Capítulo 1925 - Vidente Desaparecida

Combo 51/300

Ao longe, Sunny — seu corpo original, vestindo a forma do Encantador Mestre Sunless — estava sentado na beira da Ilha de Marfim com um sorriso resignado no rosto, sofrendo em silêncio.

‘Maldi… ção. É uma tortura.’

Seu nariz estava coçando.

Já estava coçando pelo que pareceu uma eternidade, mas, infelizmente, ele não conseguia coçá-lo. Não conseguia se mexer, na verdade, porque o Véu das Nuvens se rasgava sobre o acampamento de guerra do Exército de Song, inundando o mundo com uma luz branca ofuscante.

O acampamento se estendia abaixo dele, parecendo uma cidade — não havia movimento nas avenidas organizadas, e as inúmeras pessoas que o povoavam haviam se transformado em estátuas imóveis. Suas silhuetas eram como sombras negras pintadas no fundo branco e desfocado, fundindo-se na radiância austera. Felizmente, isso aconteceu simplesmente porque seus olhos estavam lacrimejando, não porque estavam virando cinzas.

Agora que Santa Tyris partira para acompanhar a força expedicionária em sua jornada para conquistar a Cidadela, o acampamento principal do Exército da Espada perdera sua proteção. Era por isso que todos eram forçados a aprender a sobreviver ao olhar aniquilador do abismo incandescente — agora, várias semanas depois, raramente morriam quando as nuvens se abriam.

É claro que havia medidas em vigor para alertá-los sobre o perigo iminente com antecedência.

Sunny não tinha muita certeza de como isso era possível, mas havia inúmeros talentos no Domínio da Espada, tanto mundanos quanto Despertos. Ele não duvidava que alguém tivesse inventado um método para prever o movimento das nuvens — admito que os avisos raramente chegavam mais de um minuto antes do romper das nuvens, então o método claramente ainda precisava de melhorias.

Desta vez, as nuvens se abriram enquanto Sunny procurava por Cassie, deixando-o sem escolha a não ser sentar-se e esperar pacientemente que o perigo passasse. Já fazia quase uma hora desde então, e o véu cinzento finalmente começava a dar sinais de que estava se recuperando.

Dez minutos depois, o brilho ofuscante finalmente diminuiu, e Sunny coçou o nariz furiosamente.

“Ah… droga…”

Ele se perguntou se alguém na Sepultura dos Deuses já havia morrido por causa de espirros, então se levantou e olhou ao redor. Sunny já havia verificado todos os lugares na Ilha de Marfim, incluindo o subsolo da Torre de Marfim e os aposentos pessoais de Cassie. Ele também havia verificado todas as cabines do Quebrador de Correntes e perguntado aos Guardiões do Fogo.

Ninguém tinha visto a vidente cega, o que só podia significar uma coisa: que ela estava desempenhando seus deveres como Senescal do Grande Clã Valor em algum lugar do acampamento. A menos que algo fora do comum tivesse acontecido…

Franzindo a testa, ele caminhou até uma das sete correntes que prendiam a Ilha de Marfim ao chão e desceu atravessando-a. Sunny estava relutante em liberar seu sentido de sombras ali, então sua melhor escolha foi ir verificar pessoalmente.

Felizmente, a Fortaleza de Valor — a fortaleza de pedra que servia como quartel-general do Exército da Espada e residência do Rei — não ficava longe. Ele chegou lá em questão de minutos e hesitou na entrada, sentindo-se desconfortável sob os olhares desconfiados dos guardas. A questão era que… Sunny só havia entrado na Fortaleza acompanhado de Nephis ou Cassie. Ele nunca estivera ali sozinho e não tinha certeza se sequer tinha permissão para entrar.

Pigarreando, ele hesitou por um momento, encolheu-se interiormente e se dirigiu aos guardas em tom de comando:

“Sou Sir Sunless, Cavaleiro Comandante dos Guardiões Ardentes. Afaste-se.”

‘Deuses, eu realmente disse isso…’

Os guardas o encararam por mais um tempo. Finalmente, um deles zombou.

“Ah, sim. Sabemos exatamente quem você é… Senhor Sunless.”

O tom de escárnio em sua voz não ficou escondido, mas os guardas se afastaram. Sunny olhou feio para eles por um momento e então entrou no portão. No entanto, na metade do caminho, ele parou, recuou alguns passos e olhou para o guarda rude por um momento. Então, um sorriso agradável apareceu em seu rosto.

“… Você, talvez, queira me desafiar para um duelo?”

O guarda empalideceu um pouco, estremeceu e balançou a cabeça lentamente.

“N-não… Cavaleiro Sunless, senhor.”

O sorriso de Sunny se iluminou ameaçadoramente.

“Pensei que sim.”

Com isso, ele entrou na fortaleza sem olhar para trás.

Nephis também havia partido do acampamento, então as pessoas estavam ficando mais corajosas em demonstrar seu desprezo por ele. Sunny não se importava muito, mas estava começando a ficar cansativo. Talvez fosse hora de lhes ensinar outra lição de humildade…

Mas não agora.

Suspirando, Sunny encontrou a pessoa mais próxima vestindo as cores do Clã Valor e perguntou se Canção dos Caídos estava por perto. Ele não esperava realmente uma resposta positiva, mas, para sua surpresa, o homem simplesmente assentiu e lhe deu instruções para chegar a uma certa câmara nas profundezas da fortaleza.

A câmara era guardada por vários Cavaleiros, o que o fez hesitar. Embora nada transparecesse em seu rosto, Sunny sentiu todo o seu corpo ficar tenso por um instante, e seu coração começou a disparar. Teriam esses guardas Ascendentes sido enviados para proteger Cassie como um sinal de quão valorizada ela era pelo Clã Valor… ou estariam ali para garantir que ela não pudesse escapar? Haveria uma gaiola mágica dentro da câmara que cortasse seus poderes, semelhante àquela em que os dois passaram momentos inesquecíveis no Templo da Noite?

Esse era o fardo de ser um agente duplo de uma insurgência regicida… Sunny nunca sabia se estava a um passo de ter seus atos de traição revelados. Ele demorou um momento e então perguntou com decoro:

“Santa Cassie está lá dentro?”

Um dos Cavaleiros olhou para ele severamente… então assentiu e se virou para bater na porta educadamente.

“Você tem uma visita, minha senhora.”

Ao ouvir a resposta de Cassie, ele abriu a porta e deixou Sunny entrar. O quarto era escassamente mobiliado, mas bastante confortável. Havia um sofá macio, várias poltronas, uma mesa de madeira com frutas suculentas e refrescos, e até mesmo uma Memória mantendo o ar fresco, sem mencionar algumas garrafas de bebidas do mundo desperto. Cortinas vermelhas balançavam levemente ao vento, e a luz do sol entrava por uma janela estreita.

Cassie estava meio sentada, meio deitada no sofá, seu belo rosto exibindo sinais de extremo cansaço. Uma das mãos estava abaixada, impotente, enquanto a outra segurava uma taça de prata. Sunny ficou preocupado por um momento, depois percebeu que não havia ferimentos em seu corpo e soltou um suspiro de alívio. A vidente cega, enquanto isso, virou a cabeça na direção dele.

“… Quem é?”

Ele franziu a testa. Ela já não deveria saber?

Por outro lado… a ligação mental deles parecia estar inativa, o que significava que a Habilidade Ascendente de Cassie estava suprimida, por algum motivo. Se o mesmo fosse verdade para sua Habilidade Desperta, que lhe permitia sentir o que aconteceria alguns segundos no futuro, então ela estaria verdadeira e completamente cega.

A carranca de Sunny se aprofundou.

“Sou eu, Santa Cassie. Mestre Sunless.”

Ele lançou um olhar para os guardas Ascendentes e fechou a porta sem cerimônia. Isso não os impediria de bisbilhotar a conversa, mas era melhor do que nada. Um sorriso pálido iluminou o rosto de Cassie.

“Sunny… que bom que você está aqui. Eu estava pensando em pedir para alguém me escoltar de volta à Ilha de Marfim.”

Sunny respirou fundo, considerou seus pensamentos por um momento e então perguntou sem rodeios:

“O que aconteceu com você?”

Ele achava que já sabia a resposta. Olhando para trás, era bastante óbvio. Cassie suspirou e então deixou a cabeça cair no braço macio do sofá. Sua voz estava um pouco cansada:

“… Exaustão de essência.”