Capítulo 127: Adeus, Criminosa
Liane queria descansar um pouco, mas as coisas vieram de mal a pior quando precisaram ir embora tarde da noite.
— Por que você não fica? — questionou Silva, com um biquinho e com olhinhos de gato. — A gente pode compartilhar a cama, que nem aconteceu da última vez. O colchão é muito melhor do que da última vez!
— Compartilhar a cama…? — sussurrou o marquês, sem entender direito o que isso queria dizer.
Te pegaram no pulo do gato, pequenino.
As provocações de Er’Ika também não ajudaram tanto, mas de algum jeito ele fugiu daquela situação delicada, usando de desculpa a presença de sua irmã e como seria muito vergonhoso depender da riqueza dos outros. Depois de muita resistência, escapou dos choramingos insistentes de Silva. Cada um entrou numa carruagem diferente, no entanto, ao invés de seguir com Zana e Celine, Liane entrou na que Jessia, Vylon e Grey estavam.
O clima era ameno, talvez produzido pela noite da cidade, que se demonstrava tão silenciosa quanto a morte. A impressão inicial da Vila do Dente era completamente oposta à cidade grande, sem os gritos de desespero ou pessoas dormindo no meio da rua. A tamanha quietude causou desconforto na criança, desacostumada com a visão urbana vazia, tendo somente as casas com janelas fechadas e vários postes iluminados.
— Primeira vez, pivete? — Jessia o chamou, exibindo aquele sorriso soturno de sempre. — Essa provavelmente vai ser nossa última viagem, levando em conta que encontramos a sua irmã.
— Hum? Como assim? Eu não ia mais viajar contigo de qualquer jeito…
— Olha esse…! Tsc, deixa, eu só não te dou um soco porque te devo uma. — Ela soltou um suspiro e cruzou os braços. — Ei, peito de lata, explica pra ele.
Grey era o tal “peito de lata”, apelido adquirido devido à sua armadura de metal. Seu gosto por ser chamado assim era mínimo, mas recusar qualquer coisa de uma heroína que salvou sua vida seria vergonhoso.
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— Mestre Liane, temo que a madame Jessia, sua avó, terá de ir conosco para o templo central de Lithia. Ela receberá uma benção e também treinamento especial da cavalaria religiosa, então será impossível vê-la por um tempo longo, espero que entenda.
— Espera, o que?! — A expressão do garoto se transformou no mais absoluto espanto, com olhos arregalados e boca caída. — A-A… Ca-ham… minha avó vai se tornar uma paladina? Como diabos isso aconteceu?!
— Uma das obrigações de um bispo é recrutar força para a igreja — explicou Vylon. — Ofereci a madame Jessia uma entrada nas nossas forças para usá-la como figura influente e também para salvar vidas.
— Mes-Mesmo assim, não é repentino demais? Vocês por um acaso…
— Eles não me forçaram, idiota. — Jessia revirou os olhos, incrédula. — Eu aceitei por conta própria. Sabe qual o salário anual de um paladino? Daria para viver tranquilamente num resort de luxo se eu quisesse…
O que diabos é um resort?
“Sei lá, mas não é nem hora de pensar nisso!” Depois de apagar os pensamentos de Er’Ika, Liane continuou: — En-Entendi… se fosse só por isso, por que me chamaram aqui?
— Esses dois querem conversar com a fadinha, aquela que me ajudou, lembra?
Liane teve receio em revelar Er’Ika novamente, mas todos ali dentro já tinham ciência de sua existência. Um segredo mantido a sete chaves, algo tão importante de se falar que seria tabu comentar que essa criatura apareceu na Vila do Dente, do contrário, meio mundo estaria atrás desse garoto. Foi por conta disso que esse detalhe integral foi omitido dos relatórios e boatos, especialmente por parte dos dois representantes da igreja, que mesmo tendo uma determinação para protegê-lo, sabiam que outras figuras do círculo religioso fariam de tudo para capturá-lo.
Por isso, decidiram mentir e enfim terem uma conversa de igual para igual naquele momento. Um suave brilho foi emitido das costas de Liane, com a pequena féerica se materializando e rapidamente voando para pousar no ombro do garoto, cruzando suas pernas. A expressão emburrada falava bastante do seu humor, já que Er’Ika odiava aparições desnecessárias.
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— Digam o que querem com meu protegido, humanos.
— Tirar algumas dúvidas com você… — falou Vylon, mas seus olhos mudaram de cor, sinal de que havia ativado sua habilidade.
— Responderei o que for necessário responder, desde que você pare de me encarar com esse seu poder estranho.
Er’Ika lançou uma feição de desgosto, mas que transmitiu a ideia de que ainda era aquela criatura bizarra. Liane queria manter seus disfarces baixo, mas o bispo sabia da verdadeira essência da entidade, então compreendeu que queria confirmar que era ainda a mesma criatura, e pelo seu rosto satisfeito, deduziu que havia confirmado o que queria.
— Pois bem, fada, a heroína ao nosso lado contém um artefato especial que, de acordo com ela, você a deu. Poderia me explicar mais a respeito?
— Ah, aquela cimitarra. Eu só a encantei com meus poderes e mudei um pouco a estrutura. Não é nada demais, foi só um capricho.
— Capricho? Quer dizer que aquilo é só uma fração do seu poder?
— Sim, sim, foi feito às pressas. Provavelmente deve ter se desmanchado ou virado pó a essa altura.
Isso era referente a arma de Jessia, a que foi encantada para matar o dragão. No entanto, saber que cedo ou tarde seria destruída foi um golpe baixo para o bispo, que esperava ao menos obtê-la para aumentar a quantidade de relíquias importantes para a igreja.
— O material era terrível, também estava muito velha e não suportaria o amontoado de energia por muito tempo. Para explicar melhor, apenas encantei com a primeira coisa que pensei, se não me engano funcionava convertendo mana em poder divino, o usuário agiria igual madeira para manter um fogo acesso.
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Essas eram as melhores palavras para que entendessem, se fosse prolixo ou explicativo demais, duvidariam de sua identidade. Er’Ika deu de ombros.
— De qualquer forma, não é mais importante. E se perguntar se farei mais, digo que não. É muito custoso e pode me matar. Aquela situação era uma emergência, tive de arriscar minha vida para isso.
Assim, o último prego foi colocado no caixão. A viagem continuou com o bispo retirando mais dúvidas, mas algumas falavam a respeito de sua própria crença. A fada tentou respondê-las da melhor forma que podia, e antes de repararem, a carruagem parou à frente do templo de Lithia.
Eles saíram da carruagem e se despediram, mas Liane notou na hesitação de Jessia para subir as escadarias. Ela olhou para trás, sua boca hesitou em falar, mas após alguns segundos, subiu os degraus. O garoto observou cada instante, vendo-a chegar até o topo e entrar pelas portas abertas, desaparecendo. Os cavalos trotaram mais uma vez, levando-o embora, sozinho com Er’Ika.
“Você mentiu bem lá atrás.”
Eu sou o melhor nisso, não preciso de elogios. Inclusive, creio que Jessia queria lhe dar algo, mas a culpa deve ter gritado mais alto, kwahahaha!
“Não tenho certeza, não é como se eu quisesse ouvir um pedido de desculpas dela depois de tudo o que aconteceu.”
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