Capítulo 2362 - Caçador e Presa
O maior adversário de um lobo era o caçador e, portanto, se Sunny quisesse resistir ao demônio primordial que personificava o conceito do Lobo, ele teria que incorporar o conceito do Caçador.
Pelo menos, da melhor maneira possível.
Aquela afirmação soava como um ditado inspirador, mas, na verdade, não havia nada de abstrato ou filosófico nela. Em vez disso, era estritamente uma questão de fria praticidade. No nível de poder em que Sunny se encontrava, a batalha física entre duas criaturas era meramente uma expressão do violento choque entre suas vontades, seus espíritos… suas essências. Uma expressão máxima, é verdade, mas ainda apenas exterior — nada mais do que a ponta do iceberg.
Portanto, canalizar um conceito superior e em oposição direta à essência do adversário ajudaria Sunny a resistir melhor à Vontade do adversário, fortalecendo a sua contra o inimigo. Pelo menos era o que ele esperava e esperava que acontecesse — obviamente, Sunny nunca havia tentado uma técnica como aquela antes. Ele nunca havia sequer pensado em pensar em tal técnica antes, muito menos em implementá-la. Felizmente, Sunny tinha várias vantagens vitais no que diz respeito à canalização do conceito do Caçador.
Em primeiro lugar, ele era um caçador — um dos caçadores mais talentosos da humanidade, nada menos. O número de poderosas Criaturas do Pesadelo que ele havia caçado era quase incalculável, e havia poucas pessoas no mundo com mais conhecimento sobre como perseguir presas. Em segundo lugar, ele havia presenciado os caçadores primordiais da era do Lobo uma vez, há muito tempo. Não apenas os presenciara e lutara contra eles, como também aprendera seu estilo de batalha primitivo e implacável — ele o utilizou até mesmo em seus treinos com Morgan durante a Campanha do Sul, aumentando sua familiaridade com as técnicas de combate daqueles humanos pré-históricos.
E, por fim, Sunny era um mestre da Dança das Sombras. Esse poder lhe permitia aprender a essência do inimigo e assumir sua forma, mas mesmo que não houvesse um adversário para seguir — ou mesmo que não ousasse seguir ninguém por medo de se perder na personificação — ele ainda tinha vasta experiência em canalizar a mentalidade e o físico de alguém que não fosse ele mesmo. De se tornar outra pessoa, até.
Sombras eram maleáveis, afinal. Portanto, mesmo que Sunny nunca tivesse tentado canalizar um conceito oposto para obter vantagem em uma batalha de Vontades com um adversário superior, ele ainda estava suficientemente confiante de que conseguiria.
Voando pela encosta do vulcão enquanto o Lobo se distraía com as Vespas de Obsidiana, Sunny fortaleceu a mente.
“Sinta…”
Enquanto Sunny se lançava para frente, a ponta de sua lança cortando o tecido do mundo, ele se imaginou como outra pessoa. Sua imaginação evocou uma visão das profundezas de seu ser e, submetendo-se à sua vontade, essa visão se tornou realidade. Ele quase podia senti-la… ele sentia mesmo.
O frio da manhã ao deixar sua cabana rústica, com paredes de couro bruto. As gotas de orvalho tremendo nas folhas da grama. O cheiro de sangue fresco no ar. Os gritos de seus parentes, a visão medonha de um corpo devastado por feras. Os lobos atacaram sua tribo durante a noite, roubando uma vida. A raiva, a tristeza… a fome. A malícia sombria nos olhos de seus companheiros de tribo, que o olhavam em busca de orientação. Afinal, ele era o melhor caçador entre eles… seu líder. Seu chefe. O peso familiar de sua lança enquanto eles se dirigiam para a floresta, a textura polida de sua haste desgastada, a afiação perversa de sua lâmina de sílex.
Com esta lança, ele iria matar o Lobo. Ia matá-lo porque ele ousara atacar seus semelhantes, porque ousara caçar em seu território.
“Haa…” Sunny sentia seu sangue esquentar, fluir mais rápido. Seus olhos brilhavam com uma luz áspera e assassina. Sua mente lúcida estava absorta na imagem canalizada, seus movimentos tornando-se bruscos e econômicos, desprovidos de elegância ou graça. Sua Vontade também havia se tornado diferente. Mudou para se adequar à essência de um Caçador destemido e implacável.
No instante seguinte, Sunny estava sobre o Lobo. Sua lança o atacou, mirando nos olhos brilhantes e malévolos da fera, trazendo consigo a absoluta finalidade da Morte… No entanto, o Lobo também era um predador feroz e astuto. Era maior que Sunny, mais forte que Sunny, mais rápido que Sunny… e também estava mais faminto que Sunny. Desviou-se da lança facilmente, saltando para longe e soltando um rosnado assustador. O olhar angustiante de seus três olhos vermelhos o perfurou, penetrando em sua alma. E de repente, Sunny era pequeno e fraco. Era uma presa paralisada pelo medo.
As cinzas ondulavam ao redor dele e, antes que o Lobo pudesse avançar novamente, Sunny desapareceu nas sombras e saiu delas para outro lugar, sua lança implacável perfurando o flanco do Lobo.
“Eu…”
O demônio ancestral gemeu e explodiu em uma tempestade de neve destruidora, recuando pela encosta do vulcão para tomar forma novamente.
Sunny deu um passo à frente e apontou sua lança para o Demônio Amaldiçoado mais uma vez. Seus lábios se contorceram em um sorriso cruel.
“Não sou presa de ninguém.”
O Lobo o encarou com loucura e ódio por uma fração de segundo, e então avançou em um furacão de raivosa intenção assassina. Sunny enfrentou a fera com a ponta de sua lança e, no ponto em que se chocaram, a encosta do vulcão se quebrou, e inúmeras toneladas de cinzas e rochas deslizaram para dentro do mar de nuvens.
Um trovão ensurdecedor fez as nuvens ondularem, e o mundo tremeu, ferido pela violência das forças cataclísmicas que elas haviam desencadeado. Nem Sunny nem o Lobo, porém, prestaram atenção, tendo se transformado em um redemoinho ondulante e angustiante de destruição. Os dois estavam entrelaçados em uma dança assustadora de morte, e nada poderia resistir ao horror letal de sua fúria primitiva.
O imponente vulcão estremeceu.
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