Capítulo 31: Segredos do Sangue Demoníaco.
A sala estava imersa em um silêncio tenso, apenas quebrado pelo suave som das caudas de Selena balançando nervosamente. Kirara, com sua postura elegante e olhos vermelhos penetrantes, ouvia atentamente as palavras de Renier e Aura. As notícias sobre o selo de Alaster e a busca incessante pela criatura que havia sido aprisionada pela antiga Guardiã Makoto eram graves e desafiadoras.
Kirara, com um suspiro pesado, começou a falar com a mesma voz firme e calma que Renier já começava a identificar como a característica da líder da Guilda dos Exploradores. — Eu e a nova capital, Aurélia, criamos a Cidade Fronteira com um único objetivo: localizar o local onde Alaster poderia estar selado. Mas todas as tentativas falharam. Não conseguimos rastrear nenhum sinal.”
Selena, que até então estava observando com grande interesse, completou a história com uma mistura de exasperação e frustração. — A Guilda dos Exploradores foi formada exatamente para isso. Para enviar guerreiros experientes para a Floresta Perdida e procurar pistas sobre o selo, mas… ninguém volta. E quem volta, não é mais o mesmo. São apenas cascas vazias, traumatizadas além da conta.
Aura cruzou os braços com uma expressão desinteressada, o tom desafiador em sua voz evidenciando sua confiança. — A Floresta Perdida? Não parece tão complicada assim. Eu já entrei e saí várias vezes com sucesso.
Renier, sempre calmo e impassível, comentou em voz baixa, mas de forma resoluta. — Eu matei o Pilar que causava a escuridão daquela floresta. Não há mais breu lá.
A revelação foi como uma bomba, e tanto Selena quanto Kirara ficaram boquiabertas com a magnitude da afirmação. O olhar das duas mulheres se cruzaram, ambas atordoadas e com os olhos arregalados, sem saber como reagir. — Você… esteve dentro da Floresta Perdida? — perguntou Kirara, a surpresa evidente em sua voz.
Renier, com a mesma indiferença, apenas confirmou. — Sim. Eu acordei lá. E então, o que restava era sair dela.
Aura complementou, ainda com aquele sorriso desinteressado, mas com os olhos cintilando de inteligência. — Não encontrei nenhum sinal do selo de Alaster. O estranho é que as lendas diziam que ele… era gigantesco. Como um demônio daquele tamanho poderia se esconder tão bem em um lugar como a Floresta Perdida?
Kirara parecia pesar as palavras de Aura, refletindo em silêncio antes de dar sua própria resposta. — Quando minha mestre, Makoto, se sacrificou para criar o selo de Alaster, a floresta surgiu quase que imediatamente, em resposta ao poder dele. A floresta é um reflexo do que ele representa.
Renier ficou em silêncio, seus olhos observando a luz que filtrava pelas janelas. Uma teoria começou a se formar em sua mente, mas ele não a verbalizou. A Floresta Perdida poderia ser uma prisão auto imposta para Alaster, um esconderijo perfeito para um demônio que não queria ser encontrado.
Então, com uma mudança de tom, Renier perguntou. — Quantos dias faltam até o Dia do Demônio?
Kirara olhou para ele, seus olhos pareciam calcular o tempo rapidamente. — Uma semana. Normalmente, a população é evacuada e os soldados da guilda se preparam para enfrentar os monstros. É uma luta constante, mas as baixas aumentam a cada ano. Estamos perdendo mais a cada dia.
Selena, com suas caudas abaixando e orelhas caídas, não parecia otimista. — As perdas são imensas. Parece que nunca vamos conseguir dar um fim a isso.
Renier, no entanto, não parecia abalado. Ele soltou um sorriso sutil, seu olhar carregando uma confiança inabalável. — Esse ano, vocês têm a mim, o Guardião Negro. Será diferente. Façam apenas um favor e peçam para a população se manter dentro de suas casas na noite do evento.
Com isso, Renier se levantou, seguido por Aura, que parecia se divertir com a atitude despreocupada do guardião. Quando estavam prestes a sair da sala, Kirara os parou, a expressão carregada de curiosidade. — E o que você pretende fazer nesse tempo, Renier?
O Guardião Negro olhou para ela, seu sorriso revelando um toque de diversão. — Vou aproveitar essa semana para me divertir na cidade.
Aura esboçou um sorriso, compartilhando a atitude indiferente de Renier. — Ele sempre tem algo em mente, confie nele Kirara.
Ao saírem da sala, o silêncio caiu sobre o ambiente. Kirara suspirou profundamente, a nostalgia se infiltrando em sua voz quando falou: — Esse garoto… Ele é a cara de Makoto. Mas sua calma… sua personalidade… são assustadoramente diferentes da antiga Guardiã Negra.
Selena, que até então estava com suas caudas balançando freneticamente e um olhar tímido, finalmente falou, de maneira quase envergonhada, mas com uma ponta de admiração. — Pelo menos ele é… bem bonito. — E, com isso, soltou um suave — Nya~ — enquanto suas caudas voltavam a balançar rapidamente.
A figura de Renier, com seu comportamento peculiar e confiança inabalável, já estava deixando uma marca tanto em Kirara quanto em Selena. A história do Guardião Negro estava prestes a ser escrita de uma maneira diferente, e os desafios que viriam pela frente teriam a marca única de Renier Kanemoto.
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Na parte de baixo da Guilda dos Exploradores, o som suave das lâmpadas que iluminavam a sala ecoava enquanto Renier e Aura observavam em silêncio o quadro de mensagens que exibiam as diversas missões e pedidos. Aura estava absorta, mas não demorou muito até ela lançar um olhar provocativo para Renier.
— E então? O que você descobriu? — Ela perguntou, com um sorriso travesso, mas sua voz tinha um toque de curiosidade. — O que pretende fazer agora? Eu sei que mentiu para Kirara.
Renier deu uma olhada nas missões penduradas no quadro e, sem pressa, pegou um dos papéis. Ele o olhou por um momento antes de virar para Aura com uma expressão séria.
— Se uma criatura tão grande como Alaster não foi encontrada dentro da Floresta Perdida — começou Renier, sua voz calada e cheia de peso — e, mesmo depois da derrota dos monstros que invadiram aquele lugar, a energia demoníaca que eu sinto ainda não diminuiu… então, Alaster não está mais selado.
Aura ficou estupefata por um momento, seus olhos se arregalaram enquanto assimilava as palavras de Renier. Ela o fitou, claramente surpresa.
— Então… se você sabe disso, por que não contou para Kirara? — ela perguntou, sua voz com um leve toque de reprovação.
Renier suspirou, guardando o papel em sua mão. Ele sabia que tinha uma explicação, e não tinha intenção de esconder nada mais de Aura. Mas ele sabia que era necessário um pouco mais de contexto.
— Há uma razão para não contar a ela — Renier respondeu, sua voz agora mais profunda e pensativa. — Kirara viveu ao lado de minha avó e ainda tem uma ligação forte com ela. Não seria justo deixar que ela soubesse disso sem saber toda a verdade.
Aura o observou, mas antes que pudesse fazer uma pergunta, Renier continuou, a expressão em seu rosto ficando mais séria.
— O Clã Kanemoto… tem sangue demoníaco. — Ele disse, e Aura franziu o cenho, a conexão começando a fazer sentido. — Isso nos liga à Shuten Douji, sua mãe.
Ela fez um gesto de entendimento, com um leve movimento da cabeça, mas não interrompeu. Renier se preparou para o que precisava dizer a seguir.
— A verdade é que Makoto Kanemoto… não é mais a Guardiã. — Ele afirmou, sua voz tensa. — Eu sou o novo Guardião, Renier Kanemoto. Os Olhos das Revelações agora são meus, e isso cria uma ligação mais profunda do que qualquer coisa que eu já senti. Mas Makoto… ela morreu no processo de se selar. E ela tinha o sangue demoníaco.
Aura olhou para ele, tentando entender. Ela sabia que Renier estava montando uma teoria, mas ela ainda não compreendia completamente. Ele estava falando de algo grande, algo que ela não conseguia encaixar. Mas, ao ver o olhar sério de Renier, ela se sentiu cada vez mais inquieta.
— E o motivo de Alaster nunca ter sido encontrado… — Renier disse, agora sem deixar espaço para dúvidas. — É porque ele está possuindo o corpo de Makoto. Quando ela morreu, isso abriu uma passagem para ele. Ele entrou e está usando o corpo dela como um recipiente.
Aura ficou em silêncio, seu rosto empalidecendo à medida que as peças do quebra-cabeça se encaixavam em sua mente. As palavras de Renier faziam sentido de uma forma que a deixava perplexa.
— Você está dizendo que… Alaster está dentro do corpo da Makoto? — Aura perguntou com a voz baixa, quase como se temesse que sua própria pergunta fosse verdade.
Renier assentiu, seu olhar fixo na frente, como se já visse o futuro que se aproximava. Ele estava certo de suas deduções, e sua confiança era palpável.
— Exatamente — disse ele, e sua voz se endureceu. — O que significa que, se ninguém fizer nada logo, Alaster tomará o controle completo. E será muito mais difícil detê-lo quando isso acontecer.
Renier se lembrava de que Yggdrasil então disse:
— Um receptáculo é algo raro, mas não impossível de se encontrar ainda mais na minha família… — afirmou ele, de forma séria enquanto voltava sua atenção para o papel em sua mão.
Aura permaneceu ali, tentando processar tudo o que acabara de ouvir. Uma parte de sua mente ainda estava em choque, mas outra já estava pensando nas implicações disso tudo. Ela sabia que, a partir daquele momento, a batalha que os aguardava seria diferente. Alaster não estava mais apenas uma sombra na floresta, ele estava entre eles. E agora, com o corpo de Makoto como uma máscara, ele estava mais perigoso do que nunca.
A tensão no ar era palpável, mas a frieza de Renier parecia ser a única coisa em que Aura podia se apoiar agora. Ela sabia que ele estava certo. Eles precisavam agir, e rápido.
Continua…
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