Capítulo 192: A Gravura (2)

Tradução: Nimsay

Depois de um bom tempo, fiquei sentado contra a parede, segurando meu braço.

Embora o ferimento em meu braço esquerdo tivesse desaparecido, a dor ardente persistia, como se eu tivesse sido queimado.

— …Huh — suspirei.

Felizmente, agi rápido. Se tivesse sido um pouco mais lento, teria sido irreversível.

< Que porra… é isso…? >

— O que você acha?

Olhei para baixo com um tom cheio de irritação.

Aos meus pés, um pombo gorducho batia as asas. O pombo girou no lugar, inspecionando suas asas e corpo.

< Seu maldito… O que fez comigo?! >

— Você disse que queria um corpo, não foi? Eu te dei o que você queria. Em vez de me agradecer, você está bravo?

< De jeito nenhum… >

— Sim.

— Pruu..puu!?

Os olhos do pombo se arregalaram.

— Você é um pombo agora.

< … >

— Não é ótimo ter um corpo? Aliás, o nome daquele pombo é PruPruPoo.

< O que, o que você disse!? >

Sinceramente, eu também não esperava que acontecesse dessa forma.

Eu não esperava que um monstro da Masmorra do Advento aparecesse diante de mim.

Embora eu tenha testemunhado inúmeros Adventos e processos de Gravação, esta foi a primeira vez que vi isso.

‘De qualquer forma…’

Sentei-me no chão.

Depois de engolir a segunda poção, olhei para o pombo novamente. Ele estava cambaleando desajeitadamente, olhando para baixo e examinando suas asas. Parecia incapaz de entender a situação.

< Você, seu humano maldito! Como ousa…!? >

Depois de cerca de cinco minutos inspecionando seu corpo, o pombo finalmente pareceu aceitar a realidade e me repreendeu.

< Devolva-me imediatamente! Ou eu vou te despedaçar! >

— Como você quer que eu te devolva?

< Você está perguntando porque não sabe? >

— Estou perguntando porque realmente não sei. Simplesmente aconteceu, então me diga como, e eu considerarei.

< Isso… Isso…! >

O pombo abriu as asas após um momento de contemplação.

< Devolva-me! Eu tentei lhe conceder a honra de ser um recipiente para uma grande raça, e você faz isso. Que insolência. Han Israt! >

— Pruu pruu! Pruu… Pruu!

O bico do pombo abriu e fechou amplamente.

< Humano! Se você me devolver, pouparei sua vida. Faça uma escolha sábia! Ninguém pode sobreviver à ira da grande raça. >

— Você quer tomar conta do meu corpo. Se eu te devolver, não vou morrer?

< Você não morrerá. Você será revivido como um comigo. >

Enquanto eu permanecia em silêncio, o pombo cobriu o bico e riu.

— Pupupuuu…

< Você está com medo? Tudo bem. Vou te dar uma chance especial. Me devolva para seu braço esquerdo. Vou contar até dez! Vou começar agora. Dez… >

— Pruiii!

Peguei o pombo pelo pescoço e o levantei.

— Um pombo-galinha realmente faz muito barulho.

< Seu desgraçado! Você ainda não sabe o seu lugar, seu humano humilde… >

— Pruuuuiiiii!

Splash! Mergulhei a cabeça do pombo no barril de água próximo.

O pombo bateu as asas e lutou, mas um mero pássaro não teria muita força. Eu o empurrei mais para dentro, chegando perto do fundo do barril.

— Plu, pooo, pupupup…!

Depois de contar até trinta segundos, tirei-o do barril.

< Seu desgraçado insolente… Sua cabeça… >

Mergulhei ele mais uma vez e contei mais trinta segundos.

< Eu vou te matar… >

Mergulhei uma terceira vez. Mas desta vez contei um minuto inteiro.

— Purrpo!

Só na quarta vez o pombo se acalmou.

Pressionei a cabeça do pombo enquanto ele estava deitado no monte de palha.

— Não mexa comigo.

— Purr… Pupur!

— Cale a boca, seu barulhento.

Bati a cabeça do pombo no chão e forcei seu bico a abrir, enchendo-o de palha.

O pombo caído bateu as asas fracamente.

— Você parece não entender a situação. Seja de uma grande raça ou algo assim, agora você é apenas um pombo fracote. Entendeu? Se não gosta, tente se transformar naquele seu orgulhoso corpo de dragão.

< Seu maldito… >

— Ainda não entendeu?

Sorri e pisei na cabeça do pombo.

Seu crânio era pateticamente frágil. Apenas uma pequena pressão e sua cabeça se despedaçará como uma uva amassada.

< Se você me matar… não poderá usar o Sangue do Dragão Negro! >

— Não me importo. Vou considerar isso como azar e encontrar uma nova Gravura. Melhor do que ser levado por um filhote de pombo que não sabe o seu lugar.

Apliquei uma leve pressão com o pé.

— Pupurpuuu!

O pombo bateu as asas violentamente.

Eu esperava contaminação, mas não dessa forma. Fiquei bastante irritado. A ponto de não me importar com o que aconteceria com a Gravura.

Quase acabei em uma situação desagradável.

< Espera, espera! Espera um pouco! >

— Por que eu deveria?

< Se você me matar… >

— Eu disse que não preciso de você.

< Não me mate! Eu não quero voltar para lá! >

— Prrrruuuuuuupupu!

O pombo, tossindo palha, contorceu-se para a esquerda e para a direita.

— Você entendeu a situação agora?

< E-Entendi! Não vou pedir para você me devolver! >

— Ainda bem que entendeu, mesmo que tarde.

Aliviei a pressão do meu pé.

O pombo estava ofegante, deitado de lado.

— Muito bem, PruPruPoo.

< Droga! Eu sou Halkion Syraos, o ser primordial… >

Eu movi meu pé.

< Me chame do que quiser! >

— Bom.

Parecia que finalmente tínhamos um entendimento.

Desabei no monte de palha e comecei a fazer as perguntas que me deixaram curioso.

Toda vez que ele dava respostas sem sentido, mergulhava sua cabeça no barril por um minuto, e ele obedientemente confessava a verdade.

— Então, o Sangue do Dragão Negro não estava em um estado completo.

< …Isso mesmo. >

PruPruPoo respondeu resignadamente.

< Ao contrário dos outros heróis que conheci, você tinha uma natureza distinta. Pensei que você poderia ser mais do que apenas um tomador de poder. Você poderia ser meu recipiente. >

De fato. O teste que ele mencionou deve ter significado algo totalmente diferente do que eu pensava.

— Então você fingiu ter aceitado e depois me traiu.

— Pruu pruu…

A cabeça de PruPruPoo caiu.

De acordo com sua explicação, o Sangue de Dragão Negro gravado em mim estava incompleto.

Para transferir seu corpo, ele removeu os elementos necessários para a Gravação e inseriu uma magia especial.

— Porque você fez isso?

< Fiquei preso lá por dezenas de milhares de anos. Eu queria sair. E então, você, um humano peculiar, apareceu diante de mim. Como eu poderia não ser tentado? >

— Hum.

< Eu nunca mais quero voltar. >

PruPruPoo balançou a cabeça várias vezes.

< Eu sei a situação em que vocês, heróis, estão. Eu sei o que aconteceu com Taoni, e o que a deusa fez. Aquela mulher realizou algo extraordinário. >

— Você está falando em vender este lugar para outra dimensão?

< Sim. Não foi fácil. >

A julgar pelo seu tom, parecia conhecer a verdade deste mundo de cabo a rabo. Não há necessidade de explicações tediosas.

— Então… de que você me serve?

— Pruu puruu!

Agarrei PruPruPoo pelo pescoço e o torci.

— Explique como você pode me ajudar.

< Espera, espera! >

— Não me importa se você está aí há milhares ou dezenas de milhares de anos. Se vou poupar um bastardo traidor como você, é melhor que haja um bom motivo. Você está planejando viver aqui comendo grãos?

— Puuuok!

Quando o soltei, PruPruPoo abriu o bico.

< Se eu estiver ao seu lado… Você poderá liberar o verdadeiro poder do Sangue do Dragão Negro!> 

— Sério? Além da resistência, o que mais há?

< O Sangue do Dragão Negro não é apenas sobre resistência. É uma bênção passada desde o início dos tempos. É a providência e o poder de domínio que perfura a essência do universo. >

PruPruPoo mancou e ficou em pé na palha, abrindo as asas para os lados.

Ao mesmo tempo, seus olhos brilharam com as pupilas de um dragão.

< O Dragão Negro mestiço que você enfrentou possuía apenas uma fração do poder total. >

Então, é realmente poderoso.

< Isso mesmo. Você já herdou meu sangue. Mesmo sem mim, você pode usar parte do poder. Mas sem minha ajuda, você não pode aproveitar totalmente o verdadeiro poder. >

— O verdadeiro poder?

< A capacidade de governar o movimento do universo e das estrelas. >

PruPruPoo bateu suas asas.

Um raio vermelho escuro surgiu de suas costas, formando o formato de um dragão.

Então estendeu suas asas para frente.

Ziiiing.

Um galho da porta do estábulo foi sugado para dentro das asas de PruPruPoo.

PruPruPoo me entregou o galho.

< A gravidade. >

— …

< As Escamas do Dragão Negro são apenas um subproduto. Se você ganhar as qualificações, poderá ser capaz de lidar com esse grande poder. >

— E para isso preciso de você?

< Isso mesmo! Não pode ser feito sem mim! É uma tarefa muito difícil e complexa! >

PruPruPoo estufou o peito em minha direção.

< Pelo juramento do antigo pacto, juro que tudo o que disse é verdade. >

— …Hmmm.

Eu sabia que algo estava errado.

Se fosse apenas imunidade, eu não teria conseguido penetrar sua defesa. Mas ele não sofreu um único arranhão em meio a vários cortes infundidos de atributos. Isso significava que algum outro poder estava em jogo.

— É realmente um monstro incrível.

Eu não consegui nem trazer à tona sua forma original como um dragão.

Essa criatura foi um dos monstros de primeira classe entre os Monstros do Advento que encontrei.

— Ei.

< O que é? >

— Existem outros três como você, não é?

Pois diziam que ele era de uma das quatro grandes famílias.

< Sim. Mas eu sou o mais forte! >

— Vamos começar restaurando a Gravura. Você disse que parou a Gravação deliberadamente.

< Hmph. Prepare-se para se surpreender. >

PruPruPoo estendeu sua asa dianteira em minha direção e um relâmpago vermelho escuro começou a penetrar no meu braço esquerdo.

Desta vez, não houve nenhuma sensação sinistra como antes.

Dei uma olhada rápida na descrição da Gravura.

Não foi adicionado muito. Apenas uma linha dizendo que havia habilidades não reveladas.

‘E subiu para grau S.’

Talvez não faça muita diferença agora, mas conforme o nível e as especificações da marca aumentam, habilidades ocultas serão gradualmente desbloqueadas.

Essa deve ser a ‘qualificação’ mencionada.

Girei meu braço esquerdo. Não parecia muito diferente, mas no final do movimento, houve uma sensação estranha.

Parecia que eu tinha um braço extra.

Seria essa a sensação de ter um rabo?

— Ei.

< O que é ? >

— Você disse que há outros três como você.

< Hmph, aqueles desgraçados. Nem me faça lembrar deles. >

PruPruPoo estalou a língua em desgosto.

Se esta criatura é o ancestral de uma das quatro grandes famílias, então deve haver entidades semelhantes nas outras três famílias.

‘Então, há pelo menos mais três Gravuras de grau S em Taoni.’

Isso é uma grande fortuna.

Assim como os heróis afiliados, as Gravuras também diferem dependendo da conta.

Mas há muitos lugares sem sequer uma inscrição de grau A, muito menos uma de grau S.

‘Se eu conseguir todas as três…’

Eu sorri.

É como uma espécie de missão de Dragon Ball.

Ter várias Gravuras não é necessariamente bom. É uma questão de como você as desenvolve e utiliza.

‘Se surgir a oportunidade, eu as darei aos outros.’

Não faz sentido simplesmente aumentar minhas próprias especificações.

< Se você utilizar totalmente meu poder, pode se tornar invencível. >

— Com todos esses monstros por aí, é difícil dizer. De qualquer forma, ter você por perto deve ser útil, certo?

< De fato. Só por ter a mim, a fonte do poder, por perto, pode despertar habilidades ocultas. Eu vou te ajudar. >

— De fato. — Sorri e olhei para meu braço esquerdo.

Eu segurei a espada na minha mão direita.

‘Vamos testar.’

Eu instintivamente sabia como usá-lo.

Parecia similar a quando eu usava uma habilidade. Eu respirei fundo e extraí aquele sentimento.

Num instante, escamas brotaram por todo o meu braço esquerdo.

As escamas pretas rasgaram minha manga esquerda, projetando-se nitidamente.

Sem hesitar, esfaqueei meu antebraço com a espada.

Ao repelir a lâmina, as escamas desapareceram rapidamente.

Por enquanto, foi só isso. Durou apenas um segundo. Parecia haver um intervalo considerável antes que eu pudesse ativá-lo novamente. E meu corpo estava ficando cansado.

Preciso praticar consistentemente.

Para usá-lo em combate real, precisarei treinar para combiná-lo com Exceder e Espada da Alma Perdida.

< Hahahaha! Como é a sensação? Você sente meu poder infinito? >

— …

Peguei PruPruPoo pelo pescoço e o mergulhei no barril de água.

— Pu, Ppurpurpuu!

< Por quê?! >

— Porque você fala de maneira irritante.