Capítulo 83: No Coração da Teia Parte 4.
Lain guiava Mila com urgência, suas palavras carregadas de precisão e experiência. O tempo era curto, e cada segundo perdido era uma vantagem a mais para a Rainha do Labirinto.
— A magia das sombras é perfeita para sentir anomalias dentro de um território. Você precisa se conectar ao ambiente, senti-lo como se fosse seu próprio sangue fluindo pelas veias.
Mila respirou fundo, fechando os olhos. As palavras de Lain se tornavam mais do que um ensinamento; eram um novo caminho a ser trilhado. Sua aura sombria se expandiu lentamente, a mana fluindo em ondas sutis. Ela murmurava para si mesma, repetindo as instruções, tentando se integrar à escuridão ao seu redor.
Lain observou com interesse, sua percepção aguçada captando a energia que a garota liberava. Ele não pôde deixar de comentar, com uma leve curiosidade na voz:
— Impressionante… Essa garota tem um grande potencial. Como alguém assim passou a vida como uma simples camponesa? Se fosse treinada na Capital Real dos Forjanos, poderia se tornar uma grande guerreira mágica.
Ao lado, Lihan acompanhava o processo com uma expressão pensativa. Para ele, Mila já parecia completamente diferente da garota que conheceu na cidade. A postura, a determinação e até mesmo a presença dela havia mudado drasticamente. Sua armadura escura reluzia sob a pouca luz do labirinto, reforçando essa nova imagem.
— Você realmente mudou… — murmurou ele, impressionado.
Luna, por sua vez, se aproximou, os olhos fixos em Mila com expectativa.
— Como está indo? Já conseguiu sentir o núcleo?
Enquanto isso, um pouco afastada, Liza segurava a lança negra com firmeza, girando-a em uma das mãos, testando seu equilíbrio. A arma parecia quase viva, absorvendo a energia do ambiente enquanto ela a segurava. Mas seu olhar não estava na lança. Seus olhos estavam presos em Renier.
Ela observava cada movimento dele com fascínio. O brilho cósmico ao redor de seu corpo, as escamas negras refletindo a pouca luz do ambiente… Ele era como um dragão em meio à batalha, uma força indomável.
Um sorriso se formou no rosto de Liza.
— Ele é belo… — murmurou, mais para si mesma do que para os outros. — Como um dragão negro, feroz e implacável. Essas escamas… elas me atraem.
A batalha ao fundo continuava, e cada segundo se tornava mais intenso. Mila precisava encontrar o núcleo antes que fosse tarde demais.
Mila permaneceu em silêncio, concentrando-se completamente na escuridão ao seu redor. Seu corpo relaxou, e sua magia das sombras se expandiu, percorrendo o ambiente como ondas invisíveis, como se estivesse usando um sonar para mapear o espaço. A escuridão era densa, sufocante, mas dentro dela, pontos distintos de energia pulsavam. Cada um deles refletia sua própria essência, retornando à sua percepção com uma assinatura única.
E então, entre os inúmeros fragmentos de energia espalhados pelo labirinto, um em especial se destacou. Uma fonte quente, vibrante, como se irradiando vida em meio à frieza implacável do ambiente.
Os olhos de Mila se abriram lentamente, seu olhar sendo guiado instintivamente até Renier. Mesmo em meio à luta feroz contra a Rainha do Labirinto, sua energia permanecia distinta, diferente de qualquer outra coisa ali.
Ela observou por um momento, fascinada.
— Ele tem um calor tão confortável… tão acolhedor — murmurou para si mesma.
Era um contraste absoluto. Em meio ao caos, à luta brutal, aos golpes pesados trocados contra um monstro colossal, Renier emanava algo que não deveria existir ali: um calor familiar, protetor. Era como a sensação de uma fogueira em uma noite fria, algo que, de alguma forma, dava segurança.
Mas Mila não podia se perder nesse pensamento. O núcleo do labirinto ainda precisava ser encontrado. A luta de Renier só servia para ganhar tempo, e ela não podia desperdiçá-lo.
Mila caminhava lentamente, como se estivesse sendo guiada por uma força invisível. Seus olhos permaneciam fechados, a magia das sombras fluindo ao seu redor, pulsando em resposta a algo. Seus pés se moviam sem hesitação, seguindo um caminho que ninguém mais conseguia ver.
Os outros a observavam, inquietos. Lihan deu um passo à frente, preocupado.
— Ela pode se machucar! — exclamou, pronto para intervir.
Mas Lain ergueu uma mão para detê-lo.
— Deixe-a. Ela está sentindo a energia do núcleo e indo até ele. Se tentarmos pará-la, podemos atrapalhar o processo.
A voz do mago era firme e confiante. Se alguém ali tinha autoridade para falar sobre magia, era ele. Lihan rangeu os dentes, mas recuou, aceitando as palavras de Lain a contragosto.
Mila, alheia a qualquer hesitação ao seu redor, continuava avançando. A energia carmesim brilhava em sua percepção, como uma trilha de luz no meio da escuridão. Era intensa, quase sufocante, mas, ao mesmo tempo, a guiava como uma bússola infalível.
Seus passos a levaram até uma parede escura. Ela parou.
O silêncio tomou conta do salão.
O Vendedor de Escravos soltou uma risada carregada de desprezo.
— Hah! Então é isso? A garota achou que tinha algum poder e nos trouxe direto para uma parede? Se estamos apostando nossas vidas nisso, então vamos todos morrer aqui embaixo!
Mas ninguém lhe deu atenção.
Luna, Liza, Lihan e Lain mantiveram seus olhos fixos em Mila. Eles confiavam nela.
As mãos da garota percorreram os blocos da parede, seus dedos deslizando sobre a superfície áspera, sentindo cada detalhe, cada fissura. Havia algo escondido ali.
Então, afastando as teias de aranha grudadas na pedra, ela encontrou o que procurava.
Um bloco escuro, diferente dos outros.
Com um gesto firme, ela pressionou o bloco.
Um som grave e profundo ressoou pelo labirinto, como se uma estrutura gigantesca estivesse despertando. O chão tremeu, poeira e fragmentos de pedra caindo do teto enquanto um mecanismo oculto era ativado.
E então, diante de todos, um altar emergiu da escuridão.
Negro como a noite, com um símbolo enigmático cravado em sua superfície.
No centro dele, flutuando e pulsando como um coração sombrio, estava a esfera carmesim.
A energia que emanava dela era esmagadora, densa, como se o próprio ar ao redor estivesse sendo consumido. Infinita. Assustadora.
Liam bateu uma palma, impressionado.
— Inacreditável… Mila realmente tem talento. Se continuar assim, pode até superar os magos da corte real.
Luna sorriu, seus olhos afiados voltando-se para o Vendedor de Escravos.
— Parece que o único a morrer aqui neste lugar… é você.
O homem a encarou com puro desdém. — Tsk, só tem aberrações nesse lugar… — murmurou ele com desdém.
Mas a verdade era clara: seu orgulho fora esmagado. Ele não passava de um covarde perdido entre pessoas muito acima dele.
O altar emanava um brilho carmesim intenso, fazendo as sombras ao redor oscilarem como chamas agitadas pelo vento. O núcleo pulsava, uma presença esmagadora que fazia o ar vibrar. Mila havia encontrado a fonte de tudo, mas agora vinham as perguntas: o que fazer com ele? Como lidar com uma energia tão descomunal sem causar um desastre?
Antes que alguém pudesse sugerir algo, Luna já se adiantava.
— Renier! O núcleo está conosco! — gritou ela, sua voz ecoando pelo salão.
Renier, ainda travado em combate contra a Rainha Aranha, olhou rapidamente na direção do grupo. Seus olhos azul-cósmico se fixaram na esfera carmesim.
— Então é isso… — murmurou ele.
Sem hesitação, ele canalizou sua força e desferiu um golpe avassalador contra a Rainha. O impacto a lançou violentamente contra a parede do labirinto, fazendo um estrondo colossal ressoar e levantando uma nuvem de poeira.
Sem perder tempo, Renier avançou até o grupo. Seu semblante estava sério. O tempo era curto.
— Eu tenho um plano. — afirmou, sem rodeios.
Os outros o encararam com surpresa, mas Luna sorriu de canto, cruzando os braços.
— Sabia que você ia dar um jeito.
— A única forma de parar a Rainha e impedir o crescimento do núcleo é estabilizá-lo.
Aquelas palavras imediatamente mudaram a atmosfera.
— Como assim estabilizar? — Liza questionou, seu olhar brilhando com animação e dúvida.
— Vamos matar a Rainha. Enquanto isso, eu vou usar minha energia para interromper a conexão dela com o núcleo e evitar que a mana infinita expanda ainda mais essa coisa.
Laim ficou atônito.
— Isso é suicídio! A mana corrosiva do labirinto é instável demais para qualquer ser humano tocar, quanto mais tentar manipular!
Renier o encarou com um olhar afiado.
— Não temos tempo para discutir. Eu sei o que estou fazendo. Mas isso significa que enquanto eu estiver estabilizando o núcleo, estarei vulnerável. Então, a luta contra a Rainha é de vocês.
Luna assentiu.
— Entendi. Nossa prioridade é matar a Rainha e garantir que ela não se aproxime de você.
Renier confirmou com a cabeça.
— Só posso confiar em vocês para isso.
Mila deu um passo à frente, sua armadura negra brilhando sob a luz carmesim.
— Nós vamos proteger você, Renier. Confie em nós para acabar com essa aranha.
Laim cruzou os braços e sorriu.
— Estou curioso para ver o que esse grupo é capaz de fazer. Vou fornecer suporte adequado.
Liza girou a lança negra em sua mão, seus olhos brilhando de empolgação.
— Eu já queria testar essa lança em algo forte. Parece a oportunidade perfeita.
Renier então virou-se para Luna, sua expressão carregada de seriedade e confiança.
— Deixo tudo nas suas mãos.
Luna sorriu de canto, seus olhos brilhando com determinação.
— Não vou te decepcionar.
Atrás deles, um rugido monstruoso ecoou pelo salão.
A Rainha Aranha se erguia novamente, suas presas se abrindo e fechando com estalos horripilantes. Seu corpo pulsava com energia carmesim, o poder do núcleo fluindo por ela.
O momento decisivo havia chegado.
De um lado, Renier preparava-se para enfrentar o desafio de estabilizar o núcleo, carregando sozinho a responsabilidade de impedir que a energia infinita consumisse tudo.
Do outro, Mila, Luna, Liza, Laim e Lihan se preparavam para encarar a Rainha em um combate mortal.
O destino de todos dentro do labirinto dependia desta luta. E não havia espaço para erro.
Continua…
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