Capítulo 65: Valor e Inutilidade (3) (Parte 2)

Velkist olhou para o homem se contorcendo no chão sob seus pés.

— Coloque seu braço de volta. Se você pressioná-lo na posição correta, irá retornar ao lugar. Você saberia disso se já teve seu braço amputado.

As pessoas na praça ficaram imóveis por um momento.

O sangue fluía da espada que Velkist segurava na mão direita.

— Voltei depois de um tempo e tem uma cena interessante acontecendo. Eu gosto muito disso. Minhas mãos estão coçando, há mais pirralhos como ele?

— Seu lunático!

Alguém escondido na multidão gritou.

— É melhor do que ser um maldito porco. Você não acha, sênior? — Velkist olhou para mim sorrindo.

Eu fiz uma careta.

— Por que está agindo sem saber a situação?

— Peço desculpas. Ele foi tão nojento que minha mão se moveu sozinha.

Velkist limpou o sangue e colocou a espada de volta na bainha.

Depois foi até a parede num canto da praça e encostou-se nela.

O homem estava rastejando em direção ao braço decepado.

‘Ele teve sorte.’

Se Velkist não tivesse intervindo, a mão de Isel teria esmagado seu crânio.

Isel aumentou sua altitude e voltou seu olhar para o terceiro grupo que acabara de entrar na praça.

[Então, vocês ouviram a notícia?]

— Você está falando sobre a divisão dos andares? O primeiro andar está rastejando na lama e o segundo andar é bem tratado.

[É um bom resumo. E vocês também estão no primeiro andar.]

— Não se preocupe. Vamos subir em breve — Velkist falou se alongando.

Neryssa, que foi para o lado dele, manteve os olhos fechados.

[Vou resumir novamente para os idiotas que não conseguiram entender. Dos trinta e cinco, treze ficam no segundo andar. Os restantes ficam no primeiro andar. O pessoal do segundo andar tem liberdade e poderão usar todas as instalações da sala de espera. O pessoal do primeiro andar não tem essas regalias. Se subirem ao segundo andar e forem pegos, irão morrer!]

Isel cerrou o punho ameaçadoramente.

[Se querem ir para o segundo andar, melhorem suas habilidades. Prestem bem a atenção, pois temos um exemplo perfeito aqui!]

Isel apontou para mim e levantou o nariz.

[Siga o exemplo do super ás que pode fazer qualquer coisa, Han! Vocês viram como eles foram no décimo quinto andar andar? Ah, não viram? E sequer podem imaginar. Táticas verdadeiramente engenhosas e… Ah, ah!]

Puxei a bochecha de Isel.

Mas já era tarde demais e a atenção estava focada em mim.

‘Acabei com outro papel cansativo?’

Eu já havia dito algo semelhante antes.

Respirei fundo e falei: — Se querem ser tratados como um ser humano, tem que mostrar suas habilidades. Seja em batalha ou algo assim. A Mestra está observando vocês. Se ela considerar suficiente, mesmo que não goste, ela te mandará para o segundo andar.

— Mesmo assim, isso não está indo longe demais? Fomos trazidos para cá sem saber de nada. E agora estamos sendo forçados a esse tipo de vida.

Um dos caras começou a chorar.

Velkist se separou da parede. Sua mão direita estava em sua bainha.

Eu falei com uma voz fria: — Não se atreva.

Velkist voltou ao seu lugar em silêncio.

Continuei.

— Somos iguais a vocês. Fomos arrastados para cá sem aviso. Não, foi ainda mais cruel que isso. Não é verdade, Jenna?

— Bem, isso é verdade. Nós nem tínhamos nada para comer. Teríamos acabado sintetizados imediatamente se cometêssemos um pequeno erro.

— Vocês acham que treinamos o dia todo porque somos idiotas? Isso é resultado de muito trabalho duro.

— Então… Está nos dizendo que devemos lutar ao seu lado?

— Sim.

Ainda não precisávamos de muitas funções de suporte ou de coleta.

A maioria deles se tornaria heróis combatentes e, entre eles, um punhado de indivíduos talentosos seria capaz de chegar ao segundo andar.

Um deles abaixou a cabeça.

‘Um lado aceita e o outro não. Estão divididos.’

Algumas pessoas pareciam imersas em pensamentos e havia alguns que já estavam descendo ao primeiro andar resignados.

Mas também houve quem demonstrasse claramente a sua insatisfação.

Foi uma resposta psicológica simples. Afinal, muito foi dado e agora foi tirado. 

Seu prazer foi roubado em um instante. Eles estavam fadados a ficar ressentidos. Esta parte foi um erro de Qlqr1.

Para facilitar a transição do sistema, o momento das invocações gratuitas deveria ter sido adiado ou as etapas deveriam ter sido implementadas gradualmente. Simplificando, o novo sistema foi estabelecido com firmeza, mas também rapidamente, e mudanças precipitadas podem causar reações adversas.

— Isso é um absurdo!

Como está acontecendo agora.

Um homem de meia-idade agradavelmente gordinho enxugou a testa e falou: — Não vamos aceitar isso. Ser tratado como lixo e ser mandado lutar? Onde está a lógica nisso!

— Esses merdinhas não seguiram as ordens mesmo quando estavam bem alimentados — Velkist zombou.

O homem não recuou e gritou: — Não é mesmo, camaradas?

— Sim. Recuperaremos nossos direitos legítimos!

Quase dez pessoas se reuniram instantaneamente. O gordinho sorriu de satisfação.

— Você achou que não saberíamos sobre o segredo que você está escondendo?

— Segredo?

— A maneira de forçar a Mestra a mudar a forma que está nos tratando. Sabemos que esse monstro não pode nos tocar. Você pode ter tentado esconder, mas nós descobrimos. Então? Se queremos ser tratados como seres humanos, por que temos que arriscar as nossas vidas lutando contra monstros? Isso não é uma loucura?

— Exatamente!

— De agora em diante, declaramos nossa recusa em participar!

As pessoas centradas no gordinho ergueram os punhos.

Com efeitos sonoros, a mensagem do sistema foi atualizada.

Eu ri.

— Vocês nem entendem o verdadeiro significado disso.

Tirei minha espada do cinto e coloquei-a abaixo dos meus pés.

Empurrei-a com o pé e ela girou no chão da praça, deslizando em direção ao grupo.

— Corte um de seus braços com essa espada. Assim como aquele cara. Então vou poupar você.

Apontei para o homem que tentava desesperadamente recolocar o braço decepado.

O gordinho falou como se estivesse olhando para um louco.

— Você enlouqueceu?

— Eu não posso te ajudar se você não me ouve. Considerem isso como um conselho gratuito.

O chão chacoalhou por um momento, anunciando que o portão da Oficina de Síntese estava aberto.