Capítulo 22: O Cair da Escuridão
A atmosfera ao redor da barreira escura era carregada de tensão, e a mudança na energia parecia despertar algo primal nos monstros da floresta. O som das criaturas emergindo da escuridão era como um rugido de fome e instinto, enquanto Malo e Aura se preparavam para a batalha iminente.
Os olhos de Malo brilharam com um instinto selvagem, e, sem hesitar, ela abaixou-se, colocando as mãos no chão, suas pernas recuando como as de um predador pronto para saltar. O terreno parecia reverberar sob ela enquanto ganhava impulso em direção ao primeiro inimigo: uma imensa aranha monstruosa, cuja presença sozinha fazia as árvores ao redor parecerem pequenas.
A aranha avançou, cuspindo uma teia pegajosa em direção a Malo, mas ela desviou com uma agilidade sobre-humana, saltando entre os galhos das árvores como um borrão. Em um movimento fluido e brutal, Malo lançou-se contra a criatura, suas pernas poderosas desferindo um chute devastador que jogou a aranha no chão com um impacto ensurdecedor. A criatura tentou se levantar, mas não teve chance: o Wendigo desceu com força, esmagando seu corpo com um golpe final e fatal, os estalos ecoando pelo campo de batalha.
Mas o momento de glória foi interrompido. Um monstro humanoide semelhante ao anterior morto por Renier, com galhos retorcidos na cabeça e folhas mortas penduradas em seu corpo, surgiu das sombras, aproveitando-se da pequena brecha que Malo havia deixado. Ele avançou com um rugido rouco, suas garras se estendendo em direção ao Wendigo.
Antes que o ataque pudesse acertar, uma série de cortes precisos cortou o ar, e a criatura foi interrompida por Aura. Sua lâmina era uma extensão de si mesma, movendo-se com uma graça quase artística. Cada golpe atingia pontos vitais com precisão mortal, e em poucos segundos, o monstro caiu, seu corpo desabando no chão com um estrondo. Sangue escuro escorria das feridas abertas, criando uma poça ao redor do cadáver.
Aura, com um leve sorriso de satisfação, lançou um olhar de advertência para Malo. — Você precisa tomar mais cuidado com a retaguarda, — disse ela, com um tom de provocação.
Malo, no entanto, sorriu de volta, seus olhos ainda brilhando com adrenalina. — Não preciso, confio em você para proteger minhas costas.
As duas soltaram uma risada breve, quase descontraída, mesmo no meio da batalha. Num gesto inesperado de camaradagem, elas ergueram os punhos e se cumprimentaram, um símbolo silencioso da confiança crescente entre elas.
— Temos mais monstros vindo, — lembrou Malo, virando-se para a floresta, onde o movimento nas sombras indicava que o ataque estava longe de acabar.
— Sim, — respondeu Aura, firme e determinada. — Só precisamos segurar até que Renier saia. Vamos acabar com todos eles.
E assim, as duas guerreiras se posicionaram novamente, prontas para enfrentar o caos crescente ao redor, enquanto a energia liberada pela luta de Renier ainda reverbera, atraindo cada vez mais criaturas para a área.
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A floresta, antes sufocada pela escuridão, agora respirava a luz do Sol filtrada pelas copas das árvores. O enorme pilar de energia negra que se erguera no centro do domínio parecia ter sido o último suspiro de resistência daquela barreira. Aos poucos, a sombra se dissipava como uma névoa, revelando um terreno que parecia quase renascer sob os raios dourados.
Renier emergiu da barreira, sua presença quase tão marcante quanto o evento que acabara de ocorrer. Sua nova aparência era tão imponente quanto o título que carregava. A jaqueta escura que tocava o chão e a armadura negra ajustada ao seu corpo emanavam autoridade e mistério. O toque final era a espada negra presa à sua cintura, um tributo silencioso à luta e à honra do Cavaleiro Negro.
Ele parou por um momento, absorvendo a cena ao seu redor: monstros caídos por todos os lados, sangue escuro encharcando o solo, e, no meio do caos, Aura e Malo, sentadas no chão, exaustas e cobertas pelos resquícios da batalha. O sorriso travesso que se formou em seu rosto parecia deslocado naquele cenário, mas era tão típico de Renier quanto a aura que o cercava.
— Bem, parece que perdi uma grande festa, — comentou com um tom provocativo, os olhos brilhando de diversão ao observar o campo de batalha.
Aura, com sua respiração ainda irregular, respondeu com um sorriso igualmente sarcástico. — Se você tem tempo para fazer piada, imagino que venceu sua luta no domínio.
Renier inclinou a cabeça, exibindo um sorriso convencido que combinava com sua postura. — É claro. Afinal, sou o Guardião Negro. — Sua confiança era como uma lâmina afiada, e Aura não pôde deixar de revirar os olhos, mas havia um toque de alívio em sua expressão.
Enquanto isso, Malo desviou o olhar para o alto, onde os raios do Sol atravessavam as copas das árvores, iluminando o chão com manchas douradas. Ela ergueu a mão, deixando a luz tocar sua pele. — Então… isso é a luz que eu ouvi falar tanto? — Sua voz tinha um tom de admiração quase infantil, como se estivesse descobrindo algo pela primeira vez.
Aura, recuperando-se um pouco, percebeu as roupas novas de Renier e não perdeu a oportunidade de provocá-lo. — E onde você achou tempo para mudar de roupa? Não estava ocupado derrotando o monstro no domínio?
Renier deu de ombros, um sorriso despreocupado brincando em seus lábios. — Ah, só achei que era hora de mudar o visual. Afinal, andar por aí com um uniforme escolar em uma floresta não fazia sentido, né? — Ele finalizou com um sorriso travesso, o brilho de sua personalidade intacto mesmo após a batalha.
Ele então voltou sua atenção para a luz do Sol que agora iluminava a floresta, um contraste gritante com o que era antes. Por um momento, Renier parecia perdido em pensamentos, como se imaginasse como aquele mundo sombrio se ajustaria a essa nova realidade. — Me pergunto, — murmurou ele. — Como os outros monstros vão lidar com isso. Deve ser algo… transformador.
Malo, com um sorriso tímido, ainda olhando para os raios de luz, comentou suavemente: — É acolhedor… talvez eles vejam o mundo de uma forma diferente. Do mesmo jeito que você mostrou para mim, Renier.
Renier virou-se para ela, seu sorriso suavizando-se, mas sua presença continuava a ser um lembrete do poder que ele carregava. — Talvez, — respondeu ele, quase como se falasse para si mesmo. E, por um momento, a floresta pareceu mais tranquila, o silêncio preenchido pelo brilho da luz, anunciando o início de uma nova era para aquele lugar.
Malo, com um leve ar de curiosidade, perguntou. — E qual vai ser o próximo passo, então? Para onde vamos agora?
Renier, ainda com um sorriso despreocupado e aquela aura descontraída, deu de ombros. — Estou pensando em tomar um banho primeiro. Antes de mais nada, é claro. — Ele riu baixo, como se a ideia de fazer algo tão simples fosse quase um alívio após toda a tensão da batalha.
Aura, ainda com a expressão cansada, acompanhou com uma risada fraca. — Eu também. O cheiro desses monstros ficou impregnado nas minhas roupas. Acho que vou precisar de algo mais refrescante. — Ela se escorou na Malo, sentindo o peso da exaustão nos músculos, mas mantendo a compostura.
Então, com um tom mais sério, Aura olhou para Renier e, com uma leve provocação, disse: — Você mostrou pra mim que realmente é o Guardião Negro que tanto procurava. Derrotou um ser que ninguém conseguiu sequer tocar. Agora me diz, o que pretende fazer depois disso? Que poder você tem para enfraquecer algo tão… imenso?”
Renier cruzou os braços, já sabendo onde a conversa estava indo. Seu olhar era calmo, quase distante. — O selo de Alaster estará mais visível aos olhos dos humanos, perto da floresta. Mas eu não vou sair atrás dele imediatamente. Nessa floresta existem monstros o suficiente para formar um exército e causar um verdadeiro massacre, se quiserem.
Ele fez uma pausa, observando as duas por um momento, antes de continuar com a tranquilidade característica. — Não vou direto ao selo agora. O melhor a fazer, considerando que a barreira foi quebrada, é avisar os moradores da cidade para que se preparem. O selo de Alaster não vai durar mais do que um mês, e é melhor que estejam prontos.
Aura, sem hesitar, concordou com um aceno de cabeça, confiando no julgamento de Renier. — Então vamos para a Cidade Fronteira, não é?
Malo, pensativa, fez uma pergunta que parecia inquietar sua mente. — Mas e quanto à minha aparência? Você acha que um monstro como eu vai passar despercebido? Não vai causar um alvoroço?
Aura, com a confiança de quem já tinha lidado com muitas situações semelhantes, respondeu com um sorriso irônico. — Eu sei o que estou fazendo, Malo. Você consegue se comunicar com eles. Os humanos daqui são simples, eles atacam apenas o que não entendem, o que veem como ‘monstros irracionais’. Mas você não é uma ameaça, se souber agir com naturalidade.
Renier se aproximou de Malo, com um olhar que transmitia certeza. — Apenas aja normalmente, como sempre fez. O resto, Aura e eu lidamos. — Sua voz tinha aquele tom de líder, que nunca deixava dúvida de suas intenções.
Malo, mais tranquila, assentiu, e embora seu instinto ainda fosse questionar mais, ela sabia que confiar em Renier era a melhor escolha. Eles estavam juntos nesse caminho, e ele sempre soube o que fazer, mesmo quando as situações pareciam complexas. O trio, assim, se preparava para seguir para a cidade, a jornada cheia de novas descobertas e desafios à frente.
Continua…
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