Capítulo 295: A Encarnação (3)

Tradução: Nimsay

Chamas douradas destruíram o campo de trigo, cobrindo o horizonte e queimando o céu. Pryos estava de pé no centro do fogo, com sua capa ondulando. Conforme as chamas passavam, um novo lugar emergia na paisagem desaparecida.

‘Ele disse que este lugar… era um pedaço de terra.’

Este lugar foi realmente preparado para Pria?

— O trono do império… está vazio há eras.

Onde o campo de trigo desapareceu, uma vasta praça, adornada com mármore, com fileiras de colunas de mármore alinhadas, apareceu. No final das colunas, havia um majestoso trono de ouro e prata.

— Finalmente, é hora de preencher o assento vazio. — Pryos caminhou pelo tapete vermelho em direção ao trono e sentou-se nele. A coroa em sua cabeça brilhava à luz do sol. — O que vocês acham, guardiões do juramento?

Os quatro estranhos em vestes simples estavam atrás do príncipe.

O homem na extrema direita tirou o capuz, revelando um cabelo preto longo e uma coroa preta em sua cabeça. O jovem de aparência feroz sorriu.

— Você pode dizer isso? Quem mais seria qualificado senão aquele desgraçado arrogante?

Acima do jovem, apareceu um crachá com seu nome.

A mulher ao lado dele tirou o capuz, revelando cabelos brancos e uma coroa branca. Ela olhou para mim com uma expressão fria.

— Você está atrasado. Estamos esperando há muito tempo.

A garota ao lado dela tirou o capuz.

— …

Seus olhos azuis safira estavam vazios, mas eu podia sentir claramente que ela estava me encarando.

Por fim, o garoto da esquerda tirou o capuz.

Todas as quatro pessoas se revelaram, me olhando de maneira penetrante. Como se pudessem ver através de mim.

— Então… — O príncipe olhou ao redor da praça e um sorriso de prazer apareceu em seu rosto. — O que vocês acham, irmãos? Podemos realmente confiar tudo a esse homem?

Estreitei os olhos.

Na vasta praça adornada com mármore, partículas douradas se juntaram, e entre as colunas, inúmeras sombras emergiram. Títulos apareceram acima de suas cabeças.

A luz que fluía pela praça às vezes se aglomerava e às vezes se dispersava, enchendo a vasta praça com uma multidão de pessoas.

Centenas de olhares foram direcionados a mim.

‘São… os heróis do passado.’

Os monstros que encontrei enquanto subia a torre, com os quais troquei golpes e tirei suas vidas.

Dos patriarcas das quatro grandes famílias aos líderes de cada raça, renomados guerreiros bravos e grandes mágicos que chegaram ao fim de sua linhagem.

— Por que não o príncipe? Por que temos que confiar Taoni a esse pirralho? — A maga de cabelos verdes olhou para mim com ressentimento.

Persene Ridel, a matriarca da família Shutenberg e maga que uma vez lutou comigo.

— Ha ha ha ha! O que importa? Foi assim que as coisas aconteceram — o Rei dos Teriantropos, Kiadni, riu muito. Seus olhos ousados ​​estavam voltados para mim. — Eu sabia que você se tornaria isso, poderoso guerreiro.

Ri amargamente, dessa situação ridícula.

As criaturas que matei com minhas próprias mãos apareceram diante de mim, oferecendo seu poder.

— Se for para Taoni, eu aceito. — A garota vestida com uma túnica branca deu um passo à frente. Essa é a sacerdotisa e líder da Igreja de Tell Ikar. Pude ver seus olhos fechados se curvando suavemente. — Se você realmente tem potencial… não hesitarei em segui-lo.

— Ha, ha, ha! Humano ignorante, destrua esses desgraçados como você destruiu minha obra-prima. — Um Homem Lagarto curvado acenou com seu cajado. Esse cara… era o mago que controlava o Golem Gigante.

Desviei o olhar.

As chamas douradas se estendiam além da praça, enchendo infinitamente o campo com ilusões. Milhares de soldados e monstros colossais, de antigas raças desconhecidas a criaturas míticas. Tudo o que eu tinha imaginado, e o que não conseguia imaginar, de Taoni, estava presente.

— Irmãos — falou Pryos, sentado no trono. Rapidamente o silêncio envolveu o campo. — Este homem está disposto a trilhar o caminho que não pudemos. Há muito tempo, prometi a vocês liberdade. Mas, vergonhosamente, não fui capaz de carregar esse fardo. Este homem, de sangue dourado como o meu, é um profeta que testemunhou o fim do destino. Além disso, ele superou inúmeras provações…

— Desculpa interromper…— falei levantando a mão.

— Huh?

— Mas eu não tenho todo tempo do mundo. Apressa aí.

— … — Todos olharam para mim em silêncio.

— Você fala demais.

O príncipe arregalou os olhos e gargalhou.

— Hahahahahaha! Desculpa! Eu queria me exibir mais uma vez no final.

— Entendo.

— Então, vamos começar imediatamente. — Pryos levantou-se do trono e na frente de todos, apontou para mim. — Este homem, Israt Al Ragna, diz que vai reviver Taoni!

— …

— Por favor, liberte as almas de meus irmãos! 

A sacerdotisa, Lianne, fez uma reverência para mim. Seu corpo se transformou em um raio de luz que disparou em minha direção.

Dei um passo para trás depois de ser acertado com um estrondo. Senti um impacto forte, como se tivesse sido atingido no plexo solar por um tronco.

‘Isso doeu…’

Eu já tinha passado por várias sínteses antes, mas dessa vez a dor foi incomparável.

Era natural. Eles não estavam usando um meio de síntese. Seus dados estavam sendo transferidos diretamente para mim.

— Mandem ver!

Peguei o Bifrost e o enfiei no chão. Ao mesmo tempo, as centenas de heróis espalhados pela praça se transformaram em luz.

Segurei firmemente o punho da espada enquanto as ondas de luz avançaram em direção ao meu corpo.

‘… Todos estão no nível noventa e nove.’

Não eram poucos, havia pelo menos milhares deles. Uma onda de informações incalculáveis ​​começou a queimar meu cérebro.

— …

Minha visão ficou branca. 

Além da visão turva, seus passados ​​emergiram. Caoticamente misturados, era impossível distinguir quem era quem. Era como um redemoinho, um mangue cheio de lama, um caos distorcido.

‘Foi por isso que os outros não aguentaram?’

Cerrei os dentes com tanta força que quase os quebrei.

Se eu soltasse a corda da razão por um momento, minha própria existência desapareceria.

Junto com a visão turva, inúmeras mensagens de subida de nível apareceram. Estava no nível noventa e nove antes de vir para cá, então eu já tinha ultrapassado o limite.

‘Mas isso não é suficiente. Está longe de ser suficiente.’

Para enfrentá-los, para arrancar suas cabeças, espremer suas entranhas e dilacerar seus corpos, é preciso muito mais poder.

Eu enfiei Bifrost mais fundo no chão com um estrondo e uma grande rachadura se espalhou a partir da bainha embutida.

— Han Israt! — Atrás do trono, Halkion tirou seu manto. Ele usava uma armadura preta cobrindo todo o seu corpo. Seus olhos brilhavam em vermelho. — Você realmente vai parar agora? Nós nem começamos!

— Você está falando sério? — Cuspi sangue misturado com saliva e endireitei minha espada. — Não é o suficiente. Dê-me mais.

Eu desembainhei a espada e algo quebrou na minha cabeça com um som de estalo.

Mais uma vez, uma onda de luz transbordou.

Os heróis e monstros que antes enchiam a praça e o campo já haviam desaparecido.

Quatro seres antigos se ergueram em direção ao céu. Cada um emitiu um brilho, preto, branco, azul e vermelho, fundindo-se em uma única luz.

— Han Israt — falou Assinis. — Shutenberg e Lantia já estão corrompidos. Se você desejar, eles serão eliminados…

— Traga-os também.

— Existe um risco de corrupção.

— De qualquer forma, eventualmente terei que superar isso, não é?

Absorver heróis e personagens não jogáveis tem seus limites. Para ser verdadeiramente ‘infinito’ devo consumir o próprio fragmento.

— Haha! Claro, Assinis. Han é muito mais forte do que você pensa.

— Por que você está se gabando? Deveria ter sido eu, não você, o primeiro contratante dele.

— Hmph. Insolente. Não vou trocá-lo com você.

Suspirei descrente. Mesmo aqui, eles continuam discutindo.

— De qualquer forma, aqui vou eu. Receba-me! — Halkion esbravejou.

— Vem logo.

— Foi uma jornada longa e tortuosa. Agora, finalmente podemos descansar.

As quatro luzes começaram a girar.

Fechei os olhos. Finalmente, uma onda imensurável de poder lentamente se infiltrou em meu corpo.

Era uma força tremenda, mas não senti dor. Era como estar em um banho quente. Expirei lentamente, sem deixar escapar um pouco de poder.

< Adeus. Foi divertido. >

— …

< Brincar com você foi muito agradável. >

Essas foram as últimas palavras de Halkion para mim.

Depois que tudo acabou, abri meus olhos.

— Como se sente? Percebe alguma mudança? — Pryos, sentado no trono, olhou para mim.

Fechei e abri meus punhos. Eu podia sentir que algo havia entrado no meu corpo, mas não notei nenhuma mudança significativa.

— Você é como um pintinho recém-nascido da casca. Você não vai se acostumar com isso. Leve o seu tempo para se adaptar a esse poder.

— Já acabou?

— Sim. Só eu permaneço.

Olhei em volta.

A praça, antes cheia de pessoas, agora estava vazia. Os numerosos heróis e os quatro seres antigos não estavam mais lá.

— E aqueles que eu devorei?

— A existência deles foi extinta. Mesmo que Taoni renasça, ninguém se lembrará desses seres. Eles serão esquecidos por todos.

— …

— Não se preocupe. Eles fizeram isso porque queriam. Todos eles estavam dispostos a sacrificar suas vidas por Taoni.

— Você também será esquecido por Pria?

Pryos não disse nada, mas não parava de sorrir.

‘Agora eu entendo.’

Mesmo que eu ganhe e tudo volte ao normal… Não haverá lugar para esses seres em Taoni.

— Seus tolos… — ri amargamente.

— Posso te pedir um último favor?

— O que é?

— Por favor, salve Pria… — Pryos sussurrou, enquanto seu corpo começou a ser envolvido pela luz. — Salve Taoni…

— …

— Posso confiar… em você? — A voz de Pryos falhou. Pela primeira vez, seus olhos sempre firmes tremeram levemente. Aquilo era claramente uma emoção de medo.

‘Neste ponto, demonstrando fraqueza. Não combina com você.’

Depois de brincar comigo por tanto tempo, vá embora com a mesma arrogância.

É irritante.

— Por falar nisso.

— Hum?

— Eu planejei me vingar daqueles desgraçados de qualquer forma. Eles são miseráveis. Se eu tiver tempo no caminho, eu farei isso.

— …Obrigado. — Pryos fechou os olhos com satisfação. O corpo dele se transformou em uma pequena luz e se fundiu comigo.

Com isso, fiquei sozinho neste lugar.

— …

Em frente ao trono, um portal dimensional conectando-se à Sala de Espera girava como um vórtice.

‘Agora vai começar?’

Se eu passar por esta porta, não haverá mais volta. Ou eu morro, ou eles morrem.

Não haverá outro resultado.

— Aaaaah.

Respirei fundo.

Tudo começa com o primeiro passo. Mesmo que seja devagar. Muito devagar.

Embainhei Bifrost e a prendi no meu cinto. Alonguei e girei meus ombros rígidos.

‘O que devo fazer primeiro? Afinal estarei bastante ocupado quando sair daqui.’

Caminhei lentamente em direção ao portal dimensional.

< Amigo. >

Ouvi uma voz fraca. Olhei para os lados mas nada vi.

< Você esqueceu algo. >

Instintivamente peguei o objeto que me foi atirado. Uma capa feita de pele de lobo branco.

— …

Olhei ao redor, mas não havia qualquer vestígio daquela pessoa.

Ri e me enrolei na capa.

‘Chega de demorar…’

Eles estão me esperando

1. Lembrem, eles não tem gênero. Então aparecer como mulher ou homem é puramente estético.[↩]