Capítulo 1667 - Desarmada
Combo 50/200
Seguindo o Senhor das Sombras, Nephis estava descendo para as profundezas da Sepultura dos Deuses. A fissura era estreita e sinuosa, permeada pelo cheiro doce de folhas podres. Às vezes, ela tinha que dar um passo para o lado para avançar, o metal polido de sua couraça raspando contra o osso branco.
Seu guia taciturno estava calmo e indomável, aparentemente despreocupado em entrar nas Cavidades. Ela estava calma também — a parte dela que teria sido cautelosa tinha sido engolida pela dor. Uma bola de chamas brancas dançava na palma de sua manopla, iluminando o caminho à frente.
Ela estava acostumada com aquela dor.
Banhado no brilho branco, mas afogado na escuridão, o Senhor das Sombras parecia especialmente misterioso agora que estavam sozinhos. Vestido com a temível armadura de ônix, com o rosto escondido atrás da viseira de um capacete preto, ele parecia mais uma poderosa Criatura do Pesadelo do que um ser humano…
Cassie não conseguiu obter nenhuma informação sobre o mestre do templo escuro. Se não fosse pelo fato de que as três criaturas poderosas que o serviam eram Transcendentes, e não Corrompidas, Nephis teria entretido o pensamento de que ele era uma abominação.
Houve também outras razões pelas quais ela não suspeitou. Nenhum deles falou por um longo tempo. Eventualmente, porém, o cheiro de terra ficou mais forte, e o Senhor das Sombras parou.
Um vento quente soprou na direção da Cidadela. Ele permaneceu imóvel por alguns momentos, então se virou para encará-la. A viseira de seu capacete estava cheia de escuridão impenetrável, e sua voz calma era indiferente:
“Tenho um pedido, Lady Nephis.”
Ela encontrou seu olhar sombrio e levantou uma sobrancelha. A escuridão no visor se mexeu ligeiramente.
“Deixe sua arma de lado antes de prosseguirmos.”
Nephis ficou surpresa. Ela inclinou a cabeça ligeiramente, então perguntou em um tom calmo:
“Você quer que eu entre nas Cavidades sem uma espada?”
O capacete de ônix movia-se lentamente de um lado para o outro.
“Você pode ter uma espada. Só não esta espada.”
Ela hesitou por alguns momentos.
Aquele pedido estranho… estava carregado de significado. A espada que Nephis usou, Assassina de Reis1, era uma Memória Transcendente do Sétimo Grau. Muito mais importante, era uma arma muito especial. Não só sua durabilidade era igual à de uma Memória Suprema, mas também havia sido alterada pelo próprio Rei das Espadas.
O que o fez se conectar a ele… assim como todos que empunhavam as lâminas forjadas por Anvil estavam conectados a ele, e uns aos outros — embora de uma maneira diferente.
Então, o que o Senhor das Sombras queria era ficar realmente sozinho com ela, sem a possibilidade de seu pai adotivo perceber o que eles estavam fazendo. De repente, Nephis se sentiu um pouco… envergonhada?
“Isso não soou muito bem, não é?”
O coração dela acelerou um pouco. Foi por causa de suas ameaças zombeteiras de matá-la em Cavidades? Atraí-la para a escuridão e pedir que ela se desarmasse…
Ela encarou o Santo das Sombras por vários segundos, então, sem pressa, dispensou tanto sua espada quanto sua bainha. Deixada desarmada, ela continuou a encará-lo com uma expressão calma.
Sua mão se ergueu e roçou na escuridão, lentamente puxando uma arma para fora dela… assim como ele havia feito antes do duelo. Desta vez, no entanto, não era uma odachi. Em vez disso, era uma espada longa elegante, tanto o punho quanto a lâmina perfeitamente pretos.
Nephis recebeu a espada longa do Senhor das Sombras e a pesou brevemente em sua mão, então bateu levemente na parte plana de sua lâmina, observando-a vibrar para determinar o centro da percussão. Ela ficou surpresa mais uma vez — a espada estava perfeitamente equilibrada e indistinguível de uma forjada em aço real, acomodando-se confortavelmente em sua mão. Como se fosse feita para se adequar às suas preferências pessoais nos mínimos detalhes.
“Que habilidade conveniente.”
Tinha que ser uma Habilidade de Aspecto. Ela estudou a espada de sombra por alguns momentos, então a abaixou e invocou o Sol Sem Nome — uma Memória que ela havia recebido por matar o Terror Carmesim da Costa Esquecida. O Sol Sem Nome era uma Memória do tipo arma, mas de um tipo único. Em vez de se manifestar como uma arma, ele imbuía outras armas, aprimorando-as.
A espada entregue a ela pelo Senhor das Sombras não era uma Memória e, portanto, não poderia ser fortalecida pela Coroa do Amanhecer. O Sol Sem Nome, no entanto, poderia.
Nephis assentiu.
“Podemos continuar.”
Seu guia se virou indiferentemente e continuou caminhando nas profundezas da passagem estreita. Ela seguiu, contemplando…
‘Quais são os motivos dele?’
O Senhor das Sombras deixou claro seu desdém pelos Grandes Clãs. Agora, ele pediu que ela dispensasse sua espada, insinuando que queria manter algo em segredo do Rei. Algo se moveu em seu coração, surpreendendo-a… um desejo doce, mas distante.
‘Ele pode ser um… aliado?’
Seria tão bom ter alguém em quem confiar.
Nos últimos quatro anos… não, pelo tempo que Nephis conseguia se lembrar, depois da morte de sua avó, ela estava sozinha. Carregando um fardo esmagador sem ninguém ali para lhe dar uma mão. Havia pessoas que a apoiavam, claro, os Guardiões do Fogo, Effle e Kal, e alguns outros.
Mas eles não eram tão poderosos quanto ela, e então não podiam realmente aliviar seu fardo. A única exceção era Cassie — sem sua força silenciosa e amizade, Nephis poderia ter entrado em colapso há muito tempo. Mas Cassie também era sua subordinada. E, portanto, sua responsabilidade.
Sim, esse fardo era algo que Nephis havia escolhido carregar sozinha. E sim, era sua própria ambição irracional que era a causa de tudo… da maior parte, pelo menos. E ainda assim, às vezes, ela não conseguia deixar de se sentir sufocada pela profundidade e intensidade de seu próprio desejo, cercada por inimigos e acordada à noite, incapaz de dormir.
Nephis também era humana. Ela se sentia fraca às vezes também… mesmo que tentasse o máximo para não demonstrar, assim como muitas outras coisas que sentia.
Então, se realmente houvesse alguém lá fora que fosse tão imensamente forte quanto o Senhor das Sombras parecia ser e compartilhasse seu ódio pelos Soberanos, alguém em quem ela pudesse confiar para ficar lado a lado com ela diante do perigo…
Ah, era um pensamento tão doce quanto perigoso.
Ela nem tinha certeza absoluta de que o Senhor das Sombras era humano, muito menos de que ele era confiável. E ainda assim, por alguma razão, inexplicavelmente… ela se viu realmente querendo.
‘Por que me sinto assim? Não é como eu…’
Se eles pudessem realmente se tornar aliados…
‘Esqueça isso.’
Seguindo o indiferente Santo na escuridão, Nephis franziu a testa ligeiramente.
Neste mundo, ela só podia realmente confiar em si mesma. Todos os outros a trairiam, a abandonariam ou ficariam ao seu lado e pereceriam como resultado. Desde a infância até hoje, isso sempre foi verdade. E isso estava tudo bem. Ela não precisava de ninguém, porque ela sozinha era o suficiente. Sua vontade era o suficiente, sua força era o suficiente, e seu desejo ardente era o suficiente.
Era o bastante.
‘É estranho.’
Teria sido maravilhoso se ela realmente tivesse um aliado… um parceiro, até. Mas ela não tinha, e nunca teve. E ainda assim, e ainda assim…
Estranhamente, o Senhor das Sombras lhe dava uma sensação de familiaridade inexplicável. Por causa disso, confiar nele e nele era estranhamente fácil. Nephis estava cauteloso com essa facilidade.
‘Talvez essa seja uma de suas Habilidades de Aspecto também…’
- cara, no ingles tá “kinslayer”, sim, nao tem o G. Sem o G a tradução seria “Assassina de Parentes”, mas acho que é mais um erro de digitação, entao fica assassina de reis[↩]
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.