Capítulo 77: O Labirinto Parte 7.
Mila estava sentada no chão gelado da gruta, esticando os braços e bocejando com força, o cansaço claramente estampado em seu rosto.
— Esse lugar não é nada confortável… — ela murmurou, puxando as pernas para perto de si, tentando encontrar alguma forma de se sentir menos desconfortável.
Ao seu lado, Luna não parecia mais satisfeita, sua expressão tranquila, mas os pequenos sons de sua barriga, sinalizando a fome, quebravam o silêncio do ambiente. Renier, vendo a situação, soltou uma leve risada. Era curioso como, mesmo nas situações mais inóspitas, as garotas se pareciam mais relaxadas. Isso, de alguma forma, era bom. A confiança estava crescendo, e isso refletia na atitude delas.
Renier levantou-se calmamente, ajustando sua postura com naturalidade. Ele olhou para as duas, ainda sentadas, e falou com uma leveza que quase parecia descompromissada.
— Ambas precisam de um banho, comida e água… — Ele fez uma pausa, um sorriso travesso surgindo no canto de sua boca. — Vamos dar um jeito nisso.
Mila, levantando uma sobrancelha, olhou para o ambiente mórbido ao redor, claramente cética.
— De onde vamos tirar tudo isso em um lugar tão mórbido como esse? — ela questionou, sem esconder a dúvida em sua voz.
Renier ponderou por um momento. Ele olhou para suas mãos, como se ponderasse uma ideia distante, e então algo brilhou nos seus olhos. A existência era ele. Se a realidade podia ser moldada por ele, por que não trazer algo de volta? Algo útil?
Com um leve suspiro, ele virou-se para o lado, erguendo a mão com uma calma imperturbável. A palma se abriu lentamente, liberando sua energia cósmica, que surgia com um tom azul intenso.
A gruta começou a brilhar de maneira sutil, como se a própria estrutura estivesse reagindo ao poder de Renier. As paredes escuras da caverna, antes opacas, começaram a revelar blocos de pedra visíveis, e o chão de terra também se tornou perceptível. A armadura do Dullahan ainda estava no canto da gruta, inerte e esquecida por agora.
Mila e Luna observavam tudo com fascínio, suas expressões atentas, mas também respeitosas. Elas sabiam o suficiente para não atrapalhar o que estava acontecendo.
Os olhos de Renier brilharam com um tom azul profundo, as estrelas dentro de suas íris pulsando como galáxias distantes. Então, com um estalar de dedos, o impossível começou a acontecer. Do chão árido, uma pastagem verdejante brotou rapidamente, uma árvore de grande porte surgindo no centro, com maçãs vermelhas surgindo em seus galhos quase instantaneamente.
O labirinto parecia reagir à energia. Um leve tremor percorreu a gruta, e cogumelos comestíveis começaram a aparecer entre os blocos de pedra, suas formas frescas e convidativas. No alto da parede, uma cascata de água surgiu, fluindo com suavidade e clareza, como uma corrente de cristal puro.
O brilho azulado no teto se intensificou, como se minérios preciosos, agora iluminados pela energia de Renier, conferissem à cena uma aura mágica e surreal. Tudo ao redor parecia um sonho encantado.
Renier soltou um suspiro involuntário, admirando a cena com um sorriso suave. Ele se virou para as duas, já relaxando, como se tivesse feito o mais simples dos feitos.
— Agora temos comida, água e um lugar para descansar. Vocês podem relaxar um pouco. — Ele falou, com a naturalidade de quem dizia algo trivial, como se fosse o mais simples dos atos.
Mila, ainda com a mente tentando processar o que acabara de presenciar, não conteve a pergunta óbvia.
— Como… como você fez tudo isso? Você é um Deus? — Sua voz carregava uma mistura de incredulidade e admiração.
Renier revirou os olhos, com uma expressão de leve desdém, como se o simples fato de ser comparado com algo tão “idiota” fosse ofensivo.
— Não me compare com esses seres inúteis… — Ele disse, com um tom firme, como se estivesse sendo questionado por algo trivial.
Luna, ainda com a mesma calma, pegou uma maçã da árvore recém-criada. Ela olhou atentamente para a fruta, e, ao dar a primeira mordida, um sorriso quase imperceptível passou por seu rosto. O sabor doce parecia atingir seus sentidos de uma maneira inesperada. Suas caudas negras, agitadas e frenéticas, traíam seu contentamento pela sensação.
Renier cruzou os braços, observando o ambiente com atenção.
Comam e descansem. Quando estiverem prontas, continuamos nossa jornada pelo labirinto. E não façam mais perguntas sobre como eu fiz essas coisas, está bem? — Seu tom era casual, mas havia uma autoridade implícita nas palavras.
Mila e Luna se entreolharam, ainda processando o que acabaram de testemunhar. Elas não tinham palavras para descrever o que Renier tinha feito, mas isso não importava. O que importava agora era que elas podiam descansar e se recuperar. Afinal, o que estava por vir no labirinto ainda era um mistério.
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Renier observava tanto Mila quanto Luna, agora descansando ao pé da macieira, permitindo que corpo e mente se recuperassem. O ambiente tranquilo contrastava com a inquietação que pulsava dentro dele. Ele soltou um leve sorriso de canto ao ver aquela cena. Por mais que sua natureza o impedisse de sentir sono ou cansaço, decidiu manter a vigilância para garantir que nada saísse do controle. No entanto, algo ainda o incomodava.
Puxando seu capuz escuro, sua máscara de kitsune ressurgiu, os olhos brilhando com o neon de energia. Assim que a interface foi ativada, algo inesperado aconteceu. O labirinto ao redor revelou uma planta completa da estrutura, um mapeamento que facilitaria a saída para a superfície. Renier arqueou uma sobrancelha, surpreso com a facilidade daquilo. Mas sua atenção logo foi capturada por outra informação ainda mais intrigante.
Seus olhos pousaram sobre Luna. Uma identificação surgiu na interface:
Nome: Luna?
Raça: Kitsune Celestial Lunar.
Título: Deusa da Lua Caída.
Renier estreitou o olhar. Outra deusa corrompida? Uma kitsune de nove caudas. O que mais o intrigava era que não sentia nela um poder digno de uma divindade, muito menos uma celestial. E o fato de seu nome vir acompanhado de uma interrogação indicava que a interface tinha dúvidas sobre sua verdadeira identidade.
Ele suspirou pesadamente, sua mente calculando as possibilidades.
— O que estava acontecendo no Reino Divino? Primeiro Siryus, uma Deusa Caída que se autointitula Guardiã do Caos. Agora, Luna, uma antiga Deusa da Lua. Seria coincidência? — ponderou ele irritado.
Para Renier, a desordem entre os seres acima da existência estava ficando cada vez mais evidente. Desde que sua mãe, Yggdrasil, se fundira com ele, as coisas haviam se tornado caóticas. Talvez Siryus estivesse certa. Sem a autoridade de Yggdrasil, os seres que um dia estiveram sob sua ordem estavam se entregando ao caos absoluto.
Mas não era hora de se preocupar com Luna. Ainda não conseguia aceitar a ideia dela ser uma escrava, mas sabia que devia haver um motivo por trás dessa escolha. Não cabia a ele julgá-la… pelo menos, não ainda.
Decidido, Renier clicou no dispositivo em seu ouvido. Seu tom era firme, carregado de seriedade:
— Dra. Jennifer, me escuta? Podem me ouvir? Enviar alguma mensagem?
Silêncio. O vácuo absoluto, incômodo até para ele.
Renier franziu o cenho, testando novamente:
— Administradora? Alguém da base da O.S.N.? Responda.
A resposta foi apenas o ruído eletrônico de falha na comunicação.
Isso não era normal. Algo estava errado. Seu traje, sua máscara e todos os dispositivos criados pela Administradora ainda funcionavam perfeitamente, mas a comunicação estava bloqueada. Isso o deixava inquieto. Algo estava acontecendo longe de seus olhos. Algo grande.
Seus punhos se fecharam. Ele voltou o olhar para Mita e Luna. Seu objetivo imediato ainda era outro. No entanto, a existência como um todo estava desmoronando lentamente em um caos absoluto.
Continua…
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