Capítulo 187: Por Apenas Uma Vez (11)

Tradução: Nimsay

O evento principal da terceira grande competição, as finais individuais, começaram.

— Descontrolado! Corte esse desgraçado em pedaços!

— Parece que ele vai morrer de qualquer jeito.

— O Demônio da Espada e o Descontrolado deveriam ter se enfrentado nas finais! Não esse fracote!

— Uuuuu!

A plateia continuou a vaiar.

< Ele não parece estar em boa forma. >

< Mesmo se ele bebesse uma poção de cura, não teria ajudado. Ele acha que é melhor terminar no palco do que desistir. >

Dei um passo à frente.

Que barulhento. Há muitos espectadores de baixo nível.

Segurei minha espada frouxamente e dei mais um passo à frente, enquanto Aaron ficou imóvel.

Claro. Só ficar ali deve ser difícil para ele. Não seria surpreendente se ele já estivesse morto.

— Ah… Urgh… — Aaron gemeu pesadamente.

Mal usando sua lança como um cajado para se sustentar, seus braços e pernas tremiam incessantemente, e sangue pegajoso pingava de sua boca.

— Você se ressente de mim?

— …Não, irmão mais velho.

— Não minta. Eu sei de tudo — zombei.

Se eu não o tivesse persuadido, Aaron não teria que suportar essa dor.

Ele teria vivido confortavelmente como um treinador em Taoni. Embora ele tivesse que ficar atrás dos outros, se eu não falasse demais, ele estaria contente com sua vida, como aconteceu com Dica.

Eu sabia, afinal, que tipo de fim os heróis que foram até lá com grandes esperanças encontraram. Desespero e solidão.

Eu pude ver isso claramente como um Mestre. E mesmo sabendo disso, eu o convenci. Eu fiz Aaron ir para lá.

Houve inúmeros desafiantes. Aqueles que riram durante o treinamento extenuante, que não piscaram para nada, que quiseram vender suas almas para se tornarem mais fortes. 

Eles duraram facilmente um ano. Muitos duraram dez anos sem dificuldade. Mas quando passou de cem anos…

‘É mais fácil falar do que fazer.’

Quando perceberam que não tiveram nenhuma conquista em todos esses anos, eles pensavam naqueles que anularam seu trabalho duro em apenas alguns meses.

— Aaron.

— …

— Desista. Você não tem talento.

Deixei minha espada pendurada.

— Retorne para Taoni. Eu lhe darei a posição de treinador. Viva confortavelmente lá.

— …

— Seu caminho é espinhoso. Não há nada lá. Se escolher voltar para Niflheimr, isso não mudará até sua morte. Você viverá com dor pelo resto de sua vida.

Aaron vacilou.

Dei um passo em direção a ele.

— Qual o sentido de se tornar mais forte? Para se exibir para os outros? Para agir com superioridade? Não busque o que está além de suas capacidades. Cada um tem um lugar adequado.

— …

— Se você fizer seu trabalho, naturalmente se levantará conosco. Eu salvarei sua irmã também. Você pode voltar para casa. Não precisa sujar as mãos.

Os lábios de Aaron se moveram, mas apenas saliva misturada com sangue fluiu.

— Só acene com a cabeça. Vou facilitar para você.

Olhei para frente. Acima da plateia, perto do teto, um menino estava sentado perto da ventilação. Usando um chapéu bem apertado, o garoto olhou para Aaron no palco.

— Responda-me, Aaron — falei.

Os lábios de Aaron se moveram novamente.

— …Não.

— O quê? Não consigo te ouvir.

— Não… Irmão mais velho…

— Essa é a sua resposta? — sorri levemente e apontei minha espada para ele.

— …

Naquele momento, percebi que Aaron havia perdido a consciência. Ele ainda estava de pé, mas seus olhos já tinham perdido a luz.

Minha figura, refletida em seus olhos, apontava a espada.

‘Deixe-me te mostrar.’

Raspei o chão com minha espada.

Whoosh! Chamas azuis brilharam intensamente.

Trat! Os ladrilhos de mármore se despedaçaram como tofu. As chamas rodopiantes queimavam intensamente até o fim do palco.

Dei um passo à frente com força causando um estrondo. O solo cedeu e grandes rachaduras se espalharam em todas as direções.

Saída máxima. Sem reservas.

Apesar das poções de primeira qualidade, as feridas se abriram e o sangue jorrou do meu corpo.

Crack. Músculos se rasgaram, ossos quebraram e o som ecoou em meus ouvidos.

O tempo passou mais devagar. Um sobre cem partes de segundo, um sobre mil partes de segundo…

E os olhos de Aaron ainda não tinham luz.

Em direção ao homem meio morto, uma grande espada envolta em chamas azuis desceu.

Você e eu começamos de pontos diferentes. Embora ambos tenham começado com uma estrela, éramos incomparáveis. Eu dominava todas as estratégias deste mundo, tinha talento, força de vontade e até uma força invencível por trás de mim. 

‘Mas você… Tinha nada.’

No começo você chorava, incapaz de lutar. Mais tarde, tentou desesperadamente, mas nem isso deu certo.

Com um ruído cada vez mais alto, o próprio espaço estava sendo dilacerado. As chamas devoravam tudo que tocavam, queimando ferozmente.

‘Mostre-me.’

Pouco antes das chamas envolverem Aaron, ele se moveu.

— …

Agarrando a lança com a mão encharcada de sangue, os olhos vazios reacenderam.

Centenas de sombras apareceram no palco¹.

As sombras, cada uma em uma posição diferente, empunhavam lanças como Aaron. Mas foi um momento fugaz. A ilusão que preenchia o estádio retornou ao corpo de Aaron.

‘…’

Aaron balançou sua lança e milhares de sombras apareceram perto da lâmina. 

Não, não eram milhares.

Arregalei os olhos, surpreso. Dezenas de milhares.

Como as asas de uma abelha, as sombras ao redor da lâmina logo se fundiram a lança.

Eu sabia o que era isso.

Condensar bilhões de impulsos em um único… A técnica secreta de Muden, uma arte de lança mortal.

‘Ele aperfeiçoou?’

O clarão azul atingiu Aaron.

— …Há — exalei profundamente.

O duelo acabou. O veredito foi feito com uma única troca de ataques.

A poeira que havia subido no estádio se dissipou e o cenário desolado do palco foi revelado.

O solo foi escavado completamente.

Bam! Uma gigantesca placa partida em duas caiu na frente do palco.

Os espectadores ficaram em silêncio por um momento.

Se a área à minha frente fosse a plateia, dezenas de pessoas teriam morrido facilmente.

— Cof! — Cuspi um bocado de sangue. Limpei-o com a manga e sacudi.

‘Saída máxima.’

Usei todas as minhas forças sem nenhuma reserva.

Se o oponente tivesse força para brandir a lança uma única vez, a derrota seria minha.

— O que… O que aconteceu?

— Um golpe… Acabou com tudo?

Olhei para frente. 

Aaron ficou na postura de quem estava enfiando sua lança. O chão onde ele se encontrava estava ileso. Somente em suas laterais que o chão estava escavado, lembrando um V.

‘A Fusão da Lâmina da Alma…’

Eu ri, incrédulo.

Tardiamente, o som do vento chegou e a pele do meu pescoço se rasgou. 

Havia um buraco no meio da lâmina da espada Bifrost. Com sons de estalos, rachaduras começaram a se espalhar vindas do buraco.

E então Bifrost se partiu em dois, caindo no chão.

‘Esse cara…’

Como isso aconteceu?

< O que aconteceu? >

< Parece que um dos jogadores usou uma habilidade especial. Incrível. É difícil acreditar que ele tem quatro estrelas. Sua arma não conseguiu suportar o poder da técnica. >

— Impressionante, Descontrolado! Ainda bem que apostei em você!

— Nesse nível, até mesmo o verdadeiro Demônio da Espada seria pulverizado.

— Tsk tsk, parece que ele errou intencionalmente. Se ele acertasse, não sobraria nem o cadáver.

Não conseguiu suportar? A Bifrost não conseguiu suportar a reação da Espada da Alma Perdida?

Que absurdo.

Ri dos comentários e levantei minha espada.

— …

A parte superior da lâmina havia sumido, deixando um buraco quebrado.

‘…Que absurdo.’

Eu mal conseguia segurar meu corpo em colapso.

Mas ainda não acabou. Ainda há algumas coisas que precisam ser feitas.

— …

Aaron permaneceu imóvel na postura de golpear com sua lança. Seus olhos se apagaram. Ele usou toda sua força.

Só uma vez. O máximo esforço que Aaron conseguiu reunir.

— Estou sem palavras. — Aproximei-me de Aaron com a espada quebrada. — Você tem que fazer isso com moderação, cara. Se fizer assim de novo, vai interferir nas missões.

— …

— O que você vai fazer sobre isso? Hein!?

Aaron não respondeu.

Ele olhou fixamente para onde eu estava.

‘Ele morreu em pé.’

Eu sorri.

Ele não sabe e quando você acordar, não saberá o que aconteceu e o que fez.

E eu não vou te contar. Até você descobrir sozinho.

Agora eu entendo.

Por que Niflheimr participou deste evento, abandonando a Invasão Mundial.

Um bilhete de convocação de cinco estrelas e a oferta de experiência a outros estagiários eram questões triviais.

‘Eu encontrei ouro.’

Olhei para cima novamente. Muden, sentado na ventilação, tinha um largo sorriso no rosto.

Agora não há mais volta. O tempo que Aaron passou deve ter sido um inferno inimaginável. E será o mesmo no futuro.

Como disse, sua dor não vai desaparecer.

‘Mas não se preocupe.’

A habilidade que você despertou não é um mero impulso.

Não é um golpe, uma estocada ou um balanço. Não é físico ou mágico, não é atributo ou efeito perfurante.

Nenhum gênio, nem mesmo dez Ridgion, poderia imitá-lo.

Carma. Um atributo único entre as milhares de habilidades e impressões existentes em Escolha-me!.

Só com isso, Muden alcançou uma posição quase invencível.

Eu levantei a espada quebrada.

Na minha frente estava alguém que havia superado um muro que os humanos não conseguiam superar. Um monstro que passou milhares, milhões, bilhões de noites em treinamento.

Um gênio é alguém que ensinou uma coisa e dominou dez. Mas mesmo esse gênio não conseguiu ultrapassar um limite predeterminado.

Assim como um leão, que embora seja o ‘rei dos animais’, não pode ultrapassar os limites de sua espécie.

Esse cara já foi um coelho, mas agora ele não é mais um coelho. Nem mesmo era um leão.

Ele havia se tornado algo diferente, irreconhecível.

‘Aaron.’

O cara que eu conheci não existe mais.

Quando você retornar para Taoni…

— Até a próxima.

Abaixei a espada quebrada.

— …

Bam. O som de Aaron caindo ecoou.

Naquele momento, uma sombra apareceu do nada e recuperou o corpo de Aaron.

Sorri e enfiei a espada quebrada na bainha.

Mas ela não entrava.

— Cof cof! Ugh! — O árbitro, soterrado pelos escombros da rocha, levantou-se. Seu terno elegante agora era um farrapo. — Vitória! Vitória de Han! Parabéns… Pela sua vitória.

Ao passar, dei um tapinha em seu ombro, fazendo-o desmaiar.

Que profissionalismo.

Caminhei em direção ao corredor.

Alguns membros da equipe me pararam, dizendo que tínhamos que fazer a cerimônia de premiação, mas que isso não aconteceria naquele estado.

Eu os empurrei para longe e fui para a sala de espera.

< Mestre, parabéns pela sua vitória. >

Como se ela estivesse esperando, a voz de Yurnet fez cócegas em meus ouvidos.

— Vá com calma, tá? Eu quase perdi. Se aquele cara estivesse em sã consciência, eu seria o morto.

< Hehehe, eu acreditei que você superaria isso. Porque você é o Mestre. >

— Chega. A coisa mais importante é… Bifrost quebrou.

< Devido ao atributo Carma, a recuperação natural é impossível. Vou pegá-la e consertá-la. >

— Obrigado.

Encostei-me à parede do corredor.

O céu estava amarelo.

— E o Aaron…?

< Muden não o deixará ir facilmente. >

— Eu também acho isso.

Ele devia estar solitário. Bom, isso é um assunto para depois.

— Dê a ele meus parabéns.

< Como você comandar. >

Encerrei a comunicação.

Ouvi passos vindos de longe no corredor.

— …Tarde demais.

Encostei-me na parede e fechei os olhos.

1. Caraca, eu me arrepiei.[↩]