Capítulo 174 - O Mineiro

Capítulo 174 – O Mineiro

Tradutor: Cybinho

Hou Ten acordou na escuridão. O cheiro de terra encheu suas narinas, e o ar tinha apenas um toque de umidade. A caverna estava quente. Alguns podem dizer que era desconfortável assim, tão abaixo da terra.

Para Hou Ten, era perfeito. Sua mão se estendeu, batendo em um cristal em seu capacete, e ele se iluminou, banhando sua caverna com um brilho quente. A caverna era relativamente pequena. Grande o suficiente para ele ficar em pé, mas um humano teria que se dobrar pela metade. Mestre Jin provavelmente não seria capaz de se encaixar aqui – um problema cuja solução provavelmente seria seu próximo projeto, ampliando este lugar para receber convidados adequadamente. Ele se arrastou para fora de seus lençóis e fez sua cama, lençóis macios que haviam sido oferecidos a ele por seus anfitriões. Havia uma chaleira ao lado e, com seu Qi, ele podia aquecer a água para preparar o chá.

Essa era uma das vantagens de ser uma Besta Espiritual. Não havia necessidade de cristais de fogo ou madeira, que ele não tinha no momento. Suas mãos enrolaram em torno de sua chaleira enquanto ele aquecia a água, em seguida, derramou em uma tigela com purê de arroz, frutas e um pouco de carne seca. Rapidamente se transformou em um mingau grosso, que ele comia com frequência em casa – exceto pelo fato de que os ingredientes eram melhores aqui e era revigorante para seu Qi.

Ele mastigou algumas das bagas enquanto sorria para seu domínio. Quase se sentia em casa. Só faltava uma coisa, e era seu clã.

Demorou um pouco, depois da excitação da aventura, para que a sensação se instalasse, mas ele ansiava por voltar para casa na Colina dos Cristais.

Não havia absolutamente nada de errado com o Mestre Jin nem com nenhum outro de Fa Ram. Todos tinham sido mais do que gentis com ele. Ele poderia dizer que gostava de Fa Ram sem reservas. Ele gostava de servir chá para os outros ou passear pela propriedade com Tigu. Ele tinha prazer em assistir aos treinos entre os cultivadores e ajudar na transferência da colheita tinha sido divertido.

O Mestre Jin até sabia o jeito certo de tratar! Ele sentia falta da sensação de outro mexendo em sua pele. Ele tentou primeiro com Gou Ren. Um rapaz bonito e robusto, que teria sido o assunto das mulheres na Colina dos Cristais, mas o menino tinha sido muito desajeitado e continuou olhando para seu irmão como uma raposa quando o cristal de gravação do homem soou.

Hou Ten poderia dizer que toda a sua experiência no Fa Ram foi interessante e envolvente.

Mas… mas, no final das contas, ele ainda se sentia sozinho. Uma vida inteira de ecos do Mestre Gen e seus próprios instintos fizeram com que estar fora de um lugar barulhento com quase cem de seus parentes e clãs parecesse… errado. Hou Ten perdeu a sensação reconfortante da presença do Mestre Gen. A realização espiritual de estar perto de seus ancestrais e venerar o Grande Mestre. Ele sentia falta das palhaçadas tolas das crianças enquanto elas assobiavam e balançavam entre as árvores.

Acima de tudo, ele sentia falta da terra. Ele sentia falta da mineração. Cada dia que passava sem uma picareta na mão, procurando por cristais, parecia que tinha formigas rastejando dentro de sua pele. Mesmo antes que ele estivesse realmente acordado, os ecos da paixão do Mestre Gen o infectaram, enviando-o para cada vez mais fundo em busca de mais cristais para compartilhar com seus parentes.

Não havia mina aqui, nenhum lugar verdadeiramente subterrâneo, exceto o armazenamento a frio. E o armazenamento a frio, embora interessante, não era o tipo certo de túnel.

Então ele implorou ao Mestre Jin para cavar um túnel, apenas algo com que se ocupar. Mestre Jin prontamente o levou para os fundos da propriedade e deu a ele uma colina inteira para fazer o que Hou Ten quisesse, até ajudando-o a cavar a entrada.

“Que tipo de homem não gosta de cavar um grande buraco?” Mestre Jin havia declarado com uma pá na mão.

Hou Ten concordou sinceramente. Verdadeiramente, Mestre Jin tinha o corpo errado. Ele poderia ter sido um do clã com essa atitude.

Mesmo que ele claramente não gostasse de estar muito abaixo do solo. Ele era simplesmente grande demais …Ser pequeno trazia desvantagens, mas para a vida de um mineiro era uma benção.

Hou Ten terminou seu café da manhã e guardou sua tigela. Ele iria lavá-lo mais tarde quando voltasse à superfície novamente, mas por enquanto, ele tinha seu trabalho principal a fazer.

Ele subiu um pouco em seus túneis, subindo ao longo do túnel principal em direção à superfície, terminando logo abaixo da linha de gelo. Os túneis eram maiores aqui e mais frios, mas foram construídos para que os humanos pudessem entrar facilmente. Ele virou para o lado ao longo da passagem principal, em uma sala.

Sentado em um pedestal no centro da sala sem adornos estava um cristal.

O cristal. Sua razão de estar aqui e a razão de seu despertar. Um dispositivo antigo que continha memórias de milhares de anos atrás – de uma pessoa que viveu na mesma época que os próprios ancestrais de Hou Ten.

A luz interna do cristal se agitava lentamente com cores diferentes. Este não era o cristal original; o antigo tinha rachado e era instável demais para ser usado. Então, eles o transferiram para este cristal. Embora a transferência tenha sido bem-sucedida, a enorme quantidade de informações que o antigo cristal continha estava além de todas as estimativas e precisava de tempo para se estabelecer no novo dispositivo. 

Ele realizou suas verificações rapidamente. As coisas pareciam estar avançando em ritmo acelerado. A formação ao redor do cristal, feita para eles pelo Mestre Gen e Amigo do Clã Jing da Cidade do Lago da Lua Pálida, estava fazendo seu trabalho. Em breve, o cristal estaria pronto para uso.

Feitas as verificações, ele curvou-se ao cristal três vezes e colocou sua picareta no ombro, sorrindo para si mesmo. Ele havia encontrado o que parecia ser uma direção promissora na noite anterior. Ele sentira um leve toque de alguma coisa. Ele não sabia o que era, mas estava ansioso para descobrir!

Ele saiu da sala lateral, de volta para a passagem principal—

‘Olá?‘ Uma voz chamou, e Hou Ten pulou, ele não tinha ouvido ninguém descer! Ele se virou e encontrou a Srta. Yin, a coelha prateada, olhando para ele. Ela era uma coisa bonita, quase etérea, com sua coloração e lindos olhos.

‘Posso ajudá-la, mocinha?‘ Hou Ten perguntou a ela, tirando o capacete em respeito, sua voz rouca ressoando como uma montanha.

‘Sim, Shifu quer saber se você pode encontrar mais terra como essa para ele.’ Ela puxou uma sacola das costas e mostrou a amostra dentro.

Argila, o tipo usado para cerâmica. Hou Ten pegou uma amostra, cheirando e provando um pouco. Ele fechou os olhos e pensou no assunto, vasculhando suas memórias.

Finalmente, ele encontrou um resultado. Alto teor de minerais e úmido.

‘Os veios disso estão um pouco mais altos e estão todos congelados agora. Vai demorar um pouco para desenterrá-lo, mas eu posso fazê-lo.‘ Era algo para fazer, pelo menos. ‘Isso é tudo?’

Yin estava olhando para ele com curiosidade. ‘Você… sabe exatamente de onde vem isso?‘

Hou Ten assentiu. ‘Cheiro. Gosto. Toque. A terra não é apenas terra. Tem caráter e personalidade próprios.’

Yin parecia intrigada.

‘Você pode… você pode me ensinar?’ Ela se aventurou depois de um momento. ‘Shifu diz que eu tenho que encontrar algo que eu realmente goste. Então eu tenho tentado de tudo, mas nada realmente… se encaixa além de lutar. Ainda não tentei minerar.’ 

Hou Ten fez uma pausa na declaração e na franqueza de seu pedido. Hou Ten foi abençoado por conhecer seu lugar e paixão em sua vida… e ainda assim ele a entendia, um pouco.

Estar totalmente acordado era assustador, de certa forma, sem o calor do espírito do Mestre Gen. Um calor gentil que sempre esteve com ele, Mestre Gen sacrificando uma parte de sua força por todos eles. Ele os vigiava, e todo o seu clã sabia que o Mestre Gen tinha tudo sob controle.

Aqui, porém, sem aquele calor orientador, havia dúvida. Havia incerteza em suas ações agora, sem saber como reagiriam aqueles que não eram parentes.

Ele adivinhou a si mesmo. Ele hesitou. Pela primeira vez na vida ele conheceu o descontentamento e a incerteza — e não gostou disso.

Às vezes, Hou Ten poderia admitir, teria sido mais fácil ser apenas um macaco comum.

Mas aquela não era mais sua vida.

Então Hou Ten, depois de considerar as palavras da coelhinha, assentiu afirmativamente.

‘Primeiro, você precisa de um capacete‘, ele decretou. ‘Mestre Jin quer que todos usem um.’

Yin sorriu brilhantemente enquanto o seguia. Ele levou os dois para baixo, de volta para seu quarto e começou a vasculhar em busca de seu sobressalente. Este não tinha um fragmento de cristal de luz, mas era bastante útil.

Embora, ao colocá-lo na cabeça dela, parecesse um pouco estranho. Suas orelhas se projetavam para os lados, quase arrastando no chão.

‘Você está pronta para aprender, mocinha?’ Hou Ten perguntou.

‘Pra caralho! ‘ ela respondeu. ‘O que eu tenho que fazer, Mestre Hou? ‘

Ela certamente estava entusiasmada… mas havia algo nela. Ela estava falando sério. Ela tinha uma espécie de impulso em seus olhos. Uma vontade absoluta de ser instruída. Uma mente aberta completa para aprender.

Hou Ten avaliou seu novo ‘aluno’.

‘Vamos começar.’

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E assim cavaram. Eles entraram na passagem promissora que Hou Ten havia cavado e preparado.

‘Veja aqui’, disse o macaco, batendo na parede e pressionando o ouvido contra ela. Yin também pressionou a cabeça contra a parede, fechando os olhos.

‘Tem alguma coisa aqui?‘ ela questionou. Hou Ten assentiu, satisfeito por sua explicação inicial ter sido aceita tão rapidamente.

‘Sim. Você pode ouvir a diferença.’ Yin assentiu pensativamente com as palavras de Hou Ten.

‘Mas não acho que seja pedra. Tem algo… diferente nisso.’

Hou Ten bateu palmas e apontou para ela.

‘Sim! Não é pedra, nem cristal. É osso.’

‘ Osso? Devemos desenterrar?’ Yin perguntou curiosa.

‘Se você quiser. Não há muitos ossos na Colina dos Cristais, então algo tão grande pode ser um Blaze Bear ou algum outro monstro que morreu há muito tempo e agora está enterrado .’

Yin flexionou suas patas poderosas e começou a atacar ansiosamente a parede. A terra voou rapidamente, mas propositalmente, já que Yin estava sempre vigilante para não fazer o túnel desabar sobre eles.

Rindo, ele foi atrás dela; alguns golpes precisos na parede e depois um puxão. Yin se assustou quando Hou Ten arrancou a parte da parede ao lado.

A coelha parou sua escavação frenética.

‘É como e onde você cava, mocinha. Não é realmente o poder com o qual você se move. Vem com o tempo, me observe bem.‘

Yin assentiu com a maior seriedade, recuando para observá-lo.

‘Aqui, aqui e aqui’, Hou Ten disse depois de um momento. ‘Vê este mergulho na rachadura aqui? Esse é o caminho.‘

Yin estudou os lugares atentamente, e então, com três golpes próprios nos pontos que Hou Ten havia apontado para ela, puxou a seção inteira para baixo, empurrando-a para dentro do túnel.

Hou Ten assentiu e executou mais alguns golpes, tirando o último pedaço de terra do caminho. Terra que cercava um fêmur que era tão grosso quanto ele era alto.

Ambos olharam por um momento para a descoberta.

‘Isso é grande pra caralho¹’, disse a coelhinha bonitinha, sem rodeios.

‘Sim. Isso é grande pra caralho mesmo.‘

Ele caminhou até a coisa e bateu nela com curiosidade. Então ele fez uma pausa, e bateu novamente. Uma leve vibração. Um leve toque, agora que ele estava tocando diretamente o osso.

Hou Ten sorriu.

‘Acho que podemos ter atingido a carga principal, mocinha. ‘

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Não demorou muito para fazer um túnel ao redor do enorme osso da perna. Ainda era um trabalho quente, mas ser Bestas Espirituais tinha algumas vantagens. Eles contornaram a obstrução até que o local de escavação começou a ficar mais brilhante por causa de uma luz que não vinha do par de escavadores.

Com um golpe final, a escuridão cedeu completamente, pois o que Hou Ten havia sentido estava exposto. Um veio de cristal brilhante.

Cristais de Luz. O mesmo tipo que estava no capacete de Hou Ten.

Hou Ten aplaudiu, um grito alto, enquanto largava sua picareta e batia no chão com as mãos. Yin seguiu o exemplo, batendo no chão com a pata traseira animadamente. A pele da coelha estava marrom de tanto cavar, e ela estava absolutamente imunda, mas não parecia se importar.

‘Vamos levar isso pra cima.’ Hou Ten lambeu os lábios enquanto considerava os pontos de ataque e como remover o cristal da parede – e então se virou para Yin. ‘Eu tenho uma ideia. Você está disposta a isso? ‘

Yin assentiu.

‘Agora, acerte exatamente onde eu disser… ‘

Normalmente, seriam horas de mineração cuidadosa para obter tal recompensa. Mas com alguns chutes bem colocados sob a direção de Hou Ten, a coelha levou a coisa toda.

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A viagem de volta à superfície foi tranquila… tão tranquila quanto arrastar uma massa de cristais de luz poderia ser, de qualquer maneira.

Juntos, eles carregaram sua recompensa para a superfície. Do calor das profundezas ao reino frio e nevado acima.

‘Ei! Ei! Olha o que encontramos! ‘ Yin gritou ansiosamente, saltando em direção à casa. Várias cabeças apareceram, curiosas e interessadas.

Logo, todos estavam reunidos ao redor da mesa, olhando para a nova recompensa.

Hou Ten foi aplaudido nas costas pelo Mestre Jin e elogiado até que seu rosto azul ficou roxo.

Eles não eram parentes. Eles não eram clã. Mas… bem, se ele tivesse que ficar mais tempo… não era tão ruim.

Cavar era sempre melhor com um amigo… e dividir os despojos era sua vocação.

1. ela fala xingando assim, por isso o mantiao tá sempre corrigindo ela[↩]