Capítulo 144: Turbulência (1)

Tradução: Nimsay

A luz entrou no corredor.

As paredes e o chão eram de pedra azulada, com nada além de luzes brancas iluminando o espaço. Não havia armadilhas complexas, nem monstros cruéis. A única ocorrência foi o eco dos nossos passos a cada passo dado.

‘Não temos muito tempo.’

Bum! Vários pedaços de pedra caíram. O Dragão Aquático estava destruindo o templo. Se isso continuasse, todo o lugar seria submerso junto com a chave.

Apressei meu passo com Eolka seguindo no ritmo.

— Ouça atentamente.

Virando-me, encontrei o olhar de Eolka. Ela estava tensa, mas parecia estar tentando se acalmar.

— Somos os únicos que sobraram aqui. Se uma batalha começar, não poderei protegê-la perfeitamente. Você precisará se proteger. Consegues fazer isso?

— Me proteger, entendi.

— Use magia para ataques rápidos e mantenha seu corpo seguro. Se sentir que está em perigo, deixe tudo comigo.

— Tá. Mas eu posso fazer a minha parte.

Eolka olhou para mim com olhos determinados.

Eu estava prestes a dizer algo, mas fiquei em silêncio. Não tivemos escolha a não ser seguir em frente.

Uma masmorra que deveria ser atacada por cinco pessoas. Originalmente, este lugar deveria ter sido acessado após lidar com o Dragão Aquático, totalmente preparado.

No entanto, um pequeno incidente distorceu todos os planos e estávamos à beira da aniquilação. Se Eolka e eu falhássemos, seria o fim. Tínhamos esgotado as Lágrimas da Sereia. Não havia mais tempo de sobra.

Bum! O teto desabou, bloqueando nosso caminho. 

Pulei levemente sobre a pedra e estendi a mão para Eolka.

— Obrigada.

Eolka agarrou minha mão e se aproximou. Minutos se passaram no que parecia ser um corredor interminável até que a cena mudou repentinamente.

Dei um passo à frente com a mão no punho da espada.

Uma grande câmara circular estava diante de nós, banhada por uma luz azul. Grandes pilares de pedra foram colocados em intervalos regulares por todo o espaço.

— …Eolka.

— Eu percebi. — Ela apertou os lábios com força.

Shring. Eu saquei minha espada.

Uma sombra que se contorcia atrás de um pilar emergiu.

Cinco desses desgraçados. Seus olhos estavam degenerados e a cor de sua pele era estranhamente pálida. Eles tinham cerca de três metros de altura e eram consideravelmente mais volumosos que um tritão normal.

— Gorgo, gurr…

O tritão se aproximou com um som fervente, empunhando espadas e lanças enferrujadas.

— Lembra do que eu disse?

— Ataques rápidos, evitando o perigo se necessário.

Acenei, segurando minha espada com força.

— Venham!

— Giiiiiirrrg!

O tritão avançou com um grito dilacerante.

Clang! Eu bloqueei a enorme lâmina do machado. A força era entorpecente. Cerrei os dentes e o desviei. Virei meu corpo, acertando um golpe giratório. Um forte impacto percorreu meu corpo e a metade superior do corpo do tritão voou no ar. 

Sangue negro e entranhas foram derramados.

【Draste Siradus!】

O tritão escorregou no chão e o feitiço de Eolka o seguiu.

【Ardeat!】

Chamas irromperam das mãos de Eolka, engolfando o tritão caído. O monstro gritou em agonia, contorcendo-se.

— Esteja sempre atenta à sua volta!

Movi-me rapidamente, avançando e brandindo minha espada. A lâmina afundou no pescoço de um tritão que tentava esfaquear Eolka. Quando puxei minha mão para trás, a cabeça decepada deslizou na diagonal.

Os cinco tritões caíram sem deixar vestígios.

Mas não havia acabado.

— Gurgle, kek, giiiiirrr.

Mais deles apareceram por trás dos pilares.

‘Onde está a saída?’

A entrada pela qual passamos fechou-se quando chegamos, e a porta na parede oposta permaneceu fechada.

‘Temos que derrotar todos eles?’

— Squeeees!

O tritão gritou estranhamente, balançando suas armas.

Clang! Desviei a lâmina com a proteção do antebraço esquerdo e enfiei a mão no olho. Quando puxei para fora, o globo ocular saiu junto com o nervo óptico.

— Kuuuugk!

Num piscar de olhos, saquei uma adaga e enfiei no olho. Tive a sensação de agitar o cérebro. A criatura desabou sem vida.

— Urg!

Eu olhei. O vestido de Eolka estava rasgado e o sangue escorria.

— Estou bem!

Bam! Eolka agarrou a bainha do vestido e chutou o tritão que se aproximava. Uma bola de fogo que ela conjurou bateu diretamente no rosto da criatura.

— Eu disse para você recuar se for perigoso!

— Estou fazendo isso!

Sacudi minha espada e mais sangue negro espirrou. Dez cadáveres jaziam no chão.

A segunda onda de monstros foi eliminada.

— Gluger, huhhh, kiirg…

‘Uma terceira onda?’

Eu teria preferido armadilhas ou enigmas. Isso pode ser resolvido intelectualmente.

Mas este era um puro teste de força e, mesmo aqui, o infortúnio desempenhou o seu papel. Cerrei os dentes.

A última criatura cortou minha cintura ao cair.

Não houve tempo para tomar uma poção. Amarrei minhas roupas com força e continuei a luta.

À medida que buracos nas paredes se abriam, criaturas saíam em sucessão.

Os corpos começaram a se acumular sob meus pés. Ao mesmo tempo, meus ferimentos aumentaram. Já havíamos esgotado muita de nossa resistência no combate subaquático e, só com nós dois, era impossível formar qualquer estratégia.

— Eolka! Fique na parede!

Trak! O arpão de um tritão quebrou.

Avancei, minha lâmina cortando desde o ombro da criatura até a parte inferior do corpo. Depois de chutar o cadáver para o lado, recuei para a parede.

‘Vinte e um? Que ignorância…!’

Eles estavam fervilhando de todas as direções, nos sobrecarregando com seus números.

— Ei, seus bastardos! Você não tem consciência? — Gritei enquanto balançava minha espada, cortando os tritões como se fossem palha.

Seu sangue, entranhas, carne e armas estavam espalhados por toda parte.

‘Mesmo cinco pessoas estariam em perigo!’

Avancei, derrubando os cadáveres.

Balancei minha arma várias vezes. E de novo. E de novo.

Minha visão escureceu. Limpei o sangue do meu rosto e brandi minha espada novamente até que tudo ficou preto.

E depois de um tempo, respirei fundo.

— …Ah.

Quase cem tritões estavam diante de mim, todos mortos.

O sangue negro que derramaram formou poças diante de mim.

Quando limpei a lâmina da minha espada com um pano, ela rapidamente se transformou em um pano inútil. Eu joguei fora.

‘Ela precisa da poção de cura.’

Aproximei-me de Eolka, que estava encostada na parede.

Peguei a última poção que tinha. Tirei a tampa e levei-o aos lábios de Eolka.

— Beba.

— Estou bem.

Forcei a boca de Eolka a abrir e despejei a poção.

Mais da metade da poção transbordou, derramando-se na gola de suas roupas.

Levantei a barra das roupas de Eolka e vasculhei seus bolsos.

Havia uma poção de resistência. Eu destampei e coloquei em sua boca. Isso também transbordou.

— Que desperdício.

— …

— Eu não me arrependo. Eu escolhi ir com você.

‘Foi mesmo.’

Eu caí no chão.

— Fui útil?

— Muito.

Metade dos cadáveres estava extremamente carbonizados. Eu pedi feitiços simples, mas feitiços de alto poder foram lançados várias vezes.

— Isso é um alívio — Eolka sorriu fracamente. Seu esplêndido vestido estava encharcado de sangue. — Há muita coisa que quero dizer… mas de alguma forma, não consigo encontrar as palavras.

— Seriam suas últimas palavras?

Os olhos de Eolka escureceram.

— Últimas palavras?

— Fale. Vou me lembrar delas.

A voz de Eolka desapareceu. Lágrimas brotaram. Sangue vazou de seus lábios endurecidos e azulados.

— …

— Se está cansada, apenas fique quieta. — Pausei por um momento. — Sinto muito por sempre repreender você.

— …Idiota.

Fechei os olhos de Eolka. Seu corpo que estava encostado na parede afundou.

‘Idiota.’

Eu admito, sou um idiota.

Eu subestimei este mundo. Nunca havia falhado antes e todas as tentativas levaram ao sucesso. 

Porque eu sabia de tudo. Achei que não haveria problema em me afastar um pouco.

‘Eu sou um idiota.’

Não foi culpa dela. Era minha.

Por escolher Eolka em vez de Kátio. Por deixar o Dragão Aquático cuspir fogo. Por deixar o navio pegar fogo. Por tudo que levou a esta situação.

— …

Eu cambaleei e fiquei de pé.

Ainda não acabou. A porta do próximo corredor estava aberta.

Arrastei meus pés para frente.

‘…Devo usar a invocação de arma?’

Impossível.

Convocar uma arma durante uma missão requer três chances, mas eu já usei uma, tornando a convocação impossível.

Eu tinha que resolver a situação atual sozinho.

Várias chances de mudar as coisas passaram diante dos meus olhos, mas eu apaguei essa visão. Olhar para trás agora significaria que Eolka morreu em vão.

Uma luz roxa brilhou na minha frente. Qlqr1 estava agitando um bastão fluorescente.

Claro. Isso é tudo que você pode fazer agora.

Bum! O teto tremeu mais uma vez. 

Atravessei o corredor. Mesma estrutura de antes. Não há diferença. Exceto que alguém próximo a mim havia sumido.

‘Ela chamou isso de quebrar o limite?’

A situação quando adquiri Frenesi. Então foi isso o que aconteceu. Assim como Jenna disse.

Essa sensação.

Quando pensei que tudo ficaria bem, não importa o que acontecesse. Quando eu não pensava além de erradicar o inimigo à minha frente.

Um fogo frio ardia em meu coração.

Se as condições corresponderem, devo fazer uso dela.

Eu segui em frente. Mais uma vez, o espaço se expandiu. Tediosamente carente de personalidade. O mesmo buraco de antes.

— Gooru, gooor, giir…

Tritões apareceram atrás de um pilar. Seus olhos brilharam enquanto gritavam.

A saída se fechou novamente e me lembrei da aparência do templo que vi de fora da água.

‘Existem mais alguns desses.’

Então, ainda é muito cedo para usar Frenesi…

Não. Não importa. Decidi não fazer tais cálculos.

O que quer que esteja pela frente, não importa quantos inimigos permaneçam.

— Griiiiiaag!

Não houve hesitação.

Um fogo frio se espalhou por todo o meu corpo. Agarrei minha espada com força, girando a lâmina.

Três tritões foram cortados de uma só vez.

A lâmina, não perdendo a força depois de cortar a carne, cortou todo o pilar na minha frente.

‘Que venha a próxima onda.’

Clang! Minha lâmina mergulhou de cima.

Os tritões tentaram bloqueá-la com suas armas, mas eles se transformaram em carne esmagada, como se tivessem sido atingidos por uma bola de demolição.

O fogo frio que passava por mim começou a expandir seu território.

Desde debaixo da pele até aos músculos. Dos músculos aos vasos sanguíneos. O Frenesi preencheu todo meu corpo.

Isso não é o bastante. Se evoluir assim, se tornará apenas uma habilidade simples de nível superior.

‘Me dê mais.’

Somente isso não basta.

Como frutas jogadas no liquidificador, pedaços de polpa estavam espalhados por toda parte.

Meu corpo ultrapassou seu limite físico. Cada osso em mim gritava de dor, mas não me importei.

‘Ainda não é suficiente.’

Afinal, estou sozinho.

Eu tenho nada a perder.

— Griiiaar, gurr!

Os cadáveres de tritões e os pilares foram cortados juntos e misturados. Quer empunhem armas, se escondam atrás de pilares ou fujam.

Um ataque por inimigo foi o suficiente.

Cluck. Bifrost reagiu.

A lâmina se estendeu. Maior e mais larga. Mais pesada e mais poderosa.

O peso não importa. Quanto mais pesado, melhor. Isso me permite colocar mais força nisso.

Trum! Apenas colocando-a no chão, a espada cravou no chão.

Centenas de quilos. Impossível levantar.

‘Se é assim…’

Meus músculos se contraíram. A estrutura do meu esqueleto estava distorcida. Meu corpo começou a se transformar.

‘Finalmente.’

Eu sorri amargamente.

1. Vai acabar nunca essa bagaça?? Querem matar os dois de uma vez?[↩]
2. MAIS???[↩]
3. Vocês não sabem o quanto eu chorei quando li isso pela primeira vez. E estou chorando de novo.[↩]