Índice de Capítulo

    A jornada pelo labirinto começou em um ritmo mais calmo do que o esperado. As câmaras surgiam conforme avançavam, organizadas de maneira que pareciam meticulosamente planejadas. Renier não pôde evitar a suspeita de que o Pesadelo poderia ter se inspirado em algum jogo para criar aquele ambiente que lembrava um clássico RPG.

    — Mestre… — murmurou Luna, suas orelhas de raposa se mexendo inquietas.

    Renier conteve uma careta. Ser chamado assim ainda o incomodava, mas ele decidiu ignorar e focar no problema mais imediato.

    — Algum sinal de perigo? — perguntou com calma, mantendo a postura firme para não alarmar suas companheiras.

    — Talvez não seja nada… — respondeu Luna, hesitante. — Mas estou ouvindo algo se quebrando… de forma contínua… Como se estivesse sendo mastigado.

    Renier notou um leve tremor em suas orelhas, denunciando o desconforto causado pelo som.

    — Pode ser um monstro do labirinto… — sugeriu Mila, a voz um pouco trêmula. — Devemos avançar com cautela, sem sermos vistos.

    Renier lançou um olhar para ela. “Está tentando evitar o confronto…” Ele não a culpava, mas fugir de desafios não traria crescimento.

    — Vocês duas precisam de experiência. — Sua voz soou firme, quase uma ordem. — Vou na frente para avaliar o nível de perigo. Sigam-me em silêncio e fiquem atentas.

    Ambas assentiram, embora sem entusiasmo. Renier sacou sua pistola hi-tech, o dedo firme sobre o gatilho. A arma era mais do que um simples instrumento; servia como um canalizador de sua energia cósmica, permitindo um uso mais controlado e preciso.

    Com passos silenciosos, ele avançou pelo piso de pedras frias cobertas de musgo. O som das gotas d’água ecoava no corredor úmido, mas, além disso, algo mais preenchia o ambiente: um estalo ritmado e grotesco, como ossos sendo esmagados entre mandíbulas poderosas.

    — Parece que alguém está fazendo um lanchinho… — murmurou Renier, com um sorriso seco.

    A entrada da gruta se tornava visível à frente, e o ar carregava um odor pútrido e denso. Renier sentiu a mudança na pressão do ambiente, como se a escuridão ao redor estivesse respirando.

    Renier espiou dentro da gruta, seus olhos azuis brilhando intensamente na escuridão. A cena que se desenhava à sua frente era um espetáculo de puro horror. Criaturas em avançado estado de decomposição se banqueteavam com os corpos mutilados de soldados e civis, pessoas que haviam sido tragadas junto à cidade e, ao contrário deles, não tiveram a sorte de cair em um lugar seguro.

    Ele murmurou para si mesmo, sua voz carregada de uma melancolia que logo dissipou ao sentir o fedor sufocante da podridão. Suspirou, ajustando a pegada na arma antes de avançar.

    O som de seus passos ecoou na câmara, chamando a atenção das criaturas. Olhos mortos e vazios se voltaram para ele, e então veio o ruído, um ranger de dentes cortante e agonizante. O instinto de caça dos zumbis foi atiçado, e eles se lançaram em sua direção.

    Renier, no entanto, já estava preparado.

    O primeiro zumbi foi recebido com um chute brutal que o arremessou contra a parede, deixando um rastro de carne podre no impacto. O fedor ficou ainda mais insuportável, e Renier franziu o cenho. Talvez seus sentidos de dragão estivessem aguçados demais, tornando tudo ainda mais nauseante.

    Sem perder tempo, ergueu a arma e mirou no segundo zumbi. O disparo de energia cósmica foi certeiro, a cabeça da criatura explodiu como uma fruta madura, espalhando pedaços para todos os lados. Ele fez uma careta de desgosto ao observar os restos se espalhando pelo chão.

    — Repulsivos… — murmurou, sem conseguir esconder seu nojo.

    Seu olhar caiu sobre os cadáveres espalhados pela caverna. Nem todos os habitantes da cidade sobreviveram. Ele sabia disso. Mas, como Guardião Negro, não conseguia afastar a sensação de que poderia ter feito mais…

    A distração custou caro.

    O som agudo de dentes rangendo veio logo atrás dele. Renier girou o corpo instintivamente, mas, antes que pudesse reagir, o barulho cessou de forma abrupta. Em vez do ataque, ouviu o som cortante de uma lâmina rasgando carne morta.

    Ele se virou a tempo de ver Mila com a espada cravada no crânio do morto-vivo. O zumbi se contorceu uma última vez antes de despencar sem vida.

    Renier ergueu uma sobrancelha, então sorriu de lado.

    — Heh… você tem jeito para isso.

    Mila tentou manter a compostura, mas bastou seu olhar cair novamente sobre os corpos dos mortos para que seu estômago se revirasse. Engoliu em seco, o horror se misturando à náusea e, sem conseguir segurar, caiu de joelhos, vomitando no chão.

    — Eles… eram conhecidos da minha família… — murmurou, a voz fraca, quase um sussurro.

    Renier observou a cena por um momento, então suspirou, passando uma mão pelo cabelo. Nem todos compartilhavam sua mentalidade. Nem todos podiam encarar a morte com a mesma frieza que ele.

    Mas Mila era forte. Ela superaria isso.

    Seus olhos se voltaram para Luna, que permanecia imóvel, analisando a cena. Seu olhar percorreu os cadáveres e os zumbis abatidos, mas em nenhum momento demonstrou vulnerabilidade.

    — E você? Está bem? — perguntou Renier, estudando sua expressão.

    Luna assentiu, sem hesitar.

    — Sim… Só estou curiosa para saber que outros monstros encontraremos dentro deste labirinto.

    Renier encarou o brilho determinado nos olhos dela e soltou um riso baixo. Essa garota definitivamente era interessante para ele.

    ✦—✵☽✧☾✵—✦

    O trio seguiu caminhando pelo labirinto, cada passo calculado e meticulosamente analisado. Renier observava ao redor, notando que o corredor à sua frente se estendia em linha reta. No entanto, ele já havia percebido o padrão traiçoeiro daquele lugar.

    Duas grutas emergem como possibilidades, podiam levar para uma saída, subir para um caminho seguro ou simplesmente se tornarem armadilhas fatais. Ele não estava disposto a arriscar sem uma certeza maior.

    O ar puro ainda era perceptível. Uma leve corrente de ar cortava a escuridão, e Renier conseguia senti-la. Aquilo era sua bússola naquele ambiente traiçoeiro, guiando-o para o que esperava ser a saída.

    Seus pensamentos se dissiparam ao voltar o olhar para Mila. Ela apertava a espada que ele lhe havia dado, segurando-a como se fosse um escudo contra a realidade ao seu redor. Seu olhar havia mudado desde que chegaram ali. Antes, havia um brilho hesitante, mas agora… agora seus olhos estavam baixos, uma melancolia pesada pesando sobre seus ombros.

    A realidade da vida e da morte se tornava mais cruel quando vista de perto. Renier sabia disso melhor do que ninguém.

    Ele esboçou um sorriso suave, desviando o olhar para a frente. Então, sem aviso, puxou o assunto, assustando levemente as duas companheiras.

    Continua…

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota