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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Liane foi abraçado por Silva quando retornou à cela. A preocupação no rosto de sua amiga mexeu com seu coração, mas ele logo a acalmou dizendo que tudo correu bem, o que de fato aconteceu. Anteriormente, ele teve uma refeição boa acompanhado da bandida, usou mais uma vez a pedra comunicadora para uma ligação de Jessia com outros contatos seus e foi enviado de volta para dormir.

    Agora, era esperar as horas passarem e o próximo pedido surgir, a única coisa que não esperava era que a cela se abrisse abruptamente no meio de seu sono. Er’Ika bombardeou seu corpo com substâncias para acordá-lo o mais rápido possível, então se depararam com um grupo de três homens parados na entrada. Um deles entrou, carregando consigo uma faixa numa das mãos e cordas na outra. 

    Seus instintos rugiram ao ver o corpo do sujeito cair em sua direção. Liane rolou para o lado e saltou para se pôr de pé, analisando o ambiente ao redor com uma velocidade assustadora. Por sorte Silva estava distante, o problema era o gigante à sua frente e os outros protegendo a entrada, o que impedia tanto a fuga quanto uma abordagem diferente daquele problema.

    — Que merda, hein… — reclamou um dos bandidos do lado de fora, encostado contra a parede. — Eu sabia que isso aconteceria, quem tem que fazer isso sou eu, porque vocês nunca tem o jeito certo. 

    Assim que o garoto raciocinou aquelas palavras, sua cabeça enfim raciocinou direito. Era um sequestro, sem mais nem menos. A razão? Com pouca informação assim, não teria como saber, o melhor plano de ação seria comprar tempo.

    — Por que estão aqui? A chefe de vocês disse que era para me deixarem em paz!

    — Olha ele, tão inocente! — respondeu o bandido com a corda e faixa nas mãos, largando um sorriso gigante no rosto. — Sabe, seria fofo se fosse o meu filho, uma pena que não é. Quari era meu amigo do peito, meu colega, meu chapa, meu camarada… E você, seu filho da putinha, arruinou tudo. Eu pretendia ir embora dessa espelunca com o tesouro da chefe e com o restante das coisas, mas como as coisas foram ralo abaixo, não vejo problema em me livrar de quem o causou, não é verdade?

    Liane mordeu a língua e segurou um xingamento vazando do fundo de sua garganta. Agora ele teria que lutar, ou ao menos sair dali o mais rápido possível, isto se tivesse coragem. Silva continuava dentro da cela com ele, logo, se fugisse às pressas naquele momento, o que será que ocorreria a sua amiga? Sendo assim, a rota mais segura seria enfrentar o problema de frente.

    Er’Ika bombeou os nutrientes e a energia para as pernas e braços. O corpo ainda estava dolorido e os músculos fracos, caso houvesse uma explosão de esforço, provavelmente aquelas partes ficariam completamente paralisadas. A entidade se irritou. Sua sombra queria borbulhar para fora de Liane e atacá-los, pois vieram num momento terrível e tiraram todas as opções possíveis. Lutar, por mais que fosse o modo mais certeiro de salvarem suas peles, teria que ser descartada.

    O garotinho não aceitaria trocar a segurança de Silva, podia facilmente ler sua mente e entender o tipo de processamento pelo qual passava. Por isso a entidade sequer possuía empatia, essa coisa obrigava os seres vivos a se colocarem em circunstâncias perigosas para meramente cuidar do outro, em prol de um valor social que não faria diferença a longo prazo. Com muito escárnio e raiva, mandou sua mensagem ao garoto:

    “Mas Erika, eles vão me matar de um jeito ou de outro!”

    Liane mordeu o lábio com força, se não fosse por Er’Ika diminuindo a pressão, sangue escorreria. Estando naquela posição, ele abaixou a cabeça e cerrou os punhos com a força, frustrado ao limite. Os bandidos entenderam isso como um sinal de rendição e rapidamente amarraram seus braços e pernas, colocando uma faixa em seus olhos e o tirando da cela.

    Não demorou para ser levado às profundezas da mina, lugar onde seus gritos jamais seriam ouvidos e que uma morte lenta e dolorosa o aguardava. Liane foi pendurado pelas mãos numa das vigas de madeira que sustentavam o teto, sua faixa continuou presa, mas junto disso ainda colocaram uma mordaça na boca para silenciá-lo.

    A escuridão o rodeou, e então um golpe atingiu suas costelas. A dor aguda, da sua carne roçando nos ossos o fez querer chorar. Em seguida, veio uma lâmina fria riscando a pele do ombro, com mais um soco no abdômen, outro corte traçou as costas. Por um momento teve uma trégua, nenhuma angústia lhe afligiu, mas um tilintar metálico fez um arrepio correr pela nuca.

    Ele sentiu algo se apertando os pés, um tipo de elástico que os obrigavam a ficarem juntos, no entanto, a pior parte era as pontas de ferro nesse objeto, que lhe feriam a pele e sugava seu sangue como demônios arrancando a alma de um humano. Um segundo elástico foi colocado, mas este ficou nos seus pulsos, e então a pior parte veio: um longo e doloroso espancamento.

    Anteriormente, os socos vinham em períodos toleráveis, como se cada um dos bandidos alternasse quem estivesse batendo, mas dessa vez vieram numa rápida onda. Liane foi usado como saco de pancadas, enquanto mais e mais dos elásticos foram colocados nas suas pernas e braços, o que o tornou no final uma massa vermelha e roxa, pendurada como um porco morto pronto para ser degustado.

    Mesmo com a consciência nebulosa e com os sentidos lançados para o alto, o sentimento permanecia se fortalecendo. Desde o dia em que foi arremessado no rio, essa emoção surgiu e cresceu, cultivada em cima das desgraças e de lembranças dolorosas. A raiva trovejou em seu corpo inteiro, causando espasmos e uma surreal anestesia contra as dores.

    Liane já não ouvia mais nada. A energia correndo em seu corpo acelerou a níveis alarmantes, prestes a estourá-lo de dentro para fora como um balão, mas ao invés de dar fim a sua vida, ela se manifestou por cima da pele. Pequenas correntes elétricas correram pelo peito, pescoço, pelo abdômen, por cada cantinho daquele corpo, até chegar ao estopim. 

    Quando um punho se aproximou da camada elétrica, tudo explodiu como um trovão cortando os céus, uma bomba ecoou ao longo das cavernas e jogou tudo para longe, queimando as cordas e destroçando os elásticos, chamuscando a viga apoiando o teto e iluminando a caverna por uma fração de segundo rápida demais para os homens reagirem.

    Os pés do garotinho pisaram no chão, cercando-o com mais sangue, sangue que não era seu. Uma larga poça se acumulou ao seu redor, crescendo e se tornando uma lagoa carmesim em meio às penumbras. A sua ira se manifestou pela primeira vez em totalidade e ele nunca se sentiu mais liberto do que agora…


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