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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    O céu estava lindo. Se não fosse pela cabeça de Liane constantemente balançando por causa da corrida desenfreada de Jessia, daria para admirá-lo mais. Há bons minutos que se distanciavam do covil, o pior ainda foi como conseguiram, de algum jeito, sair de um cerco em que diversos soldados foram posicionados estrategicamente para capturar qualquer um que tentasse escapar.

    Ele não gostava nem um pouco do que estava acontecendo, especialmente quando era tratado como boneco e era levado de cá pra lá. Er’Ika reforçava que deviam ter calma e esperar, mas a essa altura, no meio da escuridão e com a liberdade tão próxima, ficava impossível não se agoniar com essa desgraça.

    Em dada hora, o garoto desistiu de se manter no personagem. Acumulando mana nos membros, ele se impulsionou para trás e se livrou do aperto, batendo os pés contra neve para um pouso desajeitado. Depois de levantar e limpar a roupa suja, seus olhos se depararam com os de Jessia, que o encarava com uma atenção e fúria genuína.

    — O que você tá tentando fazer? — Podia parecer uma pergunta normal, mas o nível de ameaça nessas palavras causariam tremores em qualquer ser vivo.

    — Me separar. Não sou obrigado a ir com você, quero achar minha irmã Zana.

    — Pirralho, você… — A mulher mordeu a ponta da língua e respirou profundamente. — Olha, eu entendo que você quer sua irmã, mas o que você fará? Vai correr de volta para aqueles soldados e esperar uma flecha perfurar seu crânio?

    Isso era bastante crível, porém Liane queria acreditar que haveria uma forma de se juntar a eles. Cansou-se de correr e fugir, enfrentar as coisas de queixo erguido e derrotar o que tinha no seu caminho era palpável, o problema era a consideração do perigo.

    Em nenhum momento viu o brasão que representava aqueles soldados, mesmo lembrando que o de Aymeric era um botão dourado com uma serpente. Cautela era necessária, o que tirava a credibilidade dos desejos do garotinho. Um suspiro fugiu de sua boca, retornar parecia idiota e seria imprudente. Depois de averiguar os arredores, memórias começaram a ser bombardeadas em sua cabeça sobre onde estavam.

    — Pelo menos não saia indo para qualquer lugar… — reclamou, dando voltas no calcanhar enquanto avaliava o espaço, então apontou para uma direção no meio das árvores. — Pra lá.

    — Pra lá? O que tem pra lá? 

    — Um conjunto de vilas. Tem uma que podemos chegar ao anoitecer, e várias outras mais adiante de tamanhos variados… Seria sensato irmos para lá.

    — Moleque, eu sou uma fugitiva! Meu rosto deve tá num monte de cartaz, o que diabos você tá pensando?!

    Liane revirou os olhos. Queria passar o caminho inteiro sem ela.

    Julgando sua habilidade com espada e o perigo espreitando naquele lugar desolado, o ideal irem juntos. O problema era o quão desatenta aos riscos Jessia parecia, como se nunca tivesse andado por ali.

    “Você está do lado de quem? Essa maluca nos colocou nessa furada!”

    Um longo suspiro fugiu da boca dele, que encarou mais uma vez a mulher parada à sua frente. Os olhares ansiosos dos dois disseram muito bem o tipo de clima entre ambos, no entanto, de fato não teria tanta escolha. Por agora andariam juntos, do contrário teriam maior risco de morrerem.

    — Vou pintar o seu cabelo e mudar o seu penteado, só preciso que me acompanhe para pegarmos os materiais no caminho. Deve ser o bastante para esconder por um tempo.

    — Você é mesmo um garoto…?

    A forma irritada com que Liane lançava sua ira na direção da mulher era muito fofa, mas ele não respondeu à pergunta. Seguiram para a tal vila indicada, as ventanias frias rasgavam os galhos dos pinheiros conforme seus pés marcavam uma longa trilha pela neve. 

    Liane passou grande parte do tempo observando cada minuciosa movimentação no ambiente, temendo que um monstro viesse e abocanhasse seu pescoço. Atrás dele de fato existia um monstro, mas ao invés de abocanhá-lo, era mais provável que arrancasse sua cabeça fora. Um certo medo pairou em seu peito, pelo simples fato de não acreditar que as coisas viraram de ponta cabeça tão rapidamente.

    Fazia no máximo uma semana desde que saiu da vila, desde que matou um homem com o dobro de seu tamanho e desde que se separou da irmã. 

    Manter-se longe assim começou a afetar sua mente, que apenas não enlouquecia pela presença constante de Er’Ika para consolá-lo. Ele era só uma criança, porquê  devia ser submetido a uma tortura como essa? Quem em sã consciência deixaria um garoto ser espancado tarde da noite, se quebrantar por causa de uma mudança súbita na vida e agora fugir para sobreviver?

    Sua caminhada por cima da neve fez o medo subir e descer ao longo de seu corpo. Era realmente algo diferente sair dali, de estar com as asas livres para voar onde quisesse. O motivo de conhecer o caminho era por causa da absorção de memórias por parte de Er’Ika, os animais consumidos trouxeram um tipo de mapa nas suas lembranças que traçava perfeitamente os passos a serem feitos.

    Evitou andar perdidamente pela floresta e encontrar com algo que não desejava. Ao cair da noite, com a maioria dos materiais coletados e com um punhado grande o bastante de rosas, bastou misturar com água. Por sorte, Liane tinha pego o cantil antes, assim ficaria menos trabalhoso terminar o trabalho.

    Ele pintou delicadamente o cabelo de Jessia, tomando estreito cuidado em torná-lo o mais crível possível e vivaz, ao mesmo tempo que dobrou e mexeu seu cabelo para um penteado novo. Ela estava de fato diferente, o que a impressionou quando viu seu reflexo num riacho congelado.

    Quanto a Liane… o garoto nunca parou de andar, no momento só queria parar naquela vila e enfim descobrir o que deveria fazer para reencontrar Zana. Por enquanto, torcia pelo seu bem, onde quer que estivesse.


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