Capítulo 78: A Armadura do Ceifeiro: Sombras e Lâminas no Labirinto.
O tempo dentro do oásis havia servido bem para recuperar as energias. O descanso de Mila e Luna foi mais do que necessário, e agora estavam prontas para seguir em frente. Renier, por outro lado, permaneceu como sempre: incansável e alerta.
Ele cruzou os braços e olhou ao redor, avaliando a pequena gruta que servira de refúgio. O som suave da água correndo, as árvores frutíferas, a vegetação exótica… Um lugar improvável dentro de um labirinto de morte.
— Deixaremos isso aqui — disse Renier. — Qualquer um que sobreviva a esse inferno pode precisar desse oásis.
Mila assentiu.
— Parece uma boa ideia.
Mas seu olhar se desviou para um canto da gruta, onde jazia a escura e imponente armadura do Dullahan. O metal negro reluzia sob a luz fraca, um peso silencioso no ambiente.
Ela mordeu o lábio, ponderando.
— Renier… eu poderia usar essa armadura?
Renier virou o rosto na direção do equipamento. Seu olhar afiado analisou cada detalhe. Era um pouco grande para o porte dela, afinal, a garota tinha apenas 14 anos.
Ele suspirou.
— Posso ajustá-la com magia para caber em você — respondeu. — Mas é uma armadura de um monstro. Eu não a usaria muito…
Luna, ainda espreguiçando-se do sono, bocejou antes de intervir.
— Um Cavaleiro da Morte… Quando morre, quem veste seu traje e empunha sua arma está fadado a se tornar o novo ceifeiro no lugar dele.
Mila arregalou os olhos, sentindo um arrepio na espinha.
— Certo… agora fiquei com medo de usar isso…
Renier, no entanto, cruzou os braços e sorriu de canto.
— Medo? Isso parece bem útil para mim. Ter o poder de um monstro pode aumentar nosso nível e nos dar mais vantagem.
Luna assentiu.
— Ele está certo. Poucos têm a chance de usar algo assim. Pode ser um grande trunfo.
Mila olhou de um para o outro, incerta. Seu olhar voltou à armadura negra, que parecia chamá-la silenciosamente. A decisão pesava, mas ela sabia que, neste lugar, poder significava sobrevivência.
E talvez… apenas talvez… ela estivesse disposta a pagar o preço.
Mila engoliu em seco, mas ergueu o olhar determinado.
— Estou disposta a usar esse poder, se isso me tornar mais forte.
Renier abriu um sorriso de canto, satisfeito com a decisão.
— Se essa é sua escolha, então tudo bem.
Sem hesitar, Mila começou a se despir da roupa pesada, ficando apenas com peças íntimas. Renier, que observava casualmente, arqueou levemente a sobrancelha, surpreso com a falta de hesitação da garota.
Ela o encarou diretamente.
— Vai ficar parado aí ou vai me ajudar a vestir isso?
Renier piscou, saindo de seu breve devaneio. Talvez fosse normal para ela? Melhor não questionar.
— Certo, certo. Vamos logo com isso.
Ele caminhou até as peças da armadura negra do Dullahan, sua presença ainda impregnada de uma energia densa e inquietante. Segurando a primeira peça, olhou para Mila.
— Fique parada e estique os braços.
Ela obedeceu sem questionar.
Renier começou a vesti-la, ajustando cada peça ao corpo dela. Conforme a armadura cobria sua pele, um miasma escuro começou a se desprender do metal. Os olhos de Renier se estreitaram. Ele imediatamente canalizou sua energia, suprimindo a aura sombria que tentava se espalhar.
— Essa coisa está tentando consumir você — murmurou.
Mila franziu a testa.
— O quê?
Luna, ainda de braços cruzados, observando, suspirou.
— A armadura é amaldiçoada. O que está dentro dela são os usuários anteriores. Ela drena a energia vital do portador, devora sua alma e consome seu corpo… até sobrar apenas a armadura.
Mila empalideceu.
— H-Há tempo de voltar atrás?
O desconforto era visível em sua expressão.
Renier soltou uma leve risada contida, mas sem demonstrar preocupação, terminou os últimos ajustes na armadura e deu um leve tapinha no ombro dela.
— Relaxe. Acabei de remover essa maldição. Não vai acontecer nada com você.
Mila soltou um suspiro, aliviada.
— Mas então… o que eu ganhei com isso?
Renier cruzou os braços e analisou a energia que emanava dela agora.
— Seus atributos físicos foram amplificados. Essa armadura fortalece a magia negra, necromancia e magia das sombras. Com sua afinidade e seu status de auxiliar, você será capaz de usar esses poderes sem ser consumida.
Mila moveu os braços dentro da armadura, sentindo o peso e o ajuste perfeito.
— Então… só preciso treinar para controlá-la?
Renier sorriu, confiante.
— Exatamente. E se conseguir dominá-la… pode se tornar mais forte do que imaginava.
Mila fechou os punhos dentro das manoplas escuras, sentindo o peso, e o poder, da armadura sobre seu corpo. Ainda havia receio, mas também uma nova força pulsando em suas veias.
O brilho nos olhos de Mila voltou. Se antes havia medo, agora restava apenas empolgação.
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O trio avançava pelos corredores escuros e opressivos do labirinto, com Renier liderando o grupo. Mila seguia logo atrás, sentindo o peso da armadura negra recém-adquirida. A foice repousava em suas costas, junto à espada dada por Renier, agora embainhada em sua cintura. Já Luna caminhava ao lado de Renier, seus olhos brilhando na penumbra daquele lugar claustrofóbico, até quebrar o silêncio com uma pergunta calma.
— Você não acha que deveríamos testar a Mila antes de uma batalha real? — Luna perguntou calmamente, mantendo seu tom indiferente.
Renier lançou um olhar rápido para ela, acenando positivamente, já considerando essa possibilidade.
— Concordo. Seria estupidez deixar ela ir para uma luta séria sem saber como usar esse poder.
Ele fez uma pausa antes de continuar.
— Precisamos encontrar um monstro nesse labirinto e usá-lo como teste.
Mila, ao ouvir isso, apertou levemente o cabo da espada em sua cintura.
— Também acho uma boa ideia. Quero saber como é usar essa armadura e a magia dela.
Com a decisão tomada, seguiram mais a fundo no labirinto, atentos para encontrar algum monstro para servir de alvo. No entanto, um novo som cortou o silêncio do lugar: aço se chocando contra aço, acompanhado de gritos altos e desesperados.
Os três pararam no meio do caminho, analisando a situação.
Luna franziu as orelhas de kitsune, atenta.
— Renier… — Luna apertou os olhos, com suas orelhas de raposa se mexendo freneticamente, como se estivesse tentando reconhecer os sons. — Algumas dessas vozes… são familiares.
Renier franziu o cenho.
— Parece que estão enfrentando algo grande… — comentou ele, analisando os sons e gritos com mais atenção.
Mila imediatamente se animou.
— Então o que estamos esperando? Vamos salvá-los!
Antes que ela pudesse dar um passo à frente, Renier segurou seu ombro, sua voz carregando uma firmeza cortante.
— Não seja tão ingênua. — Ele suspirou, o tom de voz firme e frio. — Nem todo mundo que está prestes a morrer quer ser salvo. E mesmo que queiram, isso não significa que sejam amigáveis conosco.
Mila piscou, surpresa com a frieza dele.
— O quê?
Luna assentiu. — Renier está certo. Você precisa ser mais cuidadosa. Aqui embaixo, ninguém vale nada. Mesmo que você queira ajudar, as pessoas podem te usar, te atrapalhar ou, pior, te trair na primeira oportunidade. — A expressão da kitsune se tornou séria ao explicar, com um olhar indiferente.
— Esperava esse tipo de pensamento do Renier, mas de você, Luna…? — comentou Mila.
Ela olhou para a pequena kitsune, analisando-a. Então lembrou dos ferimentos que Luna carregava e das cicatrizes que não eram apenas físicas, mas emocionais. Claro que ela teria uma visão tão pessimista das pessoas…
Renier puxou o capuz, trazendo de volta a máscara de kitsune, deixando Luna meio surpresa.
Ele suspirou novamente, descruzando os braços e estalando os dedos, virando-se para o corredor adiante.
— Vamos com cautela. Primeiro, descobrimos quem são. Se forem úteis, levamos conosco. Se parecerem suspeitos… — Ele sorriu de canto, e seus olhos brilharam com um tom predatório. — Pensamos no que fazer depois.
Mila e Luna não discordaram e, sem mais palavras, os três avançaram em direção aos gritos, suas sombras se estendendo pelo labirinto sombrio.
Continua…
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