Capítulo 2381 - Fim da Caçada.
Já era madrugada quando Sunny e Kai retornaram ao templo. A Caçadora ainda estava descansando, então ele simplesmente colocou uma das estatuetas de jade ao lado dela e entregou a outra para Kai.
A última, porém… essa última, ele guardou para si mesmo.
O Santuário estava inclinado e submerso em lava, então colocar as figuras no altar era uma tarefa complicada. Mesmo assim, Kai podia voar, então não era um grande problema. Enquanto o terceiro anel de cinzas se formava ao redor do núcleo de sua alma, Sunny se afastou mais uma vez, lançou um olhar cauteloso para as esculturas sinistras que se erguiam do lago de lava e fez seu sacrifício.
Esta seria a última verdade que ele aprenderia antes de matar o Tirano da Neve.
Eles deixariam o Santuário da Verdade em poucas horas, o que significava que, mesmo que outra Criatura do Pesadelo caísse diante de suas lâminas, ele só poderia fazer outra oferenda após conquistar o Castelo de Neve — se este fosse semelhante ao castelo de Cinzas. Sunny não tinha certeza do que aconteceria após a morte do Tirano, então havia até a possibilidade de que esta fosse a última verdade que ele receberia como recompensa naquele jogo amaldiçoado.
Ele respirou fundo.
A figura do Demônio da Neve se afogou na lava, e Sunny se viu em outro lugar novamente. Mas essa verdade era diferente das demais. Sunny estava com dor.
Seu corpo nebuloso estava sendo devorado vivo por uma maldição terrível, sua mente estava sendo consumida por ilusões viciosas. Seu coração estava sendo dilacerado por um pavor indescritível, e seu próprio espírito estava partido, sua vontade e desejo de viver arrancados dele por uma mão cruel.
Não havia consolo para ele, nem trégua. Não há escolha a não ser morrer.
E, no entanto, ele se recusou. Cambaleou, caminhando pela areia com passos instáveis, cercado pela escuridão. Em algum lugar acima, o céu de ébano cintilava com a luz de uma miríade de estrelas prateadas, mas seu brilho pálido não era suficiente para iluminar o vale sombrio, muito menos para aquecer seu corpo mutilado e congelado.
Sangue escorria de sua boca, transbordando pelas presas de sua máscara, que brilhava com uma bela luz dourada… a luz da divindade. Sangue radiante também escorria das feridas que cobriam seu corpo, encharcando o tecido de seu manto escuro.
Passo. Passo. Mais um passo.
Sunny estava ficando sem os passos que estava destinado a dar. Restavam apenas alguns.
“Aahhhh…”
Um gemido escapou de seus lábios, seu som sutil distorcido pela máscara. Então, outro som surgiu. O som de folhas farfalhando sob os pés de um predador, O som de asas graciosas abrindo o céu noturno. O som de uma flecha perfurando o tecido do destino. A ponta da flecha atingiu seu pescoço e ele foi jogado no chão.
Sunny caiu de joelhos, as gotas de sangue dourado brilhando como pedras preciosas na areia. Levantando a mão, agarrou a madeira preta e lisa da haste da flecha — não muito diferente da superfície de madeira polida de sua máscara — e puxou a flecha, quebrando-a em suas mãos.
A mão firme do arqueiro que lançou a flecha era fraca demais para ferir um ser como ele. Só conseguiu perfurar sua carne porque já havia um ferimento ali, em seu pescoço, deixado por um inimigo muito mais assustador. A flecha não teve importância…
O veneno lendário espalhado em sua ponta, no entanto, era tudo menos isso. Era um veneno que não deveria mais existir no mundo, e, no entanto, ali estava. Um frio terrível se espalhou por seu corpo com uma velocidade assustadora. Então, invadiu sua alma, sua mente e seu espírito.
De repente, Sunny se sentiu fraco. Ele até achou difícil manter os olhos abertos. Seu corpo quebrado estremeceu.
Frio, frio.
Ele estava com frio e sozinho.
Ele partiria sozinho, sem testemunhas… exatamente como havia vivido. Ninguém sequer se lembraria de sua existência. A morte estava chegando.
Veio no som de passos suaves, assumindo a forma de uma mulher que caminhava silenciosamente em direção à escuridão. A mulher usava uma armadura escura e surrada e um véu que cobria seu belo rosto, com seus cabelos longos e sedosos presos em uma trança.
A noite estrelada lançava uma sombra profunda sobre ela, mas ele podia ver seus olhos frios claramente. Ele também podia ver seu reflexo neles.
Uma figura nebulosa envolta em um manto esfarrapado, com uma máscara de madeira preta polida cobrindo seu rosto.
Ele era Weaver, o Demônio do Destino. O poderoso e terrível demônio…
Aquele poderoso demônio estava agora ajoelhado diante de um caçador mortal. Uma risada abafada escapou dos lábios do demônio, tornada estranha e ilusória pela máscara.
“Vocês, Nove… ah, como nós os detestamos…”
O Demônio do Destino conhecia melhor do que ninguém o desespero sem fim de lutar contra o Destino.
Os Nove não passavam de mortais lamentáveis, mas também estavam fadados ao destino. Suas vidas eram uma convergência do destino. Para qualquer outra pessoa, eles pareceriam minúsculos e lamentáveis, nada mais que vermes… mas para Weaver, que conseguia enxergar a grande malha do destino, suas figuras se erguiam como as de gigantes, pairando acima, oprimindo Weaver com seu peso esmagador.
A mulher olhou silenciosamente para o demônio. O demônio sorriu por trás da máscara.
“Foi você quem fez isso, não foi? Que armadilha terrível você armou para nós. Escapamos dos nossos irmãos… mas parece que, no fim das contas, não conseguimos escapar de você.”
O daemon conhecia bem a mulher. Ela perseguia Weaver há muito tempo, aquela mortal de alma pura. Às vezes, ela vinha como uma fera. Às vezes, ela vinha como uma caçadora. O daemon não a vira se movendo furtivamente pelos reinos, enfrentando batalha após batalha, tudo para se fortalecer… mas sentiu sua figura se aproximando cada vez mais na malha do destino, confinando-os como uma serpente.
Até que não conseguiram mais se mover e não havia mais para onde ir.
Finalmente, a mulher falou. O demônio pensou que sua voz seria triunfante, mas ela estava simplesmente cansada.
“Eu sei o que você é.”
O daemon também estava cansado.
“Se você sabe o que somos, então sabe o que significa nos destruir. Há um preço a ser pago por matar um daemon. Você está preparada para pagar esse preço?”
A mulher não respondeu. O demônio soltou um longo e triste suspiro.
“Você não sabe de nada, criança. Pobre menina, é tarde demais. Por favor, me perdoe, se puder.”
A mulher desembainhou a espada e a cravou no peito do daemon em um movimento fluido e rápido. Não houve hesitação em seu golpe, nem piedade. Aquela figura nebulosa caiu no chão, sem vida. A máscara negra olhou cegamente para o céu estrelado e então se desfez em um furacão de faíscas.
A caçadora suspirou profundamente e olhou para o céu. Finalmente, sua tarefa estava concluída. Ela balançou levemente e levantou uma mão, tocando o véu em confusão.
Seus lábios se moveram sutilmente, produzindo um sussurro quase inaudível.
“… Que tarefa?”

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