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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Pela primeira vez que Grey sentiu o sangue escorrer pela boca. Poderia ser considerado um treinamento cruel, se ele não estivesse lutando contra outros de sua idade. Eles experimentaram tanto o combate com armas quanto desarmado, aquilo tudo serviu para provar o quão fraco ele era em comparação aos demais.

    De volta ao vilarejo, nunca houve esse problema, tudo porque as brincadeiras com Relena não eram sérias e muito menos causavam qualquer perigo, diferente daquele ambiente, em que todos se adaptaram a um treino constante desde a tenra idade. Era assim para filhos dos monges mais velhos e aspirantes a paladinos, todos eram colocados desde o berço para se incluírem naquele estilo de vida.

    Quanto a Grey, que nunca teve tanto contato com essas coisas, ele servia quase como um corpo ambulante. Era uma luta quase justa, o outro lado batia e o garoto apanhava. No final do primeiro dia, seu rosto estava voltado para cima, debaixo das nuvens escuras e céu laranja. O monge Morf veio acudi-lo, vendo-o numa situação terrível.

    — Não há o que temer, todos passam pelo mesmo. — Seu sorriso calmo lhe dava calafrios. — Você provavelmente não consegue se mexer direito, então te levarei às fontes. Deve aliviar um pouco da sua dor.

    Grey apenas acenou com a cabeça, ouvindo um zunido irritante no ouvido e sendo carregado no colo igual um bebê até o local mencionado. Era dentro do próprio espaço reservado ao treinamento dos monges, mas localizado ao fundo, separando-se por um portão e muros altos. Lá, vapor d’água inundava os arredores numa espessa neblina, e antes de qualquer coisa, o irmão deitou o corpo do garoto nas águas quentes do piso.

    Ele flutuou ao longo da lagoa, o calor relaxou os músculos e rapidamente sua mente pareceu retomar mais consciência. Havia menos dor, mesmo ainda podendo sentir um pouco de sangue na boca, e os inchaços diminuíram consideravelmente. Seu corpo continuou a vagar sem destino ao longo da névoa, a sensação de descanso era maravilhosa.

    Certas coisas passaram por sua mente, como o motivo de sua mãe guardar aquele problema por tanto tempo, ou o porquê ela não ir contra o conselho e porquê tinham que fugir para tão longe. Não negava que o tempo com Relena fora divertido, porém, sentia falta da antiga vida, dos amigos nobres e dos luxos da classe média. O motivo de não fazer burra era porque considerava aquilo uma viagem, um momento familiar para aproveitarem, e sempre quis conhecer o mundo, então não via mal nisso.

    Com o tempo, esse sentimento se tornou revolta. Queria voltar para casa, mesmo falando muitas vezes a Dilia, sequer recebia atenção, a única resposta era “Voltaremos quando seu pai voltar”, que a essa altura significava que jamais retornariam ao que era antes. Era frustrante, um sentimento revoltante enraizado no âmago. A falta do pai, daquele quem sempre estava ao seu lado, trazia uma paz que não mais existia no mundo.

    Sua cabeça foi retirada de dentro da água. Morf o olhava com bastante calma, conferindo se por um acaso não afogou ou tinha água nos pulmões. Após notar que o garoto se encontrava muito bem, sentou-o na borda da fonte e cruzou os braços.

    — Seu estado deve ter melhorado um pouco. Não se preocupe, não há mais treino nessa hora, nós vamos apenas recitar as palavras da deusa até o final da noite e meditar.

    — Entendi… — Os olhos de Grey espiralavam em vazio. — Senhor Morf, como a minha irmã tá?

    — Ela está muito bem. A irmã Peny tem se esforçado demais dia e noite para dá-la o máximo de conforto e o mínimo de estresse. Cedo ou tarde também receberemos uma visita do Bispado para conferirem-na. Seria bom que você estivesse ao lado dela.

    — A mãe também vai ficar lá?

    — Sim, ela é mãe da criança, afinal.

    Um gemido de descontentamento saiu da boca, seguido pelos pés se posicionando para erguer o resto do corpo. O peso daqueles machucados e o cansaço mesclaram ao vazio, parecendo leves comparados ao desconforto constante.

    — O que eu faço?

    — Ao que se refere exatamente, jovem Grey?

    — Briguei com a mãe e tô com muita vergonha de chegar perto dela. Eu não confio mais nela. Ela mentiu pra mim sobre o papai, vi nos olhos dela que… que… hicup…

    Lágrimas enfim saíram dos olhos, misturando-se às águas quentes da fonte. Sua garganta se fechou, o ar se distanciou do peito. Era impossível falar daquilo, independente de quem estivesse ao seu lado, o mesmo ocorreria de novo. No entanto, Morf não era idiota, e sim um senhor perspicaz que há muito lidava com as emoções alheias.

    — O melhor a se fazer agora é você treinar conosco até se decidir sobre isso — disse, notando o efeito daquele sentimento complexo. — Você verdadeiramente não a odeia, além do mais, ela fez muito por ti e cuidou de você até então, mesmo enfrentando essas dores.

    Grey naquele instante queria dizer “Mas ela mentiu”, porém as palavras afundaram para o estômago. Seria injusto falar isso, além do mais, ela tentou o possível para protegê-lo. Um suspiro fugiu de si, acalmando seus nervos. Talvez estivesse agindo de forma imprudente ou idiota, quem sabe ainda queria resgatar o jeito mimado de antes, uma pena que tão pouco funcionava.

    A conversa não terminou mais, a partir dali, seguiu-se a rotina proposta pelos monges do mosteiro. Grey a seguiu a risca, mas sua expressão abatida demonstrou muita pouca vontade de estar ali. Ao cair da noite, uma cintilante lua decorou o céu, e o garoto andou rumo aos aposentos dos quartos em que passaria a dormir.

    Seus passos ecoaram pelas paredes, causando um nervosismo estranho. Calafrios tomaram seu corpo, alguém com certeza estava o observando. Ele olhou para a janela, vendo o reflexo de um rosto borrado de um sujeito alto com cabelo grisalho e barba rala. Ele usava roupas escuras, negras como a noite. Grey ia soltar um grito de susto, mas nada saiu.

    Uma mão pesada cobriu a boca, seu corpo perdeu as forças repentinamente contra aquela coisa. Ele foi arrastado no meio da noite, inutilmente se debatendo, apenas para sofrer em desespero naquele lugar.

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