Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 101: Inspeção
Grey estava um pouco tonto. Aquela era sua primeira semana dentro do mosteiro, as crianças recebiam educação dentro de sala a escrever e ler, e justamente esse bombardeio repentino de informação causava vibrações pela testa. Não à toa ele saiu da sala com enxaqueca, querendo se livrar do minúsculo caderno abaixo do ombro.
No entanto, jamais faria isso. Era um objeto caro de se fazer, o tempo com seu pai ensinou o grandíssimo valor de uma folha em branco. Qualquer coisa teria a possibilidade de existir numa linha vazia, desde uma carta de amor até a declaração de guerra. A consciência do peso das palavras era um dos poucos presentes que seu pai lhe deu antes de desaparecer.
“Quando eu sair daqui, prometo procurar o papai”, jurou para si quando a imagem de sua mãe abatida passou pela mente. “Mas agora eu vou aproveitar e comer bastante!”
Os sapatos nos pés marcaram uma estrada de pegadas rumo ao refeitório, pois era hora do almoço e pensar tanto trazia uma exigência enorme de nutrientes. Ao menos, o guisado junto de tuberculos encheu a barriga, em contrapartida a língua odiava o sabor, usando da fome como tempero para suportar o gosto de terra descendo pela garganta.
Esses pensamentos, no entanto, vinham de um rapaz bastante mimado para os padrões da época. Educação era um luxo nobre, Grey teve a sorte de nascer numa família abastada para ter livros e poucos tutores, só que o mesmo não dava para ser dito das crianças comuns. Quem vivia na periferia e no campo somente trabalhava, a vida inteira deles se resumia em acordar antes do sol nascer e voltar para casa quando a lua estivesse no topo.
Comida também sofria de um caso semelhante — a maioria das pessoas comuns ganhavam o bastante para suprimir suas famílias com sopas e pães, com uma diversidade minúscula comparada a pessoas de classe média para cima. Aquela ignorância era palpável dada a sua idade e experiências de vida, já que comparado aos demais, ele era de fato um “caso especial”.
Um sino tocou após o término da refeição. Era um sinal para todos se reunirem no centro do mosteiro, no saguão que ocorria as orações à deusa. As pernas curtas de Grey o atrapalhava em meio a tanta gente caminhando, felizmente ele chegou inteiro e presenciou o motivo do barulho.
No centro, Peny — ou irmã Peny, seu devido título —, estava abanando um papel, uma carta com um selo dourado.
— Atenção a todos, a Igreja pediu para verificarmos cada pessoa daqui!
Essa verificação não era qualquer, quando a Igreja de Lithia exigia algo assim, ela se referia a medir o poder divino das pessoas. Quando se cultuava um deus e espalhava suas mensagens, seja com atos ou com palavras, era comum dentro dos outros nascer algo sobrenatural que levava aos mais diversos milagres, desde a cura até a força para esmagar criaturas das trevas.
Por causa disso, algumas vezes conferiam as pessoas que faziam parte dos cultos, para assim medirem suas capacidades e tomarem as devidas providências. Aconteceria um fenômeno semelhante ali, porém, com a inclusão das crianças recém-inseridas no mosteiro. Era comum que comunidades próximas acabassem por entrar na religião local, então as autoridades religiosas aproveitavam para conferir aqueles que eram aptos para estarem em outros postos. Em outras palavras, aquilo significava cultivar a adoração a um deus e aumentar suas forças.
Dilia soube rapidamente da notícia, levando seus filhos para o santuário e todos os três participarem. Topax se ausentou, dizendo que seu objetivo era unicamente ajudar a família de seu melhor amigo, nada mais. A mulher sentiu certa tristeza no peito quanto a resposta, mas respeitou.
Grey possuía uma enorme interrogação acima da cabeça, seus olhos corriam de um lado para o outro analisando aquele local. Era um salão oval gigantesco, o teto estava descoberto, com uma passagem em formato de círculo. A luz do céu entrava por essa abertura, atingindo uma fonte no centro da sala, em que a estátua da deusa Lithia se destacava, refletindo o brilho do sol. Ao seu redor, uma pequena fonte d’água carregava a fonte da vida ao longo do recinto.
Muitas pessoas apareceram, tanto adultos quanto crianças. Pela primeira vez, todos os residentes do mosteiro se encontraram lá, com as freiras fazendo duplas umas com as outras, enquanto os monges se colocaram mais ao fundo de todos, formando um círculo ao redor das pessoas. Semelhante ao traje das freiras, os monges usavam roupas brancas e um chapéu preto na cabeça, porém os braços eram cobertos por faixas ao invés de tecido.
Peny quem lideraria a conferência junto do indivíduo mais importante: o monge Morf. Ele se pôs à frente da estátua de Lithia, chamando atenção dos demais.
— Obrigado por virem, meus queridos fieis. — O sorriso em seu rosto era caloroso, queimando os corações céticos dali. — Primeiro, quero avisar a todos que o que faremos não há perigo nenhum. A irmã Peny e eu usaremos uma ferramenta para verificar o quanto Lithia tem estado ao seu lado, aqueles quem demonstrarem uma diferença crucial podem ser enviados para outras filiais com nossos irmãos para receberem educação, comida e um local ao qual pertencer.
O discurso mexeu com a maioria dos adultos, no entanto, Grey continuava sem entender direito. Ele não queria ficar longe de sua mãe e irmãzinha, pois pretendia protegê-las e tomar o lugar de seu pai desaparecido. Ele engoliu seco observando a tal ferramenta, uma pirâmide de pedra com o topo feito de ouro. Triângulos e pirâmides eram objetos comuns da simbologia de Lithia, e não era menos de se esperar que eram usados para algo nobre assim.
Um por um, as pessoas foram avaliadas, até chegarem na pequena família de Grey.
— Com licença, professora… — disse Peny, aproximando-se com a pirâmide e pegando a mãozinha de Cristal.
Dilia acenou com a cabeça, não muito confiante de que aconteceria algo de diferente com os demais. Ela e seu filho se assustaram quando repentinamente a ferramenta de avaliação emanou um forte brilho pela sala inteira, cegando as pessoas e tirando suspiros de admiração das irmãs e monges.
Peny, inclusive, caiu de joelhos, tremendo da cabeça aos pés.
— Não é… possível… — Lágrimas fluíram pelos seus olhos, vendo a pirâmide brilhar cada vez mais forte. — Uma… uma filha de Lithia!
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