Capítulo 271: Catástrofe (2)

Tradução: Nimsay

Abri meus olhos e a janela da missão apareceu no lado direito da minha visão.

Dessa vez o objetivo era exploração, algo que eu já esperava.

As tropas que defendiam a capital imperial foram quase dizimadas no septuagésimo quinto andar. Na batalha, a maioria dos oficiais de alta patente, incluindo o comandante, foram aniquilados, deixando para trás apenas alguns remanescentes espalhados.

‘A capital imperial, Bardia. A capital que deu início ao império.’

Uma bela cidade que parecia ter saído de uma pintura, construída em torno de um grande palácio imperial.

Craaaaa, buuuum! Os destroços do telhado dourado caíram após uma explosão. A cidade estava queimando em muitos lugares.

— Vida longa… a sua Alteza, o Príncipe…

A cabeça de um soldado ajoelhado saiu voando. Um mercenário, com uma barba irregular, limpou o sangue de sua lâmina e incitou seus subordinados.

— Ainda pode haver alguns desses pilantras. Encontre todos e mate-os!

— Sim!

Cadáveres jaziam espalhados entre as colunas de mármore do jardim do lado de fora do palácio. Os gritos dos moribundos se misturavam ao forte cheiro de sangue que estava impregnado no ar.

‘Não precisamos lutar…?’

Eu olhei para o céu crepuscular, onde uma frota aliada, formada por heróis e o exército da princesa, flutuava.

As tropas do príncipe foram efetivamente esmirralhadas após limpar o septuagésimo quinto andar, mas a frota aliada, determinada a não mostrar qualquer complacência, preparou-se para o bombardeio.

< Ouça, traidor Pryos Al Ragna! Seu nojento que destruiu a vida de dez milhões de pessoas! >

Uma voz estrondosa ecoou da nau capitânia da frota.

< A capital imperial está completamente selada. Vocês não têm escapatória! Rendam-se agora e enfrentem o julgamento da justiça! Mais uma vez, declaramos: sob a bênção da linhagem legítima, sua Alteza, a Princesa, esta guerra termina com nossa vitória… >

— Meu Deus, quanto barulho. — Velkist cutucou a orelha.

— É para aumentar nosso moral. É uma declaração de que vencemos. — Jenna falou enquanto examinava os arredores. — A guerra civil está quase acabando e voltaremos para casa em breve. Tudo o que nos resta é capturar aquele príncipe ou o que quer que ele seja.

— Ele é o problema, não é? — Velkist estalou a língua levemente.

Não houve qualquer visualização do príncipe do quinquagésimo até o septuagésimo quinto andar, mesmo quando seus subordinados leais caíam um por um. Se ele tivesse intervindo, o curso da guerra teria mudado sem dúvida.

‘Qual é o plano dele?’

Se seu propósito original era ‘libertação’ como havia afirmado, ele deveria ter se mostrado muito antes. Mesmo agora, com a espada do exército da princesa apontada para seu pescoço, ele permanecia escondido.

Pensei nisso várias vezes, mas não havia uma resposta clara. Terei de confrontá-lo diretamente para descobrir.

Olhei para o lado, onde estava o jardim e as passagens que cercam o palácio. No centro, um grande portão levava à sala do trono imperial.

E lá estava Pria, usando um vestido branco prateado.

— …Han. Eu sabia que você viria.

Pria olhou para mim e sorriu, uma covinha se formando levemente em seus lábios¹. Trajada com um vestido elegante e uma coroa e ladeada por guardas vigilantes, seu comportamento era naturalmente majestoso.

No sextagésimo andar, ela parecia tão inocente e ingênua. Agora, ela exalava solenidade.

‘Hum…’

Agora não há qualquer vestígio daquela menina em Pria. Faz sentido, já que ela está com vinte e tantos anos, mais velha que eu.

— Bem-vindo, irmãozão.

Ao lado dela, Yoshu, com a espada ao lado, abaixou a cabeça. Seu rosto tinha inúmeras cicatrizes e ele tinha uma barba espessa. Ele havia se livrado de todos os traços de sua fragilidade juvenil.

— Graças a você e aos heróis, nosso exército venceu. Agora, tudo o que precisamos fazer é fincar a bandeira no trono.

— Ainda falta um. Não comemore ainda.

— Há apenas uma quantidade limitada de coisas que uma pessoa pode fazer. E não importa o que ele faça, não temos nada com que nos preocupar. Temos o guerreiro invencível. — Yoshu riu.

— Yoshu, não sobrecarregue ainda mais o Han. Ele já fez o suficiente.

— Foi só uma brincadeira, Vossa Majestade.

— …Eu ainda não sou ‘Vossa Majestade’. — Pria suspirou. — De qualquer forma, esta guerra miserável está chegando ao fim. Agora, precisamos unir forças e avançar para uma nova era.

— Abram o portão.

Ao comando de Yoshu, o grande portão para o interior do palácio se abriu com um barulho estrondoso. 

Um vento frio soprava de dentro para fora.

— O príncipe deve estar aqui. Devemos mobilizar as tropas de elite imediatamente…

— Não, eu vou sozinha. Tenho coisas para discutir com meu irmão.

— É perigoso. Por favor, lembre-se, Vossa Majestade, que seu corpo não é só seu.

— Está tudo bem. Estou com o cavaleiro mais confiável de todos. — Pria se virou para mim. — E então? Você vai esperar aqui fora?

— Mas…

— Se meu irmão tivesse a intenção de lutar, ele já teria se mostrado. Confie em mim só dessa vez. Posso também perguntar o mesmo aos guerreiros atrás de nós?

— Uh, bem… — Jenna olhou para mim.

Pria era um alvo primário da guarda. Separar-se dela deixaria uma lacuna significativa na segurança. O risco de um ataque aumentaria exponencialmente.

Mas as palavras de Pria também faziam sentido. Se o príncipe tivesse tido vontade de agir, ele o teria feito muito antes.

Eu assenti.

— Obrigada, Han.

Pria agarrou a bainha do vestido, fazendo uma reverência para mim, e então começou a caminhar lentamente para dentro do palácio. Eu a segui, segurando a bainha de Bifrost.

Assim que entramos, o portão atrás de nós se fechou com um estrondo alto. As lanternas penduradas nas colunas de mármore acenderam-se simultaneamente, iluminando o espaço.

‘Bem, não é como se eu tivesse vindo sem um plano.’ 

— Velkist, Jenna, estejam prontos para entrar assim que eu der o sinal. Fiquem de olho em qualquer coisa suspeita — murmurei baixo o suficiente para que Pria não ouvisse.

< Entendido. >

< Sim, senhor! >

— Velho, prepare-se para se mover também.

< Entendo. >

Roderick, o comandante do esquadrão aéreo de Taoni, também respondeu.

Isso estabeleceu um seguro básico. O que quer que acontecesse, se eu pudesse ganhar um pouco de tempo, reforços logo chegariam.

O som dos meus passos mal ecoavam nos corredores vazios do palácio, enquanto os saltos de Pria batiam suavemente no chão de mármore.

— Han.

— O que?

— Estou envelhecendo. Pareço pior do que antes?

— Pior? Nem um pouco.

— Ufa, então valeu a pena o esforço para me manter. — Pria parecia mais jovem do que se poderia esperar. Se alguém dissesse que ela tinha vinte e poucos anos, acreditaria. — A resposta daquela época… você ainda não se decidiu, não é?

— Isso é… verdade.

— Leve seu tempo. Vou me certificar de não desagradar você enquanto isso — Pria murmurou com um suspiro. — Posso ter envelhecido uma década, mas…

Eu não respondi, apenas segurei a bainha do Bifrost com mais força.

— É tudo tão estranho e estou sempre cheia de perguntas. Porque esse sonho aparece somente para mim? Por que meu irmão fez o que fez e por que você veio até nós? Essa distorção…

— Quem sabe? Talvez esse cara nos conte — falei, olhando para frente.

Pela porta aberta, uma visão familiar da cerimônia de ascensão de quatro estrelas foi apresentada.

‘A Câmara do Imperador.’

O lugar onde os heróis de Taoni se prepararam para sua resistência final antes de sua total destruição. Pensei que haveria pelo menos um atendente, mas o palácio estava completamente silencioso.

Nem um único rato corria por ali, era um espaço completamente deserto.

Exceto por uma pessoa sentada no trono dourado.

Acima da cabeça dele apareceu uma janela com seu nome.

‘Que nível insanamente alto.’

Não haveria um monstro como esse em nenhuma parte da minha conta. Realmente adequado para o último chefe de uma conta de nível S.

Preparei-me para desembainhar minha espada, pois não posso me dar ao luxo de ser descuidado. Quem sabia o que ele poderia fazer?

— …Irmão.

Pria estreitou os olhos e deu um passo em direção ao trono.

Eu a segui lentamente.

‘Um evento especial? Que elaborado.’

Dei de ombros.

— Vocês dois estão aqui. Me poupou o trabalho de procurá-los.

Um sorriso torto apareceu por baixo das ataduras. Ele estava recostado em um trono feito de ouro, examinando algo colocado no braço da cadeira.

Era uma esfera azul em um suporte de metal.

‘Isso é… um globo terrestre?’

Um objeto completamente inesperado.

— Você trouxe um belo exército, Pria.

— …

— Não tem sentido algum. Mesmo com um milhão de tropas, o resultado é o mesmo. — O príncipe girou o globo levemente e então olhou para mim. — Não é mesmo? O futuro deste mundo é predeterminado. Não há nada que meros mortais como nós possamos fazer para mudá-lo.

— Você está falando mais bobagens do que nunca. — Srrrng. Desembainhei parcialmente o Bifrost. — Não tenho tempo para brincadeiras. Se você tem algo pra dizer, fale logo.

— Você… — O príncipe girou o globo mais uma vez. — Veio de um lugar interessante. Um lugar muito divertido. Planeta Terra, né? Eu vi carruagens silenciosas correndo por estradas e palácios retangulares de aço perfurando o céu.

— Seu miserável…

— Não me menospreze. Mesmo que eu tenha acabado como um mero peão, ainda tenho maneiras de me conectar com o mundo exterior. Eu tenho ajudantes confiáveis.

Então pude ver sombras se erguendo de ambos os lados do príncipe. Duas pequenas figuras surgiram, um garoto e uma garota em vestes gastas. Eles olharam para mim com rostos inexpressivos.

‘Lantia e Shutenberg.’

Seres antigos de Taoni, como Halkion.

— Irmão, você…!

— Eu queria saber. — Pryos começou a descer do trono lentamente. — Eu estava desesperado para saber. Por que temos que enfrentar tal destruição?

Pryos agarrou as bandagens enroladas em seu rosto e as rasgou.

O lado impecável de seu rosto contrastava fortemente com as cicatrizes horríveis deixadas por queimaduras graves na outra metade. Veias pretas pulsavam visivelmente ao redor dessas cicatrizes.

— De onde vieram essas cicatrizes…?

— Considere isso o preço por aprender a verdade.

— Que verdade, Vossa Majestade? Eu testemunhei a queda de Taoni. Eu vi cidades queimando e cidadãos sofrendo. Mas você, Vossa…

O príncipe olhou para Pria.

〈 Lembre-se. 〉

Os olhos dela ficaram vazios e logo após ela caiu de joelhos.

O príncipe olhou para minha espada desembainhada e sorriu.

— Não se preocupe. Eu não machucaria minha amada irmã. Eu apenas a ajudei a relembrar memórias esquecidas.

— Memórias esquecidas?

— Sim, as memórias de antes de Taoni se tornarem um mero brinquedo.

Lembrei-me da cerimônia de ascensão de quatro estrelas. Onde Tell tomou Pria como refém para selar o contrato à força.

— Bo, ainda não é a hora de resolver as coisas. Até mesmo este mundo está dizendo isso, você não acha?

O príncipe estendeu a mão em minha direção. Uma onda suave emanou dele, sinalizando que o sistema não permitiria uma aproximação maior.

— O que exatamente você quer dizer?

— Olhe para cima, Han.

O príncipe apontou para o teto.

Ao olhar para onde ele estava apontando, no centro do teto, vi um pequeno buraco. Por aquele buraco, o sol brilhante do meio-dia brilhava.

— Você acha que essa luz vai durar para sempre?

— …?

— Essa luz é chamada de ‘Olho da Deusa²’, o farol de Taoni.

Franzi a testa. Eu não estava entendendo bem suas palavras.

— Por centenas, milhares, até milhões de anos, o Olho da Deusa continuará a brilhar. Ele iluminará a vida por toda Taoni. Mas depois de milhões, bilhões, ou até mesmo trilhões de anos, o que acontecerá?

— De que merda você está falando…?

— E o planeta de onde você veio!? — Um brilho estranho brilhou nos olhos de Pryos. — Você acha que a Terra, e seu universo, durará para sempre³?

Sua voz continha um toque de loucura.

O príncipe estendeu a mão para trás e o globo flutuou, se enrolando em suas mãos.

— …Esses seres malditos. — O príncipe olhou para o globo. Skkrrkk. O globo terrestre metálico começou a corroer rapidamente, como se o tempo tivesse acelerado bilhões de vezes. — Eles reverteram o que não deveria ser revertido⁴. — O príncipe sacudiu a mão e os restos em pó do globo metálico se espalharam. — Ainda faltam quatro. Vou preparar o palco adequado ao ato final.

O príncipe estalou os dedos.

No momento seguinte, Pria e eu estávamos do lado de fora dos portões do palácio.

— O quê…!?

Yoshu correu até nós. Pria ainda estava atordoada, sentada no chão com uma expressão vazia.

— O que aconteceu, irmãozão? Por que você de repente…?

— Fomos expulsos à força. Acho que não é hora de entramos… — murmurei.

Até mesmo um ser com quase quatrocentos de nível não conseguia escapar das restrições do sistema.

— Por que Vossa Majestade…?

— Ela vai acordar logo. Cuidem bem dela.

Eu já esperava que esse andar fosse o prelúdio do confronto no octogésimo andar. Mas eu não esperava que fosse assim.

— O que aconteceu lá dentro? — O tom de Jenna era quase acusatório.

A luz do nosso retorno começou a me envolver dos pés a cabeça.

— Conversamos.

— Sobre o que vocês falaram? Foi algum segredo sobre seu nascimento?

Estalei a língua. Um nascimento secreto não era nada comparado ao que eu tinha acabado de ouvir.

‘Do nada, ele mencionou o planeta Terra, as estrelas, o universo… e começou a falar bobagens.’

Parece até que estava tentando me dar uma dica. Sobre o motivo pelo qual Taoni, ou melhor Mobius, enfrentou sua destruíção.

Eu não sei como ele descobriu isso. Mesmo com a ajuda dos dois seres ancestrais, era inesperado que um mero monstro descobrisse tal informação.

‘Eles reverteram o que não deveria ser revertido?’

Eu olhei para cima e pude ver além do cenário desfocado, uma fratura, como uma rachadura em um vidro, riscando o céu.

1. Uma covinha nos…lábios? Isso está certo?[↩]
2. Até o momento está no singular, mas pode ser modificado para o plural no decorrer da tradução.[↩]
3. Não, vamos todos morrer 😀 [↩]
4. … Migalhas, finalmente temos migalhas do que aconteceu![↩]