Capítulo 56: Organização Multiversal.
Os sonhos, a criatividade e a vastidão da mente dos seres vivos sempre foram um fascínio para Yggdrasil. Não apenas como uma observadora, mas como uma artista, ela moldou cada mundo, universo e realidade. Suas infinitas ramificações não a tornam uma criadora no sentido convencional, mas sim uma escritora, que narra histórias por meio de cada fragmento da existência.
O que Yggdrasil mais ama em sua obra é a criatividade que germina espontaneamente dentro dela. Os deuses, agraciados com a dádiva de gerar os seres vivos, sobretudo os humanos, receberam também um presente singular de Yggdrasil: a habilidade de contar histórias. Embora cada mundo seja uma ramificação direta de sua essência, eles também são reflexos da imaginação que pulsa nos seres vivos. Cada história criada, cada sonho sonhado, cada devaneio compartilhado dá origem a um novo mundo, um novo universo impregnado com a essência do pensamento vivo. Uma força aparentemente simples, mas que define a singularidade de Yggdrasil.
Mas e se, em meio a essa vastidão criativa, um jovem possuísse um poder único? E se, ao adormecer, seus sonhos fossem capazes de dar vida a mundos inteiros? Histórias completas, universos infinitos e formas de vida complexas surgindo como reflexo de sua imaginação e do dom extraordinário que lhe foi concedido desde o nascimento. O que aconteceria quando o poder de Yggdrasil se manifestasse plenamente dentro de um ser humano?
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Caminhando por um corredor impecavelmente branco, a estética austera lembrava a de um laboratório governamental de alta segurança. O som dos saltos altos da mulher ecoava pelas paredes, marcando seu passo firme enquanto ela avançava. Vestindo um jaleco branco impecável, o crachá em seu peito estampava o nome “Dra. Jennifer”. Seus longos cabelos esverdeados serpenteavam por seu corpo, as cobras que se entrelaçavam de forma fluida parecendo se mover com uma vontade própria. Seus olhos, com a mesma coloração ofuscante e predatória das serpentes, estavam ocultos por óculos escuros, um detalhe que fazia seu olhar parecer ainda mais enigmático. Em uma das mãos, ela carregava um documento que exalava importância, como se o conteúdo fosse vital para o que estava prestes a acontecer.
A luz branca intensa que emanava das paredes conferia um tom gelado e impessoal ao ambiente, como se estivesse em uma instalação secreta, longe do alcance da maioria. Conforme se aproximava de uma comporta de segurança, um brilho sobrenatural e amarelado iluminou o rosto de Dra. Jennifer, seus olhos refletindo uma intensidade que poucos poderiam compreender.
À frente, um sistema de digitalização de mão e retina garantia que aquele local não fosse acessado por qualquer pessoa. Dra. Jennifer aproximou a mão da superfície de escaneamento, que brilhou com uma luz vermelha antes de se iluminar em verde, confirmando sua identidade sem hesitar.
— Essa parte é sempre um saco… — resmungou ela, tirando os óculos escuros e colocando-os com desdém em um pequeno bolso de canetas no bolso do jaleco.
Seu olhar transbordava frustração enquanto se aproximava da tela de escaneamento da retina. O processo a fez lacrimejar levemente, e ela esfregou os olhos, sentindo o ardor característico do procedimento.
— É difícil pedir para a organização ser mais cuidadosa com espécies que possuem uma maior sensibilidade física… — disse ela, sua voz carregada de indignação, enquanto colocava os óculos novamente, disfarçando a irritação com uma expressão fria e controlada.
A porta se abriu, deslizando para ambos os lados com um som suave, revelando o ambiente que aguardava Dra. Jennifer. Ela entrou com passos tranquilos, ainda meio sonolenta, seu corpo levemente cansado do longo dia. O frio do local a despertou parcialmente, fazendo-a se espreguiçar e bocejar, sentindo o sono pesar em seus olhos. O corredor parecia infinito, repleto de tecnologia que irradiava uma aura de mistério e poder.
O espaço era mais do que uma simples instalação. No centro da sala, raízes de energia azul brilhavam com tonalidades coloridas, representando a energia cósmica que serpenteava em torno de um holograma pulsante. Era como se a sala fosse um portal entre mundos, com uma energia densa e poderosa preenchendo o ambiente. As luzes brancas intensas refletiam nos painéis de monitoramento que flutuavam acima da plataforma, criando uma atmosfera estranha e inquietante.
Ali, no coração da sala, estavam várias figuras sentadas em cadeiras, todas vestindo trajes semelhantes aos de Jennifer. No entanto, nenhuma delas parecia humana. Os seres presentes eram de outras naturezas, de formas não humanas, mas todas as suas atenções estavam voltadas para seus trabalhos. O foco deles parecia inabalável.
Entre esses seres, uma mulher se destacava. Ela tinha longos cabelos ruivos que desciam até os pés, como uma cascata de fogo. Segurando uma caneca preta, bebia seu café com um olhar atento e avaliador, observando as raízes de energia com interesse. Seu olhar era penetrante, seus olhos pareciam analisar cada detalhe com uma precisão mecânica, e o que mais chamava atenção era a sua aparência. Os olhos violeta não tinham a vivacidade de um ser humano, pareciam mais com os de um android — sem vida, sem emoção, mas imensamente inteligentes.
Jennifer se aproximou com um leve suspiro, ainda meio desorientada, e perguntou, ainda com uma ponta de curiosidade:
— O que foi tão urgente para me chamar em um dia de folga, Administradora?
A mulher olhou para ela, seu semblante imutável. Vestia um traje elegante, adornado com braceletes de tecnologia, e seu tom de voz era como se tivesse todo o tempo do mundo, como se Jennifer fosse apenas mais uma peça em sua máquina de planos.
— Achei que levaria mais tempo para sair da cama… afinal, você é uma criatura de sangue frio, não? — respondeu a Administradora, com um sorriso quase imperceptível.
Jennifer revirou os olhos, cansada, mas não perdendo o ritmo.
— Nada que um bom banho quente não resolva… — respondeu, se controlando. — Agora, me diga, qual é a urgência de me chamar? O que está acontecendo?
A Administradora tomou mais um gole de café e, com um estalo dos dedos, acionou um holograma. À sua frente, as raízes de energia se iluminavam e uma distorção pulsante apareceu, logo desaparecendo, retornando à sua forma estável e harmônica.
— Você sabe o que é isso? — perguntou a Administradora, com um tom que indicava que ela já sabia a resposta, mas queria ver a reação de Jennifer.
Dra. Jennifer olhou fixamente para a distorção, um leve espanto em seu rosto, quase removendo os óculos escuros, mas se contendo.
— Isso… isso é um pulso de distorção de energia cósmica, certo? — disse ela, a surpresa evidente em sua voz.
A Administradora assentiu, com um olhar frio e preciso.
— Exato. A Organização dos Seres da Noite rastreou esse pulso cerca de duas horas atrás. Foi forte, muito forte. Algo que nenhum ser comum poderia gerar… a não ser…
Jennifer completou a frase, a verdade surgindo em sua mente.
— O Guardião Negro… ele está de volta, não é?
A Administradora sorriu, o que poderia ser interpretado como um sinal de satisfação.
— Mais do que uma simples prova. — Ela fez um gesto com as mãos, e hologramas surgiram no ar, mostrando imagens de confrontos no Mundo Zero.
No primeiro holograma, a tela exibiu a imagem de um jovem humano, de cabelos escuros e olhos azuis, que matava um Demônio Primordial, Alaster, com uma facilidade impressionante. A cena era breve, mas a vitória do jovem estava evidente.
No segundo holograma, outro confronto. Desta vez, o jovem destruía uma Sombra — um feito notável para qualquer Guardião. A vitória era ainda mais impressionante, uma força devastadora contra o vazio.
Jennifer se aproximou, observando com um misto de fascínio e apreensão. Ela viu a imagem do Dragão Cósmico, uma presença que lhe causava um arrepio na espinha. Era algo magnificamente predatório, ao mesmo tempo belo e ameaçador. Seu corpo se esticava e se retorcia através do espaço e do tempo.
A Administradora, com um sorriso quase indulgente, falou.
— Belo, não é? Uma força de equilíbrio com poder para trazer o desequilíbrio. Algo fora do eixo da existência… Aquele jovem é mais do que um Guardião, ele é um agente da mudança.
Ela observava a imagem de Guardião Negro com sua foice, os olhos azuis brilhando de uma maneira quase sobrenatural.
— Interceptamos a distorção no espaço-tempo causada por ele. — Disse a Administradora, seu tom frio e impassível. — Agora, ele está em uma de nossas celas de contenção, aguardando interrogatório.
Jennifer olhou para ela, surpresa, e uma sensação de incredulidade a invadiu.
— Como…? Como conseguiram capturar algo tão anormal, como o Guardião Negro?
A Administradora, com um ar de tranquilidade, respondeu sem pressa.
— Inicialmente, foi fácil mudar a trajetória do portal dele para o nosso universo. Mas, surpreendentemente, o Guardião não demonstrou hostilidade. Ele não atacou, nem tentou fugir. Aceitou ser contido, sem revelar suas intenções. Ele é mais inteligente do que imaginávamos… e por isso, decidi que você vai interrogá-lo.
O olhar de Jennifer passou de surpresa a um misto de responsabilidade e apreensão.
— Você me deixou com a tarefa de interrogar o Guardião Negro?
A Administradora, com seu sorriso enigmático, deu uma leve inclinação de cabeça.
— Sim, Dra. Jennifer. Você está mais do que qualificada para essa missão. O Guardião Negro é uma peça fundamental, e precisamos entender o que ele deseja, o que planeja. Sua inteligência pode ser a chave para algo muito maior.
O Guardião Negro, havia saído do Mundo Zero, mas capturado logo em seguida? Motivos dessa Organização dos Seres da Noite, com Renier eram desconhecidos, mas o que o Guardião Negro, tinha de tão especial para aceitar ser contido sem nenhum esforço?
Continua…
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