Índice de Capítulo

    Tradução: Nimsay


    Aaron olhou para baixo da grade de ferro.

    Na vasta praça do Sala de Espera Taoni, as pessoas se reuniam em pequenos grupos, entrando em vários portais dimensionais.

    ‘Eles disseram que era uma cerimônia de dissolução.’

    A mão de Aaron apertou o corrimão. Quinze dias atrás, a notícia de que a sede da Mobius havia caído chegou a todos os servidores. E então, o mundo destruído foi restaurado como por um milagre.

    Somente neste andar, havia pelo menos centenas de heróis reunidos. O mesmo acontecia em outras Salas de Espera.

    Guiados pelos funcionários da Mobius, os heróis estavam retornando para seus planetas. Eles só precisavam entrar naqueles portais dimensionais para retornar às suas terras natais.

    É claro que os heróis perderiam suas memórias da Sala de Espera e, embora fragmentos ainda permanecessem no mundo restaurado, a situação não seria nem remotamente comparável a antes, quando as paredes eram constantemente violadas por invasores sem fim.

    — Você não está planejando voltar? — perguntou uma voz.

    Aaron se virou para o garoto com olhos violetas, vestido com uma camiseta preta, jeans e um boné ao seu lado, carregando uma longa lança nas costas.

    Ele é um dos membros do décimo terceiro andar de Niflheimr, e mestre de Aaron, Muden Neidelk.

    Uma semana após a queda da sede da Mobius, Muden se ofereceu como supervisor e ficou em Taoni com Aaron.

    — Você mencionou que tinha uma irmã. Qual era o nome dela? Nana?

    — Nina.

    — Ah, sim, Nina. Desculpe, minha memória não tem sido muito boa ultimamente. — Muden coçou a bochecha e riu. — Você fez um bom trabalho. Tudo parece ter sido resolvido de alguma forma. Enfim, você não está planejando voltar para casa? Sua irmã deve estar ansiosamente esperando por você.

    Aaron não respondeu às palavras de seu mestre, pois emoções conflitantes giravam em seu coração.

    — Criança.

    — Sim.

    — Você se arrepende de estar sob minha tutela?

    — O que você quer dizer, mestre?

    — Depois de todo o esforço rolando no chão, você nunca conseguiu empunhar sua lança corretamente.

    Aaron permaneceu em silêncio. Seria mentira dizer que ele nunca se perguntou se tinha sido lento demais.

    ‘Eu fui… muito lento?’

    Ele embarcou em sua jornada para ajudar seu irmão, mas não chegou a tempo. Quando retornou a Taoni, tudo já havia acabado.

    ‘Meu irmão não deixou nenhuma mensagem para mim.’

    Se tivesse retornado mais rápido, se estivesse com seu irmão, se tivesse conquistado sua confiança… Talvez tudo isso não tivesse acontecido.

    — Sem resposta. Deve ser uma afirmativa.

    — Não mestre. A culpa é minha. Aprendi devagar e você fez o melhor que pôde. Se eu tivesse trabalhado mais, se não tivesse sido preguiçoso, eu poderia ter parado meu irmão.

    — Como você pode parar alguém que queria ir embora? Acertá-lo na cabeça com sua lança? — Muden deu de ombros. — Bem, se não fosse por ele, estaríamos mortos. É um sacrifício tocante. Goste ou não, graças ao mestre, fomos salvos.

    Aaron suspirou.

    ‘Mesmo assim…’

    Ele soube por Yurnet da situação em que seu irmão se encontrava. Em uma dimensão distorcida, iniciando uma luta sem fim contra os fragmentos.

    ‘Eu sou insuficiente.’

    Aaron cerrou o punho. Para atingir a força desejada, ele precisou de inúmeros anos e esforços, tanto que nem conseguia listá-los.

    Finalmente, Aaron conseguiu despertar seu ‘carma’ mas a pessoa que ele deveria proteger não estava mais lá.

    ‘Se eu tivesse sido mais rápido…’

    No momento ele não tem condições de dormir, comer ou mesmo respirar. Talvez se tivesse chegado naquele nível mais rápido…

    ‘Desculpa.’

    Foi-lhe dada a oportunidade de se tornar forte, mas devido à sua insuficiência, ele traiu essa confiança. Um arrependimento sem fim corroía seu coração.

    — Por que você está tão abatido? É desagradável de ver.

    — Mas…

    — Não é um bom hábito, não é? Culpar a si mesmo o tempo todo. Viva com os ombros erguidos. Em todo a Mobius, as pessoas que podem enfrentá-lo com uma lança podem ser contadas em uma mão, incluindo eu.

    — Força não tem mais significado. Meu irmão se foi e Taoni retornou. A ponta da minha lança perdeu seu propósito — Aaron falou abatido.

    — Não tem sentido, você diz… — Muden repetiu as palavras de Aaron e sorriu. — É verdade, você está certo. O jogo acabou, a missão acabou. Não sei se algum dia teremos a chance de empunhar nossas armas novamente. Até Niflheimr conseguiu o que queria.

    Aaron sabia a que Muden estava se referindo.

    Bifrost, a espada negra abandonada por Loki. Com seu poder, Niflheimr poderia manter o Sala de Espera por pelo menos mais algumas centenas de anos. Comparado a outros, cuja conexão com o mestre havia sido cortada e que estavam desaparecendo, sua situação era muito melhor. Eles estavam sendo forçados a retornar aos seus planetas.

    — Se vai retornar, faça logo. Tudo isso vai desaparecer. Abrir um portal fechado é um pesadelo.

    — Mas…

    — O que te mantém aqui? — Muden olhou-o nos olhos. Os olhos violetas do menino brilhavam com uma emoção indecifrável. — Ver o fim foi sua decisão. Eu não te impedi. Se foi sua escolha, aceite o resultado.

    — …

    — O Han Israt que você conheceu já está morto. Agora o mestre é um espectro na fronteira. Foi escolha dele. Ele foi embora sem nem falar conosco.

    Aaron abaixou a cabeça. As palavras de seu mestre pareciam duras, mas não estavam erradas.

    — Diga-me, garoto. O que te mantém aqui?

    — É… injusto.

    — Injusto?

    — Não parece que somente meu irmão é obrigado a se sacrificar? — Aaron murmurou.

    Foi injusto, é isso o que Aaron verdadeiramente sentia. Com um único sacrifício, muitas pessoas foram salvas.

    Mas e aquele único sacrifício?

    — Ninguém o forçou. Ele decidiu fazer isso. Mesmo quando lhe ofereceram retornar à Terra, o próprio rejeitou.

    — …

    — Era o que o mestre queria. Ele não terá arrependimentos. Embora, naquele estado, ele não possa tê-los mesmo se quiser.

    — Mestre. Mesmo que você seja meu mestre, não posso tolerar que você insulte meu irmão…

    — Você está dizendo que não vai tolerar isso?

    Aaron o olhou em silêncio.

    — Tudo bem. — Muden encostou-se no corrimão. Um suspiro profundo escapou dos lábios do garoto. — Se tivéssemos conversado mais com o Mestre, se houvesse mais confiança, talvez o resultado fosse diferente. Mas dissemos a ele para ir para a Terra sem dar explicações. É natural que ele nos tenha abandonado. Tínhamos apenas uma relação Mestre e heróis na aparência; o relacionamento real era superficial. — Os olhos de Muden se estreitaram. — Você disse que era injusto. O mundo que forçou o mestre a se sacrificar, nossa própria insuficiência, tudo isso… é injusto?

    Muden olhou para ele. Os olhos cansados ​​do menino emitiam um brilho aterrorizante.

    ‘Injusto.’

    Aaron decidiu aceitar.

    — Sim.

    — Não tínhamos talento, então lutamos por nossas vidas. Se vivêssemos o mesmo tempo, nunca o alcançaríamos. Abandonamos a felicidade e a vida humana. Você se lembra de todos aqueles anos de suor e lágrimas?

    Milhares de dias e noites. Aaron empunhou a lança até que suas mãos formaram bolhas, seus ombros cederam e todos os seus músculos se romperam. Sem perder um único dia, sem descansar um momento.

    Mesmo assim, mesmo assim… ele era muito lento.

    Ele se dedicou tanto que quase se esqueceu de si mesmo, mas o mundo nunca o recompensou.

    ‘Injusto.’

    Injusto ao ponto de chorar. Ao ponto de amaldiçoar os céus.

    — Aaron — Muden olhou para Aaron com um calor que ele nunca havia demonstrado antes. — Por que empunhamos nossas lanças todos os dias…?

    — …

    — Eu me arrependia disso todas as noites. Por que eu estava desperdiçando meu sangue e suor nisso? Não via resultados. Depois de tanto esforço, isso foi o máximo que consegui alcançar. Mas se Ridgion tivesse feito o mesmo, teria se tornado o mais forte do universo.

    Muden sacou a lança das costas. A lâmina cinza brilhava sob a luz. A arma Runein, uma das cinco armas sagradas, a lança cinza criada com o poder do caos.

    — Mesmo assim, toda manhã eu pegava na lança novamente. Porque era injusto. Porque eu queria vingança neste mundo. Eu queria provar que eu poderia fazer isso. Que isso não tinha acabado.

    — …Mestre.

    — Pegue.

    Aaron pegou o objeto que seu mestre jogou nele e o peso passou por seus ombros. Essa é a lança de Muden.

    — Como eu poderia…? — Aaron olhou para seu mestre surpreso.

    — Você me superou. Uma arma deve estar nas mãos dos merecedores.

    — Já estou contente com minha lança de ferro…

    — Não. Na próxima luta, a arma também será importante. Não acho que estarei nessa batalha. — Muden falou enigmático.

    — Do que você está falando? A luta acabou…

    — Você não disse que não queria que acabasse? — Muden perguntou sorrindo. — Então não deixe que acabe.

    — …

    — Quando alguém lhe disser para desistir, não desista. Quando disserem que você não pode, não pare. Se não puder, continue até conseguir. Se falhar, continue até ter sucesso. A verdadeira força vem disso. Essas coisas criam milagres. — Muden olhou para seu aluno com uma expressão vazia. — Estou velho demais. Você tem que salvar o mestre no meu lugar.

    — Eu não entendo…

    Com um movimento rápido, Muden jogou algo que tinha na mão e Aaron pegou sem pensar. Era um pequeno distintivo de ferro roxo.

    No centro do emblema estava gravado o emblema de Niflheimr.

    — Aaron Delcurd.

    — Mestre!

    — Vá agora para o décimo terceiro andar de Niflheimr e use o sobrenome Neidelk. Ele agora é seu. Eu já contei aos outros, então eles entenderão quando virem o distintivo.

    Muden se virou e um Aaron desesperado colocou a mão em seu ombro.

    — Mestre, eu…!

    — Não me toque. Estou saindo de férias. Relaxando na Praia Esmeralda, dançando hula com garotas bonitas e bebendo martinis.

    Os olhos de Aaron se arregalaram. Sob o boné, rugas se formaram ao redor dos lábios de Muden.

    ‘Em um momento… ele envelheceu…’

    — Já vivi o bastante. Nem lembro mais das coisas. Então faça isso por mim. É o último favor de um velho mestre.

    — …

    Muden foi embora sem hesitar até o final do corredor. Aaron correu atrás de seu mestre.

    — Mestre, isso é repentino! Sair assim é demais! Diga-me mais alguma coisa!

    — Não me siga. Não se incomode. — Muden empurrou a mão de Aaron. Ele não parecia mais uma criança.

    — Preciso de você, mestre. Para salvar minha irmã, venha comigo…

    — Estou aqui. — A mão enrugada agarrou a lança de Aaron. — Coloquei todos os meus anos, minha vingança, meus ressentimentos, tudo nesta lança.

    Rrrrr. Como se respondesse às palavras de Muden, a lança emitiu um brilho fraco. 

    Muden deixou Aaron perplexo e soltou a lança e então desapareceu pelo corredor.

    — Mestre…

    Aaron olhou para a lança em suas mãos. Uma lança de metal simples e o emblema de Niflheimr. Esse foi o legado que Muden lhe deixou.

    “Se você não quer que isso acabe… Não deixe acabar.”

    A voz de Muden ecoou em seus ouvidos.

    — Juro pela minha vida. Depois dessa batalha, eu te encontrarei, mestre. — Aaron fez uma profunda reverência para onde Muden havia desaparecido. Então ele se levantou e segurou firmemente a lança, Runein. — Foi isso que você planejou desde o começo? — Aaron murmurou enquanto olhava para a capa preta na grade.

    Era uma capa especial de Niflheimr, feita sob medida. Muden deve ter deixado lá.

    Aaron vestiu.

    ‘Neidelk.’

    O nome pelo qual ele seria conhecido. Aaron Neidelk. Ele será o herói de Niflheimr e continuará lutando.

    Aaron começou a caminhar na direção oposta de Muden, para o final do corredor onde ficava o hangar onde a embarcação aérea estava estacionada. 

    Os companheiros de Muden já retornaram para Niflheimr. Preciso conhecê-los primeiro.

    — …

    Mas antes de sair do corredor, Aaron olhou para trás uma última vez. Os heróis com quem ele compartilhou a vida e a morte estavam retornando para suas casas.

    Sua irmã pode estar esperando por ele.

    — Perdoe seu irmão inútil.

    Aaron colocou o capuz e saiu do corredor.


    Nossa, eu estou muito fula, o Aaron foi escanteado até o fim, mesmo ele lutando para ser impossivelmente forte.

    Mas, se acham que acabou os capítulos, fiquem felizes. A Tia ainda tem muito trabalho para fazer! Tem ainda outro epílogo e histórias extras. Você vão ter ainda muito conteúdo…

    Mil beijos Estrelinhas!

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