Capítulo 307: Ragnarok (12)

Tradução: Nimsay

O colapso havia começado. A cidade inteira tremeu como se estivesse prestes a desmoronar.

E então, inúmeros fragmentos começaram a sair do buraco negro.

Kiaaaak! Os gritos deles abalavam as mentes de quem os ouvia. Os Ceifadores cobriram o céu e desceram sobre o Éden.

< Atirem! Fogo! >

As forças de defesa também começaram a contra-atacar. Grandes armas instaladas em vários edifícios cuspiram balas. Milhares de fragmentos na vanguarda evaporaram instantaneamente. Mas dezenas de vezes mais fragmentos preencheram o vazio.

— Eu disse para fugirem.

Eles disseram que conseguiriam resistir por uma hora, mas era mentira descarada. Os fragmentos continuavam saindo do buraco sem parar.

Já eram centenas de milhares. As luzes da noite foram ofuscadas por suas sombras.

‘Esta é apenas uma parte.’

Eles não podem ser contados em centenas de milhares, nem em milhões, nem em bilhões. Esses são meus verdadeiros inimigos. Um exército do apocalipse que poderia cobrir o universo inteiro.

— Já estão prontos para fugir?

< A maioria dos cidadãos já está nas embarcações aéreas de evacuação. Mas abrir uma porta entre servidores leva tempo… >

Olhei para trás. Nos arredores do Éden, um grande dirigível de centenas de metros aguardava a partida.

— Não se preocupe. Eu vou abrir uma.

Estalei os dedos. Da borda do céu, um poder dourado surgiu e um enorme portão dimensional se abriu.

— Entrem por aquele portal. Assim poderão escapar para o Servidor Dois. Fujam antes que o portal feche.

< …Entendido. >

— Pode me prometer uma coisa? Que você restaurará o mundo mais uma vez.

< Eu juro pela minha alma… >

— Bom.

Os fragmentos colidiram com a primeira linha de defesa da cidade.

Todos os tipos de mísseis, metralhadoras e armas de raios foram disparados, mas apenas por um momento. Os fragmentos aniquilaram vários quilômetros em um instante. Como uma praga de gafanhotos devorando um milharal.

— Há tantos.

Olhei para o céu.

O buraco não estava mais visível. Os sentidos humanos não conseguiam compreender isso. A cidade, antes chamada de Servidor Um, estava desaparecendo da frente.

[Loki, eu trouxe as novatas!]

No meio da estrada, uma tampa de bueiro se abriu e uma garotinha saiu correndo. Era Freya, a fada responsável por Taoni. 

Logo, um pilar de luz, uma multidão de fadas, surgiu do bueiro

— E o tesouro?

[Encontrei. Estava cheio de gemas. Vou entregá-las para Sizel.]

Gemas, os cristais de interferência feitos ao saquear as carteiras dos jogadores. Eles serão o combustível essencial para restaurar o mundo.

[Aaaaaaahh!]

Dezenas de milhares de Isels flutuaram por um momento para então irem para as embarcações aéreas de evacuação.

[Este é o fim…?]

— Sim. Acabou.

A Tell estava morta e a empresa faliu. Outra guerra havia chegado ao fim.

[Agora, lutaremos contra os fragmentos.]

Freya sorriu docemente. E batendo suas asas, ela voou em minha direção.

[Loki, de agora em diante também… juntos…]

— Não.

Estendi minha mão direita e uma espada dimensional apareceu na minha mão. Com ela risquei uma linha no chão atrás de mim, formando uma barreira dourada entre Freya e eu.

[Huh?]

— Você fez muito, Freya. Agora encontre sua vida. Sizel vai te ajudar.

[O que isso significa? Loki, Loki!]

Freya voou rapidamente e abriu suas asas, mas logo colidiu com a barreira.

[Abra isso! Você disse que não me abandonaria!]

— …

[Isso é uma piada? Você disse que me daria um corpo de verdade. Você disse que não me abandonaria. Loki! Loki! Não faça isso comigo! Eu sou útil. Com você, eu…]

Segurei a espada dimensional com força e até a lâmina dourada ficar preta.

[Por favor…]

— Desculpa.

[Aaaaaah!]

Freya caiu no chão e começou a chorar.

‘Que idiota. Eu te enganei.’

Golpeei mais uma vez com a espada dimensional, que emitiu um brilho negro. A barreira dourada ficou preta e a paisagem atrás de mim desapareceu.

A dimensão foi completamente separada.

Os fragmentos tentaram romper a barreira para avançar, mas apenas giraram no mesmo lugar.

Ninguém pode sair daqui sem me matar primeiro.

Kiiiaaak!

Os fragmentos, que quase devoraram a cidade, começaram a girar no céu como um redemoinho.

‘Dois milhões e setecentos mil anos.’

Esse é o tempo que levará para se livrar dos fragmentos.

Na verdade, isso — Uma mentira.

Não faz sentido. Não pode ser tão pouco tempo.

Vinte e sete milhões de anos? Talvez vinte e sete bilhões? Não, acho que não.

Fechei meus olhos e lembrei-me da voz de Tell sussurrando em meu ouvido.

“No tempo infinito, você continuará a batalha eterna até o universo acabar. Ninguém vai se lembrar de você.”

Esquecido. Sem sentir nada. Desvanecendo-me como um espectro.

‘É esse… o fim que eu queria?’

Não sei. Eu não tenho como saber. Não consigo lembrar quais pensamentos me levaram a planejar algo tão absurdo.

O panorama da minha vida estava quase vazio. Como um álbum queimado, a maioria das minhas memórias desapareceu.

— Loki. 

O meu nome. Acho que eu tinha outro nome. Mas esqueci.

— Aquele que transcendeu.

Olhei para o lado.

De um beco, um velho cambaleante saiu.

— Alpha Zero?

— Esse título não faz mais sentido. Me chame de Rucadis.

Ele envelheceu muito. Quando o vi pela primeira vez era um homem de meia idade. Agora parecia prestes a morrer.

— Eu disse para você fugir. Por que você ficou?

— Eu já vivi o bastante. Por que prolongar uma vida patética? – O velho tossiu. Sangue escorria do canto da boca dele. — Agora que penso nisso, eu costumava gaguejar.

Embora seu corpo estivesse fraco, seu olhar estava mais claro do que nunca. Há um ditado sobre o brilho final antes da morte.

Ele parecia estar usando suas últimas forças.

— Tell acabou assim por minha causa. — O velho estava sentado em um banco quebrado. Com uma voz cheia de remorso, o velho continuou a  falar. — Eu sou o antigo representante do Esquadrão dos Dez Mil Deuses. Depois de testemunhar o fim do universo, passei a responsabilidade para aquelas garotas. Elas eram garotas muito puras. Elas amavam suas vidas mais do que qualquer um.

— …

— Meu desejo distorcido… causou essa tragédia.

Rucadis fechou os olhos enquanto ri secamente.

— Então, o que você planeja fazer? Tentar reverter isso?

— Uma vez que algo acontece, não pode ser revertido. Essa é a lei do universo. — Seus olhos enrugados olharam para mim. — Mas parece que você está tentando desafiar esse fluxo. — O velho olhou para o céu onde os fragmentos giravam. — Quanto mais você tentar desafiar o fluxo, mais fortes eles se tornarão. Eles são como uma cachoeira intransponível. Até nós, os deuses, resistimos com todas as nossas forças, mas falhamos miseravelmente. Eles são… verdadeiramente infinitos.

— …

— Nossa Mobius e seu planeta Terra, junto com muitos outros universos, compartilham uma lei comum. No passado, eu era extremamente tolo. Tentei desafiar esse fluxo. — O velho baixou o olhar. — Quando criei o sistema, eu queria superá-lo. Eu derramei todo o meu conhecimento, conhecido como o Deus Sábio. Mas qual foi o resultado? Como você pode ver, ele terminou de uma forma tão miserável. — Um sorriso amargo apareceu nos lábios do velho. — Enquanto Mobius existir, eles continuarão vindo infinitamente.

— Infinitamente… — falei sem esboçar qualquer emoção.

— Não importa quão grande seja seu poder…

— Se eles são infinitos. — Apertei minha capa e olhei para o caos que envolvia o céu. — Se realmente forem infinitos… será uma luta interessante.

Eu queria testar. Minhas mãos coçaram de impaciência para agir imediatamente.

— Alguém me disse que eu sou o cálice infinito. Então, e aqueles caras? A lança que perfura qualquer escudo contra o escudo impenetrável. Você não está curioso para saber qual será o resultado?

— Mas serão tantos anos…

— Terá um fim — falei enquanto estendia minha mão direita. — Há uma vitória e uma derrota. — As escamas do dragão se desdobraram e tomaram a forma de uma espada. — Eu não luto em batalhas sem chances de vitória.

— …

— Destino? Deus? Infinito? Não fale bobagens. Eu não acredito nessas coisas triviais. O que eu acredito é…

Que tenho uma espada na minha mão e… uma vontade inflexível.

— Se você perdeu contra eles, cale a boca e afaste-se. Não atrapalhe a luta.

— Você…

— Quem disse que não pode ser revertido?

— …

— Você está me dizendo para desistir? Porque não vai funcionar de qualquer jeito, porque eu não consigo vencer, você está me dizendo para desistir?

Não me arrependo de nada. Não me arrependo de estar aqui. 

Em todo o tempo eu lutei e continuarei lutando.

— Deixe-os vir. Eu não evito as batalhas que vêm.

O grito dos fragmentos ecoou e os olhos deles me capturaram.

‘Olhe atentamente.’

Aqui está seu inimigo.

‘Lembre-se disso claramente.’

Eu destruirei suas regras.

As leis estabelecidas por todo o universo? Não me importa. Eu faço isso porque eu quero.

— Esta batalha… pode afetar a existência de outros universos.

— E então?

— O universo relacionado a Mobius pode vacilar. Para eles, você será o ‘mal’.

— Está tudo bem. Eu não gosto de ser aplaudido.

Para proteger um de Taoni, eu mataria dezenas de milhares em outro mundo. Não importa.

Alguém pode me odiar e desprezar. Também não importa.

— Hahaha… Hahaha… — Rucadis caiu na gargalhada e o corpo do velho começou a desaparecer na luz. — Aquele que transcendeu.

— …

— Você realmente tentará superar isso?

— Não se trata de superar — falei com confiança. — É sobre vencer.

Esta é a minha guerra com eles e algum dia haverá um resultado. Eu posso garantir essa vitória.

‘Aquele que vencerá… será eu.’

Eu vencerei.

Sejam bilhões de fragmentos, dezenas de milhões de cristais. Esses desgraçados e as entidades misteriosas que se escondem atrás deles.

Sem exceção, eu os aniquilarei todos.

Até que não reste nenhum.

O chão começou a rachar. Os arranha-céus desabaram e desapareceram no caos. A cidade perdeu completamente sua forma.

< Aquele que transcendeu. >

Rucadis, que havia perdido seu corpo, tornou-se um cristal de luz.

< Eu observarei seu caminho de destruição. >

Finalmente, aquela luz, o cristal do Deus Sábio, foi absorvida pelo meu coração.

< Antes de ir, há algo que quero lhe dizer. >

— O que é?

< No seu… caminho… de destruição… >

Prestei atenção na voz trêmula de Rucadis.

< …Seris-chan…¹ >

Com uma palavra final, Alpha Zero desapareceu.

Não consegui deixar de rir. No final, ele parecia ter perdido a cabeça.

— Seris? — O nome me pareceu familiar, mas não me lembro dele. 

Bem, não importa. Nessa luta, não há distinção entre dia e noite. Não há necessidade de comer, dormir ou descansar. Não havia razão para continuar usando pele humana.

Os fragmentos gritavam tão alto que parecia que o céu iria cair. Eles procuraram por suas presas.

Eu lancei a Espada de Escama de Dragão e escalei o muro de um prédio meio desmoronado.

Kiiaaak! Dezenas de milhares de fragmentos correram em minha direção.

‘Até eu morrer.’

Ninguém vai sair daqui. Nenhum incidente como o que aconteceu com Ikar ocorrerá. Aqui, na fronteira, os fragmentos não aparecerão em nenhum lugar de Mobius.

Fiz minha capa esvoaçar. Ondas douradas se espalharam pelas dobras do manto.

‘Neste lugar…’

Estendi minha mão esquerda e uma luz dourada cobriu a cidade abaixo.

‘A uma velocidade centenas de milhares de vezes mais rápida do que lá fora, o tempo fluirá.’

Em algum momento, devido ao espaço-tempo distorcido, as dimensões ficarão fora de fase. Ninguém poderá escapar e ninguém poderá entrar. Este local ficará completamente isolado de Mobius e será tratado como um espaço separado.

Um limite no plano dimensional, existente mas não existente.

— Lembrem-se. — Apontei minha Espada de Escama de Dragão para o inimigo. Deuses ou o que quer que seja, onde quer que estejam, que estão me observando. — Do meu nome.

Esta é uma declaração de guerra. Meu presente para vocês.

— Vamos começar.

Estrondo!

Chutei a beirada do prédio e a Espada de Escama de Dragão na minha mão direita se estendeu.

1. VAI SE CATAR VELHO TARADO, EU ESTAVA TODA CHOROSA E TU ME VEM COM ISSO??????[↩]