Capítulo 48: A Ascensão dos Dragões.
Renier já estava no limite da paciência, ouvindo aquela aberração provocá-lo incessantemente. As palavras da Sombra eram como veneno destilado, projetadas para corroer sua determinação, mas ele não se deixaria levar. Mesmo assim, ela continuava. Persistente, irritante.
— Irritante… — murmurou Renier, sua voz carregada de desprezo, enquanto seus olhos a analisavam friamente.
— Meu amor, assim você machuca meus sentimentos… — respondeu a Sombra, com um sorriso cínico, a risada leve contrastando com sua aura maligna. — O que foi? Não consegue se concentrar na luta enquanto admira minha beleza? Que tal cortarmos de vez essa relação?
Antes que ele pudesse responder, ela atacou. O chicote de energia se desdobrou em dezenas de lâminas afiadas que atravessaram o ar como predadores em busca de sangue. Renier estreitou os olhos, seu corpo entrando em ação antes mesmo que pudesse pensar. Sua foice girou em um frenesi de movimento, desviando e destruindo cada lâmina que se aproximava.
Mas o ataque era incessante. Cada lâmina que ele destruía se dissolvia em pura energia e se reformava, multiplicando-se em um turbilhão de luz púrpura que o cercava como um furacão. Ele não conseguia encontrar uma abertura, o cerco se fechando cada vez mais.
A Sombra avançou com graça predatória, e com um movimento fluido, o chicote se reuniu novamente, descendo como um relâmpago púrpura do céu. A lâmina de energia cortou o solo com tamanha força que dividiu o campo de batalha em duas partes, o chão rachando como vidro sob tensão extrema.
Renier tentou recuar, mas o ataque o atingiu na lateral. Ele sentiu o calor ardente da dor se espalhar, como fogo líquido rasgando sua pele. Mesmo assim, ele permaneceu de pé, endurecendo os dentes. Não daria à Sombra a satisfação de vê-lo vacilar.
— Está me acompanhando, afinal… — comentou ela, satisfeita, sua voz escorrendo com sarcasmo e malícia. — Vamos ver até onde sua resistência chega.
Renier a encarou, seus olhos ardendo com a intensidade de sua determinação. As marcas de seu poder, o brilho azul-cósmico e o X vermelho demoníaco em suas íris, reluziam sob as gotas da chuva que caíam, como uma promessa silenciosa de que ele não cederia.
“Ela só está brincando comigo…” ele pensou, os olhos fixos na abominação diante dele. “Ela está usando o jeito da Kyouka… As mesmas palavras, os mesmos gestos. É tudo para tentar me desestabilizar.”
A percepção o atingiu como um golpe, e ele soube que precisava mudar de tática. Enfrentá-la diretamente não estava funcionando. Seus olhos recaíram sobre as escamas escuras que começavam a aparecer em sua pele, vestígios de algo mais primitivo dentro dele, algo que ele raramente deixava emergir.
“Um dragão faz parte da minha natureza…” ele refletiu, uma ideia tomando forma.
Um sorriso lento e desafiador curvou seus lábios. Ele levantou a foice, o cabo reluzindo com sua energia pulsante, e olhou diretamente para a Sombra.
— Se você quer tanto que eu abandone meu lado humano… — começou ele, sua voz carregada de uma força renovada. — Então vai ter que me acompanhar.
A Sombra inclinou a cabeça, seus olhos brilhando com um interesse predatório.
— Oh? Agora sim você está falando a minha língua. — Sua voz estava repleta de cinismo, mas também de curiosidade genuína. — Mas diga, meu querido Guardião, o que você acha que pode fazer?
O sorriso de Renier se alargou, e seus olhos brilharam com algo mais profundo que raiva, era determinação, a promessa de que ele mostraria à Sombra exatamente do que era capaz.
Renier segurou sua foice por um instante, sentindo o peso da energia cósmica fluindo por ela. A arma pulsava em suas mãos, vibrando como se estivesse viva. Ele a ergueu e, com um movimento calculado, colocou-a atrás de si, canalizando toda sua energia na lâmina. Faíscas de um azul intenso começaram a dançar ao seu redor, criando um espetáculo de luzes que iluminavam a cidade abandonada.
A Sombra observava com desdém, mas também com curiosidade.
— O que você está fazendo? Vai mesmo explodir nós dois? — zombou ela, inclinando a cabeça como se a ideia fosse absurda.
Renier não respondeu. Seu olhar era fixo, determinado. Com um movimento brusco, ele lançou a foice. A arma cortou o ar como um cometa, seu brilho azul rivalizando com o próprio céu. A Sombra, rindo, ergueu sua espada com confiança, pronta para destruir o que parecia um ataque fútil.
O impacto foi catastrófico. A colisão gerou uma explosão colossal que varreu tudo ao redor. Destroços foram arremessados como projéteis, enquanto poeira, raios púrpuras e azuis se entrelaçavam no caos que tomava a cidade. A Sombra riu, mesmo em meio à devastação.
— Que espetáculo maravilhoso! — exclamou, com sarcasmo na voz. — Foi isso? Um show de luzes e destruição?
Mas suas palavras morreram quando um brilho intenso de energia azul-cósmica surgiu no epicentro da explosão. A luz era tão poderosa que ofuscava tudo ao redor. A Sombra instintivamente levantou a mão para proteger os olhos, sentindo o vento tornar-se feroz e caótico. A poeira e os escombros foram varridos em um instante, revelando algo que fez seu sorriso se desmanchar.
Diante dela, erguia-se uma criatura colossal e majestosa. Um dragão, não… um verdadeiro leviatã do cosmos. Suas asas negras, com padrões que pareciam conter o próprio universo, se estendiam como véus celestiais. O corpo, coberto por escamas escuras que refletiam a luz como cristais, exalava uma aura imponente e esmagadora. Seus olhos eram chamas azuis que queimavam com uma intensidade sobrenatural, fitando a Sombra com um poder que fazia a realidade ao redor dela parecer insignificante.
Renier não estava mais ali. Ele havia se tornado algo muito maior, algo primitivo, divino e apavorante.
O rugido que saiu do Dragão Cósmico foi como uma explosão que abalou o mundo. O som reverberou pela cidade, quebrando janelas e desintegrando o que ainda restava de edifícios. A Sombra se agarrou ao chão, sentindo o impacto do som como se fosse um golpe físico.
— Maldito… — murmurou ela, tentando recuperar o equilíbrio. Seus olhos se estreitaram ao encarar aquela forma titânica. — O Vazio nunca mencionou que essa criança tinha essa capacidade…
Antes que pudesse formular outro pensamento, a cauda massiva do Dragão Cósmico se moveu como um chicote e atingiu a Sombra com força avassaladora. Ela foi arremessada como um boneco de pano, colidindo violentamente contra uma pilha de entulhos. Um corte profundo apareceu em seu corpo, escorrendo sangue escuro. Ela olhou para o ferimento com descrença, sentindo a dor pulsar como uma lembrança amarga de que Renier, ou o que quer que ele fosse agora, estava além de sua compreensão.
— Se é isso que você quer… então que seja! — gritou ela, sua voz cheia de raiva e determinação.
O céu, como se respondendo ao chamado da Sombra, escureceu de forma abrupta. Era como se toda a luz tivesse sido arrancada do mundo, deixando apenas um vazio opressivo. Nuvens negras se reuniram acima com uma velocidade surreal, e relâmpagos púrpuras começaram a dançar pelo céu, cada um acompanhado por trovões que pareciam rasgar o próprio tecido da realidade.
De repente, um rugido profundo e gutural ecoou das nuvens, reverberando como uma declaração de poder. A própria Sombra começou a se transformar. Energia púrpura e distorcida emanava de seu corpo, envenenando o ar ao seu redor. A realidade parecia se dobrar e quebrar com sua presença, enquanto sua figura mudava e crescia.
Do meio das nuvens, um dragão negro colossal emergiu, rivalizando em tamanho e poder com a forma dracônica de Renier. Sua aparência era pura malevolência, com escamas negras como a noite e olhos púrpura que brilhavam com uma malícia esmagadora. Sua energia pulsava de forma instável, corrompendo tudo que tocava.
Os dois dragões se encararam, cada um emanando uma presença que parecia dominar o mundo ao redor. O confronto era inevitável. O cosmos e o vazio haviam colidido, e o destino de tudo ao redor seria decidido por essa batalha de titãs.
Continua…
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.