Capítulo 205: Não se bate nem com uma flor (3)

Tradução: Nimsay

— Pode não ser do seu gosto.

Uma xícara de chá cheia de chá verde fumegante foi colocada sobre uma mesa quadrada de madeira.

— Obrigado.

— Você gostaria de alguns salgadinhos também? Eu mesmo os assei…

— Não, está tudo bem! — Jenna respondeu apressadamente e tomou um gole de chá verde.

Velkist estava sentado com os braços cruzados e os olhos fechados.

— Faz tanto tempo que não recebemos hóspedes. Só víamos os mesmos rostos todos os dias, é revigorante.

O jovem sorriu inocentemente. Suas roupas eram largas e seus óculos, velhos. Ele carregava sequer uma única adaga consigo. Estava completamente desarmado.

‘Que lugar é esse?’

Assim que chegamos ao porto das Ruínas, um jovem com uma impressão gentil apareceu diante de nós para nos dar as boas-vindas, dizendo que queria nos hospedar.

Seguindo sua orientação, chegamos a uma vila nos arredores da ‘Ilha das Ruínas’.

Se fosse uma armadilha, estávamos prontos, mas não importa o quanto olhássemos ao redor, não havia uma emboscada ou um ataque planejado. Só uma recepção genuína.

— O que devemos fazer? Essas pessoas parecem não querer lutar. — Jenna sussurrou para mim com uma expressão preocupada.

Eu só pude suspirar. Queria intimidá-los e pegar todos os seus itens, mas…

‘Não sei quais são as intenções de Qlqr1.’

Poderíamos facilmente contra-atacar se nos atacassem primeiro. Sem a nossa Mestra, iniciar um ataque se torna uma decisão complicada. Especialmente contra jogadores não combatentes.

— Teremos que esperar.

— Até a Mestra chegar?

— Sim.

Se matarmos essas pessoas, Qlqr1 seria rotulada. Seria dito que massacramos indiscriminadamente jogadores inocentes não combatentes. Se não tivéssemos sorte, algum mestre justo poderia começar a nos perseguir. Já tinha acontecido antes.

— Você carrega uma espada — Enquanto eu estava sentado em silêncio, o jovem falou¹.

Olhei para o rosto dele. Não houve mudança em sua expressão. Ele apenas continuou sorrindo gentilmente.

— E daí?

— Você está aqui para assumir este lugar?

Não havia necessidade de fingir, então acenei com a cabeça.

Ainda assim, a expressão do jovem não mudou.

— Você precisa de recursos, mesmo sem lutar, não é?

Estreitei os olhos. Cara esperto.

De fato. Se estivéssemos aqui para atacar, eles não nos deixariam entrar. Mesmo em uma zona sem combate, a força ainda é necessária. Em algum lugar por aqui, deve haver tropas para proteger contra forasteiros.

— Sim, temos uma missão importante pela frente. Muitos monstros vão nos atacar… Você sabe como é. Precisamos de recursos deste lugar para fortalecer nossas tropas — Jenna falou francamente.

O jovem assentiu.

— Meu Mestre provavelmente ajudaria. Nós compartilhamos todos os itens que podemos. Se você explicar sua situação, ele entenderá.

Ri, incrédulo. Que ridículo.

Fomos levados ao quarto de hóspedes no segundo andar da vila.

Tivemos que esperar lá até a noite na Terra, quando Qlqr1 entrará para tomar uma decisão.

— Mas, veterano, não precisamos de muitos recursos? Mesmo que eles compartilhem, não será tanto quanto se nós monopolizássemos. Não será o suficiente, eu acho.

— Provavelmente, já que há vinte e quatro mestres aqui.

— Isso é frustrante.

Velkist mordeu o lábio em frustração. Ele veio esperando uma briga, mas agora estávamos apenas esperando.

Lembrei-me da explicação do jovem.

Seu nome é Adilang Rizos, um estudioso do continente Radelsi. Ele disse que seu Mestre, ‘Saechorom’, era originalmente focado em missões, mas mudou repentinamente ao chegar ao quadragésimo quarto andar, tornando-se pacífico, decorando a Sala de Espera, invocando heróis, formando uma guilda e se misturando com usuários pacíficos com ideias semelhantes.

— Eles não parecem completamente desprotegidos. Eu senti uma presença — Jenna, que tinha um sentido mais aguçado que o meu, falou.

Olhei para a bainha firmemente presa no meu cinto.

‘Eles realmente vieram aqui com apenas cinco pessoas para tomar conta deste lugar?’

Originalmente, esta ruína era ocupada por um usuário que gostava de lutar contra outros jogadores. Ele fortaleceu suas tropas com recursos daqui, impôs impostos a outros mestres e governou tiranicamente. Eventualmente, os mestres da guilda Estrela Prateada, incluindo Saechorom, se uniram e travaram uma guerra de libertação.

Depois de vencer a guerra, a guilda Estrela Prateada começou a aceitar novos membros e a compartilhar os recursos das ruínas para evitar a repetição da tirania.

Foi uma história emocionante.

‘Isso significa que não são completamente não combatentes.’

Olhei pela janela. Um cristal com dezenas de metros de altura estava em uma planície baixa. 

Ao cair da noite, Qlqr1 entrou..

Assim que a tela principal apareceu, a tela de conclusão da implantação e a tela de seleção apareceram.

A vista da ilha das Ruínas apareceu na tela de Qlqr1. Lá, os heróis da guilda Estrela Prateada estavam reunindo recursos pacificamente. Eles estavam cortando árvores raras, caçando animais e minerando minérios.

Qlqr1 observou a cena sem entender nada por um tempo.

Suspirei. Eu sabia.

Qlqr1 recusou o ataque.

Se eles fossem voltados para o estilo ‘jogador contra jogador’, ela já teria tentado saquear há muito tempo.

Desta vez, um pedido de bate-papo apareceu. A tela mudou imediatamente.

‘Esse cara é um sujeito muito fácil de lidar?’

Depois de um tempo, Qlqr1 digitou que precisava de muito, não de pouco, e acrescentou que se eles abrirem uma exceção, os pagará depois de limpar o quinquagésimo andar.

As coisas estão indo bem. Se eles compartilham conforme necessário, não há necessidade de brigar.

Após uma breve hesitação, Qlqr1 tomou uma decisão.

Qlqr1 se juntou à guilda Estrela Prateada.

Com isso, não havia necessidade de continuar vendo. Fechei a tela de bate-papo na minha frente e terminei meu chá.

— Ah, isso…

Jenna e Velkist estavam olhando para o nada, pois também conseguiam ver a situação. Nós tínhamos aumentado constantemente os níveis de pesquisa.

Após algumas batidas, a porta do alojamento se abriu e Adilang entrou com um largo sorriso.

— Bem-vindos à família, pessoal!

— …

— Parece um pouco estranho agora, mas com o tempo…

— Não podemos ficar muito tempo.

— Está tudo bem! Por favor, sintam-se em casa.

Adilang colocou uma bandeja com três sanduíches e leite na nossa frente, fez uma reverência e saiu.

Parece que ele estava nos convidando para uma refeição.

Jenna olhou entre mim e Velkist.

— Mesmo sem lutar… vai ficar tudo bem, né?

— Veremos. Quem sabe se eles nos emboscarão.

— Se eles fossem nos atacar, não teriam feito isso? Acho que é seguro confiar neles. Nem todo mundo é ruim.

— Chamar-nos de família é ridículo — Velkist zombou.

Eu suspirei.

— Como podem ver, a Mestra tomou uma decisão.

— Então nos comprometemos com isso?

— Não é um compromisso, é uma boa ação! Não precisamos matar desnecessariamente.

— Será melhor não lutarmos. Bem, precisamos de tempo, então vamos esperar e pegar o que pudermos.

De acordo com o bate-papo entre Qlqr1 e Saechorom, há uma fila para distribuir recursos das ruínas. Claro, como Qlqr1 foi a última a entrar, estávamos no fundo. Os recursos na ruína são restaurados a cada poucos dias, então, em tempo real, teríamos que esperar pelo menos um mês.

Um mês de espera.

‘Essa é realmente sua escolha?’

Decidi não dar uma opinião.

Adilang ofereceu acomodações na vila. Poderíamos treinar nas ruínas externas enquanto esperávamos.

Mesmo que consigamos recursos, não será o suficiente. Para aumentar o número de heróis em centenas e produzir dirigíveis, precisaríamos de todos os recursos dessa Ruína.

O caminho até o quinquagésimo andar vai ser difícil.

Na manhã seguinte, estava tomando chá no primeiro andar da vila. Do lado de fora da janela pude ver que os heróis estavam reunindo recursos.

‘Não precisamos disso.’

Eram materiais obtidos nas Masmorras Diárias. Os itens raros e importantes só podiam ser obtidos no cristal.

Bebi metade do meu chá verde e olhei para frente. Adilang estava conversando com um homem de meia idade no balcão.

— Dessa vez é a nossa vez. Por favor, verifique o livro-razão.

— Sim, confirmado.

Do nada, a porta se abriu com força e alguém entrou.

— Adil!

Uma mulher de pele morena e rabo de cavalo azul entrou. Ela tinha uma figura bem equilibrada e uma espada na cintura.

— Precisamos de algumas concessões.

Homens armados a seguiram.

— O quê? Vocês ganharam uma concessão da última vez!

— O Mestre precisa disso, o que podemos fazer?

— Com licença, mas estamos esperando há três meses…

— Senhor, fique quieto por um momento. — A mulher colocou os braços sobre o balcão. — Você sabe, os Vigilantes da Estrela Prateada mantêm a paz. E se enfraquecermos e um inimigo invadir? Não podemos deixar vinte e quatro, ou melhor, vinte e cinco mestres, acabarem nas ruas. Não é mesmo, senhor fraco?

— Bem…

— Sua vez chegará em breve. Só precisamos de uma concessão dessa vez.

— …Tudo bem.

O homem de meia idade abaixou a cabeça.

— Nós dê a concessão. Que seja a nossa vez. Coloque um carimbo no livro-razão. Entendeu?

— Você…

— Não se esqueça de quem derramou mais sangue durante a guerra da libertação. Enquanto lutávamos, esses mestres estavam sentados por trás, fazendo merda nenhuma…

Os lábios da mulher se moveram silenciosamente.

Ela não disse isso em voz alta, mas eu percebi.

‘Esses parasitas.’

Terminei meu chá.

Os ombros do homem de meia-idade caíram.

— Eu sei… Não fizemos nada, então… Vamos esperar a nossa vez.

O homem saiu da vila.

A mulher sorriu levemente, entregou o livro-razão para Adilang e piscou.

— Então, novamente na próxima vez!

Quando ela estava prestes a sair, seus olhos caíram sobre mim.

— Huh, aquele homem…

— O novo membro da família que mencionei ontem.

— Família, uma ova.

— Cuidado com a linguagem!

— Hmph. Não me importo. De qualquer forma… huh? — A mulher piscou enquanto olhava para mim. — Aquele homem parece familiar. Acho que foi na Cidade Dimensional… Talvez não, deixa pra lá.

A mulher e seu grupo deixaram a vila.

Adilang olhou para mim com uma expressão amarga.

— Sinto muito que tenham visto algo tão feio. Eles não eram assim antes…

— Eles mudaram.

— Sim. Mas não podemos proteger esta ruína sem eles. Eles são membros necessários.

— Membros necessários.

Ri abertamente.

Sim, não vai dar certo.

Por que você acha que as sociedades comunistas falharam?

1. Não diga, capitão óbvio.[↩]