makoto, cuja presença deveria ser inspiradora, mas agora parecia uma afronta às memórias e ao legado que ela representava.

    — Então, é assim que uma Guardiã deveria se parecer? — Aura comentou, o tom carregado de sarcasmo enquanto seus olhos se estreitavam. — Bonita por fora, mas o que está aí dentro é repulsivo. Nem deveria existir.

    Kirara permaneceu imóvel, a mente lutando para aceitar a visão diante dela. Sua antiga mestre, Makoto, cuja memória havia sido um farol de esperança e força, estava ali. Mas algo estava errado. Ela sabia disso, mesmo que sua mente se recusasse a aceitar.

    Makoto ou aquilo que habitava seu corpo, arqueou uma sobrancelha, os lábios se curvando em um sorriso que era ao mesmo tempo familiar e completamente desconhecido. — Ah, que rude, pequena. Mas você está certa, a beleza é de família, não é? E devo admitir, estou curiosa para conhecer o garoto que herdou minha vontade. Kirara, minha querida… por que não me mostra onde está meu neto?

    A menção a Renier fez Kirara estremecer, mas, em sua confusão emocional, ela deu um passo à frente, a voz vacilante. — Renier… ele não está aqui. Mas…

    — Idiota! — Aura a interrompeu, os olhos faiscando de raiva. — Você realmente acredita que essa é Makoto? Abra os olhos, Kirara! Isso é Alaster, um demônio parasita, usando o corpo do ancestral de Renier como uma marionete!

    As palavras cortaram o ar como uma lâmina afiada, e o impacto foi imediato. Kirara sentiu o chão ceder sob seus pés. Ela tentou responder, mas sua mente estava em um redemoinho de incredulidade e angústia.

    Makoto ou Alaster soltou uma risada fria e debochada, inclinando levemente a cabeça como se estivesse assistindo a um espetáculo. — Tão insensível, garotinha. Você estragou o que poderia ter sido um encontro emocionante entre mestre e pupila. Mas devo admitir… — Ele deu um passo à frente, os olhos brilhando com um tom demoníaco que perfurava a alma. — É sempre divertido ver suas emoções se despedaçarem, Kirara. Ainda lembro daquele dia. Você chorando, implorando, enquanto esse corpo… — Ele bateu de leve no peito, com um sorriso cruel. — …se sacrificava para me deter. Quem diria que ele acabaria sendo o brinquedo perfeito para mim?

    A provocação foi demais para Kirara suportar. Com um grito de fúria, ela conjurou sua espada feita de sangue, símbolo de seu poder como vampira. A lâmina brilhou com uma intensidade mortal enquanto ela avançava com um ataque feroz, buscando silenciar a abominação diante dela.

    Mas Alaster estava pronto. Com um movimento casual, ele bloqueou o golpe com a mão nua, o som do impacto ecoando pela Guilda. — Ah, minha querida pupila, — ele zombou. — Deixe-me ensinar-lhe uma lição… atacar com raiva é um erro de amadores.

    Com um pulso de energia demoníaca, uma explosão negra emanou de sua mão, perfurando o abdômen de Kirara e lançando-a para trás. O corpo dela colidiu contra uma parede com um impacto seco, deixando um rastro de sangue no chão.

    — Ainda dependem de um Guardião Negro? — Alaster zombou, os olhos brilhando de diversão sádica. — Uma criança fraca que foge das responsabilidades? Ou será que ele sequer está pronto para enfrentar algo assim?

    Aura deu um passo à frente, os olhos fixos no inimigo. Sem hesitação, ela ergueu sua espada e atacou com uma força impressionante. As lâminas se chocaram em uma explosão de faíscas, o impacto lançando mesas e cadeiras ao redor.

    — Você é forte, — Alaster admitiu com um sorriso arrogante. — Mas ainda está muito abaixo de mim.

    Aura, com a expressão impassível, rebateu com frieza. — Você está enganado, Alaster. Renier não é fraco. E muito menos ingênuo.

    O sorriso de Alaster vacilou, e ele inclinou a cabeça, confuso. — O que está insinuando, pequena?

    Aura deu um sorriso de canto, carregado de deboche. — De demônio para demônio… você cometeu o erro mais básico e patético. Entrou no território de um Guardião sem nem perceber.

    A confusão se transformou em inquietação, e Alaster apertou os olhos. — Explique-se.

    Aura, com o tom de voz gélido, riu levemente. — O que acha que acontece quando um Guardião Negro deixa o território desprotegido? Você acha que ele saiu sem deixar armadilhas? Ou que somos tão ingênuos quanto você acredita?

    A Guilda Fronteira estava em silêncio mortal. No alto de uma pilastra, Renier Kanemoto observava como uma sombra predatória. Os Olhos das Revelações brilhavam com intensidade azul, iluminando o escuro, enquanto a sua foice, tão resplandecente quanto fria, reluzia com uma energia que parecia cortar o próprio ar.

    Com a cabeça apoiada na mão, ele observava o caos abaixo, a silhueta possuída de Makoto, ou melhor, Alaster, ao centro do salão destruído. Sua voz cortou o silêncio como uma lâmina, carregada de sarcasmo.

    — Ora, ora… então é assim que minha avó se parece? Confesso, até que não é tão ruim para um cadáver usado.

    Alaster ergueu o olhar para a figura acima dele, seus olhos demoníacos faiscando de ódio ao encontrar o brilho azulado e imponente do Guardião Negro. Por um breve momento, hesitou. Aqueles olhos… — Inconfundíveis — ele sussurrou, como se uma memória enterrada lhe assombrasse.

    Renier saltou da pilastra com a agilidade de uma fera, pousando suavemente a alguns metros de distância. A reação ao seu surgimento foi imediata. Anastasia e as outras, Kirara ainda ferida, clamaram por ele, esperanças reacendendo em suas vozes.

    Aura, por outro lado, surgia ao seu lado, sua expressão fria, mas satisfeita.

    — Demorou bastante, Guardião. Assistiu o show por tempo suficiente?

    Renier deu de ombros, girando sua foice de maneira casual.

    — Era uma peça interessante… Mas agora vamos ao ato final.

    Alaster franziu o cenho, confusão tomando conta de sua expressão demoníaca.

    — Plano? Que plano?

    Renier caminhou lentamente ao redor dele, olhos fixos, como um predador circundando sua presa.

    — Ah, claro, o plano… Quer dizer que você realmente não notou nada de estranho? Nenhum detalhe sequer desde que entrou na Cidade Fronteira? Tsc, tsc… esperava mais de você.

    O demônio hesitou, os olhos de Makoto piscando momentaneamente em dúvida, como se tentasse compreender o que estava sendo insinuado.

    — O Dia do Demônio, — Renier continuou, com um sorriso cortante. — Diga-me, Alaster, por que há monstros rondando a cidade? Quem foi que trouxe isso até aqui?

    De repente, o silêncio se desfez. A realização de Alaster veio como uma explosão interna.

    — Você… — ele murmurou, os dentes cerrados. — Foi você que forçou esse evento, não fui eu.

    Renier riu de maneira sombria, seus olhos brilhando ainda mais intensamente.

    — Exato. Fui eu, Guardião Negro, quem trouxe o caos antecipadamente. Um híbrido de demônio sabe como manipular outros monstros. Afinal, a sua arrogância não permitiu que percebesse algo tão óbvio: que o controle dessa noite nunca foi seu.

    A aura de Renier cresceu em intensidade, um vermelho carmesim que pressionava o ambiente ao seu redor, esmagando a presença demoníaca de Alaster.

    — Que tipo de aberração você é? — Alaster rugiu, sentindo-se sufocado pela presença avassaladora.

    Renier não conteve o sorriso afiado, uma lâmina em forma de expressão.

    — Isso não é da sua conta, demônio. Mas veja bem… — Ele girou a foice, apontando para Makoto. — Você veio aqui porque sabia que usar o corpo dela mexeria com as memórias de todos nós. Queria brincar com a dor, transformar isso em sua arma. Mas você caiu na armadilha mais banal que um Guardião poderia criar. Ocultar-se à vista de todos, usando seu próprio ego como distração.

    O demônio no corpo de Makoto rugiu de fúria, sentindo-se manipulado.

    — Pirralho maldito! — ela gritou, lançando uma explosão de energia negra na direção de Renier, fazendo o salão tremer.

    Renier saltou ágil como o vento, pousando no telhado próximo da rua da guida com uma leveza desconcertante. Lá, com a lua vermelha brilhando ao fundo, seus olhos azuis ficaram intensamente na escuridão.

    Alaster, ainda possuindo Makoto, ergueu os punhos, o rosto distorcido de ódio e vergonha.

    — Sua família é um erro! E hoje eu irei corrigir isso. Depois, este mundo será esmagado pela minha fúria!

    A lua parecia observar o confronto iminente, enquanto o brilho dos Olhos das Revelações cortava a noite como o presságio de uma guerra entre titãs.

    Continua…

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