Capítulo 252: O Cerco à Cidade Sagrada (3)

Tradução: Nimsay

Abri meus olhos. À medida que a luz ofuscante diminuía, a paisagem ao redor gradualmente apareceu.

A primeira coisa que notei foi o ar acre fluindo através da minha respiração. Era como se eu tivesse inalado enxofre, um fedor nauseante que sacudiu minha cabeça.

‘…Onde estou?’

Foi dito que era um mundo de ilusões criado por Lianne. Olhei ao redor e percebi que o ar está frio.

Uma lua cheia vermelho-sangue floresceu contra o céu azul profundo do amanhecer. Abaixo dela, fileiras de edifícios de pedra se alinhavam em ordem sob o luar.

— Matem.

— Matem os hereges.

— Enforquem-os. Enforquem-os!

Esses murmúrios constantes ecoavam de todas as direções. 

Virei a cabeça. 

O lugar para onde fui convocado era uma vasta praça circular. Homens e mulheres de todas as idades se aglomeravam em volta de uma fonte no centro, não deixando espaço para pisar. Todos estavam olhando para o templo à sua frente. Mais precisamente, estavam olhando para uma mulher parada no terraço bem no topo do templo.

— Matem! Matem a traidora! Matem a traidora que nos vendeu! — Uma garota, que parecia ter pouco mais de vinte anos, gritou enquanto sacudia o punho no ar.

Mordi meu lábio. Onde deveriam estar seus olhos, havia apenas órbitas pretas e vazias.

As pessoas lançavam maldições e objetos contra alguém no topo do terraço do templo, cuspindo acusações venenosas.

— Não a deixe viver! Rasguem-na membro por membro e executem-na!

— Sim! Sim!

— Como ela ousa trair o príncipe…!

Estalei a língua. Finalmente entendi onde eu estava.

— Esse é um dos seus truques?

Olhei fixamente para o par de olhos flutuando no céu.

〈 Este lugar é uma ilusão, mas também é a verdade. 〉

— Uma ilusão, mas também a verdade? Parece um absurdo para mim.

〈 Então sinta por si mesmo. 〉

Os olhos desapareceram com uma risada fraca.

Naquele momento, uma dor de cabeça surgiu. Esfreguei minhas têmporas e olhei para frente.

Logo depois, uma mensagem do sistema apareceu com um efeito sonoro.

Traaat, stap! O ar estava estático e o alvo da missão foi atualizado diante dos meus olhos.

Vi fileiras de edifícios e ruas alinhadas como um tabuleiro de xadrez. A praça estava cheia de inúmeros cidadãos e havia um templo no interior.

Não tinha como errar. Esta é a cidade Adilt, o cenário do décimo quinto andar. Foi nesse andar que Priasis apareceu pela primeira vez e aquele chefão foi uma provação e tanto.

Mas há coisas diferentes. Os cidadãos estão revoltados. Eu sou o único herói aqui. E por último, mas não menos importante…

— O que…!?

Priasis estava de pé no parapeito do terraço, com os olhos arregalados.

Ela olhou ao redor em pânico. Claro, ela ficaria assim. O local havia mudado de repente e as pessoas estavam olhando para ela como se quisessem matá-la.

Um cronômetro com dez minutos apareceu no lado esquerdo do meu campo de visão.

‘Não há tempo para pensar.’

Comecei a andar em frente.

— Ei, o que está fazendo? Não interfira… Agh!

Agarrei o pulso do homem que bloqueava meu caminho e o torci.

— Aaargh!

Bam! Um chute no peito o fez voar em direção à fonte com um estrondo.

— On-Onde estou? — Priasis gritou, mas ninguém lhe respondeu. Os únicos sons eram os gritos de raiva da multidão. Uma sombra tremeluziu atrás das cortinas do terraço.

Pulei até o topo da fonte e saltei novamente, subindo vários metros, chutando peitoris de janelas e grades para conseguir subir mais alto.

Aterrissei no terraço num instante.

— Aaaa! — Assustada com minha chegada repentina, Priasis caiu no chão. — Han?! Que lugar é esse…

— Não há tempo para explicar. Precisamos escapar em dez minutos.

— O que você disse…?

Zip! Um som agudo cortou o ar.

Balancei minha mão direita. Uma flecha de besta caiu no chão da minha palma aberta.

Se eu tivesse sido um pouco mais lento, Priasis teria um buraco na testa.

— Essa situação não parece familiar?

— S-Sim, é verdade.

— Precisamos sair daqui. Segure firme.

Priasis mordeu o lábio e assentiu.

Ela não era a garotinha ingênua que conheci. Ao longo dos anos, ela cresceu através de inúmeras batalhas e dificuldades. Com uma expressão resoluta, Priasis envolveu seus braços em volta de mim. E naquele exato momento…

— Graaaaaah!

Eles apareceram.

Do outro lado do terraço, do outro lado da rua, dos portões do templo e da praça abaixo, soldados saíam como uma enxurrada com os olhos injetados de sangue e com sangue escorrendo de todos os poros de seus corpos.

Eles não eram mais humanos, possivelmente eram monstros.

‘Então esse é o grande truque?’

Eu já tinha completado este Andar Principal, mas agora está no modo ‘difícil’.

Que reviravolta encantadora. Ri, enquanto abraçava Priasis e pulava do terraço. Saltando uma distância de cinco metros, pousei no telhado de um prédio próximo.

— Matem! Matem todos!

Cidadãos, soldados, cavaleiros, assassinos, não importava. Todos se aglomeraram em direção a Priasis. Dezenas de pessoas foram esmagadas até a morte na debandada, mas ninguém parecia se importar. Não havia um pingo de razão neles.

Zing! Zing, zing, zing! Os assassinos dispararam suas bestas.

Desviando delas, corri de telhado em telhado.

— Eles são realmente humanos? — Priasis perguntou, olhando para trás com o rosto pálido.

Os soldados saltaram vários metros no ar para alcançar os telhados. Assim que um deles cruzou os olhos comigo, eles reviraram os olhos e caíram de quatro, correndo como animais.

— Bom, eu também não tenho certeza.

Eu já tinha memorizado o mapa da cidade. Corri pelos becos, passando por incontáveis ​​caminhos ramificados enquanto me movia. 

Com Priasis ao meu lado, não consegui fazer grandes movimentos, mas foi o suficiente. Balancei o Bifrost embainhada e estilhacei as cabeças dos inimigos que bloqueavam o caminho.

Não foi difícil se livrar deles. O problema viria quando tentássemos ir embora, pois as saídas eram limitadas e eles definitivamente as estariam protegendo.

‘Bom, vou continuar de qualquer maneira.’

Saí correndo do beco.

‘A saída deve estar logo à frente. Com certeza…’

No final da estrada principal, havia um portão com vinte soldados de guarda.

— Graaah! Kyaaaaah!

Olhei para trás.

A massa de cidadãos e soldados, uma multidão emaranhada, corria em nossa direção.

Era como uma onda massiva de corpos. Se fôssemos pegos nela, eu poderia sobreviver, mas Priasis não teria chance.

‘O mais rápido possível…’

— Não entrar em pânico.

Eu lancei Priasis no ar.

— …?!

Ela gritou enquanto voava para cima.

Estalei meus dedos. Zap! Um raio saiu das pontas dos meus dedos e envolveu Priasis, suspendendo-a no ar. Um simples feitiço gravitacional.

— O que…!

— Aaaiiiiiih!

— Que som estranho.

Coloquei minha mão no punho da minha espada e um raio vermelho-escuro começou a crepitar ao redor do punho.

< Então, essa é sua tentativa patética de ganhar tempo. Até a santa da igreja atingiu seu limite. >

Halkion estalou a língua em sinal de desaprovação. Uma perda de tempo patética.

E ele está certo.

— Graaaaah!

Antes que os soldados pudessem nos atacar, eu estalei meu polegar e desembainhei minha espada. Um arco vermelho de energia destruiu tudo em um raio de dez metros.

As vinte pessoas presas no arco hesitaram por um momento antes de desmoronarem em pedaços perfeitamente cortados.

A rua antes limpa agora estava manchada de sangue e pedaços de carne.

Embainhei minha espada.

Quando abaixei minha mão direita, Priasis, que estava suspensa no ar, desceu lentamente.

— Vamos.

Priasis assentiu com uma expressão trêmula e inquieta. À frente, na passagem pelo portão aberto, um vórtice de luz rodopiava.

Aquela era a saída. Apressei o passo quando passamos pelo portão.

— Priasis, isso ainda não acabou. Se acabarmos em outro lugar estranho, mantenha a compostura.

— Certo.

— Bom.

Olhei para o cronômetro.

Demorou cerca de quatro minutos e trinta segundos.

Não é uma pontuação ruim.

Qlqr1 deslizou para a tela mais uma vez.

Uma luz ofuscante começou a jorrar do vórtice.

‘A primeira ilusão foi o décimo quinto andar. Qual será o próximo…?’

Não tive escolha a não ser vivenciar isso em primeira mão.

Entrei no vórtice de luz.

A luz se dissipou e uma onda de areia e poeira me envolveu. Em meio à tempestade, ouvi a voz da santa.

〈 Então, você passou do décimo quinto andar. 〉

— Que decepção. Era realmente tudo o que você tinha?

〈 Ah, não, há um presente muito maior preparado para você. 〉

— Estou ansioso por isso.

Coloquei meus pés firmemente na areia e olhei ao redor.

Priasis não está aqui. Nós fomos separados durante a transição.

‘Se estamos lidando com areia, só há um lugar onde isso deve ser.’

Embora eu tivesse adivinhado errado, isso realmente não importava. Respirei fundo.

Cuspi a areia que tinha entrado na minha boca e olhei em volta.

Um deserto sem fim se estendia diante de mim, com tempestades de areia à distância que obscurecem minha visão.

E muito além, através das areias rodopiantes… uma sombra enorme começou a se mover.

— …Que ótimo.

Um suspiro escapou dos meus lábios. Esse era o único inimigo que eu não queria enfrentar.

〈 Gostou do meu presente? Esta missão não será fácil. 〉

— …

〈 Com seu frágil corpo humano, você acha que pode derrotar o auge da magia antiga? Hehehehehe, que você e sua amiga traidora encontrem seus túmulos em minha ilusão. 〉

A voz de Lianne desapareceu.

Dei de ombros.

Bum! O chão tremeu levemente. Era o peso dos passos da estátua. A coisa estava se movendo em direção ao lado direito do deserto. 

‘Não está atrás de mim.’

Não muito longe da estátua, era possível ver Priasis correndo freneticamente.

‘…Merda.’

Priasis fugia desesperadamente, mas a estátua estava logo atrás dela.

Ruuuuuuuu. A estátua levantou lentamente seu enorme braço.

< Han, corra! >

— Eu sei!

Bum, bum,bum! Levantei uma nuvem de areia enquanto corria.

A Velha Estátua tem cerca de trezentos metros de altura, aproximadamente da altura da Torre Eiffel. É incrivelmente e impossivelmente enorme.

‘Estou muito longe!’

Priasis tropeçou e caiu.

‘O auge da magia antiga.’

Nenhum ser humano comum poderia esperar enfrentar algo assim.

Se os Homens Lagarto não tivessem criado um caminho para os pontos fracos internos da estátua, estaríamos todos condenados.

Essa coisa podia sacudir o chão e dividir a terra com um único soco. A força era comparável a centenas de bananas de dinamite. E agora, aquele punho estava descendo em direção a Priasis.

‘Você acha que venceu?’

Em algum lugar, a santa devia estar sorrindo presunçosamente, nos observando nessa situação perigosa.

Dobrei meus joelhos.

‘Se é isso que você quer, então eu vou te mostrar.’

Mordi minha língua com força sentindo o gosto metálico de sangue na boca.

— Halkion.

Zzzzz!

Um relâmpago vermelho escuro surgiu e crepitou, envolvendo todo o meu corpo.

Escamas pretas surgiram da minha pele, cobrindo meu corpo, e minha visão ficou vermelha.

Bum! Eu me levantei do chão com um salto enorme e uma coluna de areia surgiu atrás de mim.

Sreung. Desembainhei Bifrost e meu reflexo apareceu na lâmina negra. Uma transformação completa em um monstro. Mas isso não me importa. 

Sorri e girei a lâmina.

— Aaaaah! — Priasis fechou os olhos com força.

O punho do gigante estava caindo em sua direção.

< Quanto sua espada está pesando? >

— Cinquenta milhões de vezes o peso original.

< Hahaha! Excelente! Mostre-me o poder do Rei Dragão! >

Trrrruummmm! A lâmina negra começou a vibrar, deixando imagens residuais enquanto se movia. Uma tênue luz escura vazou da espada.

< A propósito, essa é muito espada fina. Como ela não quebra com o seu peso aumentado em cinquenta milhões de vezes? >

— Quem a criou foi certeira em sua criação.

< Hehehe! Que divertido. >

Parei bem ao lado do Priasis, segurando o cabo da espada com as duas mãos.

Trum! Meus pés cravaram fundo no chão arenoso.

E então, girei a espada com toda a minha força em direção ao punho descendente do gigante fazendo uma onda de choque, que se espalhou em um arco circular.

Bum! O braço da estátua antiga quebrou e voou no ar. Centenas, milhares de fragmentos estavam espalhados como pedras quicando.

Groooooar! O corpo enorme da estátua balançou e cambaleou para trás, enquanto os destroços caíram do céu como uma chuva torrencial.

Empurrei Bifrost para trás de mim.

— O que… o que é isso…

— Cem milhões de vezes.

Trrrrrrruuuuuum! O Brilho escuro de Bifrost ficou ainda mais forte. Apertei um botão no punho da espada e com um som mecânico, a lâmina da espada se expandiu para fora.

Agora na forma de uma espada larga.

BIfrost, uma arma de grau S, pode evoluir indefinidamente com base nas características de seu usuário.

‘Expanda.’

Clink, clink, clink, clink.

A lâmina se estendeu.

Dois, três, cinco, dez, vinte, trinta… cinquenta metros.

Cem metros …Até finalmente chegar a duzentos metros.

‘Originalmente, o centro de gravidade o torna esse tipo de espada inutilizável…’

Mas isso não me afeta.

Bummm!

Comecei a correr, jogando areia para todo lugar. Segurei o punho da espada com as duas mãos e a puxei para o lado¹.

‘Apenas uma vez.’

Uma grande linha foi esculpida no ar quando a lâmina escura de Bifrost colidiu com a estátua de pedra.

Buuuum, craaaaaaaaaash!

A lâmina de duzentos metros de comprimento disparou faíscas, cortando a parte superior do corpo da estátua como se fosse um pão.

1. Me pergunto como não acertou Priasis no meio dessa façanha…[↩]