Capítulo 82: No Coração da Teia Parte 3.
Renier estava no centro da batalha, seu corpo coberto por escamas negras que brilhavam com o poder cósmico. Seus punhos, agora mais fortes e imponentes, bloqueavam com facilidade os ataques brutais das duas aranhas, os monstros colossais que o cercavam.
Ele usava metade de sua transformação híbrida de Dragão Cósmico para conseguir aguentar o peso dos golpes sem ceder, mas seu objetivo era claro: manter o foco das criaturas nele, enquanto Mila tentava localizar o núcleo.
A cada investida das aranhas, Renier se movia com precisão, desviando e contra-atacando com golpes rápidos. Mas, mesmo no calor da luta, algo estava começando a incomodá-lo. Sua intuição, aguçada pela experiência, lhe dizia que havia algo mais. Algo fora do lugar.
Então, o sentiu: um pulso de magia, uma energia carmesim vibrando no ar. A magia emanava da Rainha Aranha, e Renier não teve tempo de se preparar. Com um movimento fluido, ele deu um mortal para trás, saltando longe da explosão de poder que quase o atingiu. O impacto daquela magia cortou a parede atrás dele, deixando uma cicatriz gigantesca na pedra, mas o que realmente o fez parar foi o que veio a seguir.
O corte da magia não foi apenas um ataque dirigido a Renier, mas também algo mais. A magia atingiu o Guardião, a aranha macho, que estava ao lado da Rainha. Aquele golpe violento cortou-o ao meio, fazendo o corpo da criatura cair no chão sem vida, o sangue escorrendo para a terra enquanto sua grande forma se desintegrava lentamente.
Renier observou, seu olhar atento tentando entender o que estava acontecendo. Por que a Rainha havia atacado seu próprio guardião? Ele ainda estava processando a situação quando a resposta surgiu diante de seus olhos, rápida e cruenta: a Rainha Aranha, com sua fome insaciável, se lançou sobre o corpo do macho, devorando-o com uma violência indescritível.
A visão fez Renier se perguntar, ainda que brevemente, sobre os verdadeiros instintos da criatura. Ele sabia que em muitas espécies de aranhas, a fêmea devorava o macho após a cópula em um ato de sobrevivência, mas não esperava que isso fosse acontecer com uma criatura feita de mana bruta, como ela. Ela não era simplesmente uma aranha comum; ela era algo diferente, mais complexa e mais perigosa do que qualquer espécie biológica natural.
Renier não fez nenhuma reação. Isso era algo que ele já havia presenciado em outras formas de vida. A natureza era brutal, e até mesmo criaturas feitas de magia não estavam imunes às suas regras. Contudo, uma pergunta persistia em sua mente: qual era o objetivo daquela Rainha?
Ele observou atentamente a criatura, tentando desvendar sua estratégia, mas o silêncio da batalha o envolvia.
O foco estava nele, e ele sabia que precisava continuar mantendo as aranhas ocupadas enquanto Mila encontrava o núcleo.
Mas as peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar em sua mente. O que a Rainha faria com tanto poder acumulado? E mais importante, o que ela queria de verdade?
Renier puxou o capuz de volta, sentindo a familiar pressão sobre sua cabeça enquanto a máscara surgia, imponente, sobre seu rosto.
Com ela, veio o aumento da concentração, seus sentidos aguçados pelo poder cósmico que emanava através da interface da máscara.
Mas, à medida que seus olhos analisavam a cena, ele notou algo que o fez parar por um momento. Algo que o deixou perplexo e, por um instante, quase derrotado.
O corte feito pela magia carmesim da Rainha havia começado a se regenerar rapidamente. As paredes do labirinto, que haviam sido divididas pela energia brutal do combate, estavam se reconstruindo, como se fossem vivas, como se o próprio ambiente tivesse um fluxo de energia ligado a ele.
Mas o que realmente chamou sua atenção foi que esse fluxo não vinha apenas das paredes. Ele emanava também da Rainha.
Renier, agora com a mente clara, começou a juntar as peças do quebra-cabeça. A Rainha não era apenas uma das aranhas do labirinto; ela era o labirinto uma extensão do labirinto.
“Ela é invencível nesse lugar”, pensou ele, compreendendo que o núcleo do lugar estava inextricavelmente ligado àquela criatura.
Destruir o núcleo seria impossível enquanto ela estivesse ali, não por falta de força, mas pelo simples fato de que o poder da Rainha parecia não diminuir em nenhum momento durante o combate. Ela estava sendo sustentada por algo muito maior que ela mesma, o núcleo que alimentava o labirinto.
Mesmo com Renier se segurando ao máximo, ainda era visível o dano que ele causara, mas isso não parecia afetar a Rainha de forma significativa. Agora, enquanto devorava o corpo do macho, a aura carmesim que emanava dela ficava mais forte, mais densa.
O exoesqueleto da Rainha também parecia reagir ao dano, com a espessura de sua carapaça se tornando mais espessa e resistente, se regenerando rapidamente a cada golpe que ele desferiu. Era como se ela fosse alimentada não só pela magia do núcleo, mas também pela própria essência da batalha. Um ciclo interminável de poder e renovação.
Renier entendeu a lógica da situação. A Rainha estava mais forte a cada momento, mais impossível de derrotar.
O núcleo não apenas sustentava o labirinto, mas também a fazia indestrutível. Ele estava diante de uma adversária que não parecia ter fim, uma oponente com um estoque de mana infinito, e sem um ponto fraco claro.
“Como derrotar algo assim?” ele pensou, sua mente começando a formar uma estratégia.
A Rainha, agora ainda maior, mais imponente, olhava para Renier com um brilho predatório nos olhos.
O som de suas pinças cortando o ar fazia ecoar na sala, uma música de morte que reverberava pelo espaço. Ela estava caçando, e Renier, apesar de toda sua força e determinação, não era mais do que uma presa em seus olhos.
O campo de batalha havia se transformado, e ele sabia disso. Ele não estava mais lutando por uma vitória simples, ele estava lidando com uma entidade que sabia que, a longo prazo, não perderia.
Mas Renier não desistia. Não seria assim tão fácil. Ele se preparou para um novo ataque, sentindo o poder cósmico fluir através dele, sua energia se condensando para o próximo golpe.
Ele sabia que, por mais impossível que fosse, ele ainda tinha uma chance.
— Não vou deixar você ganhar assim, — comentou Renier com firmeza.
E enquanto a Rainha Aranha avançava, com seus olhos flamejando em um vermelho intenso e sua mandíbula se movendo com um som de agonia, Renier se posicionou para enfrentar o maior desafio de sua vida. Ele só precisava de um momento, um único momento, para virar a maré.
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Mila e Luna observavam de longe, os olhos fixos no campo de batalha, onde Renier enfrentava a Rainha da Sala do Núcleo. A criatura estava mais imponente do que nunca, sua presença sobrecarregando o ambiente, e cada golpe que Renier desferia parecia apenas fortalecer sua oponente. Ele estava claramente em desvantagem, e a luta se arrastava, mas o tempo estava se esgotando.
Luna, com um olhar preocupado, murmurou para Mila:
— Se não encontrarmos o núcleo imediatamente, Renier terá sérias dificuldades para continuar esse combate. Não podemos deixá-lo sozinho por muito mais tempo.
Com um aceno, Luna chamou Liza, a Lizardgirl, que estava mais afastada, e a criatura se aproximou com uma calma serena, aguardando instruções.
— O que você precisa que eu faça? — Liza perguntou com uma voz tranquila, seu tom mais baixo, mas ainda assim imponente.
Luna olhou fixamente para a batalha, sua mente correndo rapidamente, antes de explicar:
— Renier já deve ter percebido que a Rainha não é só uma aranha. Ela está ligada ao núcleo do labirinto, isso explica a energia infinita que ela parece ter. Se não encontrarmos o núcleo e fazermos algo a respeito, ele não vai conseguir derrotá-la. A Rainha é a própria força vital desse lugar.
Mila, com uma expressão alarmada, questionou com urgência:
— E o que vamos fazer diante de algo assim? Se não podemos destruir o núcleo, como enfrentamos a Rainha? Ela está cada vez mais forte.
Liza observava o cenário, os olhos focados em Renier, antes de se virar para Luna. Sua expressão estava pensativa, mas ao mesmo tempo, não demonstrava medo. Ela disse, quase distraidamente:
— O garoto… Ele parece ter a força necessária, e é interessante. — Ela observou as escamas de dragão no antebraço de Renier com um breve interesse.
Luna, porém, não teve tempo para se perder em observações e logo tomou a iniciativa.
— Liza, Mila, usem magia para localizar o núcleo. Um pequeno pulso de mana pura pode nos ajudar. Isso deve fazer com que a energia do núcleo se revele, seja ela da Rainha ou do próprio labirinto.
Mila, ainda com dúvidas, questionou a eficácia do plano:
— Mas, e se encontrarmos o núcleo? O que vamos fazer para impedir a Rainha? Ela é uma força impossível de derrotar enquanto o núcleo estiver ativo. Um colapso do labirinto nos matará, e ela continuará imbatível.
Luna, com um sorriso enigmático, disse com confiança:
— Tenho certeza de que Renier vai pensar em algo. Ele sempre pensa.
Enquanto isso, Luna percebeu um movimento entre os aliados: o mago da túnica vermelha, salvo anteriormente por Mila, se aproximava com passos decididos.
— Eu sou Lain Orion, — se apresentou o homem. — Posso fornecer ajuda em algo? —Luna, vendo a experiência visível em seus olhos, não hesitou em questioná-lo:
— Você tem experiência em controle de mana? — Ela não estava brincando, a situação exigia um mago de alta habilidade.
Lain sorriu, e assentiu, confirmando sua habilidade:
— Sim, pequena raposa, posso usar minha magia para soltar um pulso. Não é problema.
Lihan, o Cavaleiro aspirante que sempre acompanhava Mila, se aproximou e comentou com confiança:
— Lain é um mago muito conhecido entre a antiga corte do exército dos Morales. Se tem alguém com conhecimento suficiente para controlar mana nesse território, é ele.
Lain riu levemente, descontraído, e disse com modéstia:
— Fico lisonjeado garoto, mas… — Seu olhar então se voltou para Renier, ao longe, observando sua batalha com interesse. — Parece que sempre aparece alguém mais incrível.
Luna, sem perder tempo com as palavras, cortou a conversa de forma pragmática:
— Ensine a Mila a usar o pulso de mana e a magia das Sombras para localizar o núcleo. Não temos tempo para perder.
Lain, sem hesitar, acenou com a cabeça, pronto para cumprir a ordem. Ele se virou para Mila, começando a explicação com uma calma que contrastava com a urgência do momento.
— É simples. Basta liberar sua mana de dentro para fora, como se estivesse sentindo o sangue correr por seus vasos sanguíneos. Imagine um corte no braço, o sangue escorrendo. Quando isso acontecer, um pulso de energia será liberado, e você o sentirá reverberando pelo ambiente. Isso fará com que o núcleo ou qualquer fonte de energia se revele.
Mila observava atentamente, absorvendo cada palavra, pronta para agir.
Enquanto isso, o Vendedor de Escravos, ainda sentado no chão e resmungando sobre a situação, parecia irritado com a ordem das mulheres e o fato de um mago de classe alta se submeter a elas. Ele murmurou para si mesmo, referindo-se a Luna como “besta” e a Mila como “garota de classe suja”. Sua indignação não passou despercebida.
Liza, com um olhar afiado e um sorriso que revelou suas presas, caminhou até o homem, sua presença imponente. Junto a Luna, ela parou diante dele. O mercador, sentindo-se ameaçado, recuou, mas sua tentativa de resistência não durou muito.
Com uma força surpreendente, Liza puxou a lança escura que Renier havia cravado na parede, levantando-a com facilidade. Ela olhou para Luna, que acenou em aprovação.
— Esta arma pode ser útil. — Luna afirmou, já com um olhar calculista.
O mercador, tentando novamente protestar, disse:
— Um escravo usando uma arma é ultrajante!
Mas Luna, com um movimento brusco, usou sua habilidade de manipulação psíquica. Suas caudas, agora visíveis e poderosas, se estenderam em direção ao pescoço do homem. Uma pressão invisível apertou sua garganta, fazendo-o engasgar enquanto ele tentava se soltar. O olhar de Luna, afiado e predador, fez com que o vendedor de escravos começasse a suar frio, sua expressão se distorcendo em medo.
— Fique fora do caminho — disse Luna, com uma voz baixa e ameaçadora. — Renier não precisa de você, e agora, nem eu nem Liza estamos mais sob sua propriedade. Estamos lutando por ele, não por você.
O homem, sufocando, finalmente conseguiu gaguejar:
— Eu… entendi…
Liza, com os olhos vermelhos brilhando, disse com frieza:
— O chão é o lugar perfeito para um verme como você. Continue rastejando, mas não nos atrapalhe.
Com um último aperto, Luna soltou sua mão, deixando o mercador cair no chão, arfando por ar e cuspindo sangue. Ele estava respirando com dificuldade, sua expressão de dor refletindo o preço de seu desrespeito.
Luna, com um sorriso satisfeito, se virou para seus aliados, agora focada novamente na batalha. Ela e Liza haviam se vingado da humilhação do passado, e agora, com as peças se encaixando, elas estavam prontas para ajudar Renier a enfrentar o maior desafio de sua vida.
Continua…
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