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    Renier finalmente chegou ao que parecia ser o totem, ou talvez uma estrutura mais imponente, como a Administradora havia dito.

    À medida que seus passos ecoavam nas pedras escuras, ele observou o que parecia ser uma antiga fortaleza. Mas, à medida que se aproximava, a impressão de um castelo imponente foi substituída pela realidade: o que ele estava diante era um forte, algo mais simples, porém robusto.

    A construção estava desgastada, mas não ao ponto de desmoronar. As rochas escuras que formavam as paredes ainda eram sólidas, embora visivelmente corroídas pela ação do tempo.

    A deterioração era leve, mas ainda assim, Renier percebeu que algo havia feito esse lugar parecer abandonado. Ele examinou o forte com mais atenção, sentindo o peso da história que aquele local carregava.

    A voz da Administradora surgiu em seu ouvido, direta e incisiva.

    — A construção tem cerca de três séculos. Pelo estado em que se encontra, foi abandonada por muito tempo. — Ela disse, com um tom que transparecia um certo interesse, mas também uma frieza impessoal.

    Renier concordou mentalmente. O lugar exalava um ar de abandono, como se uma praga tivesse varrido os habitantes há muito tempo.

    Ele seguiu em direção às escadarias e subiu lentamente, seu olhar atento a cada detalhe. Por dentro, o cenário não era diferente: mesas e cadeiras de madeira antigas, desgastadas e descascadas pelos cupins, exalavam o cheiro de decadência.

    Restos de comida apodrecida estavam espalhados por algumas superfícies, e pratos quebrados ou esfarelados se acumulavam como lembranças de uma época distante.

    Aparentemente, algo ou alguém tinha espantado os habitantes desse lugar. O silêncio era ensurdecedor, como se o vento fosse o único testemunho da vida que ali existia antes.

    Renier avançou pelo local, observando os compartimentos de armazenamento onde armas de soldados foram abandonadas. Lanças, arcos, flechas, espadas e escudos estavam empilhados e empoeirados, intocados pelo tempo. Os símbolos de uma era passada pareciam perdidos ali, sem ninguém para defendê-los ou usá-los.

    Ele murmurou consigo mesmo, analisando o que via.

    — Armas um tanto arcaicas… Eu esperava algo mais moderno, considerando os Lizardmans com quem lutei. Eles usavam flechas vermelhas, capazes de canalizar magia de fogo, e suas armas eram bem mais refinadas. — Ele comentou, tocando uma lança enferrujada, e sentindo o peso da comparação com o que enfrentou anteriormente. A habilidade de armazenamento da Dra. Jennifer ainda estava ativa, permitindo-lhe visualizar o que acabara de armazenar. O contraste era nítido.

    A voz da Administradora soou de novo, carregada de sua usual ironia e desdém.

    — Humanos… Eles têm inteligência e potencial, mas poucos são abençoados o suficiente para usá-los. Por isso fogem. Por isso morrem. E por isso são tão inúteis. — Ela soltou, como se a simples menção da palavra “humano” fosse uma ofensa. A repulsa em suas palavras era clara, mas Renier apenas ignorou a provocação.

    Ele suspirou, sentindo o peso da indiferença que se espalhava por toda a construção e pelas palavras da Administradora. A sensação de estar em um lugar onde o tempo havia deixado suas marcas e onde a vida parecia ter sido apagada como uma página virada não era nova, mas ainda assim, era algo que ele não poderia compreender completamente.

    Renier deu uma última olhada para as armas abandonadas, sentindo uma estranha sensação de vazio ao ver tanto potencial desperdiçado ali, enquanto se afastava. Ele não sabia o que o futuro lhe reservava, mas naquele momento, tudo o que restava era seguir em frente, talvez em busca de respostas.

    Renier avançou pelos corredores do forte, seu olhar atento a cada detalhe, até que chegou a uma porta que parecia mais imponente do que as outras.

    A sala, provavelmente pertencente a um sênior ou até mesmo a um general, chamava sua atenção. Ele suspeitava que, se esse fosse um forte de guerra, algo importante poderia estar escondido ali, algo que valeria a pena investigar. Talvez até um valor pessoal ou algo de maior significado.

    Subindo até o terraço, Renier se deparou com uma vista impressionante. O vento forte sacudiu as pastagens esverdeadas que se estendiam até onde seus olhos podiam alcançar.

    À sua esquerda, o grande forte escuro parecia imponente, suas muralhas desgastadas pelo tempo, mas ainda sólidas, guardando o que restava da história que ali acontecera. Para o sul, uma vasta plantação de trigo dourado se estendia, as espigas balançando suavemente ao ritmo do vento, criando um cenário que era ao mesmo tempo refrescante e melancólico.

    Renier ficou parado por um momento, absorvendo a paisagem, até que algo na porta à sua frente chamou sua atenção. Uma plaqueta, entalhada em uma língua que ele não reconhecia de imediato, mas que, ainda assim, parecia familiar. Ele se aproximou e leu em voz baixa:

    — General Morales.

    A voz da Administradora ecoou em seu ouvido, curiosa.

    — Como você conseguiu entender isso? A língua dos Forjanos não é fácil de decifrar, você não aprendeu o idioma local. — Ela questionou, um tom de surpresa em sua voz.

    Renier olhou para a porta por um instante, e então, com um leve sorriso, respondeu:

    — Como Guardião Negro, é natural para mim conviver com seres de várias origens e entender suas formas de comunicação. A habilidade de compreender e falar com todos os seres vivos acaba surgindo de maneira instintiva, como se já tivesse sempre existido em minha mente. — Ele tocou a maçaneta da porta, sentindo a textura fria sob seus dedos, e a abriu com um gesto de leveza, como se nada pudesse ser difícil para alguém que já havia lidado com tantas camadas da existência.

    Com um último olhar para o nome gravado, Renier entrou na sala, determinado a descobrir o que mais esse lugar ainda escondia.

    Renier entrou na sala com passos firmes, e imediatamente seu olhar foi atraído para o ambiente, que, como ele já imaginava, carregava a marca de um nobre encarregado do local.

    Bandeiras com brasões de um território específico estavam espalhadas pela sala, embora boa parte do tecido tivesse sido devorada pelas traças, o espaço era opulento, mas desgastado pelo tempo, com um escritório que exalava a decadência de uma figura que um dia poderia ter sido influente, mas que agora parecia esquecida e negligenciada.

    As paredes eram adornadas com duas espadas grandes em suportes, que pareciam mais uma lembrança do que símbolos de poder, na mesa, garrafas de bebidas alcoólicas rústicas estavam espalhadas, sem rótulos, como se nunca houvesse preocupação com o que ali estava. Tudo parecia desleixado, desinteressante.

    Renier se aproximou da mesa, seus olhos vasculhando os papeis amarelados que estavam espalhados ali. Alguns possuíam furos de traças, mas não estavam completamente danificados.

    Ele analisou as anotações, que se mostravam como um relato de alguém que havia tentado manter o controle de seus negócios, mas que, evidentemente, estava se perdendo no tempo e nas suas próprias transações.

    Algumas notas falavam sobre como lidar com os soldados, outras eram instruções sobre compras de escravos demi-humanos. A palavra “escravidão” pesou na boca de Renier, que sentiu um amargo inexplicável invadir seus pensamentos.

    Sem se importar muito com a bagunça ao redor, Renier se dirigiu à gaveta da escrivaninha. Ao tocar a cadeira para afastá-la, a madeira se quebrou sob seu toque, caindo com um estrondo suave no chão. Renier murmurou, sem interesse. — Espero que essa cadeira não tenha valor, porque eu não vou pagar uma nova…

    Com um suspiro, ele se concentrou na gaveta aberta. Lá dentro, encontrou um caderno. A capa estava desgastada, e, para sua surpresa, a língua utilizada no conteúdo era a dos Forjanos. Parecia ser o idioma comum naquele território. Ele abriu o diário, começando a ler com atenção.

    As primeiras anotações eram típicas de um nobre arrogante, com uma escrita rude e desinteressada, que rapidamente perdeu o foco de Renier. Ele saltou para a última página, onde encontrou algo que chamou sua atenção.

    Nota 1:

    Do General Morales…”Um monstro surgiu dois dias atrás no forte. Estranhamente, tinha uma aparência humana, mas com algo… errado. Os soldados viram a criatura, mas como não havia provas concretas, pensei que fosse apenas um boato. Mas infelizmente, eu o vi. Estava coberto por um pano marrom que escondia sua cabeça, mas pude ver uma de suas mãos. Era maior que a outra. E, dane-se, aquilo foi bizarro! Ele abria a mão, e o braço se dividia ao meio, revelando uma esfera carmesim que surgia na fissura e se transformava em uma espada feita de… magia, ou sangue… Não sei o que era aquilo, mas era insano.”

    Nota 2:

    “Ficamos vigilantes por dias e noites, mas o monstro não nos atacava. Ele apenas vagava pelo forte à noite. Tentamos atacá-lo, mas toda flecha que disparávamos contra ele simplesmente o fazia desaparecer como fumaça negra, para ressurgir no dia seguinte. O que diabos ele era?”

    Nota 3:

    “Fomos atacados! O objetivo daquele monstro era nos cansar. Ele nos fez ficar em vigília por dias, afetando a moral do batalhão. Não pedimos reforços, pelo meu ego, pelo orgulho de não buscar ajuda do Império. Mas não foi a criatura bizarra que nos atacou… Um Wivery negro apareceu e atacou com uma força descomunal. Por que um membro dos Dragões estaria aqui? Este lugar está longe do território deles… Com isso, todo o meu batalhão foi massacrado, devorado pelo Wivery. Não sobrou nada… Eu… não posso voltar para o território. Vou me afastar, e deixar o monstro me levar também. Afinal, não há mais nada aqui.”

    Renier fechou o caderno lentamente, seus pensamentos se perdendo nas palavras escritas. A última anotação do General Morales foi como uma marca indelével, algo que deixava claro que algo muito além do comum estava em movimento. A presença do monstro, a referência ao Wivery negro e a menção aos Dragões, tudo isso formava uma teia de mistérios que só se aprofundava à medida que ele avançava mais nesse território sombrio.

    Com um suspiro profundo, Renier se afastou da escrivaninha e deu uma última olhada para o forte em ruínas. “Pelo visto, já tenho uma parte do quebra-cabeça nas mãos…” pensou ele.

    Ele guardou o caderno de volta na gaveta, seus olhos fixos na porta como se algo mais estivesse prestes a acontecer. O que quer que fosse, Renier sabia que isso estava longe de ser uma simples coincidência. Algo grande estava em jogo, e ele, como Guardião Negro, faria questão de descobrir o que era.

    Continua…

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