Capítulo 12 - Lute!

Inicialmente Fernando estava hesitante sobre o que fazer. Ele pensou em tentar se desculpar e resolver as coisas pacificamente, mas quando os dois homens começaram com as ameaças e tentando se aproveitar das garotas, percebeu que resolver tudo por meio de diálogo era impossível. 

Quando esse tipo de gente queria algo, eram irracionais e não se importavam em ferir outros para conseguir aquilo que desejavam. Ele já teve sua cota de gente desse tipo na sua adolescência. O único jeito fácil seria ceder, deixando que as garotas fossem prejudicadas.

Não! Eu não posso permitir esse tipo de situação! Mas o que eu posso fazer?! Como podemos enfrentar esses dois?

Fernando estava em transe em seus pensamentos que nem respondeu quando Ronald pediu sua ajuda.

O que fazer? Droga! No final, mesmo que eu queira mudar, não consigo controlar o que acontece comigo ou com as pessoas ao meu redor! Quão inútil eu sou?

Um forte sentimento de impotência e angústia brotou na mente do rapaz, ele estava perdido sobre como lidar com tudo isso.

Se fosse antigamente, teria simplesmente se ajoelhado e implorado, mas o ‘eu’ atual não podia ceder agora, não era apenas ele quem estava envolvido. Além disso, mesmo que estivesse sozinho, não podia quebrar o juramento que fez a si mesmo naquela noite após cair em uma armadilha de seus colegas de faculdade. Não podia mais deixar os outros se aproveitarem dele!

Enquanto Fernando estava em sua luta interna, de repente ouviu o que Karol disse, ela queria ceder a esses caras! Quando escutou isso, seu coração afundou.

Merda! O que você está fazendo, Karol?! O que está pensando? Você sabe o que esses caras querem?!

Ao olhar para o rosto meio choroso da mulher, o jovem pálido imediatamente entendeu, ela estava fazendo isso por eles!

Ao ver a garota que ele sentiu alguma afeição nessa situação e o fato dos dois homens aceitarem o acordo, lançando olhares maliciosos para Karol, seu coração começou imediatamente a ferver de raiva! Ódio inundou sua mente.

Eu vou destruir esses caras!

“Fale isso de novo, seu monte de merda! Eu vou acabar com vocês dois!” Fernando rugiu de forma enfurecida. Essa foi a primeira vez que ele sentiu vontade de matar alguém!! 

Por mais que provocassem ou abusassem dele, nunca teve pensamentos tão agressivos como naquele momento.

O seu rugido ameaçador pegou todos desprevenidos, tanto que até os dois homens, Marcus e Karl, se surpreenderam. Mas ao perceberem quem era, sua surpresa imediatamente se transformou num sorriso de zombaria.

“Hahahha, não é o moleque de baixa aptidão? Esse lixo estava tremendo de medo até um momento atrás. O que foi pivete? Seu cérebro pifou e agora está a fim de tomar uma surra?” O homem negro questionou, rindo. Ele não levou um rapaz magro e pálido como esse a sério, mas se esse cara quisesse ser espancando, estava mais do que feliz em ajudar.

“Ei, pivete, é melhor ficar na sua se não quiser ter alguns ossos quebrados.” Karl falou em direção a Fernando com um sorriso no rosto.

“Deixa, Karl, eu realmente tava a fim de surrar mais alguns lixos. Esmagar esse merdinha que se diz nível 3, como nós, vai ser ótimo.” Marcus disse, enquanto estalava o pescoço pronto para arrancar Fernando do grupo.

Ronald e os outros não esperavam que o rapaz pálido explodisse do nada, haviam pensado que ele estava paralisado de medo. 

Ao ver o homem negro vindo em sua direção, Ronald e Noah estavam prontos para brigar ao lado de Fernando.

“Parado! Se você tocar num fio de cabelo dele, o acordo já era!” Karol entrou na frente e disse de forma firme.

Ao ver a mulher que iria fazer uma ‘visita’ a eles, entrar na frente, tanto Marcus quanto Karl franziram a testa.

“Se você não quer que a gente brinque com seu filhote, é melhor calar a porra da boca dele, mulher!” O homem negro disse irritado. Ele queria esmagar o rapaz chamado Fernando, na verdade, ele só começou a briga porque ficou com inveja do garoto receber tanta atenção, mas não queria perder a diversão com a mulher apenas por isso.

“Fernando, já chega, por favor! Pare de provocá-los! A situação já foi resolvido!” Karol suplicou nervosamente em direção ao jovem.

Ela estava em pânico. Um rapaz tão magro e fraco poderia acabar sendo morto se enfrentasse esses gigantes de academia. Pensando a respeito, imaginou que ele estava fazendo isso por causa dela.

Eu não deveria ter brincado com ele. Espero que não tenha se sentido tão atraído por mim que está desconsiderando sua segurança!

A mulher estava arrependida, não poderia imaginar que apenas uma brincadeira teria deixado esse garoto tão encantado por ela.

Fernando permaneceu calado, não respondendo sua companheira de equipe, apenas continuou olhando o homem negro e o caucasiano friamente, seu olhar estava inundado de raiva.

Assim que Karol estava prestes a dizer algo, o rapaz pálido deu um passo à frente.

“Fernando! Por favor, não os provoque mais!” implorou, enquanto segurava o braço esquerdo dele.

“Me largue agora!” O jovem respondeu friamente.

A atitude fria de Fernando pegou Karol de surpresa, ele era sempre tão tímido e gentil com ela.

“O que você quer? Que eu deixe esses caras abusarem de você? Mesmo que esteja disposta, eu não estou! Não aceito ser humilhado e nem ter alguém próximo a mim prejudicado!” respondeu de forma calma e firme. Assim que ele disse isso, puxou seu braço e avançou.

Karol não sabia o que fazer, a fala repentina e firme dele a surpreendeu completamente. Como alguém tão tímido de repente conseguia falar tão calmamente nessa situação? Era quase como se ele fosse outra pessoa!

“Heh, então você realmente quer apanhar, pivete? Por mim tudo bem.” Marcus disse, pronto para avançar em direção a Fernando.

Noah e Ronald ficaram atrás do jovem pálido, que estava seguindo em frente, preparados para brigar. Não queriam lutar, mas concordaram com Fernando, não poderiam aceitar ser humilhados dessa forma. Que tipo de homens eles seriam se deixassem uma mulher protegê-los desse jeito?

Marcus avançou furiosamente, com um sorriso ameaçador em seu rosto, estando pronto para esmagar esses três idiotas que ousaram encará-lo.

“Vou começar com você, lixo!” O homem negro vociferou em direção a Fernando, seus músculos estufaram e ele socou para frente.

Assim que o ataque estava próximo, o jovem pálido foi para o lado direito e desviou.

“Tentando fugir? Seu merdinha!” Marcus disse enquanto virava o rosto a sua procura, pronto para chutá-lo, porém, Ronald avançou com a intenção de chutar a perna direita do sujeito enquanto Noah vinha pelo outro lado.

“Hahahah achando que podem me vencer só com vocês? Que engraçado!”

O homem negro se defendeu do chute de Ronald levantando a perna, usando sua panturrilha para aparar o ataque.

Pofft!

O chute de Ronald acertou em cheio e ele imediatamente sentiu uma dor terrível em sua canela! Era quase como se tivesse acertado uma chapa de aço. Suor frio encheu as suas costas.

Porra! Que dor! Se ele tivesse defendido com a canela com certeza minha perna teria se quebrado!

Nesse momento, Noah chegou, prestes a dar um soco em direção ao rosto de Marcus. 

Ele queria acertar seu abdômen, mas com a armadura pesada, não havia o que fazer, então só sobrou o rosto de alvo. Estava com medo ao se recordar do que houve com Lance, mas não tinha escolha.

Assim que se aproximou, o homem negro sorriu largamente, pronto para trocar soco por soco. Um golpe de um fracote como esse não iria sequer lhe arranhar! Entretanto, de repente ouviu um grito de não muito longe.

“Marcus, cuidado!!” Era a voz de Karl.

No momento em que se perguntou do porquê o seu companheiro de equipe estar tão alarmado, sentiu uma dor aguda entre suas costelas do lado direito.

“Ahhh!!”

A forte sensação de dor o pegou de surpresa e, logo em seguida, o soco de Noah o atingiu. Por causa da dor, ele simplesmente recebeu o golpe em seu rosto, sem conseguir reagir adequadamente. 

O impacto do soco foi insignificante para ele. Ignorando isso, olhou para a direita, vendo o jovem pálido que desviara de seu ataque inicial.

Fernando estava o olhando friamente enquanto segurava uma lâmina roxa com a ponta manchada de sangue. Percebendo o sangue na espada e a dor que não parava, imediatamente entendeu tudo.

“Filho da puta! Seu merdinha! Você me esfaqueou!” Marcus urrou de raiva. Ele pressionou suas costelas com a mão tentando conter o sangue que jorrava em uma área desprotegida pela armadura.

A ação do jovem pálido surpreendeu todo mundo! Até agora ninguém havia sacado as armas que receberam do Salão por medo de alguém acabar gravemente ferido, mas o rapaz simplesmente usou sua espada sem a menor hesitação!

“Moleque maldito! Você vai pagar por isso!” Karl esbravejou, sacando sua longa espada.

Mesmo ferido, Marcus, que estava em fúria, ignorou a dor, tirando o grande machado preso em suas costas.

“Eu vou te matar! Seu rato covarde! Atacando alguém pelas costas!” O sujeito berrou em uma mistura de dor e raiva.

Nesse momento, Fernando, que estava olhando friamente para o homem negro, sorriu.

“E daí se eu te ataquei por trás ou usei minha espada? Acha que eu sou estúpido para enfrentar você de frente com socos e chutes?” falou de forma irônica, como se estivesse olhando para um idiota.

“Maldito, você pediu por isso!” Marcus uivou enquanto levantava o machado, indo ao encontro do jovem.

Noah, Ronald e todos os outros estavam em choque. Esses dois já eram perigosos de punhos nus, agora que estavam armados alguém provavelmente iria morrer!

“Merda! Fernando, você está louco?!” Karol gritou em pânico.

“Esse cara tá querendo morrer?!” Emily, que estava na parte de trás, estava pálida de medo.

Mesmo sendo um brigão corajoso, ao ver Marcus brandindo um machado enorme, e Karl, que vinha em sua direção segurando uma espada longa, fez com que as pernas de Ronald bambeassem.

“Agora fodeu tudo!” Apesar do medo, o homem mulato puxou sua espada da cintura, ela era um pouco menor que a do sujeito caucasiano.

Noah também estava tremendo, mas vendo a situação chegar nesse ponto, sabia que não tinha mais retorno, sendo assim, tudo que podia fazer era também sacar sua própria espada e ficar ao lado de Ronald.

“Instrutores! Vocês vão deixar as coisas passarem desse ponto??!” Kelly gritou em direção aos homens que estavam no começo do campo de treinamento. Mas como se não pudessem ouvi-la, fizeram ouvidos surdos, ignorando-a completamente, apenas observando casualmente o desenrolar daquilo.

Vendo a falta de reação dos Instrutores, as garotas estavam desesperadas.

…

Nesse momento no grupo de Instrutores:

“Tudo bem deixar as coisas assim?” Um homem de capa verde perguntou.

“Tanto faz. O Executivo Jean nos disse para dificultar a vida do moleque que falhou no teste de compatibilidade. Agora que ele está procurando problemas, se morrer será menos um trabalho para nós. Não se preocupe, o senhor Jean assumirá a responsabilidade.” Um homem de capa vermelha respondeu sem se importar. Ao ouvirem isso, os outros pararam de se preocupar.

…

De volta ao combate no campo de treinamento:

Fernando, que estava de frente para Marcus, tinha um olhar solene.

Apesar de parecer que estava agindo cego pela raiva, na realidade, realmente tinha um plano em mente. 

Seu plano inicial era ferir o homem enquanto ele não esperava. Após isso, supôs que os Instrutores iriam intervir e impedir que a luta continuasse, mas ao ver a falta de reação dos mesmos, entendeu que estava por conta própria.

Droga! Por que eles não estão vindo?! Tem alguma coisa estranha nisso! 

Com as regras rígidas do Salão, eles não deveriam permitir que recrutas lutassem uns contra os outros armados, ainda mais depois de alguém ser gravemente ferido. 

Apesar das dúvidas, tudo que podia fazer era se virar nessa situação.

Eu não posso enfrentá-los de frente, mas como sou menor e mais ágil, junto ao fato deles serem grandes e musculosos demais, devem me proporcionar algum espaço para me esquivar. Além disso, com essas armaduras e armas pesadas, com certeza vão serão ainda mais lentos.

Fernando logo chegou a um novo plano, ele iria usar sua agilidade para lutar!

Assim que Marcus se aproximou com o machado erguido para alto, o jovem pálido avançou em sua direção.

“Eu vou te cortar ao meio seu, seu merda!” O sujeito negro gritou.

Assim que o machado começou a descer, no último instante, Fernando se jogou para o lado direito. A arma de duas mãos acertou o chão do pátio imbuído de uma enorme força e violência e o piso quebrou, lançando fragmentos de pedra para todos os lados. 

Assim que o jovem pálido, que havia rolado, estabilizou o seu equilíbrio, sua visão focou-se numa área específica e imediatamente esfaqueou sua lâmina roxa em direção à coxa esquerda do sujeito.

Pufff!

A espada perfurou cerca de quatro centímetros na coxa direita do homem.

“Ahhhhh, maldito!” Marcus gritou de dor enquanto puxava o machado, atacando novamente, como um animal enlouquecido.

Fernando puxou rapidamente a lâmina de volta e rolou para o lado mais uma vez, logo o enorme machado acertou o local onde ele estava a menos de segundo atrás.