Capítulo 160: Os Descendentes do Rei Teriantropo (2)
Tradução: Nimsay
Recuperei o fôlego.
Os olhos de Kishasha estavam injetados, suas sobrancelhas eriçadas e suas garras afiadas estavam à vista. Seus olhos verticais brilharam.
‘Eu poderia morrer com um movimento errado.’
Uma sensação de formigamento se espalhou pela minha pele. Limpei o sangue do canto da boca e agarrei o punho da espada.
As unhas de Kishasha brilharam assustadoramente.
— Tem certeza que quer me provocar assim?
— Pode vir.
— Como você quiser!
Em um instante, o corpo inteiro de Kishasha pareceu pressionar o chão, e então ela correu em minha direção num piscar de olhos.
Suas unhas atingiram meu coração. Um arranhão levaria à quase morte, um golpe direto seria morte instantânea. Sentindo a adrenalina percorrer meu corpo, girei minha espada.
Amparando o golpe, forcei meu corpo, que estava tentando recuar, a se manter firme.
Kishasha continuou com seu próximo ataque como se tivesse previsto isso. Seus movimentos ainda eram imprevisíveis, como se ela estivesse saltando em todas as direções. No entanto, apesar do perigo, a lâmina de Bifrost repeliu suas unhas sem falhar.
Com barulhos ensurdecedores, as faíscas voaram.
Chutes, joelhadas, cotoveladas, bloqueei e devolvi todos. Eram rápidos demais para serem vistos corretamente, mas estava familiarizado com esse tipo de movimento. Já lutei inúmeras vezes contra pessoas mais rápidas que ela.
‘Minimize os movimentos.’
Ao observar o início de um movimento, pude prever o ponto de impacto.
Este era o ‘domínio’ que Ridgion me ensinou.
‘Mova-se levemente. Com o mínimo movimento.’
A espada tremeu.
‘Absorva o impacto.’
Uma barragem implacável de dez ataques consecutivos não deixou uma única marca em mim.
Kishasha saltou para o outro lado para continuar seu ataque, me deslumbrando com paradas e acelerações repentinas, enquanto espalhava suas garras em forma de lâmina.
‘Hum.’
Saquei minha adaga com a mão esquerda. Eu não estava acostumado a lutar contra lâminas duplas, mas não era impossível. Desviei as garras que visavam meu coração e pescoço com a adaga, balançando minha espada com a mão direita.
— …?!
Kishasha recuou apressadamente, mas a lâmina roçou na parte macia do seu antebraço, deixando um corte de onde escorreu sangue. Um ataque visando o fluxo de seus movimentos.
Kishasha mostrou seus dentes afiados e sacudiu suas mãos.
— Você estava escondendo sua força?
— Eu nunca escondi.
— Humph!
Kishasha chutou um toco de árvore e se lançou contra mim no ar. Plantei meus pés firmemente no chão.
‘Neste ponto.’
Eu não podia me dar ao luxo de perder isso.
Esta batalha revelou que o nível de poder inicial de Kishasha estava entre os melhores da categoria de quatro estrelas. Além disso, sua força de combate não diminuiu desde que atingiu o estágio intermediário.
‘O talento dela também é de primeira linha.’
É lamentável. Se nós dois tivéssemos crescido normalmente, eu estaria em desvantagem. Mas sou levimente dissimulado.
‘Mestre, lembre-se da coisa mais importante em um duelo.’
A voz de Ridgion ecoou na minha cabeça.
‘Sempre observar o oponente.’
A forma de Kishasha ficou turva, com suas garras apontadas para meus tornozelos. Dei um passo para trás e balancei minha espada. Kishasha girou no ar.
Eu balancei novamente. E novamente.
‘Esquerda. Esquerda. Direita. Acima. Acima. Centro.’
Não há necessidade de observar todo o movimento.
Se eu conseguir apenas escanear os movimentos principais, posso lidar com qualquer velocidade.
Portanto, não foi uma surpresa o que eu a atingi novamente.
— Urgh!
Kishasha (★★★★) está com Hemorragia. Seu vigor irá diminuir em intervalos regulares.
Kishasha cambaleou para trás. Eu balancei minha espada, espalhando gotas de sangue na escuridão.
— Você se tornou muito mais forte.
— Já passei por muita coisa.
Minha mentalidade também mudou, mesmo que um pouco. Sorri e joguei uma adaga. Kishasha a desviou como se não fosse nada.
‘Acho que aquela foi a última adaga.’
Bem, não há muito mais o que fazer. Deixei minha espada pendurada ao meu lado.
‘Transforme-se.’
Com um som mecânico, a lâmina do Bifrost se estendeu, transformando-se em uma espada larga. Por estar muito pesada, agarrei o cabo da espada o mínimo possível.
— Você…
Antes que Kishasha pudesse terminar, eu ataquei. A espada grande moveu-se diagonalmente para cima.
O ar gritou como se estivesse sendo dilacerado. Puxei a espada para trás e depois me virei, conectando um segundo golpe horizontal.
Com um estrondo, o corpo de Kishasha voou para longe, colidindo com um matagal. Ela bloqueou o ataque de alguma forma, mas não conseguiu lidar com o impacto.
‘Que pena.’
Matar Kishasha seria um desperdício. Ela é a única da Sala de Espera com quem vale a pena brincar. Jenna e Velkist estão quase, mas ainda não chegaram lá.
Apontei minha espada para o matagal.
— Ainda não acabou, não é?
Com um farfalhar, o matagal se agitou. E sua figura se contorceu.
> Habilidade única, Transformação foi ativada! <
Kishasha (★★★★) se transforma!
— Kraaaaaaag!
Ela saltou com o rugido feroz.
Desta vez, não consegui nem entender sua forma. Instintivamente, posicionei minha espada larga na frente. Foi como ser atropelado por um caminhão. Fui arremessado, rolando várias vezes.
Imediatamente, corrigi minha postura e recuei novamente. O solo entrou em erupção e pilares de terra subiram como se uma escavadeira estivesse cavando a terra.
Tirei a poeira do meu rosto. O que estava diante de mim era uma garota na forma de uma fera.
Seus olhos estavam animalescos, suas presas projetavam-se de seus lábios e seu cabelo era espetado como uma juba. Uma cauda listrada apareceu atrás de seus quadris.
‘Esta é a forma bestial dela?’
O que vi antes foi apenas um tigre. Ao que parece, ela pode se transformar em duas formas, humana e animal.
— Krur…
Kishasha mostrou os dentes. Como se provasse sua hostilidade, seu rabo levantado balançou.
Esta forma parece ser melhor em puro poder de combate.
‘Venha.’
Endireitei meus olhos e apontei minha espada para frente, pronto. E então Kishasha desapareceu.
‘…?!’
Hesitei por um momento.
Kishasha havia recolhido a terra sob meus pés e a jogou, fazendo a poeira turvar minha visão. Eu rolei ali mesmo.
Bum! Um enorme monte de terra irrompeu.
‘Ela é apenas um monstro.’
Não há problema em chamá-la de escavadeira viva. Sorri e abaixei minha espada. Mais uma vez, garras e lâminas se chocaram.
— Kraaa!
Além das garras, não havia nenhum indício de racionalidade nos olhos da fera. Ela parecia ter perdido completamente a cabeça, atacando sem hesitação mesmo em pontos vitais.
— É melhor assim. — Afastei suas garras, sorrindo. — Melhor do que ficar parada em um buraco.
Eu pulei para longe como se estivesse voando. E mais uma vez, corri para o lado oposto da floresta. Kishasha me perseguiu, espalhando detritos e folhas das árvores.
Das sombras, os olhos da fera emergiram vagamente.
Pé esquerdo para trás, pé direito à frente1.
Agarrei firmemente minha espada e apertei um botão em minha mente.
Han (★★★) começou a Exceder!
Rachadura.
O som dos ossos rachando veio de dentro do meu corpo. A dor dos músculos e ossos se despedaçando, sem exceção, vinha de todo lado. Minha visão ficou turva. Mordi minha língua com força suficiente para sangrar.
Minha visão clareou.
Kishasha, avançando em minha direção, apareceu à minha vista, parecendo um raio.
Meu sangue quente e ardente se espalhou e o tempo desacelerou.
— Recomponha sua mente — falei enquanto o fluxo do tempo estava lento.
【Despertar de Habilidade!】
> A habilidade Espada da Alma Perdida de Han (★★★) aumentou para o nível 2!
Abaixei minha espada longa. O próprio espaço parecia se despedaçar.
E trinta minutos depois, estava sentado em uma pedra quebrada, engolindo uma garrafa de água.
— Dói pra porra.
Eu tinha minimizado a saída para o tamanho de um fio de cabelo de sapo. Embora o poder de recuperação da Sala de Espera estivesse em vigor, a dor ardente não parava. Parecia que meus músculos estavam completamente dilacerados.
— …Ugh.
Kishasha, que estava deitada de bruços em um grande ‘X’, abriu os olhos.
— Acordou?
— Eu, eu…
— Levante-se. Durma mais tarde.
Eu joguei para ela uma poção de recuperação.
Clink. A mão de Kishasha levantou, mas o frasco de vidro quebrou, derramando a poção.
Que desperdício. Bem, ela deveria estar bem.
Kishasha piscou várias vezes enquanto estava deitada em sua forma humana, coberta de lama e sangue. Sua expressão era estranhamente serena.
— Eu perdi?
— Sim, eu ganhei.
Olhei para as profundezas da floresta.
Não poderia mais ser chamada de floresta. A terra e a grama foram destruídas e não era mais possível encontrar uma única árvore intacta. No meio da floresta, o chão foi dividido ao meio.
— Você realmente se tornou mais forte.
— Como eu disse, já passei por muita coisa.
— Mas por que… Você não me matou?
— Parece que você ainda precisa de um corretivo. Falando essas bobagens de novo. Ugh.
Comecei a tossir sangue.
Este poder é esmagador, mas é muito difícil de usar. Preciso encontrar uma maneira de usá-lo corretamente.
— Isso aliviou um pouco o seu estresse?
— …
— Quando fico muito tempo parado em casa, começo a pensar em coisas inúteis. Por isso vivo fazendo exercícios.
Se eu tivesse alguém com quem conversar, não teria chegado a esse ponto. Fazendo esses desvios problemáticos.
— …
Kishasha piscou os olhos várias vezes, olhando para o teto.
Se fosse outra pessoa, poderia oferecer algumas palavras de conforto, mas esse não é realmente o meu estilo. Eu apenas sentei na pedra, continuando a beber minha água.
— Hehe.
Kishasha soltou uma risada fraca.
— Meu povo…
— Estão todas mortas. Elas não vão voltar.
Decidi não mencionar novamente que subir ao topo da torre poderia trazê-los de volta à vida, porque não é cem por cento certo. Mesmo se voltassem, provavelmente perderiam todas as suas memórias, tornando as coisas diferentes.
— Eu entendo. — O sorriso de Kishasha ficou amargo. — Minha tribo está morta por sua causa, Han.
— Sim, isso foi um erro de julgamento da minha parte.
Eu deveria ter colocado Kátio em vez de Eolka no trigésimo quinto andar. Houve outros erros, mas esse foi o crucial.
— Assuma a responsabilidade.
— Que?
— …
Esperei por uma resposta, mas depois de alguns minutos não houve nenhuma.
Desviei meu olhar. Kishasha adormeceu esparramada, com sua caixa toráxica subindo e descendo a cada respiração. Ela realmente consegue dormir em qualquer lugar.
Parece que não preciso mais me preocupar.
Eu gemi enquanto me levantava, sentindo todo o corpo dolorido.
A floresta estava completamente arruinada.
Este lugar em breve será demolido. Não há razão para mantê-lo. Afinal, eu mesmo o destruí.
Eu olhei para cima. O céu era uma mistura de luz branca e cinza. Era de manhã.
‘Que merda.’
Tenho uma agenda apertada contando desde as primeiras horas da manhã. E eu não dormi. Dei um tapinha nas minhas costas doloridas e embainhei minha espada.
Olhei para Kishasha, que estava dormindo sem saber do mundo, e saí da floresta.
Algumas horas depois, eu estava no escritório lidando com documentos com Velkist.
— Você cheira a sangue. Com quem você brigou?
Velkist se virou para olhar para mim. Esse cara tem nariz de cachorro?
— Ah, lembrei. Aquela pirralha monstro. Você ganhou?
— Eu perderia?
— Claro, eu pensei isso.
Coloquei os documentos classificados na gaveta.
A reorganização da Sala de Espera está quase concluída. O treinamento recomeça amanhã e, se tudo correr bem, planejamos continuar a subida da torre em uma semana.
— Então, o que aconteceu depois que você ganhou? Você pessoalmente arrancou a cabeça dela?
— Bobagem.
Realmente, ele parece dizer tudo o que vem à mente.
— Como vai o treinamento? Já faz um tempo desde que brigamos.
— Nada mal. É porque você tem evitado brigas, veterano. Estou pronto a qualquer hora.
— Assim que o trabalho de hoje estiver concluído, prepare-se para a próxima batalha de seleção.
Velkist parou de se mover.
— Do que está falando? A próxima batalha de seleção?
— Uma pessoa forte se juntará a nós. Mas há apenas cinco vagas.
— Eu, Jenna, Kátio, você, Neryssa. Temos cinco pessoas.
Tirando eu mesmo, Jenna é a única com ataques de longo alcance do grupo, e portanto não pode ficar de fora.
O mesmo vale para Kátio, o mago. Eu não o deixaria de fora, mesmo que precisasse de um mecânico de dirigível. Se for necessário um dirigível, pretendo usar um mecânico.
— Você mesmo disse isso uma vez, não foi? Se você é fraco, você desce, e se você é forte, você sobe.
— Eu disse algo assim.
— Coloque isso em prática. Não existe mais camaradagem. Isso significa que não há piedade.
Não há vagas no segundo grupo. Se cair desta vez, não há como voltar atrás. A pessoa ficará de fora a menos que uma vaga seja aberta ou um novo grupo principal seja formado.
— Do que está falando…
Bam! A porta do escritório foi aberta. Velkist e eu voltamos nossos olhares para a porta ao mesmo tempo.
— Então este é o seu quarto? — Uma garota, que na melhor das hipóteses poderia se passar por uma adolescente, vestida com roupas de couro e descalça, falou.
— …Hm?
Velkist parecia perplexo.
Eu esperava isso. Terminei de guardar os documentos.
— Tem um cheiro estranho. É assim que são as casas humanas? — Kishasha cheirou e caminhou até a mesa. — Han. — Os olhos de Kishasha se voltaram para mim. — Coloque-me no grupo um.
- Isso me lembrou uma música.[↩]
Vai ter lutinhas novamente! Será que Velkist será o novo Aaron?
Enfim, não se esqueçam de ir ao Discord da Illusia caso encontrem um erro, queiram apoiar os autores/tradutores ou conversar com outros leitores!
Até a próxima~~
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.