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    Renier seguiu pela rua movimentada, misturando-se à multidão sem pressa. Agora, com a permissão oficial para permanecer no território por dez dias, ele poderia circular sem problemas, pelo menos por enquanto. Se precisasse, poderia renovar o passe, mas essa ainda não era uma preocupação imediata.

    O que o incomodava, no entanto, era o completo silêncio da Organização. Nenhuma mensagem, nenhuma orientação da Administradora, nada de comunicação da Dra. Jennifer. Nenhum aviso sobre o que deveria fazer ou qual seria seu próximo passo. O silêncio era atípico.

    Enquanto caminhava, seus pensamentos voltaram à sequência de eventos que o levaram até ali. Desde sua chegada, ele já havia feito um estrago considerável. Primeiro, dizimou um exército inteiro de Lizardmans vermelhos. Depois, cruzou a barreira que protegia o território dos Morales, ignorando a segurança que deveria impedi-lo. O forte que encontrou já não era mais um posto militar ativo, apenas ruínas e sombras do passado.

    O diário do General Morales fornecia algumas respostas, mas levantava ainda mais perguntas. A criatura que ele descrevia era um mistério. A escrita era vaga, sem detalhes concretos, tornando impossível determinar exatamente do que se tratava.

    Renier ponderou. Poderia ser qualquer coisa. Um monstro, um ser sobrenatural… ou talvez algo muito pior. Algo capaz de manipular a mente de uma Wivery ou controlar criaturas de inteligência limitada.

    E ele sabia muito bem que, quando algo assim estava envolvido, a situação nunca era simples.

    Os pensamentos de Renier foram abruptamente interrompidos quando sentiu um braço se enroscar ao redor do seu, seus reflexos quase entraram em ação por instinto, mas ele rapidamente avaliou que não havia ameaça. Apenas uma garota.

    Ela sorria de maneira amigável, seu rosto iluminado por uma expressão despreocupada. Usava roupas simples, uma saia e um traje ajustado que contornava bem sua silhueta.

    Seus cabelos castanhos balançavam levemente enquanto ela se aproximava, seus olhos de avelã brilhavam com curiosidade.

    — Você veio da entrada da cidade? — perguntou ela, com um tom casual.

    Renier, sem muito interesse em prolongar a conversa, apenas respondeu com um simples:

    — Sim.

    Antes que pudesse perguntar algo de volta, a garota segurou seu braço com mais firmeza, puxando-o para perto, seu peito tocando levemente contra ele.

    — Ótimo! Você não deve ter um lugar para ficar esta noite, então venha comigo! Vou te levar até a estalagem da minha mãe!

    Renier sequer teve tempo de processar a informação ou decidir se queria seguir ou não, a garota simplesmente o puxou com naturalidade, sem dar espaço para protestos.

    Ele suspirou internamente, mas percebeu que a direção era a mesma que Priscila havia mencionado anteriormente, então, pelo menos, a garota não estava o arrastando para algum lugar desconhecido.

    Ao chegarem, Renier analisou a estalagem. O prédio de dois andares tinha uma aparência acolhedora, mas também carregava um ar de sofisticação. Como Priscila dissera, os vasos de flores adornavam a entrada, dando um toque charmoso ao local.

    Definitivamente um lugar mais refinado, provavelmente caro. Mas Renier não se preocupava com isso no momento.

    Afinal, ele estava curioso para saber o que exatamente aquela garota queria.

    Ao abrir a porta da estalagem, a garota que o arrastara até ali imediatamente ergueu a voz, chamando a atenção de sua mãe do outro lado do balcão.

    — Mãe! Trouxe um cliente!

    A mulher, que limpava alguns copos com calma, ergueu o olhar para a filha e então para Renier. Ela tinha semelhança com a jovem, embora fosse um pouco mais robusta e usasse uma venda sobre o cabelo, provavelmente para evitar que fios caíssem enquanto cozinhava.

    Renier fez uma breve anotação mental sobre o fato de que, ao menos, os padrões básicos de higiene existiam nesse mundo.

    A mulher suspirou e olhou para a filha com um ar exasperado.

    — Mila, já falei para você parar de puxar clientes dessa forma.

    Ela então voltou sua atenção para Renier, fazendo um gesto de desculpa.

    — Perdoe a atitude dela.

    Renier apenas levantou a mão de leve, oferecendo um sorriso despreocupado.

    — Não me incomodou. Na verdade, foi conveniente ter alguém me guiando até aqui.

    A jovem Mila sorriu vitoriosa.

    — Viu? Eu sabia que ele ia ficar!

    A dona da estalagem cruzou os braços e soltou um riso breve antes de perguntar:

    — Certo, e por quanto tempo pretende ficar?

    Renier respondeu de forma objetiva.

    — No máximo, dez dias.

    Antes que a conversa prosseguisse, um homem nos fundos, provavelmente o marido da mulher, anunciou que algumas entregas acabaram de chegar. Isso fez com que a dona da estalagem suspirasse e olhasse para a filha.

    — Mila, registre o rapaz para mim.

    A garota pegou um caderno com entusiasmo, erguendo-o como se fosse uma grande responsabilidade.

    — Eu sei escrever, então posso fazer isso!

    Sem mais delongas, a mãe de Mila foi para os fundos, deixando os dois sozinhos no balcão.

    A garota então pegou uma pena e um tinteiro e olhou para Renier com um sorriso.

    — Nome?

    — Renier Kanemoto.

    Assim que ele respondeu, ela congelou por um instante. Seus olhos se arregalaram levemente, refletindo a mesma surpresa que Otto teve ao ouvir seu sobrenome.

    Renier já antecipava aquela reação e decidiu não se alongar no assunto.

    — Pode me chamar só de Renier.

    Mila piscou algumas vezes antes de dar um aceno e anotar o nome no caderno. Em seguida, olhou de volta para ele.

    — Quantos anos você tem?

    — Dezesseis, anos eu acho…

    A caneta dela quase escorregou dos dedos.

    — Espera… você é mais velho que eu?!

    Renier arqueou uma sobrancelha, curioso.

    — Qual a sua idade?

    — Quatorze!

    Ele ficou surpreso, mas logo concluiu que talvez o desenvolvimento físico fosse diferente naquele mundo. A garota possuía um corpo bem desenvolvido para sua idade, algo que ele não esperaria em seu mundo de origem, mas não era algo em que pretendia se aprofundar.

    Mila deu de ombros e voltou ao seu trabalho.

    — Certo, se você vai ficar por dez dias, o preço é uma moeda de ouro. Se quiser um quarto individual com refeições inclusas, serão mais duas moedas grandes de prata. Mas, se topar dividir o quarto com alguém, será só duas moedas grandes de prata.

    Renier ponderou a informação. O preço parecia razoável considerando a qualidade da estalagem, mas agora precisava decidir se queria privacidade ou não.

    Renier deu um pequeno sorriso ao relembrar a caminhada até a estalagem. Durante o trajeto, ele observou as pessoas comprando e negociando, aproveitando para memorizar as moedas usadas no território. Provavelmente eram exclusivas daquela região, mas ele ainda não tinha certeza absoluta.

    Sem hesitar, afirmou:

    — Quero um quarto só para mim, com refeições inclusas.

    Com um gesto casual, tirou as moedas do bolso e as colocou sobre o balcão.

    Mila piscou algumas vezes, olhando para ele com um misto de incredulidade e curiosidade.

    — Você guarda seu dinheiro no bolso?!

    Renier arqueou uma sobrancelha.

    — Sim. Algum problema?

    Ela cruzou os braços, inclinando-se levemente para frente.

    — Nenhum, se você souber se proteger. Mas fica o aviso: se alguém te ver mexendo no bolso assim, pode acabar sendo roubado.

    Renier deu um breve aceno, aceitando o conselho.

    — Agradeço pelo aviso.

    Ele então empurrou as moedas para ela, que as pegou e anotou rapidamente no caderno antes de sorrir satisfeita.

    — Agora você está oficialmente vivendo na cidade! Quer subir e conhecer seu quarto?

    Renier pensou por um instante antes de responder.

    — Acho que vou dar uma volta e conhecer um pouco a cidade dos Morales primeiro.

    Os olhos de Mila brilharam de empolgação.

    — Quer uma guia?

    Renier soltou um riso leve.

    — Você só quer uma desculpa para sair, não é?

    Ela não se incomodou em negar, sorrindo com um ar travesso.

    — Talvez.

    Renier deu de ombros.

    — Por mim, tudo bem. Vou adorar companhia.

    Sem perder tempo, Mila se virou e gritou na direção dos fundos da estalagem.

    — Mãe! Vou levar o hóspede novo para conhecer a cidade!

    A resposta veio em um tom igualmente alto:

    — Tudo bem, mas voltem antes do jantar!

    Renier riu. Parecia que aquela estalagem seria um lugar bem acolhedor.

    Agora, sair para caminhar pela cidade com uma guia que, por coincidência, era uma garota bonita… Bom, isso era um luxo que ele adorava.

    Continua…

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