Capítulo 81: No Coração da Teia Parte 2.
Mila assumiu a tarefa de libertar os reféns presos nos casulos pegajosos, movendo-se rapidamente entre eles. Havia cinco no total, quatro humanos e um Lizardman marrom. Esta última era uma fêmea, com uma aparência exótica que lembrava uma serpente naja, mas com um corpo humanoide. Seu corpo era marcado por detalhes vermelhos brilhantes, que se destacavam na penumbra do lugar, assim como seus olhos, que começavam a se abrir lentamente.
Luna, ao vê-la, arregalou os olhos de surpresa. Reconhecia aquela Lizardman.
— Ela… — murmurou, dando um passo à frente. — Ela também era uma escrava… como eu.
A mulher lagarto despertava aos poucos, os movimentos lentos e desorientados, como se estivesse emergindo de um longo pesadelo.
Enquanto isso, Mila continuava sua tarefa, usando as garras metálicas escuras de sua armadura para rasgar com facilidade o tecido resistente das teias criadas pela Rainha Aranha. Um a um, os reféns iam sendo libertados, seus corpos caindo para fora dos casulos úmidos e pegajosos.
Entre eles, dois eram homens. Um deles vestia uma armadura, ou pelo menos o que restava dela. A peça metálica estava quebrada do peito para baixo, revelando uma lesão leve na cabeça. Apesar de seu estado, ele estava recuperando a consciência rapidamente, o que era surpreendente.
Quando seus olhos se abriram completamente, Mila o reconheceu quase de imediato.
— Lihan…? — disse, surpresa.
Ele piscou algumas vezes, tentando focar a visão enquanto seu corpo caía para fora do casulo. Mila o segurou antes que ele desabasse no chão, ajudando-o a se equilibrar.
Lihan respirou fundo, ainda assimilando tudo ao seu redor. Quando percebeu que estava seguro, ergueu o olhar para Mila e sorriu, aliviado.
— Obrigado… Achei que ia morrer dentro daquele lugar apertado — disse, massageando a cabeça.
Então, algo chamou sua atenção. Ele olhou para Mila de cima a baixo, como se notasse algo diferente nela.
— Você mudou bastante desde a última vez que a vi…
Mila riu levemente, cruzando os braços.
— A necessidade pediu por mudanças — disse, de forma descontraída. — Além disso, tive uma boa inspiração para isso.
Lihan sorriu, balançando a cabeça.
— Pelo menos agora parece que você finalmente está fazendo algo que gosta. Bem diferente de como eu a via sempre pela cidade…
Mila apenas sorriu de canto, mas seu olhar brilhou por um instante.
A conversa poderia continuar, mas não havia tempo para isso. Ainda havia mais reféns para libertar, e Renier continuava lutando contra as aranhas. Cada segundo contava.
Enquanto Mila trabalhava para libertar os reféns restantes, um grito de raiva rompeu o silêncio da sala. Um dos homens que havia acordado, um sujeito com uma túnica suja e uma barba branca bagunçada, olhou em direção a Luna com desprezo. O som de sua voz cortou o ar, carregado de fúria.
— A besta apareceu! — ele gritou, suas palavras tremendo de ódio, enquanto seus olhos fixavam Luna, com um olhar carregado de desdém.
Imediatamente, Mila se posicionou na frente de Luna, sua postura firme e ameaçadora.
— Qual é o seu problema? Eu acabei de salvar vocês e você já começa com essa atitude?
Luna, por outro lado, não se conteve. Seu olhar era feroz, quase selvagem, e seus olhos brilhavam com um tom de azul escuro, como se o fogo de sua raiva estivesse prestes a consumi-la.
— Esse é o Vendedor de Escravos — ela disse, a voz carregada de rancor. — Ele foi quem me vendeu para o Padre da Igreja.
O homem, enfurecido, olhou para Luna com desdém, um vaso de raiva pulsando em sua testa. Ele se aproximou dela com a fúria estampada no rosto, perguntando em um tom ameaçador.
— Como ousa falar comigo dessa forma, sua besta?! — sua voz era cortante, como se estivesse falando com uma criatura inferior.
Lihan, vendo a tensão crescer, tentou intervir para apaziguar a situação. Com um tom mais calmo, tentou falar com o Vendedor de Escravos.
— Elas acabaram de nos salvar, por favor, tente se acalmar — disse, buscando amenizar a hostilidade.
Mas o homem não teve paciência. Com um movimento brusco, empurrou Lihan, fazendo-o quase perder o equilíbrio.
— Não fale comigo como se fosse meu importante, elas são minhas, e eu as quero de volta agora!
A Lizardman, ainda confusa, retomava a consciência, sentada no chão com a mão sobre a cabeça, tentando se orientar no meio da situação. Ela olhou para o Vendedor de Escravos e disse com uma voz cansada, mas com uma sabedoria amarga.
— Humanos como eles… não adianta dialogar… são todos iguais.
Mila, sem paciência para mais conversas, rasgou o último casulo com uma investida de suas garras. O corpo de um homem mais velho caiu no chão com um baque, sua aparência distinta e misteriosa. Ele usava uma túnica vermelha e, em sua cintura, um broche e um livro. Ao ver isso, Mila franziu a testa. Era óbvio para ela que ele não era qualquer pessoa.
— Um mago da alta classe… — ela murmurou, reconhecendo a vestimenta e os símbolos. — Isso é… estranho. O que ele está fazendo aqui?
Sua mente estava cheia de perguntas, mas a prioridade ainda era lidar com o caos imediato à sua frente. O Vendedor de Escravos, as tensões com Luna, o homem misterioso caído no chão, tudo estava se tornando uma bola de neve que não poderia ser ignorada.
E Mila sabia que o tempo estava se esgotando.
O mago recém-acordado piscou algumas vezes, tentando se situar, mas sua atenção, assim como a de todos ali, foi rapidamente desviada por um estrondo avassalador. O som de aço se chocando contra aço ecoou pelo ambiente, acompanhado por um brilho azul cósmico que iluminou a escuridão do labirinto.
Os três homens, assim como a Lizardgirl, voltaram seus olhares para o centro da batalha. O garoto mascarado, o enigma por trás da máscara de Kitsune, não apenas estava enfrentando as duas aranhas colossais… Ele estava batendo de frente com elas.
E não usava uma arma.
Seus próprios punhos eram sua defesa, bloqueando os golpes brutais das criaturas e devolvendo ataques com força igual. Em um único movimento, um de seus chutes liberou uma explosão de energia cósmica, acertando a Rainha do Labirinto com força suficiente para fazê-la perder o equilíbrio e tombar para trás.
Lihan assistia à cena, completamente atônito.
— Quem diabos é esse cara?
Mila, sem hesitar, abriu um pequeno sorriso orgulhoso.
— Esse é Renier. Um amigo.
O mago, ainda tentando entender a situação, murmurou com incredulidade:
— Nem mesmo eu consegui fazer essas criaturas se moverem… E esse garoto está lidando com elas sozinho?
Antes que mais palavras pudessem ser trocadas, a voz autoritária de Renier cortou o ar como uma lâmina afiada.
— Parem de falar tanto e encontrem a droga do núcleo!
Seus olhos brilhantes na máscara de Kitsune fixaram-se no grupo por um breve instante, e a intensidade de sua presença foi o suficiente para sacudi-los de sua hesitação.
Mila se recompôs imediatamente, percebendo que ele estava certo. Não havia tempo para conversas ou surpresas.
— Luna, você e a Lizardgirl vão atrás do núcleo agora! — ela ordenou, sua voz firme e decidida.
Porém, o Mercador de Escravos interferiu com seu tom irritante e arrogante.
— Só eu posso dar ordens a elas! Não você, nem esse monstro de garoto!
Mas antes que ele pudesse continuar sua ladainha, sua voz foi cortada.
Uma aura negra emergiu da armadura de Mila, fria e opressora. Seus olhos estavam carregados de irritação quando ela sacou sua espada em um movimento ágil, pressionando a lâmina contra o pescoço do homem.
O silêncio tomou conta da sala.
Mila, sem esconder o cansaço em sua voz, disparou:
— Se não vai ajudar, cale a boca.
Ela então lembrou-se do que Renier e Luna haviam dito anteriormente e usou suas próprias palavras contra ele.
— Estamos no fundo de um labirinto. Luna e a Lizardgirl não são mais suas. Elas estão livres. E se quiser contrariar isso, vá discutir com aquelas duas aranhas gigantes.
O mercador engoliu seco, sua expressão pálida.
Lihan e o mago trocaram olhares surpresos. A pressão emanando de Mila era esmagadora, uma aura de sombras que fazia o ar parecer mais pesado ao seu redor.
Luna, por outro lado, olhava para a cena com um brilho intrigado nos olhos. Um pequeno sorriso surgiu em seu rosto.
O mercador, incapaz de revidar, cambaleou para trás e caiu sentado no chão.
— Façam o que quiserem… Desde que paguem por elas.
Aquilo foi o cúmulo.
Mesmo diante da morte, aquele homem ainda era um verme mesquinho.
Mila sentiu o sangue ferver. Lihan apertou os punhos, compartilhando da mesma indignação.
Mas antes que a situação pudesse escalar, algo interrompeu a tensão.
Uma lança negra foi arremessada do centro da batalha, atravessando o espaço e cravando-se na parede ao lado do Mercador de Escravos com um estrondo ameaçador.
Todos se viraram para a fonte.
Renier estava ali, sem a máscara. Seus olhos azuis brilhavam intensamente, sua presença irradiava uma pressão severa e inescapável.
Ele olhou diretamente para o mercador e declarou, sem hesitação:
— Eu compro as duas.
E então, com um olhar gelado:
— Agora fique fora do caminho… Ou eu vou te usar como escudo vivo contra esses monstros.
O mercador, suando frio, não ousou responder, a situação parecia agora focada no objetivo central de localizar o núcleo, ou todo o esforço de liberar esses reféns e lutar contra a Rainha iria ser um desperdício…
Continua…
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