Capítulo 151: Passado, Presente e Futuro (3)

Tradução: Nimsay

— Hahahahaha. — A garota que acabara de derrotar sete oponentes limpou o nariz com facilidade. — Desculpa pelo atraso. Me perdi no caminho…  — Ela coçou a cabeça e riu. — Yurnet disse que estava à direita, mas acabou que estavam à esquerda. Acabei dando voltas e mais voltas no mesmo lugar por uma hora…

Com um alto estrondo, um canhão do dirigível inimigo disparou. O punho da garota ficou embaçado e, em seguida, com um relâmpago, a bala de canhão desapareceu no local.

Apertei os olhos.

— Você…

— Espere um pouco. Deixe-me lidar com esse aborrecimento primeiro. — A garota estendeu a mão direita. — Venha, Brünak!

Relâmpagos dourados começaram a se acumular em sua mão direita.

Eles tomaram a forma de um arco alado. Era Brünak, uma das cinco armas lendárias exclusivas do primeiro grupo. Enquanto Nihaku puxava uma corda não existente do arco, uma flecha dourada se materializou.

— Puf!

Um flash dourado envolveu tudo à vista. A flecha disparada de Brünak perfurou a barreira protetora da embarcação aérea como se fossem de manteiga e penetrou no convés. E logo após isso, a enorme embarcação aérea explodiu instantaneamente.

Uma única flecha rompeu dezenas de barreiras mágicas e placas de aço com um único golpe, um fim tão trivial que era quase patético.

— Vejamos, cerca de vinte e cinco pessoas. Três deles eram magos. Uma divisão justa de heróis.

— …

— Mestre, você parece um pouco estranho. É a minha maneira de falar que te incomoda? Desculpa, não funcionou do jeito que eu queria.

A garota coçou a cabeça, parecendo um pouco envergonhada.

< Por favor, seja compreensivo. Ela não tem filtro e não consegue se segurar. >

A voz de Yurnet fez cócegas em meus ouvidos.

Todos os heróis que a encontraram pela primeira vez reagiram de maneiras incomuns. Bem, eu já estava ciente de sua personalidade única.

— Está tudo bem. Estava esperando por isso.

A garota diante de mim era a mais animada e ativa entre os cinco heróis do grupo um, e a mais nova. Ela era Nihaku Guestfel, classificada em quinto lugar na hierarquia de Niflheim.

— Espera. Você é… — Lydel gaguejou, olhando para Nihaku. — Do décimo terceiro andar…?

— Nihaku.

— É uma honra conhecer uma heroína do qual só ouvi falar!

— Eu não gosto de títulos….

Lydel apertou vigorosamente a mão de Nihaku.

— Assim como diziam os rumores, você é forte! E pensar que poderia destruir um dirigível com um único ataque!

— Você está exagerando. Não é nada especial.

Nihaku afastou a mão de Lydel e olhou para mim.

Então, ela se curvou educadamente.

— Eu sou Nihaku Guestfel. É uma honra conhecê-lo, Mestre. Ouvi dizer que você me visitou antes, mas você já tinha ido embora… Fiquei bastante triste. Achei que talvez você não gostasse de mim.

— Não há nada para gostar ou desgostar. É bom ver você aqui.

— Mestre, você é tão legal e arrojado quanto eu imaginei!

— …Vamos pular os elogios.

Olhei para o lado. Correntes elétricas giravam em torno dos restos do dirigível destruído.

Foi uma surpreendente demonstração de poder. Era uma embarcação aérea muito mais avançada do que qualquer outra que eu havia enfrentado em Hairá. Foi protegida por uma barreira mágica de alta intensidade, mas Nihaku destruiu-a com um único golpe.

‘Ver isso da perspectiva de um herói faz com que pareça real.’

Quando era um Mestre sempre menosprezei esses eventos. 

E obviamente, Nihaku não mostrou toda a sua força. Isso foi apenas um gesto brincalhão.

De qualquer forma, o problema foi resolvido. Voltei para dentro, pois estávamos perto do nosso destino. Planejei dormir mais um pouco.

— Por que você está me seguindo?

— Não posso?

Nihaku se aconchegou ao meu lado.

Balancei a cabeça e entrei no meu quarto. Nihaku tentou me seguir até a rede como um animal de estimação agarrado ao seu dono. Eu a empurrei.

Nihaku Guestfel. Quando foi convocada, fez absolutamente nada. Apenas ficou deitada no quarto, como se estivesse morta, mal respirando. Um fracasso total.

Quase a sintetizei várias vezes, mas me contive. Se eu não tivesse descoberto acidentalmente seu talento para o combate, ela não existiria mais. Depois disso, foi um teste de resistência. Ela era muito teimosa, sem escutar as ordens.

Vendo agora, ficou claro o porquê disso acontecer. Esses seres estavam realmente vivos no jogo. Eu nutria preconceitos profundos.

‘Que bem isso faz agora?’

Mais tarde, a orientação de Lydel me acordou.

Havíamos chegado ao nosso destino. Depois de me vestir, olhei para baixo e vi Nihaku dormindo profundamente debaixo da rede. Deixei ela lá e saí.

Ao chegar ao convés, me deparei com uma cena inesperada.

Landgrid07 estava deslizando sobre o campo de aviação em direção ao hangar, mas não havia guias à vista. Esta não era uma fenda dimensional para Niflheimr. Segundos depois, percebi onde estávamos.

— Brünhild?

— Sim! Nosso destino não é Niflheimr. — Lydel me respondeu.

Brünhild01, a nau capitânia da frota de Niflheimr. Estávamos dentro de seu hangar.

— Vou deixar você aqui, Mestre. Foi uma honra servi-lo!

As escadas da embarcação aérea começaram a se desdobrar. Depois de agradecer a Lydel pelo seu serviço, desci as escadas.

— Bem-vindo de volta, Mestre. Esteve bem?

Yurnet cumprimentou-me com um sorriso, vestida não com seu habitual manto branco volumoso, mas com um uniforme preto decorado com bordados brancos.

— Estou com sono.

— Por favor, venha por aqui. Preparamos um lugar para você.

Um elevador desceu do nada. Entrei nele e ele começou a subir.

— Recebeu o relatório?

— Eu tenho uma estimativa aproximada. Seria sobre a Aliança Bartz? Seria útil ter imagens do ataque.

— Claro, está tudo preparado.

O elevador continuou sua subida íngreme. O cenário mudou. O interior de Brünhild desdobrou-se diante de nós.

— Onde estamos? Não parece que estamos perto de Niflheimr.

— Estamos próximos de um dos pontos de encontro da Guilda da União.

— Uma base avançada.

Yurnet se adaptou adequadamente à situação. Este local era realmente mais conveniente para ações rápidas.

— A propósito Mestre, tenho um pedido, se você permitir.

— O que é?

— É para preservar a dignidade do mestre. — Yurnet sorriu suavemente, causando um arrepio na minha espinha. — Você não vai recusar, vai?

— Depende da necessidade.

— É absolutamente necessário.

O elevador parou. O corredor do último andar de Brünhild apareceu.

— Por aqui.

Yurnet abriu uma porta na lateral do corredor e me conduziu para dentro. Eu a segui, embora com uma expressão confusa.

Chegamos a uma sala circular forrada de espelhos. Lá havia um manequim, inspirado no meu físico, usando um uniforme deslumbrante.

— Mas o que…?

— Este é o uniforme do comandante de Niflheimr que projetei com muito cuidado.

— Você espera que eu use isso?

O peito do uniforme era adornado com elaborados bordados dourados. As dragonas, o cinto metálico brilhante, as botas de couro preto e o quepe militar. 

Isso está me enlouquecendo¹.

— Por que…!?

— Há outros membros da tripulação na ponte de comando. Ele lhe dará a dignidade que o Mestre deve passar…

— De jeito nenhum, eu recuso!

— O que… Por quê? Eu fiz essa roupa especificamente para você.

Os ombros de Yurnet caíram.

— É um absurdo! Uma armadura de couro é suficiente para mim!

— Se o comandante aparecer em trajes surrados, isso poderá afetar o moral.

Eu com certeza vou enlouquecer. Balancei minha cabeça.

— Achei que você tivesse dito que concordaria com qualquer coisa…

— Eu nunca disse isso.

— Estou triste. Você realmente não aprecia meus esforços. — Yurnet enxugou os olhos com a manga. — Não pode, ao menos, reconsiderar?

Yurnet olhou para mim com uma expressão suplicante.

‘Essa manipuladora…’

Trinta minutos depois.

— Bravo…!

— Quieta!

Eu estava andando pelo corredor. A cada passo, a sensação de rigidez roçava todo o meu corpo.

— Você está magnífico. É realmente de tirar o fôlego.

— Eu não disse para você ficar quieta?

— Esta absolutamente imponente.

Eu me senti terrivelmente envergonhado. Abaixei a aba do quepe militar.

Silenciosamente, caminhei pelo corredor.

Yurnet me seguiu, expressando continuamente sua admiração bizarra.

‘Que irritante.’

Dada a sua personalidade, ela certamente manterá uma foto dessa cena. Isso vai me perseguir, com certeza.

É claro que o argumento dela tinha algum mérito. Fui eu quem forneceu aos heróis seus uniformes para promover um sentimento de pertencimento. A própria Yurnet estava usando um desses uniformes, mas nunca imaginei que acabaria usando-o.

Após cerca de cinco minutos de caminhada, a ponte de comando de Brünhild foi revelada.

Do tamanho de um pequeno campo esportivo. O assento do líder ficava no centro, com a estação de controle e os assentos da tripulação dispostos em círculo. Vários heróis que estavam ocupados com seus deveres se viraram para olhar para mim e se curvaram.

— A identidade do Mestre não se espalhará. Somente aqueles que ficarão calados foram selecionados.

— Espero que sim.

Desviei o olhar. O vidro mostrando o céu azul era visível.

— Por favor, sente-se.

Yurnet apontou para o assento do líder. Estalei a língua e sentei-me. Na minha frente havia uma mesa circular com um mapa holográfico flutuando acima dela.

— Vamos começar?

— Sim.

— Localizamos todos os membros do primeiro grupo?

O motivo dela me chamar, foi que não tinha autoridade de comando sobre o primeiro grupo. Sem os cinco do décimo terceiro andar, poderia haver perdas. Yurnet assentiu.

— Como você pode ver, Nihaku já se juntou a nós. Ridgion virá correndo se você mandar. Recebemos uma resposta de Muden. No entanto…

— Seris não respondeu.

— Parece que ela está bem longe. O que você gostaria de fazer? Podemos chamá-la se necessário.

— Deixe-a em paz.

Seris não era necessária. Essa foi a conclusão a que cheguei depois de analisar as tropas da Guilda da União.

— Entendo. Eu emitirei imediatamente autoridade de comando em seu nome para os outros membros.

— Faça isso.

— Vou sair por um momento. — Yurnet curvou-se respeitosamente. — Os dados de combate que você solicitou serão trazidos pela estagiária.

— Estagiária?

— Ela estará aqui em breve.

Yurnet saiu com um sorriso significativo.

Examinei a mesa. Estava coberta de documentos com diversas informações, incluindo as tropas mobilizáveis ​​de Niflheimr e vários detalhes sobre a Guilda da União.

Eu costumava receber essas informações digitalmente quando era mestre. Parece que não vou dormir esta noite. Comecei a folhear os documentos na minha frente.

Então, do nada, algo surge próximo a mim.

[Urgh!]

Quando olhei para trás vi uma pequena fada, lutando com uma sacola de documentos, voando em minha direção.

[Por que aquela raposa sempre me faz fazer isso? ‘Vá fazer café!’ Sempre sendo tão falsa! Estou muito irritada! Espere só, quando Loki reconhecer meu valor, eu vou te mostrar…]

— …

Nossos olhos se encontraram.

[Vo-você!]

— Como está, Rainha dos Piratas?

[Quando você chegou? Eu não soube que estava vindo. ]

— Agora mesmo.

Isel colocou a sacola de documentos sobre a mesa.

Eu olhei para ela. No momento não estava usando sua roupa de Rainha dos Piratas, mas usava um uniforme preto e um quepe. O tapa-olho que cobria seu olho esquerdo permaneceu.

— Conseguiu se ajustar? Você estava sonhando em vir para Niflheimr.

[Bem…]

— Não é tão fácil quanto você pensava?

[Hmph! Você achou que seria? Abandonar meu grande sonho de voar pelos céus, ser subitamente sequestrada e transformada em escrava. É tão, tão miserável. O nome da Rainha dos Piratas clama…]

— Então eu vou te libertar.

[Aaaah!]

Isel abriu as mãos.

[Ser estagiária de Niflheimr é melhor!]

Isel se virou e na mão direita apareceu um pacote de café instantâneo da marca ‘MIXIM’ e na mão esquerda um copo de papel cheio de água quente.

Ela rapidamente fez o café e colocou o copo de papel sobre a mesa.

[Café, digitalização e cópia! Eu sou perfeita. Os sonhos mudam. De agora em diante, serei a Rainha dos Estagiários. Lembre-se disso!]

Depois de fazer isso e aquilo, Isel se afastou.

— …

Abri a sacola de documentos.

Continha registros do ataque à Aliança Bartz.

Quando toquei a borda do papel, ele se desfez em luz.

O holograma da mesa exibia o texto. No final, era digitalizado.

Bebi o café.

Tinha o mesmo gosto do café que eu tomava na Terra.

1. Cuidado, ou vai virar o Cale Henituse.[↩]