Capítulo 74: Labirinto Parte 2.
Renier estava sentado no chão do labirinto, suas costas contra a parede fria de pedra, observando Luna e Mila.
A situação exigia cautela e estratégia: o labirinto era traiçoeiro, cheio de perigos e armadilhas, mas o pior deles era a criatura conhecida como “Pesadelo”. E, além disso, havia a ameaça latente da invocação de uma Calamidade através dos sacrifícios vivos, um destino que Renier estava determinado a impedir a qualquer custo.
Ele se levantou com um suspiro, ajustando a postura e observando as duas com um olhar calculista.
— Além de mim, alguma de vocês tem habilidades úteis no momento? — perguntou, direto e sem rodeios.
Luna hesitou por um instante antes de tocar suas orelhas de kitsune.
— Consigo ouvir e sentir cheiros de forma mais aguçada… mas não acho que isso seja muito útil — disse, sua voz carregada de dúvida.
Renier arqueou uma sobrancelha, levando a mão à cintura.
— Muito pelo contrário. Isso pode ser extremamente favorável para nós agora. — Ele acenou com a cabeça, sua mente já traçando estratégias. Qualquer vantagem, por menor que fosse, era crucial em um lugar como aquele.
Com um movimento fluido, Renier retirou sua espada azul da bainha e a entregou a Mila. A garota olhou para a lâmina reluzente com surpresa e confusão.
— O que espera que eu faça com isso? — perguntou, segurando-a hesitante.
Ele deu de ombros. — Você tem uma habilidade de suporte, certo? Mas isso não significa que precisa ser indefesa. Dentro do labirinto, você vai treinar. Vai aprender a se defender. Vai ficar mais forte.
Mila arregalou os olhos, seus dedos tremendo ao segurar o cabo da espada.
— Eu… eu não posso! É impossível para mim lutar! — Sua voz era um misto de medo e incerteza.
Renier a encarou por um momento antes de cruzar os braços, sua expressão séria e inflexível.
— Se quiser ficar aqui no fundo do labirinto e esperar que a morte te encontre, essa é sua escolha. Eu não vou arrastar alguém que não quer lutar pela própria vida até a saída. — Suas palavras foram duras, mas sinceras. Ele sabia que não podia carregar alguém que se recusava a tentar.
Mila abaixou o olhar, mordendo o lábio, seus pensamentos conflitantes estampados em seu rosto.
— Mas… se quiser provar que pode ser diferente, que pode ser mais forte… — Renier continuou, sua voz baixa, mas firme. — Pegue essa espada e venha comigo até a superfície.
O silêncio pairou por um instante entre eles antes de Renier desviar o olhar para Luna. A pequena kitsune já havia se recuperado de seus ferimentos, e ele a analisou com interesse.
O que ela realmente era? Ele já havia conhecido Siryus no passado, uma Deusa Caída… poderia Luna ser uma espiritual ou apenas uma besta? No momento, não tinha como saber. Mas Renier decidiu não pressioná-la. Ela ainda era uma criança, e por ora, havia questões mais urgentes a resolver.
Respirando fundo, ele olhou para os dois lados do corredor estreito do labirinto.
— Muito bem… vamos nos mover. Quanto mais tempo ficarmos parados, pior será para nós. E lembrem-se: a única direção possível é para cima.
Mila responde com aceno, seu olhar na lâmina azul que havia ganhado.
— E-Eu… vou tentar… — murmurou, tentando convencer a si mesma, no momento.
Ao saírem da gruta, se viram em uma espécie de corredor. A luminosidade era fraca, mas ainda existia. Como um verdadeiro labirinto, tochas estavam a cerca de quatro metros uma da outra. Porém, acima, o teto era escuro, não era possível ver qualquer ataque se acontecesse…
Renier virou-se para Mila e Luna.
— Ótimo, parece que vai ser fácil — afirmou, dando um sorriso otimista. — Luna, você fica a cargo de sentir e ouvir qualquer som, qualquer coisa fora do habitual, mesmo o menor que seja, será seu dever anunciar, ok?
— Sim, senhor… — afirmou Luna, com suas nove caudas escuras balançando levemente contra o chão sujo. Seu olhar ainda não havia mudado, neutro, porém as orelhas pareciam trabalhar conforme Renier havia pedido.
“Estou em um labirinto…” ponderou Renier sobre qual arma usar no devido momento. “A foice não vai me ajudar com duas pessoas por perto no alcance da lâmina…”. Levando a mão sob o queixo, refletiu. Era divertido usar a foice como foi no Mundo Zero, mas arriscar a segurança de Mila e Luna não era divertido.
Renier observou mais à frente e logo voltou o olhar para ambas.
— Posso pedir um favor para vocês duas? — indagou ele.
Mila, meio intrigada com a súbita mudança, acenou perguntando.
— Acho que sim, qual seria?
Renier deu um sorriso travesso.
— O que acontecer dentro do labirinto permanece no labirinto — afirmou ele, sua mão se abrindo conforme a energia cósmica fluía do seu traje para os dedos, trazendo consigo uma pistola com design hi-tech branco, com energia azul fluindo pelas juntas até o cano da arma.
Isso deixou tanto Mila quanto Luna surpresas, seus olhos brilhando com curiosidade ao verem aquele artefato se formando nas mãos de Renier. Mila logo foi a primeira a dizer algo.
— O que foi isso? — indagou ela, apontando para a arma nas mãos dele. — Como você fez isso?
— Heh, apenas um pequeno truque… — disse Renier, com um sorriso triunfante. — Mas peço que guardem segredo a partir daqui, tudo bem? Tudo o que eu fizer dentro do labirinto não deve ser contado a ninguém, entenderam?
— Isso não foi bem uma resposta convincente… — murmurou ela, emburrada. — Mas se você não quer revelar nada a ninguém… por mim tudo bem, não vou contar — assentiu Mila, ainda curiosa sobre o que aquela arma poderia fazer.
Luna puxou uma parte da roupa de Renier, fazendo-o olhar para baixo.
— Eu também não vou contar para ninguém, prometo… — afirmou, inocentemente, mas parecendo ser algum tipo de seguro, o que não passou despercebido por Renier.
Acariciando os cabelos da kitsune, com um sorriso, Renier agradeceu.
— Então, agora vamos completar esse labirinto e nos encontrar com a Lívia e Priscila… caso estejam vivas… — afirmou ele, com entusiasmo.
Tomando a frente enquanto Luna e Mila permaneciam atrás, sob a segurança que Renier impôs sobre elas, a situação parecia uma brincadeira para ele. Mas será que o labirinto seria como um jogo em um mundo no qual habitavam perigos reais?
✦—✵☽✧☾✵—✦
No Império dos Forjanos, na grandiosa Capital Real, os sinos da catedral ecoavam pela cidade, anunciando o início de um ritual sagrado. No coração do templo, em meio a uma arquitetura celestial, uma cerimônia crucial se desenrolava para combater o caos imposto pela Deusa Maligna, cuja influência se espalhava como uma praga sobre todo o continente.
A Sacerdotisa, envolta em um manto branco, ajoelhava-se diante de um vasto círculo de invocação esculpido no chão de mármore. Seus cabelos prateados reluziam à luz das velas, e seus olhos verdes brilhavam com determinação.
As runas intricadas e os símbolos divinos resplandeciam enquanto sua magia sagrada fluía, conectando-a com a Deusa da Luz. Cada nota do cântico que entoava fazia o círculo mágico vibrar e pulsar, acumulando uma energia que começava a se espalhar pelo ambiente.
Com uma voz firme, a Sacerdotisa proclamou:
— Pela graça da Deusa da Luz, que a Guardiã seja convocada! Que sua lâmina brilhe contra a escuridão e que seu poder nos guie em nossa hora de necessidade!
O círculo de invocação iluminou-se com uma intensidade quase ofuscante. Do céu, um grande feixe de luz desceu sobre a Catedral, e toda a Capital testemunhou o fenômeno divino. As nuvens se abriram e uma torrente de energia pura e reluzente tomou conta do santuário, fazendo com que o espaço ao redor tremesse com o influxo de poder celestial.
Quando a luz começou a se dissipar, a Sacerdotisa abriu os olhos, ofegante, contemplando a silhueta que emergia do brilho sagrado. Raios crepitavam ao redor da figura, como se o próprio destino estivesse se curvando à sua chegada.
E então, ela apareceu.
Uma jovem de cabelos dourados como o sol, olhos prateados reluzindo como estrelas distantes, trajando uma armadura que parecia avançada demais para aquela época.
À sua cintura, uma espada branca repousava, e sob a armadura, um vestido fluía com elegância. Sua presença era imponente, e a aura divina que a rodeava deixava claro que ela não era uma guerreira comum.
Os olhos da Sacerdotisa se arregalaram. Aquela aparência…
Não era familiar para os habitantes daquele mundo. Mas talvez fosse para uma certa entidade, um Guardião cujas memórias transcendiam os limites da própria existência.
Continua…
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.