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    Antigamente, havia doze bonecos de Neve dispostos contra os três bonecos de Cinza no tabuleiro. Agora, restavam apenas três deles — dois Diabos e o próprio Tirano. E Sunny também estava meio passo à frente dos Diabos.

    O caminho para o Tirano estava quase livre, mas ainda havia uma chance de que os Diabos o perseguissem. Se o fizessem, o Diabo da Árvore, com sua forma vagamente humana, não seria motivo de preocupação, já que estava mais ao sul do que Sunny e seus companheiros. O dragão, no entanto, estava ao norte do Santuário da Verdade — então, se ele se movesse para o leste, eles teriam que enfrentá-lo eventualmente.

    Sunny queria evitar lutar contra um Diabo Amaldiçoado se pudesse. Na verdade, ele temia aquela batalha — mesmo que agora houvesse três Sombras Sagradas sob seu comando. Então, ele deixou Caçadora no Santuário da Verdade.

    Não estava claro o quão astuto o Tirano da Neve era e o quão bem ele conhecia as figuras do Domínio das Cinzas. No entanto, ele havia demonstrado pelo menos alguma habilidade para agir estrategicamente. Portanto, provavelmente não estaria disposto a deixar o quadrado do Santuário nas mãos do adversário. Não apenas porque o poder do Domínio das Cinzas aumentaria quanto mais quadrados pertencessem a ele, enquanto o poder do Domínio da Neve diminuiria proporcionalmente, mas também porque Sunny poderia facilmente retornar ao Santuário se seu caminho até ele não fosse bloqueado.

    A verdade era simples: o Tirano da Neve não possuía mais figuras suficientes para capturar seu adversário, a menos que este quisesse ser capturado. Sunny podia vagar pelo tabuleiro indefinidamente, jogando um perigoso jogo de gato e rato com os dois Diabos da Neve. Ele podia enrolar o quanto quisesse, até que seus ferimentos se recuperassem completamente, por exemplo, ou até que todas as suas sombras se recuperassem.

    Além disso, ele possuía a estatueta de jade deixada pelo Rei Rato. Seu poder aumentaria ainda mais se lhe permitissem chegar ao Santuário da Verdade, ao Castelo de Cinzas ou — presumivelmente — ao Santuário do Medo. Ele nem precisava manter Kai e Caçadora consigo. Podia enviá-los para vagar pelo reino em miniatura do Jogo de Ariel sozinhos, conquistando pico após pico até que o Domínio da Neve perdesse completamente sua vantagem territorial.

    Então… Sunny apostava que pelo menos um dos Diabos desperdiçaria um movimento para conquistar o Santuário da Verdade. E para torná-lo ainda mais atraente para eles, ele deixou uma de suas peças — a Caçadora – no telhado do templo submerso.

    Sunny e Kai sentaram-se na encosta de pedra e observaram o nascer do sol em silêncio. Havia o deslumbrante brilho dourado da aurora e as plumas de neve congelando, transformando-se em pontes etéreas. Nenhum dos dois falou, ainda exaustos após a batalha contra o Rei Rato, e embora muito fosse decidido pelo que os Diabos escolhessem fazer — ou fossem ordenados a fazer — ambos se sentiam… em paz.

    Mesmo que houvesse batalhas alarmantes pela frente, elas só aconteceriam muitos dias depois. E embora ainda estivessem presos no Jogo de Ariel, o tabuleiro estava quase totalmente vazio de horríveis Criaturas do Pesadelo, o que significava que não seriam cercados e atacados inesperadamente. Pela primeira vez desde o início do Jogo da Morte, Sunny não se sentia como uma fera encurralada. Respirou fundo, apreciando a vista do sol radiante.

    ‘Vamos…’

    Finalmente, as pontes de vidro estavam totalmente formadas e os Diabos se moveram. Sunny prendeu a respiração, sentindo o coração disparar.

    ‘Sim!’

    Um sorriso largo surgiu em seu rosto coberto de fuligem. Sua previsão estava se tornando realidade — e da melhor maneira possível.

    “O Diabo da Árvore está se movendo para o leste.”

    A voz de Kai estava contida. O Diabo com aparência humana atravessava a ponte de vidro, movendo-se em direção à montanha diretamente ao sul da posição deles. Estava sendo enviado em uma perseguição sem esperança. O dragão, no entanto…

    Sunny não precisou que Kai lhe dissesse, pois ele mesmo podia ver o dragão voando sobre o mar de nuvens. A grande fera parecia um pontinho à distância, mas não havia dúvida: voava para o sul, em direção ao Santuário da Verdade. O que significava que não havia mais nada entre Sunny e o Tirano da Neve. Ele sorriu alegremente.

    Era estranho… Talvez o Tirano da Neve não se importasse em barrar sua passagem. Talvez até quisesse que Sunny viesse o mais rápido possível, antes que ele pudesse se curar completamente dos ferimentos — nesse caso, afastar o dragão e abrir caminho servia ao mesmo propósito que deixar a Caçadora sozinha no Santuário da Verdade. Era uma isca.

    … Possivelmente o Tirano da Neve simplesmente não conseguiu controlar o dragão — afinal, um Diabo Amaldiçoado era um ser de imenso poder, não muito inferior ao seu. De qualquer forma, o resultado coincidiu com o que Sunny desejava.

    “Estamos seguros, Kai. Estamos seguros…”

    Finalmente, o fim do Jogo de Ariel estava próximo. Só restava uma batalha para eles vencerem — a mais terrível de todas, mas ainda a última: a batalha contra o próprio Tirano da Neve.

    Sunny expirou lentamente e observou o dragão voar através do vasto abismo que separava as duas montanhas. Ele pensou ter visto até explosões enquanto a Caçadora disparava flecha após flecha. E quando o dragão estava prestes a alcançar o lago de lava…

    Sunny estreitou os olhos e dispensou-a, chamando-a de volta para a escuridão acolhedora de sua alma. Em algum lugar distante, a figura graciosa da caçadora assassina se dissolveu nas sombras.

    Poucos segundos depois, o Santuário da Verdade estremeceu quando o dragão gigantesco pousou em seu telhado. Privado de sua presa, o Diabo Amaldiçoado soltou um rugido assustador — seus ecos viajaram pelas nuvens douradas, alcançando Sunny e Kai na encosta do vulcão distante e fazendo-os tremer. E logo depois disso, a ação do Domínio da Neve chegou ao fim.

    Sunny soltou um suspiro feliz e olhou para Kai.

    “Viu?”

    Ele sorriu satisfeito.

    “Deixa eu te contar, amigo… ainda não foi inventado um jogo que eu não possa trapacear!”

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