Capítulo 936: Tudo o que pode dar errado

Combo 236/300

‘Eu deveria saber que algo assim aconteceria…’

Durante uma de suas conversas com o Professor Obel, Sunny tinha aprendido sobre uma coisa chamada Lei de Murphy. Tudo que pode dar errado dará errado… ele não sabia quem era Murphy e por que essa pessoa tinha estado em posição de estabelecer leis que governassem o mundo, mas sua veracidade era difícil de contestar.

… Talvez o próprio Murphy tenha sido um pouco tenaz e louco, a ponto de criar uma regra tão inegável.

Em todo caso, foi exatamente isso que aconteceu. Tudo deu errado. Sunny esperava receber informações e recursos através do Reino dos Sonhos, mas agora, essa esperança foi destruída. A estranha natureza do túnel sem fim impediu os Despertos de viajar através dos mundos.

Ele nem sabia que algo assim era possível.

‘Condenação.’

Instruindo os membros da coorte a guardarem as notícias para si mesmos, Sunny hesitou um pouco e então deu ao comboio uma ordem para levantar acampamento. Eles tinham que continuar avançando.

Naquele ponto, ele não esperava chegar à saída… no entanto, Sunny ainda precisava de informações. O túnel não estava se enrolando em si mesmo, como os experimentos de ontem provaram, então tinha que haver algum outro tipo de magia envolvida. Ele suspeitava que era de natureza espacial, mas tinha que observar mais para chegar a uma conclusão confiável.

O Rhino avançou, e os transportes civis seguiram. Mais uma vez, vadearam pela escuridão silenciosa, cortando-a com raios de luz. Muros de pedra voavam, e como sua superfície sempre parecia a mesma, era fácil imaginar que o comboio não estava se movendo, e em vez disso estava preso no lugar, amaldiçoado a repetir o mesmo momento no tempo uma e outra vez.

A única coisa que quebrava a monotonia eram as entradas ameaçadoras para as passagens laterais que ocasionalmente apareciam da esquerda ou da direita.

… Sunny sabia que a solução mais lógica seria tentar explorá-las em vez de tentar teimosamente alcançar a saída do túnel principal. No entanto, ele se sentia relutante nisso, pelo menos por enquanto. Era como se tudo o estivesse forçando a tomar essa decisão… que foi exatamente o que fez sua paranoia disparar.

‘É quase como se algo estivesse tentando nos atrair para o subsolo… maldito seja…’

As passagens laterais eram estreitas demais para o Rhino passar, de qualquer forma. E ele não iria abandonar o APC a menos que fosse absolutamente necessário.

Sunny prestou muita atenção às passagens laterais, no entanto. Enquanto ele estudava as entradas e a escuridão que as envolvia, uma pequena sugestão de suspeita surgiu em sua mente.

Além disso, ele não estava parado… mesmo que parecesse para o resto das pessoas dentro do Rhino.

Durante o dia seguinte, Sunny permaneceu em sua cadeira na sala de comando. Ele olhava para as telas de vez em quando, mas raramente. Na maioria das vezes, ele apenas movia os dedos de uma forma estranha, fazendo parecer que eles estavam realizando uma dança complicada.

Em dado momento, Beth não conseguiu mais ficar quieta e perguntou em tom irritado:

“O que diabos você está fazendo? Você está tentando lançar um feitiço mágico ou algo assim?”

Mas havia um profundo mal-estar e medo escondidos por trás daquele aborrecimento.

Sunny sorriu.

“… Na verdade, é exatamente isso que estou tentando fazer. Sou um feiticeiro amador, sabe.”

A jovem zombou.

“Tudo bem, não me diga. Acho que você finalmente perdeu o juízo!”

Mas Sunny lhe dissera a verdade. Embora ela não pudesse vê-los, ele estava, na verdade, tecendo fios de essência entre os dedos.

Naquele ponto, Sunny era proficiente o suficiente para não cortar nenhum de seus dedos no processo, como aconteceu no Coliseu Vermelho. Não havia nem um único corte neles. No entanto, criar fios de Essência de Sombra — sem mencionar organizá-los em uma trama real — exigia muito tempo, concentração e, acima de tudo, da própria essência.

Foi por isso que ele não conseguiu praticar muito tecelagem, se é que conseguiu, depois de desembarcar na Antártida. A Cadeia do Pesadelo era muito terrível e agitada, e exigia muito dele para desperdiçar aqueles recursos preciosos em coisas desnecessárias.

… Mas agora, as coisas eram diferentes.

No final do segundo dia dentro do túnel, Sunny conseguiu criar cordas suficientes para transformar um objeto em uma Memória. Ele precisava de um pouco mais para o que queria alcançar, então continuou com a tarefa durante a noite.

No terceiro dia de viagem na escuridão, quando as pessoas ficaram quietas e o medo se espalhou pelo comboio como uma praga, ele retirou a Agulha de Weaver do Cofre Cobiçoso, bem como um dos Fragmentos de Alma Transcendente que ele havia armazenado lá antes.

Qualquer fragmento teria funcionado, mas Sunny só tinha esses em mãos.

A agulha brilhava com suave radiância dourada. Usando-a para criar as tramas básicas, ele começou o processo de transformá-la em uma Memória. Fazer isso foi relativamente fácil para ele, já que ele já havia feito isso muitas vezes no passado.

Desta vez, no entanto, havia uma parte especialmente difícil do processo. Sunny tinha aprendido a nomear Memórias através de sua trama em algum momento, mas cada runa levou tempo e fios adicionais para ser criada. Aprender a tecer runas também não tinha sido fácil, e tinha exigido tanto uma boa compreensão de tramas quanto um profundo conhecimento da linguagem rúnica que o Feitiço usava.

Ele poderia pular essa etapa, é claro, e nesse caso a Memória seria simplesmente chamada [???] pelo Feitiço. Mas Sunny estava querendo outra coisa dessa vez.

No final, ele cansadamente abaixou a agulha e soltou um suspiro trêmulo. Tanto o Professor Obel quanto Beth estavam olhando para ele com curiosidade.

O velho não queria quebrar a concentração de Sunny antes, mas agora ele finalmente perguntou:

“Jovem… desculpe, mas você poderia explicar o que estava fazendo nos últimos dois dias? Devo admitir que parecia bem bizarro no começo, mas agora, nós dois estamos muito intrigados.”

Sunny sorriu.

“Ah… Eu estava me preparando para enviar uma mensagem.”

Com isso, ele dispensou a agulha, que desapareceu em uma chuva de faíscas douradas, fazendo tanto o Professor Obel quanto Beth piscarem.

Então, Sunny invocou as runas e olhou para a lista de suas Memórias.

Visíveis apenas para ele, as runas brilhavam no ar.

…E então, a última:

O canto do olho dele tremeu.

‘Que visão feia. Definitivamente vou renomeá-la mais tarde…’