Capítulo 133: O Vasto Mar (2)

Tradução: Nimsay

— Realmente, é impossível trabalhar com você.

Paf! Jenna bateu nas minhas costas.

— Por que me bateu? Isso dói.

— Você deveria ter dito algo antes de fazer aquilo. Você me assustou.

— Mas eu avisei.

— Você chama aquilo de avisar? ‘Jenna, me cubra.’ E então simplesmente pula em um mar repleto de monstros. Achei que meu coração fosse parar.

Jenna terminou de enrolar um curativo na palma da minha mão e borrifou uma poção nela.

Uma dor aguda percorreu meu pulso. Tentei mover minha mão esquerda; a dor era suportável. Não houve obstáculo significativo ao movimento.

‘De alguma forma, funcionou.’

Eu olhei em volta.

Cadáveres de tubarões e tritões flutuavam no mar. O oceano estava manchado com o sangue deles.

A tática era simples.

Usando a atração dos tubarões pelo cheiro de sangue, cortei a palma da mão e os atraí para longe do navio. Ataquei os tubarões com minhas adagas e a cobertura de Jenna. Os tritões foram derrotados pelo resto do grupo.

Foi uma improvisação, mas funcionou bem.

Coloquei uma luva na mão esquerda e me levantei. Depois de avaliar a direção na bússola, agarrei o remo.

— Vamos. Não temos tempo a perder.

— Você consegue remar com essa mão machucada?

— É apenas um arranhão. Não é nada.

Eolka suspirou baixinho. Ela não foi capaz de fazer agir nesta batalha. Ela tinha telecinesia, mas não era forte o suficiente para ser um ataque principal.

— …Irmã.

Jenna olhou para Eolka com uma expressão amarga.

Eolka baixou a cabeça e agachou-se num canto do barco.

— Este não é um lugar onde eu gostaria de ficar.

Velkist remou pelo lado direito. Eu sincronizei seus movimentos. Assim, o barco começou a cortar o mar com a força do vento e dos remos.

As ondas eram quase inexistentes. A superfície da água estava calma e a direção do vento correspondia ao nosso destino. 

Depois de cerca de duas horas, uma coluna de água subiu e uma figura escura apareceu.

Tinha cerca de dois metros de altura e uma aparência bizarra de peixe misturado com humano. Água escorria de suas escamas azul-escuras.

— Kyaaah!

A criatura que subiu a bordo do barco rugiu, babando. Bum!

— Kek!

Meu remo, agora meio esmagado, colidiu brutalmente com o rosto da criatura.

Depois de acabar com o tritão, que se contorcia, com uma adaga, joguei-o de volta no mar.

— Esses caras têm o hábito de subir em barcos, lembrem-se disso. Será uma grande ajuda.

— Uau, isso foi rápido.

— Vamos mudar a dupla.

Neryssa e Jenna assumiram os remos.

O barco retomou a viagem, embora num ritmo um pouco mais lento. 

Não houve grandes crises. Ocasionalmente, os tubarões circulavam sob a água e os tritões causavam problemas.

Afinal, era apenas um subestágio. Enquanto permanecêssemos alertas, a chance de falhar era quase nula.

‘O problema é quando esta missão termina.’

O barco seguiu firmemente a bússola.

Eu precisava saber se a próxima missão teria um ambiente semelhante ou se haveria mudanças. Se o trigésimo segundo andar progredir assim…

‘Não tinha escapatória.’

Olhei para Eolka. Embora ela dissesse que poderia remar usando telecinese, era muito complicado e ela acabou sendo apenas um fardo.

— Por que estou neste estado…

— Maga, por que não tentar aprender outra magia elementar?

— Você acha que é tão fácil? Os conceitos fundamentais são completamente diferentes.

Eolka levantou os joelhos.

A missão terminou após passar um dia e uma noite no barco em alto mar.

Minhas suspeitas foram confirmadas. O trigésimo segundo andar também será no mesmo terreno.

— Esta missão é realmente irritante. Estou com cãibra, meus braços doem e foi muito chato — Jenna murmurou como se estivesse farta e atravessou a Fenda no Espaço-Tempo.

Velkist a seguiu e Neryssa olhou brevemente para Eolka antes de ir para a praça.

— … Ei.

— O que?

No momento que Eolka ia falar, Qlqr1 manipulou uma janela do jogo.

— Vou tentar a magia do vento assim que…

[Surpresa!]

Isel apareceu dando uma tripla pirueta.

[Eolka Rivel Strashur! A partir de hoje, você está fora do Grupo Um. Descanse bem até que a Mestra lhe chame novamente!]

Depois de terminar, Isel piscou maliciosamente e desapareceu em um flash de luz.

Sorri.

— Parece que é esse o caso.

— Descansar?

— Sim, você foi liberada.

— Por quanto tempo?

O conceito do terreno tende a permanecer o mesmo a cada cinco ou dez andares.

Eu suspirei e disse: — Trigésimo quinto andar ou talvez quadragésimo.

— Isso é muito tempo! Se eu descansar tanto, ficarei enferrujada!

— Não posso evitar. São as ordens da Mestra. Não há razão para objetar.

Se houvesse um pequeno motivo, eu poderia ter intervindo, mas considerando os acontecimentos no trigésimo primeiro andar, havia nada que eu pudesse fazer.

Os olhos de Eolka tremeram como se estivesse em um terremoto.

— Por que tal reação? Você sempre falou que queria descansar.

— Mas…

— Não se preocupe. Eu não vou lhe abandonar. Vou lhe chamar quando chegar a hora certa.

— Ah, ah! — O rosto dela ficou vermelho e ela gritou. — Mestra! Pare me tratar como um obstáculo! Então sou inútil, né? Aprenderei outros elementos se for preciso, é só esperar!

Eolka saiu furiosa da Fenda no Espaço-Tempo.

‘Elementos diferentes.’

Não será fácil. Elementalistas geralmente só têm talento em um elemento.

‘Eu deveria pedir a Chloe para fazer algo saboroso para ela.’

Era uma pena, mas Eolka estava fora desta missão.

Sorri amargamente e saí.

Na noite seguinte, como esperado, Qlqr1 convocou o grupo um para o trigésimo segundo andar.

[Grupo Um, reúna-se!]

Mas havia uma diferença.

— Está me dizendo para ir junto com vocês? Mas a aeronave ainda está…

— Pare de falar e venha.

— Ei, espere! Aaaah!

Arrastei Kátio até o primeiro andar.

Depois de entramos, o portão da Fenda no Espaço-Tempo se fechou.

— Irmã Eolka não está…

Jenna enrolou o cabelo ruivo com os dedos.

— Ela não vem desta vez. Eu já tinha avisado.

— Hum…

Antes de sair, a vi enterrada em uma pilha de livros no Salão da Magia.. 

Falei com Kátio, que estava parado, estupefato.

— De agora em diante, você faz parte temporariamente do grupo um. Lembre-se disso.

— Pera, o quê? Por que está dizendo isso agora!?

— Você dormiu o dia todo.

— Porque virei a noite trabalhando na manutenção!

— De qualquer forma, isso vai acontecer. Sinto muito por ser tão repentino.

— E-está tudo bem.

Kátio examinou os membros do primeiro grupo com olhos desconhecidos. Velkist estreitou os olhos.

— O que você está olhando?

— … Nada.

A mensagem indicando o início da missão apareceu.

— Estaremos de volta em breve, certo? — Pouco antes de ser envolvida pela luz, Jenna murmurou.

— Vamos — Neryssa respondeu com um leve sorriso.

O cenário a nossa frente mudou.

O vento salgado roçou minhas bochechas. Novamente vemos o mar e o barco. A missão continuou diretamente do final do trigésimo primeiro andar.

— Estamos no mar?

Kátio inclinou a cabeça.

Expliquei o esboço básico da missão a Kátio.

Precisávamos seguir a direção da agulha da bússola e esperar ataques de monstros ao longo do caminho.

— Basta seguir a bússola, certo?

— Velejar e remar…

— Por que se preocupar com isso? É tão problemático.

Kátio falou com desdém e estendeu a mão. Fios mágicos espiralavam atrás do barco, formando um redemoinho.

Vump! O barco avançou como uma lancha.

Velkist, que manteve o equilíbrio no barco que balançava constantemente, perguntou.

— Como você fez isso? Magia do vento?

— Não, eu criei um dispositivo de propulsão improvisado com magia.

Uma rajada de vento atingiu minhas bochechas. A velocidade ultrapassa facilmente uns vinte a trinta quilômetros por hora. O barco atravessou a água, deixando espuma para trás.

‘O vento está contra nós desta vez.’

O vento soprava na direção oposta ao nosso alvo, mas o barco avançou sem demora. Comparado ao trigésimo primeiro andar, foi várias vezes mais rápido.

— Parece que temos trabalhado em vão até agora — Velkist falou com amargura. — Deveríamos simplesmente jogar fora esses remos?

— …Basta colocá-los no canto.

Num instante, os remos tornaram-se inúteis.

Depois de um tempo, sombras escuras começaram a seguir o barco pelas laterais.

Tirei minhas luvas. Eu ainda era o único capaz de nadar.

— Faremos aquilo de novamente.

— Você vai atraí-los e eu vou cobrir, certo?

— Isso mesmo.

Decidi cortar a palma da mão assim que entrei na água.

Segurando uma adaga, aproximei-me da borda do barco.

— Espera.

Kátio mergulhou a mão direita no mar.

Traa-Tssh! Nove tubarões surgiram ao redor do barco, inconscientes.

Os olhos de Jenna se arregalaram.

— O que foi isso?

— Eu enviei um campo eletromagnético para derrubá-los. Os tubarões têm órgãos sensíveis à eletricidade — Kátio respondeu.

— O que mais esse cara pode fazer? — Velkist falou calmamente comigo.

Kátio acenou com a mão e o barco partiu novamente. Eu já havia perguntado o que ele poderia fazer antes. Eu até o levei para uma batalha para ver isso em ação.

Mas parece que ele era capaz de fazer muito mais.

‘Afinal, ele é um mago estudioso.’

Embora os magos estudiosos sejam talentosos em certas coisas, este parecia capaz de muitas coisas. 

Comecei a questionar Kátio com mais afinco.

— Você pode manipular a tensão superficial?

Sem hesitar, Kátio saiu do barco. Ondulações circulares se espalharam quando seus pés tocaram a superfície.

— Sim, desse jeito. — Kátio estava na água. — Eu posso fazer isso por vocês também. Existem algumas condições, no entanto.

Parece que podemos nos mover na superfície da água se ele nos apoiar com sua magia.

Durante o lançamento, outras magias não poderiam ser usadas, mas a duração é quase infinita. Se você tomar cuidado com impactos fortes, não seria dissipado mesmo com movimentos bruscos. É como agir em terreno plano.

— Se esse cara estivesse conosco no trigésimo andar… Muitas coisas teriam sido diferentes. — Neryssa engoliu com dificuldade.

‘Não é apenas na água.’

Nós poderíamos subir verticalmente um penhasco de noventa graus usando magia. Não haveria necessidade de arriscar escalar os braços da estátua.

— Eu estava errado sobre você. Você é muito útil. Estou ansioso para trabalhar com você — Velkist disse.

— A irmã também poderia fazer isso. Ela disse que aprenderia rapidamente.

— Elementalistas não podem. A natureza de sua magia é diferente — Kátio falou com firmeza.

Jenna abaixou a cabeça, parecendo desapontada.

‘Bem, veremos¹.’

O barco continuou a se mover. Não há necessidade de remar, nem de estar em alerta máximo. Se os inimigos se aproximassem, Kátio me informaria antes mesmo que a mensagem de aparição aparecesse.

— Esta missão parece dez vezes mais fácil, não é?

— É a situação certa para isso.

Inimigos comuns foram superados acelerando o barco e, caso contrário, foram eliminados usando magia auxiliar.

A dificuldade desta missão vinha totalmente do ambiente. Com as condições certas reunidas, as batalhas não duravam nem cinco minutos.

E foi assim que um dia e uma noite se passaram.

— …

No limite do horizonte, um leve ponto marrom flutuou. 

Neryssa estreitou os olhos.

— Parece um grande veleiro.

Olhei para a bússola. A agulha vermelha apontava na direção do navio.

‘Essa é a única opção.’

Virando-se, Kátio assentiu e acenou com a mão. A velocidade aumentou significativamente. Gradualmente, o ponto se expandiu.

Era um grande veleiro de madeira com velas enormes penduradas em vários mastros. A diferença de altura era superior a dez metros.

Nosso barco logo os alcançou enquanto deslizava pela água.

Eu olhei para cima. Na amurada do navio, alguém observava o mar com uma expressão preocupada.

— …Ah.

Um suspiro escapou dos meus lábios. Olhos dourados, que percorriam o mar, de repente se voltaram para mim.

— O que…!?

— Como você está?

— O que você está fazendo aí!?

‘É ela de novo.’

Sorri amargamente.

1. Que isso Han, não me dá esperança, que eu gosto![↩]