Índice de Capítulo

    A situação estava relativamente estável para o trio liderado pelo Guardião Negro, mas a mesma calma não se podia dizer em relação ao que se passava à frente. Em uma vasta gruta, o eco de espadas se chocando e os gritos furiosos e exaustos dos soldados preenchiam o ar.

    Em uma batalha feroz, as forças comandadas por Priscila estavam atoladas, sem poder avançar mais. O terreno era amplo, mas repleto de obstáculos. Esqueletos encapuzados, com armaduras escuras, empunhavam espadas e escudos, além de lanças e alabardas, bloqueando todos os caminhos.

    Mais de uma dúzia, talvez até mais, desses monstros estavam espalhados pelo campo de batalha, parecendo ter sido criados exclusivamente para desgastar a moral e os corpos dos soldados.

    — Não se intimidem! Vamos derrubar até o último desses malditos monstros! — gritou Priscila, sua lâmina cortando a abertura de um esqueleto com precisão. O inimigo desmoronou diante dela, mas logo ela ergueu sua espada novamente, com o rosto determinado. — Vamos mostrar a esses demônios do que o povo dos Forjanos é capaz!

    Os soldados, exaustos, tentavam manter o ritmo, mas sabiam que o cansaço estava começando a pesar. Mesmo assim, as palavras de sua General reverberavam pelo campo de batalha, um eco de esperança em meio ao caos. No entanto, Priscila sabia que a energia de todos estava se esvaindo, e os monstros, como uma onda crescente, não davam sinais de parar.

    De outro corredor do labirinto, Lívia surgia, sozinha, com uma varinha de ferro adornada com runas. Ela entoava um feitiço com força:

    — Lâmina das Dez Ventanias! — sua voz ressoou enquanto um furioso vendaval se formava, girando em uma centrífuga e arremessando os monstros para longe, fazendo os soldados soltarem um suspiro de alívio.

    Com o cabelo sujo de poeira e suor, Lívia o amarrou em uma trança rápida enquanto se aproximava de Priscila, ofegante.

    — O que aconteceu com os dez magos que estavam com você? — indagou a General, colocando sua lâmina no chão enquanto aproveitava para recuperar o fôlego.

    Lívia apertou a varinha com as mãos trêmulas e baixou os olhos. — Infelizmente, fui a única a conseguir retornar… mais monstros apareceram no fundo do labirinto… Me desculpe… — ela murmurou, abaixando a cabeça em pesar.

    O peso da perda ainda pairava sobre a equipe, mas Priscila não se permitiu ceder à dor. Com um suspiro profundo, ela olhou para Lívia, ainda visivelmente tensa, e, com firmeza, disse:

    — Não é hora de lamentar. Respire fundo e me entregue o relatório da situação.

    Lívia hesitou por um momento, seus olhos cansados refletindo o peso do que haviam enfrentado. Quando falou, sua voz saiu baixa, mas carregada de um pesar imenso.

    — Não encontrei muitos civis. Alguns cadáveres de moradores, mortos próximos às grutas… Eles estavam perto da praça quando o círculo mágico foi ativado.

    Priscila refletiu por um instante, o olhar distante, ponderando as palavras de Lívia. Por fim, falou com a voz firme, como quem tomava uma decisão:

    — Então, os que foram enviados ao labirinto não eram da cidade inteira. O alcance foi limitado, restrito àqueles que estavam no raio de ação da praça central.

    Lívia assentiu, confirmando a conclusão de sua comandante. O silêncio que se seguiu foi denso, quebrado apenas pelo sussurro do vento que passava pelas paredes da gruta.

    A General então percebeu a tensão nos ombros de Lívia, a exaustão evidente em seu corpo. Priscila a observou com um olhar preocupado, antes de falar com uma expressão séria:

    — Lívia, você precisa cuidar de si mesma. Descanse um pouco. Sua magia depende do vento, mas estamos em um labirinto, o ar aqui é escasso. Se continuar a gastar suas forças sem precaução, acabará sem energia… e sem ar. Você é a única capaz de nos guiar para a saída, e precisamos de você em bom estado.

    Lívia fixou os olhos em Priscila, o peso da responsabilidade pesado em seu olhar. Ela respirou fundo, o peito se apertando, antes de responder, com a voz trêmula de preocupação:

    — Eu preciso encontrar o Renier. Não vou descansar até vê-lo bem… ou, se for o pior dos casos, até ver seu corpo. Não consigo deixá-lo para trás.

    As palavras de Lívia saíram duras, carregadas de desespero, mas Priscila não cedeu. Seu olhar se tornou implacável e, com uma voz firme, ela emitiu uma ordem que não deixava espaço para discussões:

    — Não. Isso é uma ordem de sua superiora. Renier… aquele jovem derrubou um Wyrm sozinho. Ele é mais do que capaz de sobreviver. Ele vai encontrar uma maneira de nos localizar.

    A calma na voz de Priscila foi como um bálsamo, tentando acalmar Lívia, que ainda se agarrava à esperança de encontrar Renier. Mas a General sabia, mesmo em meio à tempestade de incertezas, que não podia permitir que sua maga se perdesse em uma busca descontrolada. Renier possuía uma força incomum, uma força capaz de superar qualquer obstáculo. De algum jeito, ela tinha certeza de que ele os encontraria.

    ✦—✵☽✧☾✵—✦

    Mais ao fundo do labirinto, dentro de uma das grutas úmidas e sufocantes, o som de disparos ecoava como trovões em meio à escuridão. Raios azulados iluminavam o ambiente a cada tiro, refletindo nas paredes negras e úmidas, enquanto o brilho etéreo envolvia a arma de Renier.

    À sua frente, um adversário digno o aguardava. Um sorriso surgiu em seu rosto ao ver a criatura avançar. O ser era imponente: um Dullahan, um cavaleiro sem cabeça, vestindo uma armadura escura como a noite e empunhando uma foice negra, grotesca, que mais parecia uma extensão da própria morte.

    Renier disparava contra ele, mais para provocá-lo do que para causar dano real. Cada tiro fazia o cavaleiro girar sua foice, e em um instante de descuido, a lâmina passou rente ao rosto de Renier. Seu instinto agiu antes mesmo da consciência, e ele se jogou para o lado, rolando no chão enquanto a foice atingia a parede atrás dele, despedaçando-a com uma força brutal.

    — Mila, agora! — Renier gritou.

    No mesmo momento, ele mirou e disparou contra a armadura do Dullahan. A criatura, ao tentar puxar sua foice presa na parede, largou-a por um breve instante e avançou com os punhos. Foi então que Mila emergiu da escuridão, veloz como uma lâmina oculta.

    Luna, a pequena kitsune, ergueu as mãos e lançou uma rajada de energia invisível. O impacto fez o Dullahan hesitar, seu corpo ficando rígido por um instante, como se sua essência fosse esmagada por uma força psíquica. Esse momento foi tudo de que precisavam.

    Renier não desperdiçou a oportunidade. Seus disparos se concentraram em um único ponto da armadura, enfraquecendo o metal até que Mila, com um único golpe certeiro, perfurou a criatura, atravessando o buraco recém-aberto. A espada se enterrou fundo, e um som abafado reverberou pelo casco negro da armadura.

    O Dullahan estremeceu, uma fumaça densa e negra esvaindo-se de seu corpo. A armadura perdeu a forma e desmoronou, caindo ao chão em pedaços ocos.

    Mila largou sua espada e caiu sentada, ofegante. Seus olhos brilhavam de satisfação e cansaço.

    — Eu… realmente consegui matar um monstro desses… — disse ela, incrédula, encarando os restos do inimigo derrotado.

    Renier soltou uma risada baixa e satisfeita. Caminhou até Luna, passando a mão em sua cabeça e bagunçando suavemente seus cabelos prateados.

    — Bom trabalho, pequena. Seu suporte foi essencial.

    Luna manteve sua expressão neutra, mas, por um breve momento, um sorriso quase imperceptível cruzou seu rosto.

    — Apenas fiz o que o jovem mestre ordenou… — respondeu, sua voz calma como o vento.

    Renier, sem resistir à cena, puxou-a para um abraço.

    — Você é tão fofa! — riu, enquanto Luna apenas aceitava o gesto, um pouco surpresa. Então, olhando para as duas, acrescentou com um brilho confiante nos olhos: — Nesse ritmo, vocês vão ficar cada vez mais fortes.

    Por fim, suavizou o tom e olhou para Mila, que ainda recuperava o fôlego.

    — Mas por agora, vocês duas merecem descansar. O ar rarefeito aqui embaixo já está cobrando seu preço. Não podemos nos dar ao luxo de continuar nesse ritmo sem pausas.

    Ele se virou para observar os caminhos adiante no labirinto, seus pensamentos claros. Aquele desafio estava apenas começando, mas ele sabia que não enfrentaria tudo isso sozinho. Luna e Mila estavam se tornando forças fundamentais contra as criaturas daquele lugar. E ele faria questão de garantir que ambas saíssem vivas e ainda mais poderosas do que nunca.

    Continua…

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