Capítulo 201: A Semente Negra (9)

Tradução: Nimsay

Cuspi o sangue que estava em minha boca. Não importa quanto o experimente, sempre parece nojento.

Depois de sacudir o sangue da alabarda, o cadáver do cavaleiro, finalmente caiu no chão.

< Ha ha ha, você viu isso? O poder deste corpo! >

— Pare de se gabar e volte.

O pardal se transformou em um relâmpago vermelho e retornou ao meu braço esquerdo.

Abaixei a ponta da lança da alabarda. Os soldados hesitaram e deram um passo para trás.

— Quem diabos é esse cara…? — Um cavaleiro murmurou com uma expressão endurecida.

Respirei fundo. Meus pulmões pareciam estar queimando de tanto engolir chamas. Posso não transparecer, mas meu corpo estava danificado de dentro para fora.

‘Eu queria que eles simplesmente fugissem…’

Eles hesitaram, mas não recuaram. Estavam de frente para mim, usando barricadas e obstáculos como cobertura. Tropas de apoio avançavam atrás deles.

‘Haa, que chato.’

Girei a alabarda.

— Afastem-se.

— Não recuem! Segurem até que os reforços cheguem!

Claro que eles não escutam.

Apontei a alabarda para o oficial e o ataquei.

Flechas choveram imediatamente, mas eu girei a alabarda rápido o suficiente para desviá-las, cortando o oficial que havia sacado sua espada. Pulei sobre a barricada de dois metros de altura em um único salto.

— Morra!

Um soldado jogou uma lança em minha direção.

‘Não posso lidar com isso.’

Não tenho esse luxo de acabar com todos.

Usei o poder de Exceder, desviei da lança e pisei no ombro do soldado.

— Ah!

Como pisei com força, talvez tenha quebrado sua clavícula.

Antes que o soldado caísse, saltei novamente.

— Pare-o! Não o deixe passar!

Zi-zi-zi-zing! Pontas de flechas roçaram minha coxa e um fio fino de sangue saiu.

Desviei de todas as lanças e espadas que os soldados balançavam e corri em direção à entrada da caverna.

Um cavaleiro negro vestido com armadura de ferro bloqueou a entrada.

‘Ainda não.’

Eu não poderia morrer aqui.

Desviei da espada larga vindo em direção a minha cabeça e chutei as costas do cavaleiro quando passei.

Então corri rapidamente para dentro da caverna.

Olhando para trás, os inimigos estavam se aglomerando como formigas.

— Persigam-o!

Pouco antes de Exceder terminar, levantei a alabarda em direção ao teto da caverna.

Usei meu corpo inteiro com cem por cento da Espada da Alma Perdida. O som era como dinamite explodindo, e pedaços de pedra caíram do teto.

Logo depois, o ambiente escureceu. O teto havia desabado, bloqueando a entrada.

— …Há.

Joguei fora a alabarda que agora era apenas uma haste de lança.

Caí encostado na parede e fechei os olhos.

Não há uma parte de mim que não doa e provavelmente estou em estado crítico. Mover meu corpo era complicado.

Peguei uma poção da bolsa atrás do meu cinto. Depois de vários deslizes, consegui abrir a poção.

< Já chegou ao seu limite? A estrada à frente é longa. >

— Não seja ridículo.

Eu só tinha passado do primeiro estágio, e ele está dizendo que cheguei ao meu limite.

Bebi a poção e olhei em volta. Lâmpadas foram acesas em vários pontos da passagem da caverna.

Em algum lugar neste lugar estava a terceira chave.

‘E aquela mulher deve estar me esperando.’

Apesar de causar tanta comoção na fortaleza, ela não apareceu, então algo deve estar acontecendo.

‘De qualquer forma, isso foi um sofrimento auto infligido.’

Se eu jogasse fora tudo como Eolka, Qlqr1 e Taoni e seguisse em frente, eu poderia viver confortavelmente. 

Eu nem sei por que estou fazendo isso.

Não consigo entender o porquê de estar pegando o caminho difícil. Se eu tivesse ficado quando Yurnet me pediu, poderia ter aproveitado todo o luxo e vivido confortavelmente.

‘Eu enlouqueci?’

Eu não sou mais normal e sei disso há algum tempo. Mesmo se retornar ao planeta Terra, nunca mais seria o mesmo de antes.

Não importa quão deliciosa fosse a comida, o bate-papo casual ou os jogos divertidos, eu não conseguiria aproveitar nada.

Tudo estava cinza.

Os únicos momentos em que senti alegria, foi quando eu matei o oponente que estava zombando de mim¹.

‘…Ah.’

Sou um completo psicopata².

< Você consegue lutar? >

— Claro.

Meu corpo estava lentamente recuperando alguma vitalidade.

‘Passei por muitas dificuldades.’

Até treinei com Jenna me chicoteando, para suportar a dor.

Parece que o treinamento especial valeu a pena. Embora eu tenha usado Exceder até o limite, depois de um breve descanso, me recuperei o suficiente para me mover novamente. O treinamento físico realmente é o melhor.

— Urrrrr!

Quando retirei a flecha cravada nas minhas costas, saiu sangue. Derramei a poção de cura quase vazia sobre o ferimento.

— O Sangue do Dragão Negro retornou?

< Você pode usá-lo mais uma vez. >

É isso, acho que estou pronto. Levantei-me e apoiei-me numa pedra saliente na parede. A caverna era um caminho reto, então não havia preocupação de se perder.

Prendi a respiração e me movi.

Depois de caminhar por cerca de dez minutos, a paisagem mudou. A caverna se alargou, e um cheiro podre, como de carne em decomposição, encheu o ar.

Olhei para baixo.

— …

Havia cadáveres espalhados por todo lugar. Ajoelhei-me e examinei um deles.

‘É alguém da tribo Join?’

Onde deveriam haver braços, havia asas e garras. Uma Harpia. Eu tinha visto essas criaturas algumas vezes nas seções antes do décimo andar.

E haviam várias mortas. Considerando a situação até agora, a culpada era óbvia.

‘Os monstros podem lutar entre si?’

Não é um caso raro. Há missões em que heróis e monstros de duas facções se envolvem em uma batalha tripla.

Achei estranho não ver a tribo Join lá fora, mas isso explicava tudo.

< Que tolice. >

— Isso funciona a meu favor.

Se lutaram entre si, recebo isso de braços abertos.

Encontrei uma espada utilizável entre os cadáveres da tribo Join. Seria inconveniente lutar com as mãos vazias, então decidi mantê-la.

‘Se eu tivesse Bifrost…’

Droga, eu não deveria ter me exibido naquele evento.

Continuei andando pelo estreito caminho da caverna.

Depois de me espremer por uma abertura apertada, encontrei uma ampla caverna. As paredes estavam cheias de dezenas de buracos, e dentro deles havia camas e utensílios domésticos. Parecia ser uma vila da tribo Join.

O número de cadáveres aqui era muitas vezes maior do que na passagem.

Não apenas cadáveres de Harpias, mas também cadáveres de soldados humanos.

Revistei os pertences dos soldados e encontrei algumas adagas de arremesso.

Depois de uma breve pausa, fui para uma passagem no lado esquerdo da caverna. Depois de caminhar por mais dez minutos, uma vibração e uma explosão ecoou ao longe.

‘Ainda estão brigando?’

Percebi que cheguei no momento certo. Se eu tiver sorte, posso colher os benefícios.

Diminuí o ritmo da caminhada, curvando levemente o corpo e comecei a sentir o cheiro de sangue fresco.

— Ugh… Huuuu… Uhh…

Dentro da parede da caverna, um ser da tribo Join gemia com uma estalactite perfurando seu peito. Toda sua lateral esquerda estava queimada e infeccionada. Era evidente que havia sido atingido por um feitiço de fogo.

Essa foi a primeira criatura viva que encontrei desde que entrei neste lugar. Eu me aproximei.

— Você… você…

— Não se preocupe. Eu vim para matar aquela mulher.

O ser da tribo Join gemeu.

— Mas, quero antes perguntar…

— …

— Por que estão brigando? Eles te insultaram por ter uma voz aguda?

Esse ser provavelmente sabe o que está acontecendo, pois seu sangue era grosso e preto. Um sinal direto da contaminação de Tell.

— Nós… nós…

— Nós?

Aproximei meu ouvido da boca do ser da tribo Join. Mas não ouvi a resposta que queria.

< Isso³ morreu. >

— Parece que sim.

Suspirei. O ser da tribo Join estava com a cabeça abaixada. Preciso ir mais fundo nesta caverna para descobrir minha dúvida.

Fechei os olhos arregalados do ser da tribo Join e me aproximei mais da caverna.

Os sons violentos da explosão estavam diminuindo gradualmente.

‘É aqui.’

No final do corredor, virando à direita, algo me esperava.

Prendi a respiração levemente. Para ser honesto, não podia dizer que meu corpo estava em boas condições. Ativei o Exceder por quase trinta minutos e até usei a Espada da Alma Perdida no final. Se fosse o eu de antes, teria morrido com as penalidades há muito tempo.

‘…Isso não é normal.’

Esta missão não é normal. O que deveria existir se foi, e o que não deveria existir apareceu.

‘Mas… Quando tudo isso já foi normal?’

Não importa o que aconteça, eu cuidarei disso com minhas próprias mãos e a matarei.

< Esteja preparado. >

Não precisa dizer isso.

Tirei a espada enferrujada da bainha e segui em frente.

‘…’

Parecia um santuário. Luxuosas colunas de mármore foram colocadas em ambos os lados, e um altar retangular podia ser visto em seu interior.

Um pequeno orbe brilhante flutuava acima do altar.

‘Deve ser a chave.’

Afastei o orbe da minha mente por enquanto, pois não era importante agora.

No caminho de tijolos que levava ao altar estava uma jovem vestindo uma túnica branca e uma coroa de madeira. Dois grandes pares de asas se espalham de seus lados.

Nossos olhares se encontraram e a mulher tentou falar algo.

— Nós…

— …

— Queríamos… voltar atrás…

No momento seguinte, a mulher se despedaçou.

— Incrível. — Uma mulher com um manto azul manchado de sangue surgiu de trás de um pilar. O manto, que deveria ser azul, estava tão encharcado de sangue que sua cor original estava irreconhecível. — Pensar que você passou pela fortaleza… Eu tinha certeza de que você morreria.

Os olhos de Persene se curvaram em forma de lua crescente.

— Como você chegou aqui? Eu exterminei todos os Assinis. Você convocou alguns reforços especiais?

— Eu simplesmente consegui.

— …O que? — Persene piscou. E então, de repente, caiu na gargalhada. — Hahahahaha! Você rompeu uma muralha e portões altos, milhares de soldados e centenas de cavaleiros para chegar aqui?

— Parece que estou mentindo?

— Não, na verdade sim, pensei que talvez você pudesse fazer isso… Só não achei que você conseguiria.

Olhei ao redor do santuário mais uma vez. Havia manchas de sangue e penas espalhadas por todo lugar. 

Aquela batalha já deve ter acabado. E… a feiticeira na minha frente estava ilesa.

— De qualquer forma, já que você está aqui, significa que você quer morrer. — Os olhos de Persene brilharam em azul. Suas pupilas pulsavam com uma magia visível e poderosa. — Se você tivesse ficado quieto, poderia ter vivido até o limite de tempo.

— Onde estão os outros dois?

— Por que você se importa?

Parece que as palavras do pardal estavam certas. O Rei dos Teriantropos e a Santa retornaram aos seus locais originais.

A única aqui era essa feiticeira louca.

— Ei. — Sorri. — Eu não te disse antes? Pense no som que sua cabeça fará quando for cortada.

— …Arrogante.

Cheguei aqu sem nenhum plano, apenas uma abordagem imprudente.

Se tivesse tentado entrar furtivamente, teria caído na armadilha dela. De acordo com o pardal, a fortaleza inteira estava coberta com magia de detecção.

‘A situação não é boa.’

Minha condição física estava no seu pior. A essa altura, a caverna bloqueada já deveria ter sido aberta e reforços estariam chegando. E a feiticeira na minha frente era extremamente poderosa.

Mas tenho que terminar isso, não importa o que aconteça.

‘Então…’

Eu olhei para cima. O que vi foi o teto simples da caverna, mas Qlqr1 estaria observando. Não consegui adivinhar o que ela estava pensando. Talvez estivesse pensando em desistir, imaginando que tipo de jogo era esse.

‘Apenas torça por mim.’

Estalei os dedos.

Por um momento, Qlqr1 não moveu o painel de controle. Mas, eventualmente, ela o fez.

Agite esses bastões como nunca. Isso também me dá forças.

Apontei minha espada para Persene.

1. …Alô, psiquiatra? Sou eu de novo…[↩]
2. Ao menos você já percebeu.[↩]
3. As harpias são completamente mulheres. Mas, nessa parte não é usado gênero, logo tentei ser o mais neutra possível.[↩]