Capítulo 304: Ragnarok (9)

Tradução: Nimsay

A ponta do terno do homem que se apresentou como Hartkent tremulou.  Na verdade, nem ligo qual seja o nome dele. 

Joguei o cadáver contra a parede e o corpo reduzido a cinzas, desmoronou.

No primeiro andar da sede, andei pelo corredor depois de passar pelo posto de controle de segurança. Eu poderia ir direto para o último andar se pegasse o elevador, mas os botões não estavam respondendo.

Eles provavelmente o bloquearam deliberadamente.

‘Não importa.’

Subir andar por andar também não será ruim. De qualquer forma, eles não conseguirão escapar deste prédio.

[Ei, Loki.]

Quando eu estava prestes a subir as escadas no final do corredor, Freya voou em minha direção. Ela voou ao meu redor, espalhando poeira estelar.

[O Éden tem um porão. Você sabia disso?]

— … Um porão?

[Funcionários do tipo fada como eu moram lá. É bem perto daqui.]

Freya voou para baixo. Com suas mãozinhas, ela traçou um círculo em uma rachadura embaixo da escada.

[Aaaaaaa! Poder das fadas!]

Uma porta apareceu na parede de metal selada. Freya puxou a maçaneta com força.

[Abre-te Sésamo! Ugh!]

Dentro da pequena porta com menos de um metro de altura havia um buraco negro giratório.

Olhei para o buraco. Na minha mente apareceu a paisagem além da porta.

‘Espaço e tempo… são misturados.’

Senti uma dissonância, e essa foi a causa. Além da porta não havia um espaço vasto como esta cidade, mas vários mundos paralelos divididos e unidos como um quebra-cabeça.

[É a entrada para a Terra das Fadas.]

— Que nome grandioso.

[Ouvi isso quando estava na escola das fadas. Dizem que há um cofre escondido cheio de joias. Embora possa ser apenas um boato…]

— Não é um boato… é real.

Senti uma força do outro lado do buraco, uma sensação estranhamente familiar. Lembrei-me da explicação de Freya sobre como o dinheiro na Terra continha poder de interferência. Provavelmente, naquele armazém estava a reserva de Mobius.

Tirei a última adaga da bainha.

— Teremos que nos separar aqui.

[Sim. Eu também quero resgatar minhas companheiras na Terra das Fadas.]

Freya tirou a adaga da minha mão.

— Se precisar de mais energia, sinta-se à vontade para usar a minha. Estamos conectados, então você deve conseguir.

[E você, Loki?]

— Eu vou subir e derrubar todos os diretores e, finalmente, Tell.

Freya engoliu em seco e estendeu a palma da mão em minha direção. Eu entendi o que ela queria.

— Que bobagem — falei rindo, enquanto bati minha palma na dela. Foi um ‘toca aqui’ bem normal.

Freya sorriu, satisfeita.

[Então, aqui vou eu!]

Freya mergulhou no buraco e, assim, fiquei sozinho.

Alisei a estátua com mais força mais uma vez. Cada vez que a parte afiada da estátua roçava minha mão, meus sentidos retornavam.

‘Isso tudo…’

Olhei pela janela do prédio, onde a cidade iluminada pelo amanhecer brilhava com as luzes da cidade.

‘Terminarei antes do nascer do sol.’

Subi as escadas com força.

Ra-a-tat-tat!

Assim que cheguei ao segundo andar, fui alvejado por uma metralhadora. Imediatamente saquei a Espada de Escamas de Dragão e a brandi.

A lâmina do chicote atravessou os pilares de concreto, desmantelando as metralhadoras e as unidades de forças especiais. Foi tudo em vão. Mesmo que uma brigada de forças especiais viesse, não seriam capazes de me arranhar.

— Como isso está acontecendo?! Eles disseram que era apenas um herói de sete estrelas…

— Ainda não entendeu? Você é apenas um peão descartável.

— Aaaah! Aaaah!

Depois de matar tantas pessoas, gradualmente o assassino se torna insensível. 

Eu sinto nada, era como respirar para dentro e para fora. Toda vez que subia um andar, dezenas de unidades de forças especiais ou executivos de empresas bloqueavam meu caminho.

‘…Fracos.’

A lâmina de Escama de Dragão rasgou a carne frágil, manchando cada vez mais as fachadas de vidro.

Bati num coroa com um martelo. Os olhos de um monstro com forma humana se voltaram para os lados com o impacto.

Ataquei novamente e o monstro foi transformado em carne moída.

Esses seres tem cerca de dois metros de altura, uma pele na cor negra e eram cheios de músculos assustadoramente densos. Mas a parte onde o rosto deveria estar era completamente lisa.

‘Uma réplica de um herói de sete estrelas provavelmente criadas de heróis de alto escalão.’

Corpos com a dureza do aço, movendo-se em velocidades supersônicas, com várias toneladas de força em um único golpe. Eles poderiam ser considerados armas ambulantes.

Virei meu pescoço para o lado desviando de um punho, como um aríete, que roçou minha bochecha. Peguei o punho com a palma da mão e virei para a esquerda até fazer um som de ‘crack’. O corpo da réplica se contorceu como um trapo torcido e se transformou em polpa em um instante.

Na minha mão estava um martelo de prata, a arma principal usada pelo diretor que encontrei no décimo sétimo andar. Para esses pequenos grupos de elite, uma arma pesada como essa era mais adequada do que um chicote.

‘Muito fácil.’

Fácil demais. Tão fácil que senti nada. Eu podia ver claramente como eles se moveriam. Mesmo que fossem máquinas com padrões de combate eficientes, analisados ​​de vários dados de missão no jogo…

‘Por que eles são tão fracos?’

Guardei o martelo no espaço de armazenamento depois que o grande salão estava cheio de clones despedaçados.

Nenhum deles manteve a forma ‘original’.

‘Se você é um deus… deve ser capaz de manipular o tempo ou quebrar o espaço. Eles só conseguem fazer isso? Cuspir fogo? Ser mais rápido e mais forte que os outros?’

「Por favor, me perdoe! Vou falar bem de você para a presidenta! Por favor…」

O fogo azul envolveu o corpo do homem enquanto ele falava. As chamas infernais eram milhares de vezes mais poderosas que as originais e consumiram o homem.

「Aaaah!」

O fogo do inferno parecia consumir o andar inteiro. Mas apesar de toda a comoção, o prédio da sede não desabou.

‘Há uma barreira de alta resistência.’

Esse prédio deve estar sendo protegido por um poder especial. Eu poderia destruí-lo à força, mas preferi não fazê-lo. Se eu o destruísse e Tell escapasse, seria um problema.

‘…’

Absorvi o corpo derretido do diretor.

‘Tão fraco.’

Incrivelmente fraco.

Claro, objetivamente falando eram mais fortes que um herói de sete estrelas, mas comparados ao caos que fluía dentro de mim, eram apenas palha.

‘Ainda posso chamá-los de deuses?’

Respirei fundo, enquanto o calor escaldante espalhava-se por todo o meu corpo.

‘Eu me torno mais forte a cada segundo que passa.’

Incalculavelmente mais forte. Os dados dos tipos que absorvi foram comprimidos e misturados de forma mais fina no meu corpo.

Absorver quatro deuses não me deu a força de quatro. A densidade de poder aumentou exponencialmente com cada uso das minhas habilidades.

Eu não sei quantos peões eu já eliminei. Pelo menos mais de mil. No quinquagésimo andar, alguns deuses me atacaram em grupo, mas os esmaguei facilmente.

‘Ahhh…’

Quanto mais eu subia, mais únicas suas habilidades se tornavam. Eles podiam voltar no tempo, criar rachaduras no próprio espaço, alterar a causalidade e transformar ilusões em realidade. Alguns tinham o poder das raças antigas que já absorvi, mas meus sentimentos não mudaram.

‘Eles eram como vermes.’

Insignificantes, inúteis. Por que eu deveria me sacrificar por esses vermes?

‘Estou errado?’

Lutando por… esses troços… Em vez disso… seria melhor matar todos eles…

‘…’

Bati minha cabeça na parede.

— Cale-se — falei enquanto sangue vermelho escorria da minha testa rasgada. 

‘Mudei minha perspectiva.’

Instintivamente, olhei para baixo. Como um humano olhando para uma formiga.

Não apenas Tell. 

Freya, Siris, Yurnet, Jenna e Velkist. Tudo parecia sem sentido.

— Ahhh…

Eu finalmente entendi.

Um deus, no verdadeiro sentido da palavra, não tem emoções, não tem ego. É apenas um programa que executa as leis do universo e os comandos dados. Como os fragmentos que repetiam ações destrutivas e aqueles olhos atentos.

‘Eles eram os administradores…’

Essa era a verdadeira identidade de Tell e dos diretores. Eram seres imperfeitos presos entre deuses e humanos.

Cópias imperfeitas de deuses.

Cheguei num grande escritório. Cada mesa tinha um computador de última geração. Impressoras, faxes e copiadoras de alta qualidade. A atmosfera de uma sala de trabalho que só seria vista em um prédio corporativo.

‘Tem ninguém aqui.’

Os funcionários devem ter evacuado às pressas pois documentos confidenciais estavam espalhados pelo corredor.

< Irmã! >

A voz animada de uma garota ecoou.

Atrás de uma cadeira giratória caída, uma garota elegantemente vestida com um terno feminino estava de pé.

‘Isso é… uma ilusão de milhares de anos atrás.’

Parecia Tell, mas a atmosfera era diferente.

< Como estou? >

< … >

< Co-diretora. É um bom título, não é? >

< … >

< Eu quero salvar as pessoas daqui. >

Ikar, a irmã mais nova de Tell, que agora é uma bateria viva. Ela estava conversando com alguém.

No nonagésimo quinto andar da sede tem um corredor feito de azulejos brancos.

< Caros amigos, obrigada por votarem em mim! Serei sua representante e trabalharei duro por um mundo melhor. Aham, o objetivo da minha irmã e meu é… que todas as vidas de Mobius sejam felizes. Embora não tenha experiência e cometa erros, tentarei muito. Por favor, cuidem de mim! >

A ilusão de Ikar cintilou. Desta vez, ela estava usando um vestido branco esvoaçante.

Uma faixa em seu ombro dizia ‘Parabéns pela eleição!’.

‘Ela se tornou uma representante dos deuses?’

Então ela era a CEO. Este título provavelmente foi escolhido por meio de votação.

As memórias daqueles que absorvi fluíram para mim. O número original daqueles chamados deuses…era incontável.

Antes do Eden ser estabelecido, o Servidor Um era chamado de Panteão.

‘Por que os deuses desapareceram?’

A resposta foi simples, este universo já havia sido destruído uma vez. Para reverter o ciclo, os deuses do Panteão foram sacrificados.

< Irmã. >

< … >

< Por que não está funcionando? Nós tentamos tanto. Os deuses estão nos punindo? >

< … >

< Eu não quero que isso acabe… >

< Irmã…>

< … >

< Por favor… eu… eu… >

< … >

< Este lugar… >

Abri a porta no final do corredor com um clique. A luz de um lustre dourado me cegou me cegou por milésimos de segundo para então ver um luxuoso salão feito de mármore branco.

— Hahahahaha! — Uma cadeira de couro preta girou com uma garota sentada nela, com uma taça de vinho na mão direita. — Que noite maravilhosa. Numa noite como esta, ela deveria ser comemorada com uma bebida… — Ela colocou o copo na boca, mas o líquido dourado escorreu pelo pescoço branco da garota. — Blerg. Dizem que é um vinho caro, mas não tem um gosto bom.

Tell se levantou da cadeira e fora jogou a taça de cristal.

Dei um passo à frente no tapete vermelho.

— Tem algo a dizer antes de morrer?

— Algo que eu queira dizer? — Tell olhou para mim e sorriu. — Não seja ridículo, Loki.