Capítulo 296: Ragnarok (1)

Tradução: Nimsay

Inalei profundamente e expirei, e depois repeti o exercício. Aproveitei lentamente o ar enchendo meus pulmões.

O ar naquele lugar estava misturado a um forte cheiro de sangue, pólvora e um aroma peculiar de metal, criando uma sensação desagradável.

‘A Sala de Espera de Taoni, onde minha segunda vida começou.’

Cheguei aqui sem saber de nada e lutei desesperadamente para sobreviver, matando e esmagando outros. 

— Uuuh. — Abri meus olhos depois de soltar o ar. A vista do Centro de Fomento apareceu diante de mim.

Não havia mudado muito desde a última vez. Exceto que Nisled e os assassinos de Niflheim que me atacaram não estavam mais lá.

Toquei em Bifrost, que está na minha cintura. A cada batida do coração, algo quente se espalhava pelo meu corpo. Esse foi o presente que recebi deles.

Um poder sem precedentes está fluindo em minhas veias, tornando-se mais intenso.

Do nada, algo entrou no meu campo de visão.

O enfraquecimento aplicado aos heróis havia se intensificado consideravelmente.

Três quartos de todas as suas habilidades, resistência a efeitos de status e poder mágico foram reduzidos, enfraquecendo drasticamente suas habilidades e Gravuras.

‘Repressão forçada.’

Eu ouvi falar disso por meio de Isel.

Ao se deparar com uma conta grampeada que não pode ser gerenciada de forma alguma, Omega Zero, a CEO, emite um decreto de emergência nesse campo.

Meu corpo estava anormalmente pesado, como se estivesse sob uma maldição.

Não importa quão bem treinado um herói seja, com tais limitações, não será capaz de mostrar nem uma fração de suas habilidades.

‘…Nesse caso.’

Com um estrondo, abri a porta do Centro de Fomento e saí.

Ao lado da fonte no centro da praça, heróis vestidos com uniformes de Niflheim estavam empilhados.

— Alvo localizado. Iniciando supressão.

O trinta pessoas do esquadrão especial de Mobius, agrupados perto da fonte, começaram a se mover.

Era óbvio à primeira vista que eles não são simples soldados. São armas treinadas exclusivamente para a guerra.

Eram as verdadeiras elites de Mobius, diferentes dos guardas com quem lutei na balsa dimensional.

Eles usavam capacetes cobrindo suas cabeças inteiras, à prova de balas, à prova de magia e resistentes a cortes, armados com rifles de assalto totalmente automáticos projetados com tecnologia avançada. Seus movimentos eficientes mostravam que tinham passado por um treinamento rigoroso.

O líder, que estava murmurando algo em seu comunicador, deu um passo à frente. Seu rosto também estava coberto por um capacete e uma voz mecânica vinha de dentro.

— Mestre Loki, renda-se pacificamente. Este lugar já foi tomado. Se resistir, não podemos garantir sua segurança.

As armas estão mirando nas minhas possíveis trajetórias, com as bocas dos canos apontadas para diferentes pontos e lugares. Não importa para onde fosse me mover, eles iriam me acertar. Estavam antecipando meus movimentos, mostrando um nível extremamente alto de treinamento.

— A Sala de Espera já foi totalmente tomada? — falei, sorrindo com desdém.

‘Não, eu ainda consigo sentir a presença de inimigos e heróis nos andares superiores.’

Eles provavelmente usaram teletransporte coordenado para enviar um pequeno grupo de forças especiais aqui primeiro.

— Este lugar está sob estado de Supressão Forçada. Se não se desarmar imediatamente, nós atiraremos…

— Isso é o que eu deveria dizer — murmurei num tom preguiçoso. — Se não quiserem morrer, afastem-se. Estou com pressa.

— …Iniciando a supressão do alvo — o líder falou e levantou a mão.

Tatata-tatata-tatatata! Dezenas de balas de cinco milímetros foram disparadas simultaneamente a uma velocidade de novecentos metros por segundo.

‘Hum.’

As balas pareciam estar imbuídas de uma maldição poderosa. Se me atingissem causariam não apenas dano físico, mas também dano mágico.

Uma combinação de ciência e magia. Que notável.

As balas giravam ferozmente, avançando em minha direção. Mas, para mim, elas estavam devagar. Muito devagar. 

O mundo parecia ter desacelerado para milissegundos.

Fechei meus olhos. Finalmente consigo sentir o verdadeiro poder dos seres antigos que governaram e dominaram uma dimensão.

‘Lantia Nior.’

Uma espécie transcendente conhecida como Rei Terreno Vermelho. A santa havia tomado emprestado seu poder e me causou muitos problemas. Mas o poder que a santa usou não passava de pó comparado ao real.

Abri meus olhos.

À distância, vi minhas pupilas vermelhas refletidas na parede de metal. Agora posso ver as probabilidades de visão futura. Em termos leigos, era uma Clarividência.

Consegui ver as inúmeras trajetórias vermelhas das balas na minha frente, prevendo as rotas que elas tomariam.

‘Probabilidade de impacto… noventa e nove vírgula noventa e nove por cento?’

Virei meu corpo ligeiramente e o tempo que estava quase congelado começou a se mover.

Um passo para a direita, dois passos para trás, três passos para a esquerda e um pequeno salto à frente.

Isso foi o suficiente para que as noventa e três balas atravessassem o ar vazio.

— …?!

Não tenho motivos para desembainhar minha espada. Preciso apenas me mover em direção a eles enquanto giro meu corpo.

Bati no queixo do que estava na frente com a palma da minha mão. O vidro do capacete à prova de balas se estilhaçou com um estrondo e uma explosão de sangue vermelho saiu.

— Preparem-se para o combate corpo a corpo!

Pzzzzt! Todos eles sacaram seus cassetetes de supressão simultaneamente. A superfície dos bastões foi carregada com pelo menos centenas de milhares de volts.

— Ataquem!

Esbocei um sorriso.

‘Eu consigo ver tudo.’

Não era uma habilidade desenvolvida por meio de treinamento e experiência marcial. Eu consigo ver como eles vão agir, e como, e quando, vão se mover.

Eu simplesmente consigo ver.

Bum! Bum-bum! Bum! A cada movimento do meu braço um membro do esquadrão especial, transformado em uma poça de sangue, voava.

Nem as armaduras mais resistentes nem os capacetes avançados imbuídos de feitiços podiam protegê-los.

— Precisamos… de reforço… — Um deles caiu dentro da fonte, que ficou vermelha de sangue. — Deveria ter uma redução… de setenta e cinco por cento nas estatísticas…

— Mesmo que chegue a cem, o resultado não vai mudar.

Dei um soco no vidro do capacete e o membro do esquadrão especial, com o rosto esmagado, caiu morto.

— Mantenham distância! Cerquem e atirem!

Eles estão mudando sua estratégia, se dispersando em direções diferentes enquanto recarregam seus rifles.

Naquele momento, em um canto da praça, o espaço se distorceu e um portal dimensional foi criado. Provavelmente estão trazendo mais tropas. Eu voei até lá e enfiei meu dedo indicador no portal, que estava prestes a se formar, fazendo-o desaparecer.

— O-o quê… como…?

Bati meu pé com força no chão ao ponto de causar um grande estrondo.

Estendi minha mão direita e um homem, que tremia ao recarregar seu rifle, foi arrastado em minha direção.

— Ah!

— Olhe nos meus olhos.

Aproximei meu olho direito do seu rosto.

‘Mudança definitiva do futuro, a segunda habilidade do Rei Terreno Vermelho..’

Zzzzt! Um raio vermelho disparou do meu olho direito.

— Você matará todos os seus camaradas e logo depois vai se suicidar.

O homem em silêncio começou a tremer incontrolavelmente. E logo depois, cambaleando no lugar, começou a atirar indiscriminadamente em seus companheiros do esquadrão especial.

Ratata-tatata! Os membros do esquadrão, transformados em colmeias pelas balas, caíram um após o outro.

Depois de matar todos os seus companheiros, o homem colocou o cano do rifle sob o queixo. Com um único tiro, a uma poça de sangue formada pelos corpos estava se expandindo.

Respirei fundo e estalei os dedos. Os corpos começaram a tremer e emitiram partículas brancas.

As partículas se transformaram em raios de luz que foram absorvidos pelo meu corpo.

‘Este é… o verdadeiro poder dos seres antigos.’

Eu só tinha usado o poder de um dos quatro. Era quase risível, uma trapaça tão absoluta não existe.

‘Com um poder desses…’

Os deuses, apesar de terem um poder aterrorizante, não vão ficar parados.

Tudo o que fizeram foi se fazer de superiores enquanto exploravam os habitantes de sua dimensão. O que aconteceu em Taoni foi apenas uma pequena parte. Eles zombaram e brincaram com os destinos dos heróis, na tentativa de continuar governando até o último momento de destruição. Sem que eles corram os riscos.

‘São trinta e dois.’

Esse era o número de divindades existentes em todo Mobius, de acordo com as memórias de Lantia e Shutenberg. Cada um ocupava uma posição elevada na Mobius, com Tell, a CEO, no topo.

‘Um monte de estrume estragado.’

Sorri largamente.

É bom que existam tantos. Se fossem poucos, não teria sido tão divertido matá-los.

Com um barulho, um novo portal dimensional se formou. Talvez trazendo mais tropas.

‘Eles não aprendem?’

Fechar o portal com minhas próprias mãos foi uma consideração minha. Achei que deveria primeiro lidar com o caos na Sala de Espera.

Mas se continuarem assim, irei mudar meus planos.

— Isel.

[…]

Uma pequena fada apareceu em meio à poeira estelar. Ela olhou para mim com uma expressão assustada.

[Você… é realmente… Loki?]

— Porque a pergunta?

[Você está… assustador.]

Isel fechou os olhos com força enquanto seu corpo tremia violentamente.

[Um poder desses… com uma intervenção tão aterrorizante…]

Faz sentido, afinal absorvi quatro divindades e milhares de ‘heróis’ simultaneamente. Mas isso é só o começo.

Restam trinta e dois pedaços de lixo. Se eu absorvê-los, poderei até enfrentar o chefão supremo.

— Não tenha medo. Você não pode ficar desse jeito se vai ser minha subordinada, né? — Sorri e coloquei minha mão na cabeça de Isel.

Dei um tapinha nela gentilmente. O corpo trêmulo começou a se acalmar.

[Você… é realmente… Loki?]

— Houve alguns eventos internos. Não é fácil explicar agora.

[…]

— E eu tenho algo para lhe contar.

Isel olhou nos meus olhos, temerosa.

— De agora em diante, vou destruir a Mobius Ltd. no servidor um. — falei em tom monótono.

[…]

— Vou matar todos eles. Diretores, CEO, qualquer um que ficar no meu caminho. Não importa se eles fugirem. Vou segui-los até os confins do inferno.

[O que…?]

— Escolha, Isel. Você ficará ao meu lado ou retornará para a empresa?

[Eu…]

Olhei nos olhos de Isel.

Ela é apenas uma gerente de baixo escalão na Mobius. Eu poderia ignorá-la se quisesse. Poderia fazer qualquer coisa que ela pudesse fazer com facilidade agora.

‘Mas…ela já me ajudou muito.’

[Loki.]

— Sim?

[Se eu estiver com você, posso me tornar alguém real?]

Alguém real? 

Bem, suponho que ter esse desejo seja possível. Agora, ela é apenas uma das muitas fadas espalhadas por milhares de saguões que podiam ser facilmente substituídas. Deveria existir um bilhão delas, com o mesmo nome e aparência.

Mas, só existe uma Isel que importa para mim.

— É claro que posso — sorri enquanto respondia.

[Uh-huh.]

Isel enxugou as lágrimas dos olhos e empoleirou-se no meu ombro. Ela havia tomado a decisão de opor-se aos seus criadores.

‘Vou ter que pensar em um novo nome para ela depois que tudo isso acabar.’

Mas isso pode esperar, há muito lixo espalhado.

É hora da faxina1.