Capítulo 321:  A missão de Transcendência (6)

Tradução: Nimsay

Aaron agarrou-se a uma coluna de aço. Seu rosto estava pálido e suas mãos tremiam enquanto agarrava a coluna com força.

‘Eu acho que vou morrer…’

O Capitalismo circulava pela cidade em alta velocidade, sem nenhuma consideração pelos passageiros. Se Aaron não tivesse passado por um treinamento intensivo, já teria perdido o equilíbrio e caído há muito tempo.

Mas o efeito era óbvio. Não havia mais necessidade de lutar.

O Capitalismo não tinha nenhuma instalação defensiva, mas nenhum monstro conseguia chegar perto. Eles nem conseguiam se aproximar. Toda vez que tentavam se agarrar à embarcação aérea, eram jogados para longe pela navegação brusca.

Graças a isso, o Capitalismo passou pela segunda zona e estava indo em direção ao objetivo final.

Vuuuushhhhmmmm! A velocidade era tão alta que o vento ensurdeceu Aaron.

— Uhuuu! — Jenna gritou da proa, com as mãos levantadas, mantendo o equilíbrio com suas habilidades. — Vai, irmã! Mais rápido!

‘Ela não está em seu perfeito juízo.’

Ridgion e Nihaku olharam para ela com expressões exaustas.

Enquanto isso, na sala de controle, Seris se firmava nas paredes enquanto olhava ao redor.

— Está todo mundo bem?

Os não combatentes estavam inconscientes, espalhados por toda parte. Seus corpos quicavam cada vez que a embarcação aérea girava¹.

‘Que tipo de navegação é essa…?’

Ela nunca tinha visto nada parecido. A princípio, pensou que a embarcação aérea seria destruída. Felizmente, suas preocupações eram infundadas.

O Capitalismo estava avançando em direção ao objetivo.

‘Será que Yurnet…?’

Seris olhou para a maga que estava bem.

Usando magia de gravidade para manter o equilíbrio, Yurnet continuou a alimentar Bifrost com sua energia.

O trabalho de transferência não foi atrasado. Na verdade, estava progredindo mais rápido do que o esperado. Apesar dos múltiplos incidentes, Yurnet manteve a concentração.

— Estamos quase lá. Prepare-se — Kátio, amarrado a uma coluna, falou de um canto da sala de controle. A embarcação aérea continuou a tremer enquanto ele falava. — Você sabe pelo mapa, né? A embarcação aérea não conseguirá avançar no centro da terceira zona.

Seris assentiu.

Perto da barreira dimensional que separava o Éden do exterior, havia uma alta concentração de interferência. Nenhuma máquina, incluindo a embarcação aérea, poderia operar ali. Eles teriam que continuar a pé.

— Vou levá-los apenas até a entrada. De lá, vocês terão que seguir seu próprio caminho.

— Obrigada.

Não importava de onde eles vinham. Sem a ajuda deles teria sido uma jornada mais longa e difícil.

Agora, eles estariam lutando desesperadamente em algum canto da cidade.

— Depois de tudo isso, não falhe. — Kátio coçou a bochecha, envergonhado.

Bam! Depois de alguns minutos, Aaron perdeu brevemente a consciência devido a um forte impacto que abalou todo o convés. 

A embarcação aérea despencou, atingindo o chão. A parte inferior do Capitalismo arrastava-se pelo chão de concreto.

Com faíscas vermelhas, fragmentos da embarcação aérea se espalharam por todos os lados.

— Droga! Não consegue nem parar suavemente? — Ridgion gritou com os dentes cerrados.

Jenna sorriu largamente.

— Calma. Assim podemos avançar mais.

— Se explodir…

— Não se preocupe. O motor parou.

Pff! Psshh! Um som de motor engasgando veio da popa da embarcação aérea, mostrando que o motor Dois Infernos parou. Eles entraram na zona onde ele não funcionava.

Por fim, Qlqr1 soltou o volante.

— Incrível… Chegamos muito rápido… — Nihaku suspirou surpresa.

Eles circularam para evitar a horda de monstros, mas o Capitalismo percorreu vários milhares de metros em cerca de dez minutos.

— Isso aeeee! — Jenna pulou animadamente para fora do dirigível.

Aaron se levantou do convés.

— Eu… não quero repetir isso…

— Por quê? Foi divertido. — Jenna franziu o cenho.

Enquanto falavam, um fogo se espalhou pelo convés.

— O motor é de uso único e vai explodir em breve. Temos que sair. — Assim que Jenna terminou de falar, uma lateral se abriu e uma escada se desdobrou.

Ridgion desceu rapidamente. Nihaku, Jenna e Aaron também saíram da embarcação aérea. Atrás deles, a equipe da sala de controle e os não combatentes começaram a sair.

Finalmente, Seris pôs os pés no chão.

Bum! Bum! Bum! Com pequenas explosões, o Capitalismo deixou de funcionar. As chamas da embarcação aérea se espalharam para um shopping próximo.

— Que comoção.

Yurnet piscou os olhos com força, vendo que chegaram a um movimentado distrito comercial. Atrás da floresta de edifícios, a grande barreira era visível. Esse é o objetivo final da missão. 

— De qualquer forma, terminei. — Yurnet desembainhou Bifrost. A espada negra foi gravada com fórmulas e símbolos complexos. — Pegue.

— Bom trabalho.

Seris pegou a espada e pendurou-a na cintura. Agora era hora de seguir em frente.

Kiiiiiiik! Mas, uma parede de entidades contaminadas bloqueava o caminho. As criaturas se aglomeravam entre prédios e janelas, seus olhos brilhavam intensamente enquanto se aproximavam.

— Há mais do que o esperado — Seris murmurou.

— Fizemos muito barulho. Devem ter saído todos. — Kátio deu um passo à frente. O menino olhou ao redor e falou com os heróis de Niflheimr. — Vocês conseguem lidar com isso sozinhos?

— De agora em diante… — Seris parou Ridgion. Ele olhou para Seris e então deu um passo para trás. — …

Seris pensou silenciosamente.

Qlqr1, Taoni. Aquele foi o saguão onde o Mestre passou um tempo como herói. Pensei que fosse um relacionamento passageiro, uma relação de conveniência para sobreviver à missão.

Quando ela liderava Niflheimr, o Mestre Loki sempre foi frio e racional. Ela achava que o mesmo acontecia com Taoni. Não acreditava que houvesse camaradagem ou amizade entre o Mestre e eles.

‘Eles… não precisavam lutar. Poderiam ter ido para casa…’

— Eu… estava errada… — Seris falou alto suficiente para que todos os membros do décimo terceiro andar a ouviram.

‘Eu não tinha entendido.’

Por que o Mestre queria ficar aqui? Nessa vida de sofrimento. Seria melhor viver uma vida confortável na Terra.

— Ah… — Seris fechou os olhos depois de suspirar. 

‘O Mestre também é humano.’

Ele não é perfeito e às vezes comete erros e toma decisões erradas. Às vezes ele é movido mais pelas emoções do que pela razão.

O Mestre Loki e o herói Han Israt eram pessoas diferentes. Mas justamente por isso, esses companheiros chegaram até aqui desesperadamente.

— Nós… estávamos errados. — Seris olhou para Jenna. — Você é Jenna Shirai, não é?

— Sim! Sou a subordinado leal número um do irmãozão em Taoni! — Jenna fez uma saudação energética.

Seris sorriu e perguntou: — Como era o Mestre?

— Bem… — Jenna fez uma expressão desconfortável. Depois de um momento de hesitação, ela continuou. — Ele era sério, hostil e só dizia o necessário.

— …

— Realmente, muito cruel. Eu o conhecia há muito tempo e ele foi embora sem nem se despedir. Ele é um cara egoísta. Doeu muito. — Jenna fez beicinho e então mudou sua expressão. — Mas bem… ele não é uma má pessoa.

— Ele era mau. Só não era um vilão — Kátio respondeu brevemente.

— Entendo… — Seris assentiu e olhou ao fundo. Da avenida, centenas de entidades contaminadas se aproximavam. — Jenna, Kátio.

— …

— Por favor, ajude-nos. — Seris curvou-se noventa graus para eles.

Jenna acenou com as mãos.

— Irmã, não é necessário…

— Não. Parece que você era mais próxima do Mestre do que nós. Obrigada por lutar ao lado do Mestre em vez de nós. Se não fosse por você, o Mestre talvez não tivesse sobrevivido.

Os membros da equipe não disseram nada.

Ridgion, de braços cruzados, encostou-se na parede. Nihaku permaneceu em silêncio. Yurnet parecia estar pensando, com a cabeça baixa.

— É uma cena interessante. — Depois falar isso, a pessoa fez um assobio agudo. Todos se viraram. Atrás da embarcação aérea em chamas, um homem de aparência afiada se aproximou. — Quem diria? A famosa sub-mestra de Niflheimr se curvando para alguém.

O homem sorriu calmamente. Cada vez que ele dava um passo, a bainha em sua cintura fazia um som metálico.

— Quem é esse idiota? Nossa Seris… — Nihaku começou com sangue nos olhos.

— Pare. — Seris levantou uma mão, balançando a cabeça.

— Mas…!

— Por favor.

Nihaku se afastou, fazendo beicinho.

— Irmão Vel, você está atrasado. Devia ter vindo comigo desde o começo — Jenna reclamou.

— Não, obrigado. Não quero passar por essa experiência louca de navegação novamente. — O homem olhou ao redor. Centenas de milhares de entidades contaminadas cercavam a rua. Um sorriso sombrio apareceu em seu rosto. — Que recepção! Não vai ser fácil.

— …Quem é você?

— Meu nome é Velkist, seu Mestre me conhecia. Costumávamos morar juntos em Taoni. Vejo alguns rostos familiares. — Velkist olhou para Aaron com um sorriso malicioso. Ele recuperou a compostura e continuou. — Não pergunte como cheguei aqui. Havia um portal dimensional conectado a Taoni dentro da embarcação aérea. Passei por ele depois que você partiu.

— …

— Isso é curioso. Todos os oficiais de alto escalão que eu conhecia estavam tão rígidos que não conseguiam se mexer. Não é como se tivessem barras de ferro na espinha, né? — Velkist riu.

Seris respirou fundo. 

— Peço a você…

— Não há necessidade.

Trum! Num instante, Velkist sacou sua espada e pulou. Uma aranha gigante que se aproximava de um prédio foi cortada, derramando sangue preto.

— Hum… — Velkist murmurou, coberto de sangue. — Não quero deixar pontas soltas e nem quero um final confuso. Seja que tenhamos sucesso ou que todos morram. Não gosto de finais malfeitos. — Os olhos de Velkist se arregalaram. Uma intensa intenção assassina brilhava em seus olhos. — Vamos começar.

Um chifre branco brotou da testa de Velkist.

A espada de Velkist vibrou intensamente, fazendo uma onda branca ressoar na espada.

Bam! Velkist pulou, causando rachaduras no asfalto. No ar, ele mudou sua postura e balançou sua espada, fazendo uma onda invisível destruir tudo à frente e as entidades contaminadas serem cortadas imediatamente.

Velkist mergulhou no centro da horda e sangue e restos das entidades começaram a voar.

— Vamos nessa! — Jenna sacou o arco das costas, onde três flechas já estavam prontas na corda. Ela sorriu para Seris depois de perfurar a testa de uma entidade contaminada. — Vamos abrir caminho. Guarde suas forças para o momento crucial.

— …

— Estamos apenas fazendo o nosso trabalho. Certo?

— Claro — Alguém respondeu. Seris olhou para trás mais uma vez, vendo uma garota vestida com roupas finas de couro com os punhos cerrados. — Nós, da Tribo Vendaval Correndo Pela Floresta, não esquecemos uma dívida. 

Kishasha Vikshavi, uma heroína de Taoni. As orelhas de tigre em sua cabeça estavam eretas.

— Por Han Israt. Por nosso nobre guerreiro. 

— Sim! — Dezenas de meninas atrás de Kishasha gritaram. Elas eram heroínas da mesma tribo.

Kishasha torceu o pulso, aflorando sua herança real, vinda do Rei Teriantropo. Um poder sem precedentes que percorre seu corpo.

— É hora de lutar! — Depois de gritarem, as teriantropos correram para a batalha de quatro. Enquanto a entidade contaminada na vanguarda foi destruída pela investida de Kishasha.

Ao lado dos restos do Capitalismo, um portal redondo apareceu. Dele, vários heróis com armas saíram correndo.

Eles não podiam esperar reforços de Niflheimr, afinal estavam reorganizando sua frota.

‘Taoni.’

A qualidade de cada herói pode ser inferior à de Niflheimr. Eles provavelmente não teriam um papel decisivo nessa batalha. Mas…

‘Eles estão arriscando suas vidas pelo Mestre.’

Isso era inegável. Ela não podia subestimar a sinceridade deles.

— Seris. — Aaron olhou para ela. — Vamos.

Os olhos de Seris se acalmaram e ela olhou para a barreira no final da rua.

O Mestre os esperava além daquela barreira.

‘Mestre, estou indo te buscar.’

Seris agarrou sua espada Lævateinn.

1. Não vou mentir, eu gargalhei depois dessa.[↩]