Índice de Capítulo

    Tradução: Nimsay


    Uma lua crescente pairava no céu estrelado, enquanto Priasis, sentada em uma cadeira montada no terraço, observava a paisagem da capital do Império do Milênio, Bardia. 

    Para comemorar os dez anos desde que Priasis Al Ragnar ascendeu ao trono como Imperatriz, um grande festival estava acontecendo nas ruas.

    Em todos os lugares, lâmpadas mágicas e brilhantes iluminavam as estradas, música alegre ressoava e cidadãos de todas as idades se reuniam para dançar e cantar.

    — Já fazem… dez anos. — Priasis pegou um copo e bebeu. Um líquido amargo escorreu pela sua garganta.

    Dez anos já haviam se passado desde que ela ascendeu ao trono. O império, outrora devastado pela guerra, agora estava começando a curar suas feridas.

    — Vossa Majestade, você estava aqui?

    Priasis se virou. Um homem de armadura leve abriu as cortinas e se curvou diante dela.

    — Yoshu?

    — Sim. — A pessoa, Yoshu, estava atrás de Priasis. Seu olhar vagou pela cidade. — Houve muitos eventos.

    — Sim. Ainda me lembro deles claramente.

    Priasis sorriu enquanto olhava para seu leal vassalo.

    Aquele homem se chama Yoshu Knanshe. De insignificantes origens plebeias, ele se tornou uma figura lendária ao liderar a vitória na guerra ao lado de Priasis, e agora é o comandante da Guarda Real do império.

    — Olhe para as pessoas aproveitando o festival. Se não fosse por você, elas ainda estariam sofrendo.

    — Você acredita nisso também?

    — Claro, Majestade.

    A Guerra Negra. Dez anos atrás, esse era o nome do desastre que abalou toda Taoni. Em todos os lugares, monstros desconhecidos chamados ‘Fragmentos’ começaram a surgir e devastar todo o continente.

    ‘Guerra.’ 

    Priasis relembrou o passado. A guerra terminou com a vitória de Taoni. Todas as raças do continente, incluindo os humanos, uniram forças para expulsar os monstros. 

    ‘Foi uma luta tão simples?’

    De acordo com suas memórias, definitivamente tinha algo mais.

    — …

    Priasis franziu a testa. Às vezes, lembranças estranhas vinham à sua mente. Memórias de momentos que ela nunca viveu.

    — Mas, Majestade, você não retornará ao salão de baile?

    — O salão de baile?

    — Você é a protagonista deste festival.

    — O que eu faria lá?

    — A maga da corte, Lady Eolka, preparou uma apresentação especial…

    — Apresentação especial?

    Yoshu coçou o pescoço.

    — Sem usar magia, ela faz pombas aparecerem de um chapéu, desaparece no local e lê o verso das cartas.

    — Isso parece interessante. — Priasis se levantou da cadeira. — Eu vou recusar. Se eu estiver lá, eles só vão se sentir pressionados. Deixe-os se divertir. É o suficiente para mim ver seus sorrisos.

    Priasis deu mais uma olhada na cena da rua e saiu do terraço. Ela caminhou por um longo corredor e Yoshu a seguiu.

    — Senhor Yoshu, você pode voltar.

    — Vossa Majestade… vai fazer uma visita de inspeção?

    — E se eu fizer?

    — Pelo menos leve uma escolta. É perigoso.

    — Tenho confiança na segurança da capital. Se uma mulher não consegue andar com segurança à noite, também é minha responsabilidade. — Priasis tirou o casaco e o entregou a Yoshu. Ela também tirou a coroa e o lenço de ouro. — Ah, isso é revigorante.

    — Vossa Majestade, eu já lhe disse muitas vezes. Se algo lhe acontecesse…

    — Está tudo bem. Não se preocupe. Não me siga, é uma ordem. Fique aqui e garanta que os servos do palácio aproveitem o festival.

    Priasis deixou Yoshu perplexo e empurrou uma parede.

    Com um leve zumbido, uma passagem se abriu. Era um lugar conhecido apenas por alguns no palácio. Um caminho secreto que ela havia criado para inspecionar a capital pessoalmente.

    — Hic… Vida longa à Imperatriz! Vida longa! Vida longa!

    — Ei! Você está bêbado! Beba com moderação!

    — Hehe, hehe…

    Pequenos grupos de bêbados cambaleavam com seus copos nas mãos.

    Priasis vestia uma túnica esfarrapada e caminhava com o capuz levantado.

    ‘Eles estão felizes?’

    Priasis observou os cidadãos. Dez anos se passaram desde que ela ascendeu ao trono. O império foi considerado um exemplo de uma era de ouro.

    ‘Um lugar onde se pode viver o amanhã sem preocupações ou problemas.’

    Esse era o paraíso que ela queria criar. Mas…

    Priasis colocou a mão na parede do beco. Uma voz vazia saiu de sua boca.

    — Qual é o sentido de tudo isso? 

    Algo importante que ela estava esquecendo. Não importa quantas vezes ela tentasse se lembrar, ela não conseguia. Ela queria mostrar a alguém.

    A terra que ela criou com tanto esforço.

    — Onde você está? — Priasis cambaleou pelo beco. — Só uma vez. Se eu pudesse ver só uma vez.

    Se você me dissesse que estava vivendo bem, se você sorrisse para mim mais uma vez. A partir de então, Priasis planejou viver sua própria vida. Ela pretendia buscar a ‘felicidade’.

    Mas por que?

    — Onde você está? 

    Lágrimas escorriam pelo rosto de Priasis. Dez anos. Não, por mais tempo, ela tinha um grande vazio em seu coração. Nem seu status nobre, seus seguidores leais, nem sua posição como Imperatriz preenchiam o coração de Priasis.

    — Onde estou…? — Quando ela recuperou a consciência, Priasis estava parado em algum lugar em um beco escuro. Um cheiro rançoso fluía de algum lugar. Ela havia sentido aquele cheiro há mais de dez anos. — O que… o que é isso?

    Um homem que estava sentado em uma coluna quebrada em uma casa em ruínas se levantou.

    Ele tinha uma cicatriz longa e afiada na bochecha. O olhar do homem pousou no rosto de Priasis, visível sob o capuz.

    — Uma garota em um dia de festival tão alegre. Hehehe.

    Ela tinha ido longe demais. A mão de Priasis tocou a adaga em suas costas. Mesmo que a guerra tivesse acabado, para um rufião como esse…

    — É legal aproveitar o festival enquanto todo mundo se diverte. Haha! Então eu vou aproveitar o festival também…

    Bam! O homem caiu para frente.

    — Que visão patética.

    O salto de uma bota esmagou a parte de trás da cabeça do homem. Uma mulher com uma expressão feroz deu um passo à frente.

    — Você é…

    — Meu nome é Edis Callen. Sou uma mercenária. O que uma nobre dama está fazendo aqui? O templo do deus sem nome não fica nesta direção. — Edis girou uma adaga com o dedo indicador e olhou para Priasis.

    ‘Deus sem nome.’

    Priasis piscou confusa ao ouvir o termo pela primeira vez.

    — O quê? Você não sabia?

    — O que é o deus sem nome?

    — Nós, mercenários, precisamos de algo em que acreditar.

    Priasis estreitou os olhos. Quando os Fragmentos começaram a causar estragos, um grupo de hereges de um culto a Tell e Ikar causou problemas. Essa mulher era uma de suas seguidoras?

    — Não é uma seita. É mais como uma crença popular. Se você estiver curiosa, pode me seguir. É uma lenda comum, não sei se vai lhe interessar.

    Bam! Edis chutou o homem caído e começou a caminhar para dentro.

    ‘Deus sem nome.’

    Priasis engoliu em seco e começou a seguir Edis.

    — Você sabe?

    — …?

    — Dez anos atrás, os fragmentos que atacaram aqui eram apenas uma pequena parte. Nem um décimo, nem um centésimo. Se tivessem atacado com toda a força…

    — Você está dizendo que Taoni teria sido destruída?

    — Ah, então você sabe.

    Edis sorriu.

    Logo o caminho se alargou.

    A lenda do deus sem nome. Priasis achava que conhecia muito bem as circunstâncias da capital, mas nunca tinha ouvido falar dela.

    — Você vê isso? — Edis olhou para o lado. Nos arredores da capital, no beco alargado, pessoas vestidas com máscaras de cabra preta caminhavam em fila. — Eles são crentes do deus sem nome. Eles se reúnem aqui uma vez por ano para realizar um festival. Eles estão apenas caminhando, então não se preocupe.

    Edis tirou uma máscara de cabra do peito e a colocou no rosto dela.

    — Eu trouxe uma extra, você quer? É divertido.

    — …Obrigada. — Priasis aceitou a máscara de cabra. 

    ‘O que isto significa?’

    Não sei. Mas de alguma forma, parece uma piada.

    Priasis suspirou e colocou a máscara de cabra.

    — Vitória. — Uma garota que caminhava ao lado de Priasis murmurou. — Ao deus sem nome… que venha a vitória.

    Com uma oração fervorosa, a menina com a máscara de cabra caminhava lentamente com as mãos juntas.

    — Vitória. — Desta vez, um homenzinho murmurou. Todos reunidos aqui estavam oferecendo suas próprias orações.

    — O que eles estão fazendo?

    — Orando — Edis respondeu. Os olhos por trás da máscara se estreitaram. — Em algum lugar aqui, nas profundezas do universo… o deus sem nome está lutando.

    — …

    — Lutando contra inúmeros inimigos por um longo tempo. Para nos proteger.

    — Para nos proteger… — De repente, Priasis se desesperou e agarrou as roupas de Edis. — Então, a razão pela qual não fomos destruídos é…

    — Não leve isso completamente a sério. É uma lenda sem muita credibilidade. Apenas tenha em mente que essa história existe.

    Priasis olhou em volta.

    Centenas de pessoas com máscaras caminhavam. Era uma cena que ela nunca tinha visto do terraço do palácio.

    ‘Essas pessoas…’

    Eles estavam marchando ou rezando pela vitória do deus sem nome?

    — Quando essa batalha terminará? — Priasis agarrou-se a Edis com uma expressão desesperada. — Quando o deus sem nome retornará?

    — Não sei. Alguns dizem que será em décadas, mas outros falam em milhões de anos, dezenas de milhões de anos, ou até mesmo a eternidade.

    — Não posso esperar tanto tempo!

    — Por que você está tão agitada?

    Priasis mordeu os lábios.

    — Desculpa…

    Priasis olhou para cima com os olhos marejados vendo o céu estrelado. Ela olhou para baixo novamente, onde centenas de fiéis continuaram a marcha.

    — Vitória.

    As vozes da multidão se uniram em um murmúrio suave.

    — Ao deus sem nome… que venha a vitória.

    Priasis fechou os olhos em oração. Atrás de sua visão escura, uma cena surgiu.

    ‘Ele está lutando.’

    Um mundo que ela não conseguia perceber com seus sentidos. Durante um tempo imenso, um homem empunhou uma espada.

    Morria e voltava à vida. Voltava à vida e morria novamente. O homem lutou, repetindo ressurreições e mortes.

    ‘Isto não é o que eu desejava. Onde está sua felicidade?’

    Ninguém estava olhando para ele. Ele havia perdido toda a sua humanidade e sofria eternamente, incapaz de morrer ou viver.

    Aquele homem não poderia ser considerado vivo.

    ‘Um espectro.’

    Priasis estendeu a mão para o homem, mas não conseguiu alcançá-lo.

    Ele estava muito longe.

    ‘Por favor, salve-o.’

    Não importava se Taoni fosse destruído. Não importava se este mundo queimasse e desaparecesse. A única coisa que ela desejava era…

    Naquele momento, uma luz ofuscante bloqueou sua visão.

    — Senhorita.

    — Huh?

    Edis estava tocando o ombro de Priasis.

    Priasis olhou em volta. A visão que havia surgido em sua mente havia desaparecido completamente.

    — O que você está fazendo aí parada?

    — …Foi um sonho?

    — Você estava sonhando?

    — Sinto muito. Não é nada. — Priasis balançou a cabeça e se lembrou da cena de um momento atrás. O deus sem nome, essa é a identidade do homem que ela tinha visto. E, no final da visão…. Ele não estava sozinho.

    Parece que alguém estava lutando ao lado dele, com uma espada envolta em chamas.

    ‘Se ao menos outra pessoa puder salvá-lo…’

    Príaco decidiu rezar.

    — Ao deus sem nome… que venha a salvação.


    É, Taoni nunca ‘viu’ o Han, mas de alguma forma eles ainda lembram dele. Me pergunto sinceramente como o pessoal de Niflheimr chegou lá, mas os danados parecem ser as baratas mais resistentes que o normal ahsuahsuahush.

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